
Segunda-feira da Quarta Semana
A imaginação cristã viu o relato bíblico do Êxodo – os quarenta anos em que os israelitas vaguearam pelo deserto, tendo Moisés como o seu GPS – como um símbolo da Quaresma. De forma bastante regular, eles rebelavam-se. Primeiro, desejaram a comida que tinham deixado para trás e acharam a sua dieta do deserto insuportavelmente aborrecida. Depois, quando Moisés desapareceu montanha acima, para dentro da nuvem de não saber, para falar com Deus e receber os Dez Mandamentos, sentiram-se abandonados e sós.
Embora se queixassem incessantemente do seu destino e culpassem Moisés de tudo, quando ele se afastava, ficavam sem liderança e confusos. A sua bússola interior perdia a direção. Aarão, um dos falsos líderes que estão sempre à mão quando o povo fica inquieto, levou-os na direção errada. (Os que querem sair e os adeptos da permanência, no cisma do Brexit, no Reino Unido, estariam em desacordo quanto à forma de aplicar esta história à sua situação atual.) Talvez Aarão sentisse que tinha que fazer alguma coisa e que não tinha o carisma de Moisés para manter o povo sereno. Por qualquer razão, ele fez aquela coisa terrível que os israelitas tinham tendência a fazer quando as coisas lhes estavam a correr mal: virou-os para falsos deuses. Pediu-lhes que oferecessem as suas joias de ouro para serem derretidas e fabricar um bezerro de ouro. Isto sugere bem o quanto estamos preparados para sacrificar pela falsa consolação oferecida pela ilusão.
Depois de fabricarem o novo ídolo, começaram a adorá-lo, mas em breve a adoração transformou-se em folia. Isso pode dar boas imagens de televisão, se os censores o permitirem. Talvez mostre que o que realmente queremos quando estamos desesperados não é um deus, mas sim entretenimento. A nossa própria cultura baseia-se menos na idolatria, embora absolutizemos muitas coisas disparatadas e criemos a celebridade como uma alternativa à santidade. Baseia-se mais em entretermo-nos continuamente com qualquer coisa que nos estimule, excite ou distraia. Ficamos a pé até tarde devorando entretenimento. Não conseguimos fazer uma curta viagem de comboio sem ver um filme ou tomar um lanchinho. E, é claro, alimentamos as crianças com uma dieta de distração animada, distribuída por vários aparelhos eletrónicos.
Isso é compreensível e também desculpável. A sabedoria necessária para a sobrevivência consiste em que temos que perdoar a nós mesmos as nossas coisas estúpidas. Simone Weil dizia que a consolação é o único recurso daqueles que estão aflitos. E perder o norte, sentir-se abandonado, ter perdido os nossos bons líderes e sentir que até Deus nos abandonou é estar profundamente aflito. O único problema é que este tipo de consolação é ilusão e a ilusão devora as próprias fundações do nosso sentido do “eu”. Ao tentar escapar à escuridão, ela abre-nos o abismo. Conduz à desordem da psique e ao caos na comunidade.
Muitas vezes, de tempos a tempos, todos nós sentimos a fidelidade como aborrecida. Se não formos encorajados e inspirados por algum tipo de fonte autêntica, estes momentos de fraqueza levam-nos a desejar a variedade só por si. Ficamos impacientes. Perdemos a esperança de que a fidelidade ao caminho que estamos a seguir venha a produzir a riqueza e a delícia que, noutras alturas, acreditamos irá conseguir. Esta fraqueza na natureza humana é também uma fonte de força. Mas é um defeito de conceção em tudo o que fazemos que requer paciência, fidelidade e compromisso, desde dizer o mantra até ao casamento, desde levar um projeto à sua conclusão até esperar que Moisés regresse descendo a montanha.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
A imaginação cristã viu o relato bíblico do Êxodo – os quarenta anos em que os israelitas vaguearam pelo deserto, tendo Moisés como o seu GPS – como um símbolo da Quaresma. De forma bastante regular, eles rebelavam-se. Primeiro, desejaram a comida que tinham deixado para trás e acharam a sua dieta do deserto insuportavelmente aborrecida. Depois, quando Moisés desapareceu montanha acima, para dentro da nuvem de não saber, para falar com Deus e receber os Dez Mandamentos, sentiram-se abandonados e sós.
Embora se queixassem incessantemente do seu destino e culpassem Moisés de tudo, quando ele se afastava, ficavam sem liderança e confusos. A sua bússola interior perdia a direção. Aarão, um dos falsos líderes que estão sempre à mão quando o povo fica inquieto, levou-os na direção errada. (Os que querem sair e os adeptos da permanência, no cisma do Brexit, no Reino Unido, estariam em desacordo quanto à forma de aplicar esta história à sua situação atual.) Talvez Aarão sentisse que tinha que fazer alguma coisa e que não tinha o carisma de Moisés para manter o povo sereno. Por qualquer razão, ele fez aquela coisa terrível que os israelitas tinham tendência a fazer quando as coisas lhes estavam a correr mal: virou-os para falsos deuses. Pediu-lhes que oferecessem as suas joias de ouro para serem derretidas e fabricar um bezerro de ouro. Isto sugere bem o quanto estamos preparados para sacrificar pela falsa consolação oferecida pela ilusão.
Depois de fabricarem o novo ídolo, começaram a adorá-lo, mas em breve a adoração transformou-se em folia. Isso pode dar boas imagens de televisão, se os censores o permitirem. Talvez mostre que o que realmente queremos quando estamos desesperados não é um deus, mas sim entretenimento. A nossa própria cultura baseia-se menos na idolatria, embora absolutizemos muitas coisas disparatadas e criemos a celebridade como uma alternativa à santidade. Baseia-se mais em entretermo-nos continuamente com qualquer coisa que nos estimule, excite ou distraia. Ficamos a pé até tarde devorando entretenimento. Não conseguimos fazer uma curta viagem de comboio sem ver um filme ou tomar um lanchinho. E, é claro, alimentamos as crianças com uma dieta de distração animada, distribuída por vários aparelhos eletrónicos.
Isso é compreensível e também desculpável. A sabedoria necessária para a sobrevivência consiste em que temos que perdoar a nós mesmos as nossas coisas estúpidas. Simone Weil dizia que a consolação é o único recurso daqueles que estão aflitos. E perder o norte, sentir-se abandonado, ter perdido os nossos bons líderes e sentir que até Deus nos abandonou é estar profundamente aflito. O único problema é que este tipo de consolação é ilusão e a ilusão devora as próprias fundações do nosso sentido do “eu”. Ao tentar escapar à escuridão, ela abre-nos o abismo. Conduz à desordem da psique e ao caos na comunidade.
Muitas vezes, de tempos a tempos, todos nós sentimos a fidelidade como aborrecida. Se não formos encorajados e inspirados por algum tipo de fonte autêntica, estes momentos de fraqueza levam-nos a desejar a variedade só por si. Ficamos impacientes. Perdemos a esperança de que a fidelidade ao caminho que estamos a seguir venha a produzir a riqueza e a delícia que, noutras alturas, acreditamos irá conseguir. Esta fraqueza na natureza humana é também uma fonte de força. Mas é um defeito de conceção em tudo o que fazemos que requer paciência, fidelidade e compromisso, desde dizer o mantra até ao casamento, desde levar um projeto à sua conclusão até esperar que Moisés regresse descendo a montanha.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
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