
Segunda-feira Santa
Recentemente, estava eu no teatro e a meio do primeiro ato deixaram entrar uma retardatária. Causou uma consternação geral ao abrirmos caminho para ela se espremer e passar por toda a gente até chegar ao seu lugar no meio da fila. Depois de começar o espetáculo, devíamos tentar manter a nossa atenção focada porque é o fluxo ininterrupto de eventos que conduz à plenitude da nossa resposta quando se atinge o clímax e cai o pano… e sobe de novo. O mesmo se aplica à Semana Santa. Se nos distrairmos do passo cada vez mais acelerado da história, não desperdicemos um momento com queixumes mas restauremos da nossa atenção ao seu foco.
Ao olhar várias pinturas da Última Ceia recentemente, reparei nas diferentes formas em que Judas é posicionado. No famoso mural de Leonardo, ele está sentado, com um aspeto muito criminoso, em quinto lugar contando da esquerda, segurando um revelador saco de dinheiro (Pedro segura a adaga com que mais tarde irá cortar a orelha do servo do Sumo Sacerdote). No quadro de Ghirlandaio, Judas está sentado sozinho de frente para o resto do grupo. Em algumas pinturas, Judas é estereotipado como o que parece mais judeu de todos. Geralmente, Judas é salientado como uma figura isolada e pouco atraente, embora na narrativa ele tenha a mais forte e até misteriosa intimidade com Jesus, que sabe o que ele vai fazer e que tranquilamente lhe diz que trate do que tem a fazer. (“A noite tinha caído.”)
As faces revelam e expõe-nos. Reconhecemos com felicidade uma cara conhecida no meio da multidão de pessoas à espera nas chegadas do aeroporto. De repente, a multidão de estranhos dissolve-se à medida que uma cara sorridente e uma onda amistosa afastam o anonimato que constitui a parte pior de viajar.
Quando vemos uma foto nossa, pensamos: será que realmente tenho essa aparência? Pelas nossas faces, percebemos de modo desconfortável, que as pessoas podem conhecer-nos melhor, ou pelo menos de maneira diferente, da forma como nos conhecemos a nós mesmos. Se for diferente, quem terá mais razão?
Num instante, uma face pode transformar-se, dum olhar escuro, tenso e ansioso para uma alegria radiante e quase infantil. Uma onda de emoção varre a nossa alma e os músculos da face involuntariamente espelham-na numa questão de momentos. Levamos algum tempo até recuperarmos o controlo sobre o que a nossa expressão facial está a dizer ao mundo.
Mesmo quando a nossa face está em repouso e nós estamos entre fortes sentimentos de qualquer tipo, ela sempre mostra a todas as pessoas, embora talvez menos do que tudo a nós próprios, a soma de tudo o que já fomos. Formada ao longo de décadas através de incontáveis contrações musculares, de franzir a testa, maxilares tensos, fases de ira tristeza, dor e pesar – e de coisas boas também – temos a cara que merecemos. Ela é tudo o que vivemos. Não há cosméticos ou cirurgias que possam realmente esconder o caráter da nossa face. O envelhecimento é a menor das coisas com que temos de nos preocupar.
A face de Judas é o nosso pior receio relativamente a nós mesmos e pode portanto desencadear a mais profunda, mais transformadora compaixão. A verdadeira conversão acontece a partir dum lugar bem longe do controlo da vontade, um redentor lugar de graça. Quando ela acontece, somos rejuvenescidos e, ainda que só por um momento, a nossa face original, o mais verdadeiro do nosso “eu” é visível para nós próprios e para aqueles que possam estar ainda olhando para nós com algum interesse depois de todos estes anos.
