
Segundo Domingo da Quaresma
Estamos presentemente a participar num ensaio clínico que observa a influência da meditação num grupo de médicos e de enfermeiros que trabalham num muito stressante serviço de urgência de um grande hospital. Na última sessão, de manhã cedo, fiquei impressionado ao saber que alguns dos presentes tinham acabado de sair dum turno de treze horas que tinha começado às 20:00 na noite anterior.
Um dos interesses do estudo é a elevada taxa – até sessenta porcento – de esgotamento, burnout, entre o pessoal médico. Em termos temperamentais, são pessoas fortes e resilientes. Partilham uma intensa e profunda (perigosamente profunda) motivação para ajudar os outros, em estado de necessidade. Mas interroguei-me se o facto de virem para uma sessão de quatro horas, imediatamente após uma noite inteira de medicina de emergência, iria reduzir ou agravar o risco ocupacional de burnout. Claramente, achavam que isso ia ajudá-los. Apesar do desafio da meditação diária que encaravam nas suas vidas excessivamente exigentes, com o trabalho e a família a pressioná-los para dar sempre mais, eles viam este curso como uma oportunidade maravilhosa e estavam determinados a aproveitá-lo o mais possível.
Tinham sentido um chamamento e tinham iniciado uma peregrinação. Este é o tema das leituras do Livro do Êxodo na Quaresma, que descrevem o mito imperecível dos Israelitas que foram conduzidos a sair do Egito e a vaguear no deserto durante quarenta anos, preparando-se para a Terra Prometida, onde leite e mel fluíam. O registo histórico não mostra qualquer evidência duma tal escravatura e fuga, mas o mito está para sempre incorporado na cultura e na imaginação das Tradições Judia e Cristã.
Na primeira das leituras de hoje, lemos a história de Abraão a ouvir o chamamento para “deixar o país, a família e a casa do pai… partindo para a terra que Eu [Deus] te indicarei”. Para ele, tal como para os monges irlandeses, que acreditavam que não podiam ser monges no seu próprio país e viviam uma vida de exílio autoimposto, o desafio de deixar a casa da família e partir para o desconhecido está profundamente impresso na psique. Este compete com a nossa necessidade de um lar, segurança e familiaridade, tal como o nosso desejo de descanso e de morte se confronta com o eros, o nosso desejo pela vida.
S. Paulo descreve as contradições interiores com que lutou, dilacerado entre as dificuldades e a rejeição a que se expôs e a paz e alegria que nele se libertaram através da sua descoberta de Cristo. Fala disso como uma graça concedida “antes do princípio dos tempos”. Nós existíamos na imaginação divina antes do “Big Bang” trazer o tempo e o espaço, a paz e o esgotamento, o lar e o vaguear pela existência.
O evangelho de hoje, é sobre a Transfiguração. Em A Bondade do Coração, o Dalai Lama comenta esta passagem e refere a ideia tibetana do corpo arco-íris, que explica como o corpo físico é transfigurado naquelas pessoas que alcançaram a mais elevada iluminação e, porém, se mantêm neste mundo para continuar a ajudar os necessitados.
Portanto, dia após dia, fazemos a nossa peregrinação, mesmo que seja uma deslocação para o trabalho, deixando a nossa casa e a família, explorando este estranho mundo dos outros e indo ao encontro das suas necessidades com os nossos recursos limitados. Ou entramos em esgotamento ou somos transfigurados. A diferença está no facto de termos ou não ficado em quietude durante o momento necessário para sermos tocados pela graça que existe desde antes do tempo.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Estamos presentemente a participar num ensaio clínico que observa a influência da meditação num grupo de médicos e de enfermeiros que trabalham num muito stressante serviço de urgência de um grande hospital. Na última sessão, de manhã cedo, fiquei impressionado ao saber que alguns dos presentes tinham acabado de sair dum turno de treze horas que tinha começado às 20:00 na noite anterior.
Um dos interesses do estudo é a elevada taxa – até sessenta porcento – de esgotamento, burnout, entre o pessoal médico. Em termos temperamentais, são pessoas fortes e resilientes. Partilham uma intensa e profunda (perigosamente profunda) motivação para ajudar os outros, em estado de necessidade. Mas interroguei-me se o facto de virem para uma sessão de quatro horas, imediatamente após uma noite inteira de medicina de emergência, iria reduzir ou agravar o risco ocupacional de burnout. Claramente, achavam que isso ia ajudá-los. Apesar do desafio da meditação diária que encaravam nas suas vidas excessivamente exigentes, com o trabalho e a família a pressioná-los para dar sempre mais, eles viam este curso como uma oportunidade maravilhosa e estavam determinados a aproveitá-lo o mais possível.
Tinham sentido um chamamento e tinham iniciado uma peregrinação. Este é o tema das leituras do Livro do Êxodo na Quaresma, que descrevem o mito imperecível dos Israelitas que foram conduzidos a sair do Egito e a vaguear no deserto durante quarenta anos, preparando-se para a Terra Prometida, onde leite e mel fluíam. O registo histórico não mostra qualquer evidência duma tal escravatura e fuga, mas o mito está para sempre incorporado na cultura e na imaginação das Tradições Judia e Cristã.
Na primeira das leituras de hoje, lemos a história de Abraão a ouvir o chamamento para “deixar o país, a família e a casa do pai… partindo para a terra que Eu [Deus] te indicarei”. Para ele, tal como para os monges irlandeses, que acreditavam que não podiam ser monges no seu próprio país e viviam uma vida de exílio autoimposto, o desafio de deixar a casa da família e partir para o desconhecido está profundamente impresso na psique. Este compete com a nossa necessidade de um lar, segurança e familiaridade, tal como o nosso desejo de descanso e de morte se confronta com o eros, o nosso desejo pela vida.
S. Paulo descreve as contradições interiores com que lutou, dilacerado entre as dificuldades e a rejeição a que se expôs e a paz e alegria que nele se libertaram através da sua descoberta de Cristo. Fala disso como uma graça concedida “antes do princípio dos tempos”. Nós existíamos na imaginação divina antes do “Big Bang” trazer o tempo e o espaço, a paz e o esgotamento, o lar e o vaguear pela existência.
O evangelho de hoje, é sobre a Transfiguração. Em A Bondade do Coração, o Dalai Lama comenta esta passagem e refere a ideia tibetana do corpo arco-íris, que explica como o corpo físico é transfigurado naquelas pessoas que alcançaram a mais elevada iluminação e, porém, se mantêm neste mundo para continuar a ajudar os necessitados.
Portanto, dia após dia, fazemos a nossa peregrinação, mesmo que seja uma deslocação para o trabalho, deixando a nossa casa e a família, explorando este estranho mundo dos outros e indo ao encontro das suas necessidades com os nossos recursos limitados. Ou entramos em esgotamento ou somos transfigurados. A diferença está no facto de termos ou não ficado em quietude durante o momento necessário para sermos tocados pela graça que existe desde antes do tempo.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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