
Sexta-feira da Quinta Semana
Claramente, o nível de atenção consciente na vida quotidiana no mundo está a cair. Fazemos um pedido num restaurante ou damos uma informação a alguém, clara e concisamente, e na sua resposta fazem-nos uma pergunta sobre o assunto, descaradamente sem terem escutado o que dissemos há apenas alguns segundos. Algumas pessoas podem não prestar suficiente atenção sequer para reparar que a outra pessoa não estava a prestar atenção. Isso é particularmente preocupante na em medida que a conversa subsequente se parece com a de duas pessoas mentalmente perturbadas que estão tão isoladas nos seus próprios mundos imaginários que não conseguem escutar ou ver seja o que for que esteja fora deles. Acabam a falar “para” os outros e não “com” eles.
Esta desatenção crónica no nosso mundo expõe a loucura do excesso de ação e de excessiva estimulação mental. Sentimo-nos impelidos a fazer muitas coisas em simultâneo embora seja óbvio que o regime multitarefa prejudica a qualidade dos resultados do que estamos a fazer. Por trás desta compulsão pode estar o desejo de fugir à realidade, evitando difíceis verdades. Ou, talvez, a ansiosa competitividade e o medo de que os outros, fazendo mais do que nós, nos façam parecer de segunda categoria ou perdedores. A primeira coisa que desaparece então é a alegria no trabalho e a satisfação da criação. Tornamo-nos meros fazedores, medindo a quantidade e encobrindo as nossas insuficiências e desatenção com o uso de jargão e, é claro, ainda mais baixa qualidade de trabalho.
Naturalmente, a quantidade de atividade que podemos realizar, sem perdermos a sanidade e a atenção, irá variar – de pessoa para pessoa e de acordo com fatores externos. Algumas desenvolvem-se melhor numa vida atarefada. S. Bento dizia que a ociosidade é o inimigo da alma e foi o primeiro grande consultor de gestão do tempo, estabelecendo o horário de cada dia em ordem a conseguir ter as coisas feitas de um modo equilibrado e agradável. Mas ele sabia que alguns são mais lentos, o que não quer dizer mais limitados, do que outros e que a comunidade (uma boa equipa) deve acomodar muitos tipos diferentes de personalidade.
Quando um monge está a rezar o Ofício Divino há muitos textos que ele sabe de cor. Não precisa de lê-los no papel. Mas isso significa que pode facilmente resvalar para a multitarefa. Enquanto repete o Benedictus de manhã, apercebe-se de repente que perdeu o fio das linhas porque se pôs a planear o dia ou a resolver um problema ou até a pensar na próxima leitura quaresmal. Esta é a deixa para começar de novo, voltar atrás e repetir o Benedictus desde o princípio. Talvez o valor espiritual do exercício esteja mais no fortalecer do seu próprio poder de atenção do que em dizer a Deus o que Deus já sabe.
Simone Weil aprendeu o mantra desta maneira. Fazia-se repetir o Pater Noster regularmente com absoluta atenção. Assim que a sua mente começava a vaguear ela voltava ao princípio. Esta é a base da sua perceção profunda de que a essência da oração não é a intenção, mas a atenção.
A oração não é apenas uma ação religiosa explícita. Um empregado de mesa a anotar um pedido numa noite movimentada está transformando o seu trabalho em oração se ele escutar, perceber corretamente e servir a comida certa à pessoa certa. E a gorjeta que recebe pode refletir isto, desde que o cliente tenha estado suficientemente atento para dar por isso.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Claramente, o nível de atenção consciente na vida quotidiana no mundo está a cair. Fazemos um pedido num restaurante ou damos uma informação a alguém, clara e concisamente, e na sua resposta fazem-nos uma pergunta sobre o assunto, descaradamente sem terem escutado o que dissemos há apenas alguns segundos. Algumas pessoas podem não prestar suficiente atenção sequer para reparar que a outra pessoa não estava a prestar atenção. Isso é particularmente preocupante na em medida que a conversa subsequente se parece com a de duas pessoas mentalmente perturbadas que estão tão isoladas nos seus próprios mundos imaginários que não conseguem escutar ou ver seja o que for que esteja fora deles. Acabam a falar “para” os outros e não “com” eles.
Esta desatenção crónica no nosso mundo expõe a loucura do excesso de ação e de excessiva estimulação mental. Sentimo-nos impelidos a fazer muitas coisas em simultâneo embora seja óbvio que o regime multitarefa prejudica a qualidade dos resultados do que estamos a fazer. Por trás desta compulsão pode estar o desejo de fugir à realidade, evitando difíceis verdades. Ou, talvez, a ansiosa competitividade e o medo de que os outros, fazendo mais do que nós, nos façam parecer de segunda categoria ou perdedores. A primeira coisa que desaparece então é a alegria no trabalho e a satisfação da criação. Tornamo-nos meros fazedores, medindo a quantidade e encobrindo as nossas insuficiências e desatenção com o uso de jargão e, é claro, ainda mais baixa qualidade de trabalho.
Naturalmente, a quantidade de atividade que podemos realizar, sem perdermos a sanidade e a atenção, irá variar – de pessoa para pessoa e de acordo com fatores externos. Algumas desenvolvem-se melhor numa vida atarefada. S. Bento dizia que a ociosidade é o inimigo da alma e foi o primeiro grande consultor de gestão do tempo, estabelecendo o horário de cada dia em ordem a conseguir ter as coisas feitas de um modo equilibrado e agradável. Mas ele sabia que alguns são mais lentos, o que não quer dizer mais limitados, do que outros e que a comunidade (uma boa equipa) deve acomodar muitos tipos diferentes de personalidade.
Quando um monge está a rezar o Ofício Divino há muitos textos que ele sabe de cor. Não precisa de lê-los no papel. Mas isso significa que pode facilmente resvalar para a multitarefa. Enquanto repete o Benedictus de manhã, apercebe-se de repente que perdeu o fio das linhas porque se pôs a planear o dia ou a resolver um problema ou até a pensar na próxima leitura quaresmal. Esta é a deixa para começar de novo, voltar atrás e repetir o Benedictus desde o princípio. Talvez o valor espiritual do exercício esteja mais no fortalecer do seu próprio poder de atenção do que em dizer a Deus o que Deus já sabe.
Simone Weil aprendeu o mantra desta maneira. Fazia-se repetir o Pater Noster regularmente com absoluta atenção. Assim que a sua mente começava a vaguear ela voltava ao princípio. Esta é a base da sua perceção profunda de que a essência da oração não é a intenção, mas a atenção.
A oração não é apenas uma ação religiosa explícita. Um empregado de mesa a anotar um pedido numa noite movimentada está transformando o seu trabalho em oração se ele escutar, perceber corretamente e servir a comida certa à pessoa certa. E a gorjeta que recebe pode refletir isto, desde que o cliente tenha estado suficientemente atento para dar por isso.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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