Na face de Judas tal como na de pessoas menos obviamente complexas, a face de Jesus Cristo pode repentinamente brilhar, como um tesouro contido em vasos de barro:
Porque o Deus que disse:” que das trevas brilhe a luz”, foi quem brilhou nos nossos corações, para nos irradiar do conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo. (2 Cor 4:6)
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Recentemente, estava eu no teatro e a meio do primeiro ato deixaram entrar uma retardatária. Causou uma consternação geral ao abrirmos caminho para ela se espremer e passar por toda a gente até chegar ao seu lugar no meio da fila. Depois de começar o espetáculo, devíamos tentar manter a nossa atenção focada porque é o fluxo ininterrupto de eventos que conduz à plenitude da nossa resposta quando se atinge o clímax e cai o pano… e sobe de novo. O mesmo se aplica à Semana Santa. Se nos distrairmos do passo cada vez mais acelerado da história, não desperdicemos um momento com queixumes mas restauremos da nossa atenção ao seu foco.
Ao olhar várias pinturas da Última Ceia recentemente, reparei nas diferentes formas em que Judas é posicionado. No famoso mural de Leonardo, ele está sentado, com um aspeto muito criminoso, em quinto lugar contando da esquerda, segurando um revelador saco de dinheiro (Pedro segura a adaga com que mais tarde irá cortar a orelha do servo do Sumo Sacerdote). No quadro de Ghirlandaio, Judas está sentado sozinho de frente para o resto do grupo. Em algumas pinturas, Judas é estereotipado como o que parece mais judeu de todos. Geralmente, Judas é salientado como uma figura isolada e pouco atraente, embora na narrativa ele tenha a mais forte e até misteriosa intimidade com Jesus, que sabe o que ele vai fazer e que tranquilamente lhe diz que trate do que tem a fazer. (“A noite tinha caído.”)
As faces revelam e expõe-nos. Reconhecemos com felicidade uma cara conhecida no meio da multidão de pessoas à espera nas chegadas do aeroporto. De repente, a multidão de estranhos dissolve-se à medida que uma cara sorridente e uma onda amistosa afastam o anonimato que constitui a parte pior de viajar.
Quando vemos uma foto nossa, pensamos: será que realmente tenho essa aparência? Pelas nossas faces, percebemos de modo desconfortável, que as pessoas podem conhecer-nos melhor, ou pelo menos de maneira diferente, da forma como nos conhecemos a nós mesmos. Se for diferente, quem terá mais razão?
Num instante, uma face pode transformar-se, dum olhar escuro, tenso e ansioso para uma alegria radiante e quase infantil. Uma onda de emoção varre a nossa alma e os músculos da face involuntariamente espelham-na numa questão de momentos. Levamos algum tempo até recuperarmos o controlo sobre o que a nossa expressão facial está a dizer ao mundo.
Mesmo quando a nossa face está em repouso e nós estamos entre fortes sentimentos de qualquer tipo, ela sempre mostra a todas as pessoas, embora talvez menos do que tudo a nós próprios, a soma de tudo o que já fomos. Formada ao longo de décadas através de incontáveis contrações musculares, de franzir a testa, maxilares tensos, fases de ira tristeza, dor e pesar – e de coisas boas também – temos a cara que merecemos. Ela é tudo o que vivemos. Não há cosméticos ou cirurgias que possam realmente esconder o caráter da nossa face. O envelhecimento é a menor das coisas com que temos de nos preocupar.
A face de Judas é o nosso pior receio relativamente a nós mesmos e pode portanto desencadear a mais profunda, mais transformadora compaixão. A verdadeira conversão acontece a partir dum lugar bem longe do controlo da vontade, um redentor lugar de graça. Quando ela acontece, somos rejuvenescidos e, ainda que só por um momento, a nossa face original, o mais verdadeiro do nosso “eu” é visível para nós próprios e para aqueles que possam estar ainda olhando para nós com algum interesse depois de todos estes anos.
Na face de Judas tal como na de pessoas menos obviamente complexas, a face de Jesus Cristo pode repentinamente brilhar, como um tesouro contido em vasos de barro:
Porque o Deus que disse:” que das trevas brilhe a luz”, foi quem brilhou nos nossos corações, para nos irradiar do conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo. (2 Cor 4:6)
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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