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Reflexões para a Quaresma 2018

                                                                       .     
​LAURENCE FREEMAN OSB 

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Sábado Santo

31/3/2018

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​Sábado Santo - Reflexões para a Quaresma 2018


jubilosa esperança” ou de ira pela perda de controlo.

Eu contei recentemente a umas pessoas que um amigo comum estava “em transição”, querendo dizer que estava num daqueles momentos de intervalo entre períodos da vida. As pessoas a quem o contava pareceram ficar chocadas e completamente surpreendidas. “Eu nunca teria pensado que…”, começaram elas a dizer. Uma vez que podemos dizer “em transição”, acerca de nós próprios ou de qualquer outra pessoa, em qualquer altura ou fase da vida, fiquei surpreendido com a resposta deles. Então o mal-entendido surgiu desse canto onde todos os mal-entendidos se escondem. Por “em transição”, elas tinham percebido que eu queria dizer em mudança de género.

Isso seria realmente uma enorme transição, cheia de medo, esperança e expectativa por parte de quem quer que se sinta compelido a passar por isso. Mas, de facto, a transição de Sábado Santo para o cristão paciente não é menos do que isso. Quando reflectimos sobre o que está a acontecer lá bem em baixo nas profundezas da terra, longe da vista, bem longe do alcance da mente dualista, vemos que uma irreversível e evolutiva mudança está em andamento. Tendo atravessado o vale da morte, Jesus mergulha profundamente em todas as camadas da matéria e da consciência das quais o humano emergiu, através de todas as agitações da consciência planetária e cósmica.

Os ícones ilustram isto como a “descida ao Inferno”, essas regiões inferiores que se mantêm intocáveis e incognoscíveis para as funções comuns da mente humana. Elas são desconhecidas para aquilo que pensamos como civilização. Alcançando esta profunda mente da criação, Jesus – e talvez todos os que morrem – toca a origem onde ela é também vista como o ponto de retorno. Em cada ciclo há um ponto de viragem, onde o yin transita para o yang e a seu tempo o yang gera o yin. Em cada viagem há um ponto em que nós passamos imperceptivelmente de, ser aquele que partiu para, ser aquele que está a chegar.

Hamlet espreita esta viagem sobre o horizonte do evento “de cuja fronteira nenhum viajante regressa”. E se um viajante regressar? E se essa unidade que nos permite falar da Humanidade como um todo, não apenas como uma massa de indivíduos, tivesse que ser tocada e reunida no Um só que faz esta viagem não somente para Si próprio, mas com e, compassivamente, por nós? O que é que isso diria sobre a nossa vida na superficialidade do quotidiano, sobre a unidade da união da família humana e sobre o significado da morte, a nossa finalidade final?  

Teria valido a pena esperar pacientemente por isso, só para ver. Precisaríamos de paciência para a chegada desse momento de consciência, chamado a visão da fé, onde vemos que o regresso já aconteceu porque está a acontecer. Elevar-se destas profundezas seria mais do que uma transição para um outro ponto do espectro. Seria uma completa transformação, um ligar de opostos, a conquista do medo. Nada menos, de facto, do que uma Nova Criação. Enquanto ainda atravessando os ciclos da vida, estaríamos já a partilhar na mente d’Aquele que regressa, vendo através dos Seus olhos. Sentir-nos-íamos como se – juntamente com toda a Humanidade antes e depois de nós – estivéssemos, finalmente, a despertar.
​

Com amor,
Laurence


Texto original, em inglês: aqui
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Sexta-feira Santa

30/3/2018

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Sexta-feira Santa - Reflexões para a Quaresma 2018


Segundo todas as aparências não é um dia muito bom. Por isso, como compreender a tradição que lhe chama Sexta-feira Boa? (designação em Inglês para a Sexta-feira Santa -  n.t.) Não é por aquilo que aconteceu hoje – o triunfo da injustiça e o assassínio judicial de um inocente. Não é por a Humanidade ter perdido a oportunidade de ser mudada por alguém da sua espécie que estava adiante – anos-luz adiante - do seu tempo. Ela é boa por causa do que fluiu do fracasso colectivo na aceitação da mensagem que este homem trazia e – para aqueles que O vêem com os olhos da fé – encarnava. 

