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Reflexões para a Quaresma 2018

                                                                       .     
​LAURENCE FREEMAN OSB 

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Quinta-feira da Quinta Semana da Quaresma 2018

22/3/2018

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Quinta-feira da Quinta Semana da Quaresma - Reflexões para a Quaresma 2018


Nós ansiamos por drama, qualquer coisa que anime a monotonia do mundano. Mas este ansiar contradiz a necessidade de segurança e as vantagens da rotina que normalmente prevalecem ao longo do dia. Somos atraídos pelo risco, mas fazemos tudo o que for possível para o gerir. Queremos crescimento e progresso, mas regateamos o preço a pagar. As beiras dos precipícios são lugares dramáticos que nos aguçam os sentidos e nos excitam; mas há sempre razões persuasivas para não saltar.

Como gerir esta contradição e chegar ao paradoxo? O entretenimento oferece-nos uma solução rápida mas não muito satisfatória. Hollywood e Bollywood alimentam-nos de um buffet de dramas criminais, filmes de guerra, romances apaixonados e séries de aventuras de beiras de precipícios. Num bem servido buffet os pratos apresentados estão sempre a ser reabastecidos e o nosso apetite a ser re-aceso com comida fresca. De um modo semelhante, o nosso consumo de emoções indirectas através de notícias sensacionalistas, alertas de tempestades, TV e cinema, é alimentado tão continuamente que não nos damos conta em como nos estamos a tornar viciados. (Não tenho tempo para meditar, mas foi um dia difícil e ganhei o direito a ver um ou dois episódios de…’)

A vida é dramática porque somos únicos e portanto não há planeamento do futuro que nos prepare para o que vai acontecer a seguir. A previsão funciona bem para o clima, não tão bem para a economia e nada de nada para quando nos apaixonamos ou para quando o amor parece morrer. Não podemos prever quando é que a dimensão contemplativa da alma desperta e eventualmente perturba todo o padrão das nossas prioridades e hábitos. 

Este é o verdadeiro beiral de precipício da caminhada humana mas é geralmente uma mais lenta transformação dramática do que a que esperamos no decurso de um filme de acção ou mesmo de uma novela emocionante. 

No outro dia estava a observar uma criança a dar livre curso aos dramas intensos da sua imaginação num mundo só seu. Ele estava alheio a todas as pessoas à sua volta. Eu perguntava a mim próprio que programas ou desenhos animados estavam a alimentar o seu rico e turbulento mundo interior. Essas fantasias fazem parte do nosso desenvolvimento. Na Idade Média ele ter-se-ia imaginado como um cavaleiro num torneio ou como um herói decepando dragões. Quando você vê um jovem adulto a andar pela rua Islington vestido com um casaco comprido como o personagem de Matrix, e a andar como ele, você questiona-se onde é que a fantasia alimenta a imaginação e quando é que canibaliza as forças criativas da mente.

Sem o sabermos nós nos representamos a nós próprios, ocupando papéis auto gerados de ganhadores, heróis, vítimas, génios não reconhecidos ou sábios negligenciados. Nós nos tipificamos a nós próprios e assim deixamos de nos surpreender pela maravilha do nosso próprio ser e pela nossa liberdade de espírito.

A meditação esmaga as conchas da fantasia que nos prendem. Então sentimo-nos em risco; e estamos. Arriscamos o beiral do precipício da realidade, a passagem através do portal. É precisamente a natureza não dramática da meditação o que nos abre para a verdadeira maravilha e espanto de como as coisas verdadeiramente são. 


Com amor,
Laurence


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Quarta-feira da Quinta Semana da Quaresma

21/3/2018

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Quarta-feira da Quinta Semana da Quaresma - Reflexões para a Quaresma 2018


O vazio, assim como a pobreza, tem conotações negativas. No espírito do paradoxo, contudo, estes dois termos são usados por muitas tradições de sabedoria para significar o caminho da plenitude e riqueza transcendentes.

