
Primeiro Domingo da Quaresma - Reflexões para a Quaresma 2018
As leituras da Missa de hoje dão-nos muito alimento para pensarmos sobre o caminho da meditação ou de qualquer outra prática espiritual que nos leve mais fundo que o pensamento. Recordam-nos também – tal como se espera do espírito da Quaresma – de desejar o tipo certo de alimento, alimento saudável e alimento pelo qual verdadeiramente vivemos.
A primeira leitura é a história, o mito que podemos encontrar em muitas culturas antigas, do Grande Dilúvio. Para a imaginação moderna, é bastante cómico porque olhamos para as coisas de modo factual e deixamos fugir o significado místico; e, assim, vemos a história de Noé como uma espécie de desenho animado. Porém, quando lhe damos uma oportunidade e nos sentamos um bocadinho com ela, fala-nos duma forma bem mais ressonante. Quem é que nunca experimentou na sua vida uma inundação – ou a perda, a dor, o sofrimento ou uma grande decepção nas suas esperanças? Não nos seria possível anuir a esta pergunta com a cabeça se não tivéssemos também encontrado uma arca que nos permitiu atravessar a inundação com o bastante para começar de novo.
E esperemos que também tenhamos visto o arco-íris colorido no céu, que se tornou um sinal de que poderemos ser sempre resilientes no futuro. A luz do sol que brilha por entre os pingos de chuva, revelando as distintas e coloridas belezas da parte do espectro de luz que podemos ver e que sugere mais ainda da beleza que está fora do nosso actual alcance de percepção.
Na segunda leitura, as águas do Dilúvio recordam a Paulo a iniciação baptismal no relacionamento com Cristo. Os relacionamentos mais profundos da nossa vida começam, muitas vezes, quando estamos em crise e tornam-se mais profundos com o passar dos anos, por meio da adversidade. Somos baptizados em todas os relacionamentos significativos. À medida que Cristo cresce em nós e nós crescemos em Cristo, compreendemos melhor o que Pedro quer dizer quando “prega aos espíritos na prisão”. Essas partes de nós, seguras e longe da vista, como fazemos com os criminosos que tememos, começam a ouvir uma nova mensagem que nos torna conscientes de que estão em prisões que nós próprios construímos.
O evangelho é retirado de Marcos, que é o menos palavroso e mais directo dos narradores evangélicos. Ele simplesmente nos conta que “o Espírito conduziu Jesus ao deserto e Ele aí permaneceu durante quarenta dias, sendo tentado por Satanás”. Esta é uma metáfora suficiente boa para com ela trabalharmos e compreendermos a nossa própria Quaresma. “Ele estava entre as feras e os anjos cuidavam d’Ele”.
Quem são as nossas feras? Quem ou o quê cuida de nós?
Mais tarde, Jesus proclamou a Boa-nova que tinha escutado no silêncio do deserto. Ela está comprimida num slogan de campanha fácil de recordar: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai na Boa-nova”.
O que é que sentimos – entusiasmo ou medo ou ambos – quando ouvimos que “se completou o tempo”?
O tempo para quê?
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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