Quando alguém a quem amamos morre, ou na morte de um grande artista espiritual, como Jesus era, sentimo-nos chocados por tudo o que é perdido. Antevemos todos os acontecimentos em que eles lá não estarão para partilhar connosco; sofremos a perda dessa participação única na nossa vida que em seu tempo nos enriqueceu e que agora parte deixando-nos meio mortos. 

A morte tem este efeito. Mas com o passar do tempo, à medida que o trauma da dor diminui e descobrimos que estamos de novo envolvidos nos desafios da vida, apesar de nós mesmos, descobrimos que a ausência não é meramente aquele cinzento vazio que pensávamos. É uma nova e mais espaçosa dimensão de vida, apesar da dor, em que a presença física e psicológica da pessoa ausente é interiorizada. A presença-ausente satura a consciência. Ela revela o espiritual numa forma estranhamente aprimorada. 

A morte, no entanto, é sempre a grande disruptora. Ela destroça todas as rotinas. Durante algum tempo vivemos em piloto automático esperando para ver se alguma coisa nova irá acontecer – muitas vezes no desespero de que não irá.

Pilatos ficou surpreendido por Jesus crucificado ter morrido tão cedo. O propósito de qualquer pena de morte é o de ter o mais longo possível efeito dissuasor. Porém, ao nível mais profundo de significado, o sofrimento de Jesus não é a principal fonte da boa influência do dia de hoje. Não somos salvos, curados, transformados, libertados da ilusão pelo sofrimento mas pelo amor que nos é demonstrado por alguém que não tinha medo de amar a Deus com todo o Seu ser: porque, como a Fé Cristã vai suficientemente longe para dizer, o Seu eu era um só com Deus.

Bem, vimos também o interior trabalhar do pecado – medo, crueldade, negação, mentira, adição ao poder. As fachadas da civilização foram despidas e o véu do institucionalismo religioso cúmplice com o poder foi rasgado ao meio. Vendo a vida pelos olhos do compassivo Crucificado, uma pessoa nunca mais poderá ver o que quer que seja da mesma forma. Os velhos enganos, hipocrisias e medos ocultos que corrompem todos os relacionamentos foram destituídos do poder. 

Ficamos destroçados por isto mas não destruídos. No lugar das velhas mortíferas rotinas, uma nova maneira de ser se forma. É ainda demasiado cedo para ver esta nova vida. Mas ela já foi concebida por meio da morte, no ventre da terra, esperando o seu nascimento, pronta a começar o seu transformativo crescimento entre nós.


Com amor,
Laurence


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Quinta-feira Santa

29/3/2018

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Quinta-feira Santa - Reflexões para a Quaresma 2018


Nem só de pão vive o homem. Mas o pão é o primeiro nível do que nos alimenta e nos faz seguir em frente. Nós precisamos de assegurar que não o comemos em demasia e de nos lembrarmos que aqueles que têm fome material precisam também da nossa ajuda para encontrar o que necessitam. A distribuição de comida exemplifica ao mesmo tempo a saúde física e a saúde da justiça em qualquer sociedade.

A Eucaristia foi concebida no último ritual de Páscoa que Jesus partilhou com os Seus discípulos. Ele não poderia ter antevisto as grandes liturgias que têm lugar hoje na Basílica de S. Pedro ou na Catedral de Cantuária. Mas é difícil imaginar que Ele não soubesse que estava a mergulhar na vida simbólica do ritual e transformando-a; ou que não soubesse que podia estar a dar-lhe uma nova expressão, ao se mesclar a Si mesmo com ela e com aqueles que, no futuro, se iriam identificar com Ele. 

Desde a infância, eu fui criado a ir à Missa dominical e gostava imenso de o fazer, de um modo inconsciente. Na adolescência, isso perdeu o seu significado para mim, à medida que a capacidade da Igreja para dar resposta às questões mais importantes com que eu me confrontava foi enfraquecendo. A meditação trouxe-me de volta à Missa e à Igreja de uma forma mais significativa e mais madura. Acabei por experienciar – e mais tarde por compreender – que o significado da Eucaristia é essencialmente o significado da meditação praticada na Fé Cristã. A presença real está no ritual tanto quanto está também no silêncio do coração. Esta combinação, para mim, foi explosiva.