Uma palavra chave em relação com o mistério de Cristo é a palavra kenosis ou ‘esvaziamento’. Dizem-nos que Jesus ‘se esvaziou’ a si próprio ou ‘tornou-se como nada’. Isso aplica-se especialmente às provações dos Seus últimos dias de vida que são descritos como o derradeiro acto de serviço – utilizando a metáfora de um escravo ou criado que não tem identidade própria mas que se tornou totalmente centrado no outro. Também ilumina alguém que cuida de outro e que escolhe, por amor, pôr o outro em primeiro lugar. Psicologicamente isso provoca às vezes sinais de alarme nas pessoas de agora mas teologicamente abre a janela para o mais profundo dos mistérios.

Vazio – sunnyata no pensamento budista – refere-se menos ao modo como nos relacionamos com os outros mas é mesmo assim um elemento indispensável na compaixão. ‘Não eu’ refere-se mais à natureza essencial de tudo. Nada tem existência independente ou permanente. Isto está reflectido na Bem-Aventurança de Jesus e Ele chama de pobreza ou pobreza de espírito. Soa como uma privação ou um estado de aflição. Mas, se como Ele diz, é o caminho directo para o Reino, então é mais verdadeiramente entendido como para significar desapego, renúncia ou abandono.

Estas ideias podem parecer abstractas a um não praticante de meditação ou a alguém que não reflectiu no significado da sua experiência de vida. O significado surge através da conexão. A meditação é um meio universal para descobrirmos o significado porque – outro paradoxo para acrescentarmos à lista – a solidão em que entramos quando praticamos a meditação abre-nos para a realidade da nossa fundamental conexidade. Isto começa com o sentirmo-nos conectados connosco próprios ao ultrapassarmos a ilusão da separação e o sofrimento que dela advém. Mas isto é apenas o começo.

Exactamente o como estas verdades gerais funcionam na história das nossas vidas – tal como aconteceu na vida de Jesus – forma a singularidade da nossa existência. Esta singularidade da existência humana é também a base do amor e da justiça. Amamos os outros porque são únicos e a sua singularidade de algum modo ressoa com a nossa. A justiça trata cada caso, cada pessoa, segundo os seus méritos próprios. Todo o amor é solidão transformada em comunhão.

No caso da história de Jesus isto toca não só as pessoas que Ele amou, a sua família e amigos, mas a nós também – ‘nós’ significando todos os que já viveram ou que ainda estão para vir.

Por muito que gostemos de adiar pensar sobre isso, a morte é também um elemento indispensável no significado da vida. Ela faz-nos ver que cada história de vida, por muito insignificante que seja em termos dos sistemas mundanos do poder/riqueza, é um drama universal. Devidamente reverenciado, cada ser humano e a sua história única, revela então o mistério cósmico.


Com amor,
Laurence


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Terça-feira da Quinta Semana da Quaresma

20/3/2018

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Terça-feira da Quinta Semana da Quaresma - Reflexões para a Quaresma 2018


O paradoxo é o portal para a verdade.

Isto pode facilmente soar a simplista. O paradoxo pode ser enganosamente interpretado como algo meramente confuso onde realmente não sofremos com as difíceis contradições da vida, as decepções amargas, as esperanças atraiçoadas, os furacões de egoísmo, as florestas de ilusões e esses pântanos de mal-entendidos que nos separam dos outros há décadas.   Evitamos tudo isso em vez de suportar a paixão que lhes é inerente. A paixão vai-se aguentando.

O paradoxo – como o Tao e os Evangelhos testemunham, juntamente com cada texto sagrado que o espírito humano tenha dado à luz – é mais do que simplesmente não se obter aquilo que se deseja ou ter um contratempo. Em última instância é nada menos do que tudo, nada menos do que a Cruz.

Dentro de poucos dias, a purificação da mente e do coração que a Quaresma operou em nós – seja em que grau for – será testada no modo como re-contamos a história dos últimos dias e horas da vida de Cristo. Esses momentos ocupam um volume de espaço desproporcionado na sua biografia porque espremem e destilam, a partir da mais seca das pedras, o significado das Suas palavras e da Sua verdadeira natureza. A Sua história é quem Ele é: o olho da agulha.

No Netflix – que está a substituir as novelas no mundo de muita gente – há um menu de selecção de filmes ou séries que você já viu antes ou que pode querer “ver de novo”. Num mundo de implacável novidade é bastante reconfortante que as maiores mentes empresariais reconheçam a profunda necessidade humana de familiaridade e repetição.

