
Sábado da Quarta Semana
É bem provável que, em qualquer momento em que dermos atenção às notícias, venhamos a ouvir falar duma atrocidade, duma tragédia, dum horrível acidente ou dum crime que reflecte a pior mutação da natureza humana. Reparei que a Irlanda é particularmente adepta, nas notícias do dia, dos acidentes de automóvel e dos assassinatos. Estas coisas acontecem e não deveríamos adoptar uma atitude de negação face a elas. Mas, se estamos expostos a elas, de forma tão desproporcional nos media deve ser ou porque os media estão a tentar deprimir-nos ou porque retiramos alguma satisfação ou estimulação de ouvirmos falar delas. Os poucos farrapos de boas notícias que nos atiram, no final dos programas de televisão, apenas salientam o negrume geral da existência neste planeta.
É difícil responder à pergunta, muitas vezes feita por alguém que não vemos há algum tempo: “então, o que é que se tem passado na tua vida?” Começamos a rever o que se passou e sentimo-nos desconsolados. Como e o quê é que devemos seleccionar do fluxo de eventos e de impressões? Quão realmente interessada estaria a pessoa que pergunta numa resposta que tentasse representar a diversidade de acontecimentos ou algo mais do que a habitual resposta evasiva “está tudo bem, óptimo, obrigado”?
É fácil sentir que só as coisas grandes e os desfechos dramáticos (bons ou maus) merecem ser falados. Há algo nisto, de facto, já que as minúcias e trivialidades ou as coisas pequenas que não correram bem podem ser bem aborrecidas. “Bom, ontem, estava a fazer chá e liguei a chaleira. Levou séculos a ferver e só então percebi que não tinha fechado a tampa como deve ser. Tem um novo mecanismo de segurança que não deixa a chaleira funcionar se não estiver bem fechada. Mesmo usando a palavra “espantoso” não tornará isto interessante. O entediante é a, realmente, má notícia.
Podemos também, contudo, experienciar um libertador sentido, beleza e maravilhamento em algo geralmente considerado aborrecido e vulgar. Isso é realmente uma boa notícia. Se tivermos ficado genuinamente comovidos com uma mudança no tempo, por exemplo, em vez de a ver como um sinal do quanto a nossa vida é desinteressante, as pessoas ficarão gratas por partilharmos uma descoberta como essa. O muito inglês poeta George Herbert mostra isso mesmo no seu grande poema A Flor:
E agora com a provecta idade dou frutos de novo,
Depois de tantas mortes vivo e escrevo;
Eu mais uma vez sinto o aroma do orvalho e da chuva
E me delicio versejando.
Este é o tipo de profunda notícia que se encontra também nas grandes escrituras. O que é espantoso é como é que as pessoas religiosas aborrecidas podem estar na posse dum tal tesouro. Mesmo se, por exemplo, calhar estar envolto, como no evangelho de amanhã, num milagre de cura, não é apenas este que é interessante. É a forma como a experiência de vida da pessoa curada é mudada e o que ela faz com esse curto tempo extra de vida que obtém para ver a dimensão profunda do que é comum.
A Quaresma deveria estar a sintonizar-nos com este tipo de notícias profundas que realmente nos tornam novos.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
É bem provável que, em qualquer momento em que dermos atenção às notícias, venhamos a ouvir falar duma atrocidade, duma tragédia, dum horrível acidente ou dum crime que reflecte a pior mutação da natureza humana. Reparei que a Irlanda é particularmente adepta, nas notícias do dia, dos acidentes de automóvel e dos assassinatos. Estas coisas acontecem e não deveríamos adoptar uma atitude de negação face a elas. Mas, se estamos expostos a elas, de forma tão desproporcional nos media deve ser ou porque os media estão a tentar deprimir-nos ou porque retiramos alguma satisfação ou estimulação de ouvirmos falar delas. Os poucos farrapos de boas notícias que nos atiram, no final dos programas de televisão, apenas salientam o negrume geral da existência neste planeta.
É difícil responder à pergunta, muitas vezes feita por alguém que não vemos há algum tempo: “então, o que é que se tem passado na tua vida?” Começamos a rever o que se passou e sentimo-nos desconsolados. Como e o quê é que devemos seleccionar do fluxo de eventos e de impressões? Quão realmente interessada estaria a pessoa que pergunta numa resposta que tentasse representar a diversidade de acontecimentos ou algo mais do que a habitual resposta evasiva “está tudo bem, óptimo, obrigado”?
É fácil sentir que só as coisas grandes e os desfechos dramáticos (bons ou maus) merecem ser falados. Há algo nisto, de facto, já que as minúcias e trivialidades ou as coisas pequenas que não correram bem podem ser bem aborrecidas. “Bom, ontem, estava a fazer chá e liguei a chaleira. Levou séculos a ferver e só então percebi que não tinha fechado a tampa como deve ser. Tem um novo mecanismo de segurança que não deixa a chaleira funcionar se não estiver bem fechada. Mesmo usando a palavra “espantoso” não tornará isto interessante. O entediante é a, realmente, má notícia.
Podemos também, contudo, experienciar um libertador sentido, beleza e maravilhamento em algo geralmente considerado aborrecido e vulgar. Isso é realmente uma boa notícia. Se tivermos ficado genuinamente comovidos com uma mudança no tempo, por exemplo, em vez de a ver como um sinal do quanto a nossa vida é desinteressante, as pessoas ficarão gratas por partilharmos uma descoberta como essa. O muito inglês poeta George Herbert mostra isso mesmo no seu grande poema A Flor:
E agora com a provecta idade dou frutos de novo,
Depois de tantas mortes vivo e escrevo;
Eu mais uma vez sinto o aroma do orvalho e da chuva
E me delicio versejando.
Este é o tipo de profunda notícia que se encontra também nas grandes escrituras. O que é espantoso é como é que as pessoas religiosas aborrecidas podem estar na posse dum tal tesouro. Mesmo se, por exemplo, calhar estar envolto, como no evangelho de amanhã, num milagre de cura, não é apenas este que é interessante. É a forma como a experiência de vida da pessoa curada é mudada e o que ela faz com esse curto tempo extra de vida que obtém para ver a dimensão profunda do que é comum.
A Quaresma deveria estar a sintonizar-nos com este tipo de notícias profundas que realmente nos tornam novos.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
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