O pão e o vinho simbolizam o primeiro nível de alimento. Mas não vamos à Eucaristia para encher os nossos estômagos (parece que os primeiros cristãos eram um pouco mais festivos do que nós os seus, sedados, passivos descendentes sentados em bancos, e que eles extravasavam o topo nas suas celebrações). A Eucaristia é um símbolo físico vivo e uma promulgação da presença real. Mas é também um sinal do tipo de vida que estaríamos a viver no mundo se estivéssemos realmente presentes para esta presença real. Este é o desafio. E somente indo ao encontro disto é que poderemos “trazer de volta as pessoas à Igreja” (se essa for a forma como queremos colocar a questão). A Eucaristia não é um privilégio de um clube fechado. É um testemunho para aqueles que não estão no clube de que não é um clube, mas uma comunidade de coração aberto.

A presença real de Cristo é radicalizadora. É uma ameaça a todas as estruturas de poder que os humanos alguma vez construíram, incluindo as estruturas cristãs, incluindo os papéis muitas vezes estranhos que o clero e os leigos desempenham. O ministro da Eucaristia não é o sacerdote, mas o próprio Cristo – uma bonita ideia muitas vezes invisível na prática mas ainda assim uma essencial verdade. Comunidade, e não hierarquia, é a mensagem, embora os seres humanos anseiem por hierarquia e por alguma medida de subordinação para se sentirem seguros. A mudança litúrgica, por esta razão, é habitualmente o tipo de mudança que sofre a mais amarga resistência. 

Quando uma pessoa rica ou uma celebridade vem à comunhão, não exige mais pão ou um melhor cálice para beber do que aquele que é partilhado com o pobre. A Última Ceia é a primeira proclamação de radical igualdade que revoluciona as relações entre homens, mulheres e crianças – e da Humanidade com o planeta. 

Esta mensagem é tão fresca em cada celebração que precisamos de meditar depois da comunhão para a absorver. Para unir e encarnar a interior e a exterior Presença.
​


Com amor,
Laurence


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Quarta-feira da Semana Santa

28/3/2018

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​Quarta-feira da Semana Santa - Reflexões para a Quaresma 2018


Tenho estado a ler a biografia em três volumes de Kafka há já algumas semanas, surpreendido comigo mesmo por me arrastar a fazê-lo. Ele teve uma vida sem grandes eventos, revolvendo em torno de algumas obsessões compulsivas, incluindo a sua irreprimível necessidade de escrever e o seu ouvido perfeito para a literatura. Foi a compulsão para a escrita que fez deste advogado de seguros que não conseguiu comprometer-se com o amor nem escapar-se dos seus pais, um dos profetas da era moderna. O seu entendimento profundo sobre efeito desumanizante da burocracia e o sentido de opressão e alienação pessoais causadas pela vida contemporânea, ainda nos falam com uma comovente intensidade. 

Em O Processo, ele descreve a doentia influência das estruturas de poder injustas que esmagam o inocente. A narrativa da Paixão sobre o encenado julgamento no qual Jesus foi condenado à morte, evoca o mesmo cenário de pesadelo quando a paranóia é exposta como sendo não imaginária e vemos que somos de facto o alvo inocente de inimigos malévolos.

Mas com Jesus este pesadelo de perseguição, embora tão real com uma purga estalinista, não O subjuga como vítima inocente. Isto porque Ele simplesmente não se permite a Si mesmo identificar-se como uma vítima. Ele é um sacrifício. E assim há um resultado bastante diferente.

Para uma pessoa religiosa – de qualquer fé – a cumplicidade das autoridades religiosas na injustiça cometida contra Jesus é profundamente perturbadora. Assim também, para o pastor luterano e teólogo Dietrich Bonhoeffer, o foi a cumplicidade das igrejas cristãs com os Nazis. Nestes casos vemos – como hoje na aliança da Igreja Russa com o seu regime político – como o poder, a falsa prudência e o privilégio corrompem a fé.

O poder é um fluxo de energia. Se, a partir de qualquer fonte, nascer o vírus da corrupção, ele levá-lo-á a todas as partes do sistema. À medida que a monstruosa corrupção do poder se vira pessoalmente contra Ele, Jesus confronta-a com racionalidade (“se nada disse de errado, porque me bates?”), equanimidade e silêncio. O Seu próprio poder, fluindo directamente da Sua fonte de ser, confronta e envolve o poder sistémico corrupto detido por aqueles que O declararam ser o inimigo.