Como o perspicaz Oscar Wilde disse: “Se alguém não consegue ler e apreciar um livro vezes sem conta, não há qualquer utilidade em lê-lo de todo.” O portal do paradoxo é raramente reconhecido no primeiro encontro e, se o for, é com frequência rapidamente negado. São precisas várias visitas até que a total exigência da realidade possa ser encarada.

A repetição queima a escória da distracção. Na meditação, como em qualquer tipo de amor fiel, aprendemos a pôr todo o nosso eu nela. Depois temos que retirar todo o nosso eu para fora dela. Até mesmo a ideia de que é “o meu trabalho” ou de que me vai trazer benefícios deve ser abandonada. Tendo investido tudo e a seguir renunciado a tudo, o que resta é o nosso eu verdadeiro, uma obra autêntica, uma nova criação.

Isto é o que faz uma boa história e uma história que não podemos esquecer porque aprendemos a amá-la como uma criança ama. 


Com amor,
Laurence


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Segunda-feira da Quinta Semana da Quaresma

20/3/2018

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Segunda-feira da Quinta Semana da Quaresma - Reflexões para a Quaresma 2018


De acordo com o Tao Te Ching, um antigo texto da sabedoria chinesa, viver corretamente depende da sabedoria; e a sabedoria consiste num paradoxo tão radical como o que encontramos nas Bem-Aventuranças e no significado da história da vida e morte de Jesus.

O Tao Te Ching, como Jesus, utiliza linguagem caseira e não um tom pretensamente intelectual.

                                                           Trinta raios unem-se num eixo
                             É precisamente onde não encontramos qualquer utilidade da roda
                                                          Nós esculpimos portas e janelas
                        É precisamente nesses espaços vazios que encontramos a utilidade do quarto.

A palavra ‘precisamente’ nesta tradução convoca a nossa atenção. Respeitamos e exigimos precisão, a palavra certa, o relatório financeiro preciso, a avaliação correcta de uma situação. Empresas e governos gastam fortunas para tentar alcançar a aparência da precisão. É o novo ‘virtuoso’ e universal valor numa era em que tudo tem de ser provavelmente útil.
 
Usada neste contexto da sabedoria, numa poderosa mas mundana metáfora, contudo, a precisão não é o mesmo que uma prova científica. Uma vez que o método científico é o nosso valor mais alto, é fácil descartar palavras como essas acima como simples sabedoria popular. Podemos lê-la no comboio na ida para o trabalho ou na cama à noite, mas não nos sentimos desafiados a aplicá-la nas formas actuais em que vivemos ou administramos as nossas instituições.

O nosso materialista sistema de valores gira em torno da verificável utilidade.  Qual é o interesse de algo se não produz óbvios benefícios? Naturalmente, a sabedoria trata de tornar a vida melhor mas não necessariamente óbvia. Lao Tzu – e a história do Evangelho em que vamos mergulhar na próxima semana – assinalam um ponto muito perturbador. O mais útil pode ser o menos óbvio.

A Meditação é um caminho de sabedoria. É um caminho estreito – no sentido em que Jesus dizia que o caminho para a vida é estreito. Mas a sua estreiteza produz imensa expansão no modo como duas linhas convergentes, que se encontram num ponto único, fazem ricochete para fora numa trajectória infinitamente em expansão. Um ponto é infinitamente pequeno; tem uma posição, mas não tem grandeza.

É como o vazio de uma janela ou o eixo de uma roda, como a própria morte.

Temos uma dívida incomensurável para com os transmissores de sabedoria em qualquer campo, que a ilustram de modo a que possamos entender, ainda que apenas por um momento fugaz antes que a esqueçamos outra vez. Esses professores da sabedoria não são como os consultores loquazes pagos pelo número de palavras ou comprimento de um relatório. Eles dizem tudo em quase nada.

Chegado a este ponto nesta minha falhada tentativa de minimalismo quaresmal, devo parar.

​


Com amor,
Laurence


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Quinto Domingo da Quaresma

18/3/2018

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Quinto Domingo  da Quaresma - Reflexões para a Quaresma 2018

Jer 31:31-34; Heb 5:7-9; Jo 12: 20-33
 

A vida é uma coisa danada após outra. As pessoas religiosas frequentemente lidam com isso construindo muros e baluartes contra a mudança e deste modo produzem uma religião cheia de danação e de condenação. A religião pretende ser uma iluminada e destemida forma de gerir a mudança na inexorável jornada da vida em direcção a Deus.

