
Terça-feira da Terceira Semana - Reflexões para a Quaresma 2018
O filósofo Espinosa, diz-se, tem o dom de dar paz aos seus leitores por clarificar as coisas e levá-los a compreender a visão global da vida. “Compreender é ser livre”. Foi ele que disse ‘toda a nossa felicidade e o todo nosso infortúnio dependem exclusivamente da qualidade do objecto ao qual estamos ligados por amor.’
Ou, como Jesus disse, ‘onde estiver o teu tesouro estará também o teu coração’. (Mt 6:21).
Hoje existe uma próspera indústria da felicidade. Por um lado é o entretenimento, que nos oferece uma estimulação contínua e mais distracções do que aquelas que poderíamos consumir durante uma vida. Outros tempos, para a geração presente, os dias em que a televisão acabava às 11h da noite e as pessoas iam para a cama. O outro lado da compulsão para se ser feliz é a contemporânea indústria da auto-ajuda, do auto-aperfeiçoamento. Esta oferece uma linha de produção de cursos, publicações e dicas rápidas, de qualidade variável, que prometem aquele segredo da felicidade que o vício-de-entretenimento comprovadamente falha em fornecer.
É direito nosso, como afirma a Declaração de Independência, procurar a felicidade. Politicamente, contudo, isso significa uma coisa diferente do que significa de um ponto de vista espiritual. A declaração espiritual é sobre interdependência; e nós não buscamos a felicidade como um estado de privada satisfação e realização. Nós percebemos isso.
Somos todos mais felizes do que pensamos. Se nos separarmos do pensamento da forma adequada (o entretenimento não será a melhor forma), transitamos para níveis mais profundos de consciência onde nos espera a felicidade. Encontramo-la, como Jesus descreveu nas suas parábolas, como um tesouro enterrado no campo ou uma semente que cresce naturalmente até atingir o seu pleno potencial.
A nossa felicidade não nos pertence. É a felicidade de ser do universo em si mesma. Cada um de nós, como uma entidade interdependente, compartilha dessa alegria de ser. Não podemos agarrá-la ou possui-la. Isso é manifestamente óbvio para nós, quando somos surpreendidos pela verdadeira felicidade. Mas esquecemo-nos disso rapidamente e voltamos a tentar encontrá-la de modo independente. A maior parte do tempo não sabemos onde o nosso tesouro está; e portanto perdemos a noção de onde o nosso coração está. O que é irónico, também, é que nós então esquecemo-nos do que é que realmente amamos.
Reduzindo e abrandando o nosso consumo e clarificando e melhorando a nossa actividade mental – o que a Quaresma e a meditação nos podem ajudar a fazer – revela-nos onde o nosso coração está; e também, como Espinosa disse, a autêntica qualidade daquilo a que nos tornámos apegados. Não existe amor sem apego. Mas não menos verdadeiro, nenhum amor pode crescer sem desapego.
O seu telemóvel provavelmente tem um recurso que indica onde o seu carro está estacionado. É muito útil quando estacionou o carro distraidamente e anda pelas ruas à procura dele. A meditação lembra-nos onde está o nosso coração e, para além disso, esclarece-nos sobre aquilo que verdadeiramente amamos.
Com amor,
Laurence
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2018/
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