Quando o poder é corrompido, as mais negras sombras na natureza humana vêm à superfície, do topo à base da hierarquia. O sadismo dos campos de morte, ou de Srebrinika, ou a desumanidade de Guantánamo autorizada por políticos civilizados de Capitol Hill, são reflectidos na tortura e crueldade descritos na narrativa da Paixão.

Pilatos, o consumado político bem-sucedido, é o embrulho desta confrontação entre o poder puro e corrupto. A sua arrepiante pergunta “O que é a verdade?” responde-se a si mesma quando ele lava as mãos da injustiça que ele próprio permitiu. Todos os sistemas de poder daí em diante irão ver – e serão para sempre perturbados – ao verem a vítima inocente como a única personagem a sair deste drama de corrupção com integridade.


Com amor,
Laurence


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Terça-feira da Semana Santa

27/3/2018

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​Terça-feira da Semana Santa - Reflexões para a Quaresma 2018


A Última Ceia gera um elevado nível de consciência em torno das polaridades da amizade e da traição. Recusa-se a ver uma sem a outra. Recusa-se a criar uma inimizade eterna entre elas – como nós fazemos quando, feridos ou rejeitados, dizemos que jamais voltaremos a comunicar com a pessoa que nos causou este sofrimento.
 
Neste aberto e vulnerável estado mental, Jesus caminha atravessando o Vale de Cédron, para Getsémani, uma pequena propriedade onde costumava orar. À luz da lua da Páscoa Ele teria visto os monumentos funerários que já aí haviam sido construídos. Muçulmanos, cristãos e judeus desde essa altura vêm acrescentando as suas sepulturas a este lugar de memórias ancestrais. Uma vez, quando eu estava a meditar em Getsémani com outros companheiros peregrinos, dei de caras com uma oliveira que segundo dizem tem 2500 anos e que, os olhos de Jesus teriam visto. Reparei também numas florzinhas vermelhas que tinha visto anteriormente nas encostas da Galileia, onde foi pronunciado o Sermão da Montanha. Perguntei a mim mesmo se ao ver estes “lírios do campo” na Sua última noite, Jesus se teria recordado de Sua casa e de dias mais pacíficos – dias em que ensinava, antes de ser chamado a viver, a ser, o Seu próprio ensinamento com cada uma das suas células e fibras do Seu ser.
 
Neste jardim, no silêncio da noite, Ele tomou alguns dos seus companheiros próximos para ir rezar. Estes adormeceram. Na Sua solidão, foi subjugado pela tristeza e o medo da morte emergiu, lá de onde ele se esconde em cada um de nós. Tudo n’Ele rejeitava o Seu destino; mas algo mais apareceu neste momento de pânico. Foi um sentido de profunda ligação e derradeiro propósito. Com isto Ele passou do pânico para a paz e aceitação. “Que não se faça a Minha vontade, mas a Tua”.
 
“Na Sua vontade está a nossa paz”, disse Dante. Mas a palavra “vontade”, pressupondo algum tipo de concurso de vontades ou de choque de egos, pode ser enganadora. “Ponto de vista” ou “maneira de ver” invocam melhor o significado. Nós não submetemos meramente a nossa vontade à divina vontade – submeter costuma preservar uma bolsa de ressentimento. Não há violência perpetrada sobre nós ou por nós na união que acontece entre a nossa maneira de ver e a visão de Deus.
 
Nesta união da visão a ilusão do nosso “eu” como um indivíduo separado é finalmente transcendida. É substituída pelo auto-reconhecimento de uma única solitude. Centrado, alicerçado nesta solitude Jesus recebe o beijo do Seu traidor e a guarda armada que vem prendê-Lo a coberto da escuridão. Ele nunca esteve mais sozinho e nunca mais igualmente ligado tanto aos amigos como aos inimigos. Ele é atado e levado para um julgamento fingido, não como uma vítima mas como um símbolo universal de liberdade.
 
Um detalhe singular na história tal como é contada por Marcos tem intrigado os leitores desde o princípio. Um jovem seguidor do sexo masculino vestido com nada mais que um pano de linho foi também preso mas escapou e fugiu a correr nu. Provavelmente, como diz a tradição, é o próprio Marcos. Porque a figura é ao mesmo tempo anónima e autobiográfica, muitos leitores dão por si a identificar-se com este tão vulnerável e neste momento bastante absurdo discípulo do Mestre.