As leituras de hoje começam na Era Axial – esse evolucionário período da consciência humana que fez surgir o Buda, os Upanishads, Lao Tse, Platão – e os profetas hebraicos. Foi um tempo de profunda e irreversível mudança no modo como nos percebemos a nós mesmos. Jeremias viu que a compreensão do seu povo acerca de Deus e de si mesmo – a “aliança” como eles lhe chamavam – tinha mudado, deixando de ser uma divindade tribal com submissos veneradores que faziam o seu superior sentido de identidade derivar dela. Em vez disso a “nova aliança” iria consistir não numa Lei exterior mas numa Lei “escrita nos seus corações”. 

O resultado desta revolucionária mudança na consciência religiosa foi uma nova percepção da igualdade unindo todo o povo. Os que experienciaram Deus desta maneira para sempre olham de forma diferente uns para os outros. O ensinamento sobre Deus deixa de ser feito de cima para baixo. Agora, “todos eles Me conhecerão, o mais pequeno não menos que o maior”. Uma tal percepção da igualdade levou o Papa Francisco a chamar ao clericalismo uma das três maiores tentações corrosivas da Igreja. Ela levou também Mary McAleese, na semana passada, a desafiá-lo ardentemente a pôr isto em prática numa instituição eclesial incorrigivelmente patriarcal e a respeitar a igualdade entre a mulher e o homem a todos os níveis da sua vida. 

Na segunda leitura, da Epístola aos Hebreus, o feixe de luz desta revolucionária mudança na consciência é passado através da lente que é Cristo. Ou, mais rigorosamente, passado através da humildade de Cristo que aprendeu (e quem não aprende?) a obedecer através do sofrimento. Só os líderes que não têm medo de mostrar as suas feridas podem ser portadores da redenção para aqueles que os seguem.  Se Jeremias ilumina a igualdade da nova aliança, Hebreus revela a transformadora fraternidade que Jesus abre para a Humanidade através da Sua forma de viver a humana jornada.

Na leitura seguinte, Jesus fala nesse misterioso tom de voz que ouvimos no evangelho de João. Encontramos a Palavra de Deus feita carne nas Suas humanas lágrimas e medos. O encadeado de coisa danada após outra trouxe-O a um derradeiro, choroso e apavorado momento no qual Ele percebe a lógica inevitável do Seu ensinamento: este, e Ele, serão rejeitados pelas estruturas de poder que denuncia. Ele fracassará; e nós apenas podemos escolher segui-Lo através desse buraco negro ou permanecer numa religião que se vendeu ao poder. Estranha e perturbadoramente, é com isto que a liberdade realmente se parece. 

Profética igualdade, mística fraternidade e liberdade de espírito. Estes são os elementos da revolução na qual estamos todos envolvidos neste momento, gostemos ou não. Uma revolução que, até agora, ainda mal começou. 

​
Com amor,
Laurence


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Sábado da Quarta Semana da Quaresma 2018

17/3/2018

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Sábado da Quarta Semana da Quaresma - Reflexões para a Quaresma 2018


Uma vez, visitei no hospital um homem que tinha pegado numa faca ameaçando a sua mulher e o seu filho quando ela lhe disse que o ia deixar. Num estado enlouquecido ele virou faca para si próprio e feriu-se. Quando o vi ele estava mais calmo mas num imenso sofrimento interior e totalmente sem percepção sobre razões que o levaram a este seu triste e lamentável estado.

Contou-me que fora completamente surpreendido e que não estava preparado para o que a sua mulher lhe tinha dito. Ele insistia que durante todo o casamento deles tinham permanecido tão apaixonados como no início do seu relacionamento. E, afirmava ele, nunca tinham sequer uma vez tido um desacordo, estando sempre em sintonia e devotados um ao outro.

