
Quarto Domingo da Quaresma - Reflexões para a Quaresma 2018
2Cro 36:14-16,19-23; Ef 2:4-10; Jo 3:14-21
As pessoas confrontam-se indefinidamente com questões sobre a existência de Deus e de como Deus é.
A Bíblia afirma que só o ‘tolo é que diz no seu coração que não existe Deus’. Mas chamar um ateu de tolo não ajuda nada à discussão atualmente. A importância de acreditar em Deus hoje não é para evitar sermos queimados na pira de uma tirania teocrática mas sim para que nos lembremos das questões igualmente importantes da existência humana e de qual o seu significado. Sem uma conexão com o símbolo vivo da transcendência não podemos realizar a nossa humanidade.
A primeira leitura utiliza a conhecida metáfora da ira de Deus descendo sobre os que são infiéis à Aliança. É ainda uma metáfora que muitos tomam a sério porque propõe uma explicação simples para o mistério do sofrimento e dá ao crente um sentimento de superioridade sobre aqueles que ele condena por desobedecerem a Deus. Se não decifrarmos a metáfora acabamos como os talibans.
A segunda leitura ajuda a desconstruir tudo isso ao declarar – de um modo chocante para qualquer pessoa naquele tempo – que cometemos uma injustiça em relação a nós próprios por pensarmos em Deus desse modo punitivo. Só podemos conhecer algo sobre Deus através do autoconhecimento que, na fonte, é o amor de Deus por nós. O texto diz que nós, os humanos, ‘somos a obra de arte de Deus’. E, que recebemos a salvação – o potencial de alcançarmos a plenitude do ser na união com Deus – pela fé e como um ‘dom’ de Deus. A questão de Deus é sempre uma questão sobre nós mesmos. O modo como acreditamos em Deus revela o que realmente pensamos acerca de nós mesmos. Somos um miserável pecador culpado ou uma gloriosa obra de arte. Se somos a obra de arte, então Deus deve olhar para nós como um artista olha para a sua obra-prima, não como um objecto de arte com uma etiqueta de preço, mas como uma extensão de si próprio.
Como sempre, o evangelho condensa todas estas ideias na única e simples questão de Jesus e do seu significado para nós. Nele vemos que Deus nos ama, a nós, Sua criação, ama tanto que Ele é incapaz de ser cruel com ela. Pelo contrário, Ele humilha-se a si próprio como qualquer amante apaixonado o faz, descartando dignidade e direitos, amando o incompleto trabalho até à perfeição. Se nos conseguirmos ver a nós próprios como a Sua obra de arte, recebendo o dom da Sua atenção continuamente criativa, deparamo-nos com o que a perfeição humana realmente significa.
A artista recua dois passos de seu trabalho e contempla-o. Ela intervém mas não interfere na sua emergente identidade. Enquanto este ainda está imperfeito, ela apaixona-se por ele. Enquanto ainda o trabalha, ela sabe que a sua beleza, a sua verdade, é a dela mesma. Que descanso sabático assim que ele estiver acabado. Que trabalho perfeito quando este olhar de volta o artista divino e lhe disser: “Obrigado por me ter feito”.
Com amor,
Laurence
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2018/
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