Com amor,
Laurence


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Segunda-feira da Semana Santa

26/3/2018

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Segunda-feira da Semana Santa - Reflexões para a Quaresma 2018

Mc 14:1-15-47
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Imediatamente após a cena negra e aparentemente sem motivo de Judas a vender o seu Mestre por dinheiro, Jesus dá instruções aos discípulos para a preparação da Páscoa que Ele irá comer com eles. Esta celebração de família, de amizade e de solidariedade com o passado irá incluir a traição. O que é que isso diria de Jesus como mestre se Judas fosse excluído?

A conversa entre Jesus e os discípulos sobre a preparação da refeição de Páscoa a ser celebrada em Jerusalém é bastante detalhada. Ele diz-lhes o que fazer, com quem se irão encontrar e onde – uma sala de primeiro andar com divãs e almofadões: um espaço de refeições preparado para se reclinar, típico do Médio Oriente e não a mesa do Quattrocento de Leonardo da Vinci.  A impressão que recebemos é a de que Ele se está activamente a preparar para o que Lhe irá acontecer. Algumas pessoas, que sabem que vão morrer e que o aceitam, param de ser vítimas da sua mortalidade. No seu quarto de hospital ou em casa onde irão morrer, tornam-se mais preocupadas com os outros do que consigo mesmas. A morte torna-se mais do que uma individual e aterrorizadora extinção sendo uma passagem para um grupo de pessoas unidas profundamente umas às outras por laços de amor e  fé. E, onde haja amor e fidelidade, a esperança nunca estará longe.

A sala do primeiro andar – mais tarde chamada Cenáculo – não é apenas uma sala alugada, mas um espaço comunitário. A tradição diz que é a sala onde os discípulos se reuniram no dia da Ressurreição e mais tarde para o Pentecostes. Não é uma comunidade virtual – tal como a viemos a compreender – mas uma comunidade fisicamente ligada e identificada com um espaço particular. Tal como com Bonnevaux – cada vez mais para a nossa comunidade – o espaço parece estar totalmente preenchido por uma presença viva.

A refeição partilhada (que se tornou na Eucaristia) era para ser um alegre encontro; mas uma sombra é lançada sobre ela pela consciência da traição que aí vem. Os antigos Padres da Igreja concordaram em como Judas tomou o pão e o vinho com o resto dos discípulos. É um detalhe importante porque mostra que a sombra em nós mesmos – e a escuridão no mundo, antes e depois – é absorvida pela própria luz que ela tenta bloquear. O que parece uma contradição (como acontece àqueles que excluem pessoas da Eucaristia) torna-se então um paradoxo no qual a transformação acontece e a realidade é compreendida.

Isto é o Meu corpo; isto é o Meu sangue. Duas palavras gregas, com significados distintos e sobrepostos, apontam para o dom que Ele está a conceder: Sarx (carne), Soma (corpo). Se Ele quisesse dizer sarx, seria um dom bastante repugnante – o canibalismo que as pessoas pensavam que os primeiros cristãos praticavam. Mas soma quer dizer o “eu” encarnado como um todo. Se uma mulher recebe um perturbador resultado de análises de sangue, a sua família não abraça apenas a sua carne, mas todo o seu “eu”-corporal. A dor da carne é aliviada pelo amor experienciado no corpo. Abdominais e bíceps perfeitos podem ser um embrulho atraente para o nosso “eu”, mas amamos a pessoa encarnada no seu todo, mesmo quando perde tónus e ganha peso.

Antes do sofrimento físico e mental para o qual Ele estava a prepará-los, Ele estava a tocá-los, como Leonard Cohen diz, com o Seu “corpo perfeito” e, mais ainda, a incluí-los nele.



Com amor,
Laurence


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Domingo de Ramos 2018

25/3/2018

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Domingo de Ramos - Reflexões para a Quaresma 2018

Mc 14:1-15-47
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Nenhuma narrativa mudou o mundo tão profundamente como o relato da Paixão de Jesus que lemos hoje e que vamos considerar ao longo desta Semana Santa que hoje se inicia. Os temas que temos trabalhado durante a Quaresma –  ascese, paradoxo, valores verdadeiros, consciência – estão embutidos na globalidade da história e brilham em muitos dos seus mínimos detalhes. Alguns filmes começam com o anúncio de que se “baseiam em factos reais”. Esta história não é inventada mas é também literatura da melhor qualidade. Comecemos.
 