A percepção pode ser uma coisa terrível quando é falsa e quando alguma coisa que a desafia a ela bem como à visão-do-mundo que ela sustenta é a todo o custo negada. Às vezes a negação mantém a cumplicidade num grupo ou num casamento por longos períodos. Quando se torna insustentável, algo – ou alguém, como a mulher deste pobre homem – estala. Então, as forças acumuladas do auto-engano esmagam a mente e inundam todos os nossos sentimentos como um veneno. Uma das melhores descrições disto na litertatura está no romance  de Jane Austen, Emma . Este romance é uma comédia: isso quer dizer que acaba bem, com toda as personagens a casarem com a pessoa certa. Mas, como acontece em muitas comédias, o lado escuro da experiência e os grandes sofrimentos que ele acarreta têm que ser encarados primeiro.

No espaço de alguns momentos, no final da história, Emma percebe como era uma jovem tonta, arrogante e totalmente sem capacidade de percepção. “Ela estava perplexa no meio da confusão de tudo o que se tinha precipitado sobre ela nas últimas horas. Cada momento tinha trazido uma nova surpresa; e cada surpresa tinha-se tornado uma causa de humilhação para ela. Como entender aquilo tudo?! Como entender os enganos que ela tinha criado assim para si mesma e aos quais se tinha submetido?! As asneiras, a cegueira da sua própria cabeça e do seu coração! […] sentou-se a meditar silenciosamente, numa atitude fixa, por alguns minutos […] suficientes para a sintonizar com o seu coração. Uma mente como a sua, depois de aberta à suspeição, fez rápidos progressos. Ela toucou – ela admitiu – ela reconheceu toda a verdade.” (cap.47)

É impossível não se sentir compaixão por alguém quando o véu de ilusão por trás do qual se tem escondido é removido. É uma violenta surpresa e a violência é muitas vezes, como no caso do homem que mencionei, virada, de uma forma ou de outra, contra si próprio. Os amigos nunca são mais essenciais do que nestes tempos de vergonha e de profunda introspecção nos próprios erros de percepção da pessoa.

A surpresa negativa e infelicidade da des-ilusão é a imagem-espelho do que acontece quando a realidade rebenta sobre nós e somos surpreendidos pela alegria e cheios de deleite. Também isto pode ser doloroso mas num caminho de crescimento, como quando percebemos que a nossa vida foi virada de pernas para o ar e do avesso pelo amor.

A areia numa ampulheta parece (mais um erro de percepção) estar a escorrer mais depressa no fim da hora. Os nossos quarenta dias estão se esgotando. Mas seja o que for em relação a que tenhamos sido desiludidos, prepara-nos para a Páscoa e a maior surpresa de todas.


Com amor,
Laurence


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​Sexta-feira da Quarta Semana da Quaresma 2018

16/3/2018

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​Sexta-feira da Quarta Semana da Quaresma - Reflexões para a Quaresma 2018


Em última instância a limpeza das portas da percepção conduz à pureza de coração e à consumação de toda a percepção consciente na visão de Deus.

Cada grau de percepção – não se consegue enumerá-los – é uma porta para outro. Se alcançarmos um certo nível de conscientização – por exemplo, em paz e clareza mental ou conscientização sem imagens – podemos ser tentados a pensar que alcançámos o fim da viagem. Deus, porém, em direcção a quem a viagem está a ser feita, é infinitamente simples. Chegar significa sempre partir outra vez.

Na nossa forma de meditação, isto explica o ensinamento sobre o recitar do mantra continuamente e o aceitar que “nós não escolhemos quando parar de o dizer”. Contudo isto não significa, como algumas pessoas temem quando pela primeira vez ouvem isto, que estamos condenados a uma vida inteira de monótona e mecânica repetição. Bem pelo contrário, a prática fiel limpa o caminho. O próprio mantra é como um quebra-gelos abrindo o caminho para mais profundos e mais subtis níveis de percepção. 

Ao faze-lo, o mantra é recitado mais gentilmente e mais atentamente, com o grau de subtileza apropriado ao nível a que fomos conduzidos. John Main descrevia este labor do mantra como o escalar da vertente duma montanha. Quanto mais subimos mais o mantra soa mais fracamente no vale por baixo de nós; mas continuamos a dizê-lo ou a escutá-lo assim que caímos em níveis anteriores de distracção e de turbulência.