Dois dias antes da Páscoa, o festival religioso central do mito fundador da sua raça, que reclama a predilecção de Deus para com o seu povo eleito. No Egipto (onde começámos a Quaresma) o anjo da morte passou sobre os filhos de Israel e escolheu os seus inimigos em vez deles. Claro, já sabemos que, nesta história, Jesus não terá este privilégio. Desde o início, ele é visto como uma vítima do corrupto e cruel sistema do poder. Ele é como K no livro “O Processo” de Kafka, e como nós nos nossos paranóicos pesadelos em que somos o alvo. Igual e diferente. Igual a nós na provação, diferente de nós na Sua resposta.
 
Os agentes do poder do mais alto nível, quando trabalham em solidariedade, são imbatíveis. Eles decidem eliminá-Lo e nós sabemos que Ele vai ser morto. Seja qual for o suspense nesta história – e todas as histórias exigem algum – não tem a ver com o resultado.
 
Mudança de cena. Jesus estava à mesa quando uma mulher lhe mostrou os seus sentimentos por ele, ungindo-O com um pote de unguento de alto preço. Ela quebrou o pote e derramou o conteúdo perfumado sobre a Sua cabeça. (Christos significa ‘ungido’). Alguns dos convidados ficaram zangados – por que razão desperdiçar o dinheiro em vez de o dar aos pobres? Jesus defende a mulher apaixonadamente. Este é mais um exemplo do Evangelho a destacar a superior sabedoria das mulheres. Talvez elas sejam mais sábias não só por serem mulheres: mas porque os que estão excluídos do poder frequentemente vêem mais profundamente a verdade. Os pobres e os que não têm poder com os quais Jesus se identificou estão muitas vezes mais próximos do Reino.
 
Ao protegê-la, Jesus diz que ‘vocês terão os pobres convosco sempre e podem ser bondosos com eles sempre que quiserem, mas nem sempre me terão a Mim’. Nenhum político diria isto. Mas será que ele está a dizer que ele vale mais do que os pobres? Ou: que a nossa opção pelos sem-poder resulta, não de ideais socioeconómicos, mas da transcendente fonte da compaixão? Quando vestiste o nu ou deste de comer ao faminto, diz Ele noutro passo, fizeste-o ‘a Mim’. O que pode parecer uma separação do sofrimento humano é de facto uma absoluta identificação com ele. Mas isso é expresso, não de um modo conceptual, mas no modo muito particular como Ele defende essa mulher. Quem é ela? Toda esta história é universal porque é tão autenticamente particular.
 
Mudança de cena: Judas oferece-se aos sumos sacerdotes para atraiçoar Jesus por dinheiro. Ele irá calcular o momento certo para O entregar a eles. O contraste com a menção do dinheiro na cena anterior do unguento é evidente. Aí o dinheiro era um pormenor. Aqui parece o motivo decisivo. Não sabemos porque é que Judas encena esta traição, que fez do seu nome um sinónimo universal do pior da humanidade. Nós nunca o entenderemos até descobrirmos a razão em nós próprios.


Com amor,
Laurence


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Sábado da Quinta Semana da Quaresma 2018

24/3/2018

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Sábado da Quinta Semana da Quaresma - Reflexões para a Quaresma 2018


António do Deserto (também conhecido como Antão), o monge arquétipo do séc. IV, convocou um dia todos os irmãos. Quando eles se juntaram à volta dele as suas palavras foram poucas: ‘Sempre respirem Cristo´. Lembrados da sua meta, a oração contínua, eles regressaram para aplicar o seu ensinamento em cada momento da sua vida.
 
Nestes tempos de tensão nós nos esquecemos do significado e perdemos a autoridade experiencial do ensinamento de António. Mas, quando a solidão ansiosa e o medo do vazio ameaçam o nosso bem-estar e sanidade, estamos aptos a redescobrir o imediatismo simples do que a sabedoria do deserto nos ensina.
 