Por vezes isto pode conduzir-nos ao completo silêncio que significa abrir mão da auto-consciência e do observar-se a si próprio. Estamos em certo sentido, agora, para lá da experiência, porque a experiência no seu sentido mais comum é sempre a forma como recordamos ou descrevemos algo que já não está plenamente presente. Muitas pessoas que recordam uma boa experiência desejam ardentemente recuperá-la e lamentam infindavelmente a sua perda. Muitas vezes aquilo de que se lembram e a que chamam de experiência parece muito diferente do que realmente aconteceu.

Isto é viver no passado. Mas a essência da consciência contemplativa é absorver e integrar o passado, e depois avançar ainda mais para uma entrada mais profunda do momento presente. A real limpeza dos nossos progressivos níveis de consciência, que é o que significa o crescimento, traz consigo o progresso por tocar e escancarar o centro profundo do nosso ser, na caverna, o abismo, do nosso coração.

Tudo o que é bom da nossa humanidade está ali à espera de libertação e realização. A este nível de ser sofremos uma transformação que não pode ser observada porque está simultaneamente dentro e fora de nós. Muitas vezes ficamos cientes da nossa mudança interior ao nos apercebermos do novo poder do perdão, da veracidade e da compaixão na nossa vida quotidiana. Estes frutos do espírito apontam para uma mudança interior que não conseguimos ver acontecer. Sem o tentar, no entanto, ficamos cientes dele no silêncio dum coração puro (sem esforço ou controlo da nossa parte).

Nós então vemos Deus mas sem objetificar a visão, com liberdade de espírito. Isto é oração e é a resposta a todas as formas de oração. 

​

Com amor,
Laurence


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Quinta-feira da Quarta Semana da Quaresma 2018

15/3/2018

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Quinta-feira da Quarta Semana da Quaresma - Reflexões para a Quaresma 2018


Os meditantes podem ser as mais egocêntricas das pessoas, especialmente se a limpeza das suas portas da percepção (ver a leitura de ontem) ficar presa na porta inicial. A percepção do nosso egotismo, por muito desconfortável que possa ser, é libertadora, mas só se se estender além dela mesma. Se a pessoa contemplativa se mantiver fixa na sua autopercepção, ela trai o objectivo da sua viagem, que é a percepção centrada-no-outro. Quando ensinamos as crianças chamamos a isto “pensar nos outros” e está relacionado com as cortesias sociais básicas. Mas o seu sentido mais profundo é a clara, directa percepção dos outros, das suas necessidades e da sua bondade, que acontece quando nos tornamos suficientemente subtis para atravessar as paredes da caverna do nosso ego.

Blake falava da limpeza das nossas portas da percepção. Poderíamos também pensar nela como um treino, a ascese que é a própria vida. Cada acto de percepção é uma lição e um passo para a consciência mais profunda. Do mesmo modo que nós gratamente percebemos as coisas mais claramente depois do exercício físico, do trabalho criativo ou da meditação, também acabamos por amar o treino pelo tipo de trabalho que ele realiza em nós.

O treino neste tipo de percepção assume muitas formas. Como qualquer processo universal, ele nunca é exactamente o mesmo para todas as pessoas. Ninguém está isento disto porque é o próprio significado do desenvolvimento humano. Mas nós somos diferentes uns dos outros em temperamento e nas experiências passadas, nos tipos e graus das feridas e na combinação de forças e fraquezas que definem tanto as nossas limitações como o nosso potencial.

O treino nunca pára até ao nosso último suspiro e, talvez, até nem aí. Ele envolve uma constante correcção do rumo em que estamos. Os extremos tiram-nos da rota – mesmo assim eles podem nos ajudar a compreender melhor para onde não estamos a ir. Num extremo, por exemplo, está a DDA (Desordem por Défice de Atenção), uma atenção saltitante, de pequena duração e inconstante: quando lutamos até para ouvir a pessoa que está a falar connosco ou a página que estamos a ler. Noutro extremo, está a DOC (Desordem Obsessiva Compulsiva), fixada, mecanicamente repetitiva, compulsiva: quando a agulha da atenção fica presa no vinil e fica a tocar sempre o mesmo. 

Qualquer dos extremos conduz finalmente ao desencorajamento ou ao desespero. Mas podemos estar seguros de que até os erros e as neuroses têm o seu lado positivo, quando os percebemos por aquilo que são. Isto em si mesmo é um progresso e devíamos sentir um raio da luz solar da consciência a entrar nas nossas mentes escurecidas nesta simples percepção da nossa disfunção. Em linguagem bíblica, admitir a nossa responsabilidade na confusão que ajudámos a criar é uma coisa boa, o começo do arrependimento que é simplesmente pôr as coisas de novo em ordem.

Limpar a nossa percepção é como afiar uma faca romba ou como caminhar num carreiro estreito. Vê-lo não é suficiente. Temos também, sempre, que dar o passo seguinte. É por isso que dizemos o mantra continuamente.
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Com amor,
Laurence



Texto original, em inglês: aqui
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Quarta-feira da Quarta Semana da Quaresma 2018

14/3/2018

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Quarta-feira da Quarta Semana - Reflexões para a Quaresma 2018


William Blake disse que, se ao menos conseguíssemos limpar as portas da percepção, veríamos tudo tal qual é: infinito. “Pois o homem fechou-se a si mesmo, até ver todas as coisas através das estreitas frestas da sua caverna”.
 
É sempre tentador pensar que as soluções estão do lado de fora de nós. Os outros que não colaboram podem então ser culpados pelo problema. Lentamente ao longo da vida aprendemos que não conseguimos mudar o mundo ou as outras pessoas enquanto não nos mudarmos primeiro a nós mesmos. É muito aborrecido que isto seja uma lei universal mas não há forma de contorná-la.
 
Uma tentativa de escapar à necessidade de transformação pessoal é pensar que podemos limpar as portas da percepção pegando em alguma coisa fora de nós e pondo-a dentro. A Humanidade vem tendo um relacionamento com o álcool desde há dez milhões de anos e depois dominou a arte de o produzir há cerca de dez mil anos. A nossa epidémica adição às drogas hoje em dia, meramente confirma o quão fácil achamos fugir das percepções dolorosas da realidade, mudando-as através de meios externos. Cada alcoólico e adicto testemunha o falhanço total desta tentativa.
 
Se quisermos ver as coisas como realmente são, temos que limpar os poderes de percepção que nos permitem conhecermo-nos a nós mesmos como verdadeiramente somos. Há muitos poderes destes, tal como há muitas dimensões de consciência nos reinos físico, mental e espiritual. A propriocepção, ou cinestesia, é o termo médico para um destes poderes, que é talvez a percepção que mais tomamos por garantida. É o sentido pelo qual podemos perceber a posição e o movimento do nosso corpo. Por exemplo, mesmo com os olhos fechados sabemos onde é que as nossas mãos esquerda e direita estão e o que elas estão a fazer. Sabemos também através deste sentido se nos estamos a sentir equilibrados. Os atletas são bons sujeitos para o estudo científico desta forma de percepção.
 
Praticamo-lo – e limpamo-lo – cada vez que meditamos, quando tomamos alguns momentos para estar atentos ao nosso corpo e à sua postura. Será que estamos sentados de costas direitas, quietos, com o pescoço equilibrado e as mãos em posição – “confortáveis e descontraídos”? Esta intuitiva lista de verificação torna-se uma segunda natureza com a prática regular e assenta a meditação na maravilha da própria percepção. O facto de que podemos estar cientes de nós mesmos por esta via tão simples e imediata, recorda-nos de que somos seres sencientes, não apenas indivíduos stressados, ansiosos, descontentes ou queixosos. Uma atenção de alguns momentos à nossa postura mostra um caminho para sair da caverna em que Blake diz que nos encarcerámos a nós mesmos.
 
Por muito paradoxal que possa soar, este tão básico poder de auto-conscientização, de percepção respeitante à nossa realidade física, inicia a jornada para o centramento-no-outro. É, se quisermos, mindfulness básico e seja como for que seja praticado traz os seus próprios tipos de benefícios. Mas, se não quisermos ficar presos na conscientização e se quisermos gozar os frutos do autoconhecimento, precisamos de dar o passo seguinte. É por isto que meditamos e por esta razão que alguns de nós apoiam a meditação com o trabalho de limpeza-de-percepção da Quaresma.