Antes do mantra se enraizar no coração, a respiração consciente, prestar atenção ao ritmo da inspiração e expiração, é o meio mais simples e rápido para recuperarmos de uma mente agitada e, como Jesus diz, ‘pôr os vossos corações perturbados em repouso e eliminar os vossos medos’. Não podemos lidar com a ansiedade apenas reflectindo sobre o que é que nos faz ansiosos. O corpo é o lugar natural por onde começar.
 
John Main enfatiza a simplicidade. O nosso corpo, apesar de ser tão complexo como o cosmos, é radicalmente simples. No coração, o centro espiritual e o quarto interior da oração, o corpo e mente unem-se. O Fr. John avisa-nos contra os perigos de complicar a disciplina simples da meditação transformando-a numa técnica.
 
Como todos os mestres da oração, ele compreendeu o papel da respiração no acalmar simultaneamente a mente e o corpo, e em preparar-nos para um suave e contínuo aprofundar da consciência, a que chamamos jornada interior. A respiração liga a mente e o corpo.
Ele não aconselhou apenas um modo de sincronizar o mantra com a respiração; ele estava ciente de que havia outros meios de alinhar o mantra com outros ritmos, como o coração. Mas provavelmente a maioria das pessoas diz o mantra com a respiração, quer dizendo a palavra completa ao inspirar e expirando em silêncio, quer (se você disser a palavra maranata como ele sugeriu) dizendo as primeiras duas sílabas ao inspirar e as duas últimas ao expirar.
 
Se você auto-conscientemente divide a sua atenção entre a respiração e o mantra a sua meditação torna-se mais uma técnica. O propósito da disciplina é unificar a atenção e tornar a mente unifocalizada. Assim ao princípio você pode repousar o mantra levemente no ciclo da respiração, prestando indivisa atenção ao mantra. Finalmente o mantra encontra o seu próprio ritmo no terreno subtil do espírito. Então começamos a fazê-lo soar mais gentilmente e a escutá-lo mais plenamente.
 
No tempo espiritual o mantra conduz-nos a um silêncio profundo onde nos movemos para além da minha oração, minha meditação, minha experiência. Quando a nossa oração se transforma na oração do espírito nós verdadeiramente ‘respiramos Cristo’.
 
A Semana Santa começa amanhã, focando-se no corpo mortal de Jesus; mas também em como esse corpo se torna em nós, à medida que Cristo é formado em nós e nós nos tornamos Seu corpo.


Com amor,
Laurence


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Sexta-feira da Quinta Semana da Quaresma

23/3/2018

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Sexta-feira da Quinta Semana da Quaresma - Reflexões para a Quaresma 2018

 
Quando nos dramatizamos a nós próprios perdemos o drama real, o significado real, da experiência.  Assumir uma pose obstrui o caminho da presença real e distorce a nossa visão das coisas. Por trás desta tendência universal – a reacção de Marta ao stress é um bom exemplo – está o sentido de separação de nós próprios.

Fazer alarido sobre as coisas: isto pode significar falar demasiado, ou falar dos outros com falsa sinceridade, analisar e psicologizar os erros dos outros, atribuir culpas, fazer-se de vítima ou de pessoa ultrajada que foi desrespeitada. Não é uma boa maneira de lidar com casos reais de injustiça.

Temos reacções ambivalentes face aos grandes santos, como S. Francisco de Assis, que se deleitavam com as oportunidades que a rejeição ou a humilhação lhes ofereciam de transcenderem os seus egos. Primeiro, a sua humildade pode despertar a nossa admiração. Mas depois, podemos suspeitar que eles eram uns masoquistas que tinham prazer na sua humilhação.

Como sempre, o teste é o quão enraizados estamos no silêncio profundo. É fácil estar superficialmente em silêncio quando nos sentimos calmos e tudo à nossa volta está em paz. Mas, quando somos levados pelos acontecimentos, magoados ou confundidos, o silêncio é perdido e substituído pelo ruído da nossa lamúria de auto-dramatização. Então perdemos a oportunidade escondida na dura lição que nos está a ser ensinada.

O silêncio profundo não nos ampara apenas na tempestade. Também contém secretamente a presença e o significado, os quais se nos querem revelar. E os quais redimem os erros e transfiguram as tragédias desta vida.

Este silêncio profundo é perceptível em muitas das cenas do drama da Paixão, que na próxima semana estaremos a escutar de novo. É mais forte do que o barulho das multidões.