Com amor,
Laurence


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Terça-feira da Quarta Semana da Quaresma 2018

13/3/2018

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Terça-feira da Quarta Semana da Quaresma - Reflexões para a Quaresma 2018

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Tenho estado a dirigir um retiro em Itália e aprendi duas coisas no passado fim-de-semana, cada uma delas referente à minha percepção do mundo que eu pensava estar a ver correctamente.

A primeira surgiu depois de eu ter falado sobre o propósito e o valor de “fazer alguma coisa durante Quaresma”, a que estas leituras diárias das últimas semanas têm regressado regularmente. Como é que fazer alguma coisa e deixar de fazer alguma coisa pode ajudar a reorientar as nossas mentes e corações, para mudar velhos padrões e até, sem aplicarmos qualquer tipo de violência sobre nós mesmos, despoletar ou aumentar níveis mais profundos de transformação. Assumi que uma boa proporção das cerca de cem pessoas com quem estava a falar estivessem a fazer alguma coisa ou tivessem posto de lado alguma coisa. Foi uma assunção ingénua porque, quando pedi que levantassem a mão as pessoas que estavam a seguir uma prática quaresmal, e estando à espera de pelo menos cinquenta por cento, só muito poucas é que o fizeram. Bom, talvez me tivessem entendido mal. Ou talvez estivessem a aplicar o aviso de Jesus para que não publicitemos as nossas boas acções perante as pessoas. Não sei. Nós entendemos mal os nossos maus entendimentos também.

Se eu estivesse certo eu tinha tido uma percepção mental errada. Mais tarde, ofereceram-me duas poderosas obras de arte digital, feitas com cores berrantes e dinamicamente abstratas. Ao olhar mais demoradamente para elas, vi uma face numa delas. Na outra vi uma forma que me lembrou um extraterrestre, embora não o tenha dito ao artista. Depois duma terceira olhadela, notei que a face que vi me era muito familiar e falei nisso. O artista olhou para mim, surpreendido por eu não me ter reconhecido a mim próprio. Quando olhei a outra pintura o extraterrestre mesclou-se numa nova composição e observei aí também uma visão diferente da minha face.

Tornarmo-nos cientes dos nossos erros de percepção da realidade é sempre gerador de humildade e pode ao mesmo tempo ser algo cheio de humor e divertido. Em questões mais sérias, onde a nossa reputação ou privilégios são postos em causa se reconhecermos os nossos erros, podemos fingir que sempre vimos as coisas correctamente e que fomos mal interpretados naquilo que dissemos anteriormente – ou simplesmente negar e fugir ao embaraço. Tal como os lideres eficazes bem sabem, é sempre melhor reconhecer erros e se necessário pedir ‘desculpa’, mas é necessário um desapego contemplativo face a nós mesmos e à nossa imagem para o fazer. 

Um dos valores de uma disciplina ascética é a humildade, o estado terra-a-terra que ela traz consigo. Nunca as praticamos de forma perfeita porque, mesmo que sejamos consistentes, há uma certa dose de auto-congratulação que pode sempre se interpor. Mas a humilde fidelidade àquilo que nos propusemos fazer, mesmo assim, cria um desapego, uma distância ótima de nós mesmos e da nossa visão subjetiva do mundo. Ela permite que os nossos poderes de percepção funcionem dentro do fluir dos eventos em vez de criarmos um modelo da realidade que defendemos a todo o custo, mesmo quando ele foi denunciado como falso.

Este traço pessoal, a que todos podemos estar sujeitos sem o saber, também afeta a psique coletiva. Os eleitorados que cometeram um grande erro que lhes é apontado pelos acontecimentos subsequentes, raramente caem em si e mudam de opinião. Mudar de opinião é a essência do desenvolvimento humano. Tal como as cobras, desenvolvemos umas peles de percepção que temos que aprender a tirar e abandonar sem remorsos, quando chega a altura; tal como, certo dia, esgotamos a nossa mortal bobina e entramos nus no Reino, onde vemos com uma visão perfeita porque já não objetificamos a realidade.

Em vez de olhar para ele (e o perceber de forma equívoca na maior parte das vezes), vemos com os olhos do artista que nos fez a ambos, a nós e ao mundo, com o qual somos sempre um só. Em última instância, vemos porque vemos que somos vistos.


Com amor,
Laurence


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