No início de cada sessão de meditação, deparamo-nos com o tráfego intenso dos pequenos dramas das nossas vidas. Mesmo sabendo que esses problemas terão mudado amanhã, ou no próximo mês ou próximo ano, agora eles absorvem-nos totalmente – distraindo-nos – como se fossem de absoluta importância. Mas, se realizarmos o trabalho do silêncio – pura atenção na ascese do mantra – escapamo-nos do tráfego. Encontramos o silêncio profundo, o qual, na intemporal quietude, pacientemente, gentilmente, aguarda a nossa chegada.

Livres do ruído da nossa auto-dramatização, movemo-nos para o verdadeiro drama da existência, o qual não é o drama do desejo, medo, raiva ou orgulho, mas sim o drama do amor.


Com amor,
Laurence


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Quinta-feira da Quinta Semana da Quaresma 2018

22/3/2018

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Quinta-feira da Quinta Semana da Quaresma - Reflexões para a Quaresma 2018


Nós ansiamos por drama, qualquer coisa que anime a monotonia do mundano. Mas este ansiar contradiz a necessidade de segurança e as vantagens da rotina que normalmente prevalecem ao longo do dia. Somos atraídos pelo risco, mas fazemos tudo o que for possível para o gerir. Queremos crescimento e progresso, mas regateamos o preço a pagar. As beiras dos precipícios são lugares dramáticos que nos aguçam os sentidos e nos excitam; mas há sempre razões persuasivas para não saltar.

Como gerir esta contradição e chegar ao paradoxo? O entretenimento oferece-nos uma solução rápida mas não muito satisfatória. Hollywood e Bollywood alimentam-nos de um buffet de dramas criminais, filmes de guerra, romances apaixonados e séries de aventuras de beiras de precipícios. Num bem servido buffet os pratos apresentados estão sempre a ser reabastecidos e o nosso apetite a ser re-aceso com comida fresca. De um modo semelhante, o nosso consumo de emoções indirectas através de notícias sensacionalistas, alertas de tempestades, TV e cinema, é alimentado tão continuamente que não nos damos conta em como nos estamos a tornar viciados. (Não tenho tempo para meditar, mas foi um dia difícil e ganhei o direito a ver um ou dois episódios de…’)

A vida é dramática porque somos únicos e portanto não há planeamento do futuro que nos prepare para o que vai acontecer a seguir. A previsão funciona bem para o clima, não tão bem para a economia e nada de nada para quando nos apaixonamos ou para quando o amor parece morrer. Não podemos prever quando é que a dimensão contemplativa da alma desperta e eventualmente perturba todo o padrão das nossas prioridades e hábitos. 

Este é o verdadeiro beiral de precipício da caminhada humana mas é geralmente uma mais lenta transformação dramática do que a que esperamos no decurso de um filme de acção ou mesmo de uma novela emocionante. 

No outro dia estava a observar uma criança a dar livre curso aos dramas intensos da sua imaginação num mundo só seu. Ele estava alheio a todas as pessoas à sua volta. Eu perguntava a mim próprio que programas ou desenhos animados estavam a alimentar o seu rico e turbulento mundo interior. Essas fantasias fazem parte do nosso desenvolvimento. Na Idade Média ele ter-se-ia imaginado como um cavaleiro num torneio ou como um herói decepando dragões. Quando você vê um jovem adulto a andar pela rua Islington vestido com um casaco comprido como o personagem de Matrix, e a andar como ele, você questiona-se onde é que a fantasia alimenta a imaginação e quando é que canibaliza as forças criativas da mente.

Sem o sabermos nós nos representamos a nós próprios, ocupando papéis auto gerados de ganhadores, heróis, vítimas, génios não reconhecidos ou sábios negligenciados. Nós nos tipificamos a nós próprios e assim deixamos de nos surpreender pela maravilha do nosso próprio ser e pela nossa liberdade de espírito.

A meditação esmaga as conchas da fantasia que nos prendem. Então sentimo-nos em risco; e estamos. Arriscamos o beiral do precipício da realidade, a passagem através do portal. É precisamente a natureza não dramática da meditação o que nos abre para a verdadeira maravilha e espanto de como as coisas verdadeiramente são. 


Com amor,
Laurence


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