Segunda-feira da Primeira Semana
(Mateus 25:31-46)
Porque tive fome e deste-me de comer. Era um estrangeiro e acolheste-me … na prisão e foste visitar-me.
Depois da Sua experiência no deserto, não apenas “cheio”, mas transbordando do Espírito, Jesus partiu para fazer o Seu trabalho. Felizes de nós se encontrámos o nosso trabalho na vida e se vemos que o nosso verdadeiro trabalho não é aquele pelo qual nos pagam ou nos elogiam. Os Upanishads revelam como reconhecer o nosso verdadeiro trabalho, dizendo que quem quer que tenha encontrado o ‘trabalho do silêncio e sabe que silêncio é trabalho’ é feliz. Este trabalho produz todos os frutos duradouros da nossa vida e leva tempo. Ele também lentamente penetra em toda a dimensão do tempo que habitamos, ajudando o ego a deixar ir. Então, ele produz de um modo natural, o fruto da sabedoria nas não-autoconscientemente praticadas boas ações descritas na parábola de hoje. A bondade não tem qualquer vestígio do ego.
O primeiro instrumento conhecido para medir o tempo é um relógio de sol egípcio de 1500 A.C. Os relógios mecânicos apareceram no séc. XIII. Hoje medimos o tempo com uma precisão subatómica, mas quanto mais rigorosamente o medimos menos tempo sentimos que temos. Leva tempo a desfazer este auto-aprisionamento. “Só através do tempo, o tempo é conquistado”. Há um momento em que sabemos que estamos mesmo a ver o que é a meditação: quando vemos o quão absurdo é não disponibilizarmos um mínimo de vinte minutos duas vezes por dia, alegando que estamos demasiado ocupados e demasiado impacientes para nos desligarmos do stress de sermos dependentes-do-tempo. O processo de aprender a meditar é universal mas cada um de nós tem um modo singular de viver esse modelo. Há quem mergulhe em dois períodos diários desde o primeiro dia, e há quem doseie a meditação aos poucos – cinco minutos, alguns dias por semana. Em última instância, o que interessa não é tanto quanto tempo fazemos ou se somos bem-sucedidos, mas sim que – com factos físicos e não apenas como uma ficção mental – comecemos mesmo a sentar-nos e a ficar imóveis e a fazer o trabalho do silêncio.
Sentar. Meio caminho entre estar de pé e estar deitado. Pode-se meditar em qualquer postura ou atividade mas será muito incomum conseguir esse estado contínuo se não se aprender primeiro a sentar-se. Sentar-se imóvel num ambiente tranquilo permite à mente estabilizar. Ao princípio sentimo-nos ao contrário de estáveis: ansiosos, irrequietos e confusos confrontando as imensas ondas de agitação mental e emocional. Nós vemos o quão distraídos somos mas instintivamente procuramos distrair-nos da distração por mais distração. Deixar ir os pensamentos é a resposta simples para ultrapassar essa reação. Mas confundimos isso com a meta de esvaziar a mente e assim sentimos que falhámos se, após quarenta segundos, estamos ainda distraídos. Portanto nós então acabamos por decidir em vez disso não desperdiçar o nosso tempo, fazer qualquer coisa útil e adiar a meditação por mais quarenta dias.
Para não nos rendermos às distrações, precisamos de duas coisas: ânimo em como podemos confiar, que nos vem do exterior; e genuína abertura a algo novo e inimaginado. Como isto leva tempo, precisamos da virtude a que os japoneses chamam de gamon: perseverança, a determinação para continuar apesar do vento contrário, suportando a derrota com paciência e dignidade e assim transformando o fracasso em sabedoria. Quando os nipo-americanos foram internados durante a guerra, os seus colegas-carcereiros americanos interpretaram mal o seu gamon como sendo passividade e falta de iniciativa. Do mesmo modo, hoje podemos ver o bom trabalho da meditação como irrealista, substituindo-o por “bem-estar” ou relaxamento. Mas nós então perdemos o verdadeiro fruto do trabalho do silêncio: a não-autoconsciência da genuína compaixão.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
(Mateus 25:31-46)
Porque tive fome e deste-me de comer. Era um estrangeiro e acolheste-me … na prisão e foste visitar-me.
Depois da Sua experiência no deserto, não apenas “cheio”, mas transbordando do Espírito, Jesus partiu para fazer o Seu trabalho. Felizes de nós se encontrámos o nosso trabalho na vida e se vemos que o nosso verdadeiro trabalho não é aquele pelo qual nos pagam ou nos elogiam. Os Upanishads revelam como reconhecer o nosso verdadeiro trabalho, dizendo que quem quer que tenha encontrado o ‘trabalho do silêncio e sabe que silêncio é trabalho’ é feliz. Este trabalho produz todos os frutos duradouros da nossa vida e leva tempo. Ele também lentamente penetra em toda a dimensão do tempo que habitamos, ajudando o ego a deixar ir. Então, ele produz de um modo natural, o fruto da sabedoria nas não-autoconscientemente praticadas boas ações descritas na parábola de hoje. A bondade não tem qualquer vestígio do ego.
O primeiro instrumento conhecido para medir o tempo é um relógio de sol egípcio de 1500 A.C. Os relógios mecânicos apareceram no séc. XIII. Hoje medimos o tempo com uma precisão subatómica, mas quanto mais rigorosamente o medimos menos tempo sentimos que temos. Leva tempo a desfazer este auto-aprisionamento. “Só através do tempo, o tempo é conquistado”. Há um momento em que sabemos que estamos mesmo a ver o que é a meditação: quando vemos o quão absurdo é não disponibilizarmos um mínimo de vinte minutos duas vezes por dia, alegando que estamos demasiado ocupados e demasiado impacientes para nos desligarmos do stress de sermos dependentes-do-tempo. O processo de aprender a meditar é universal mas cada um de nós tem um modo singular de viver esse modelo. Há quem mergulhe em dois períodos diários desde o primeiro dia, e há quem doseie a meditação aos poucos – cinco minutos, alguns dias por semana. Em última instância, o que interessa não é tanto quanto tempo fazemos ou se somos bem-sucedidos, mas sim que – com factos físicos e não apenas como uma ficção mental – comecemos mesmo a sentar-nos e a ficar imóveis e a fazer o trabalho do silêncio.
Sentar. Meio caminho entre estar de pé e estar deitado. Pode-se meditar em qualquer postura ou atividade mas será muito incomum conseguir esse estado contínuo se não se aprender primeiro a sentar-se. Sentar-se imóvel num ambiente tranquilo permite à mente estabilizar. Ao princípio sentimo-nos ao contrário de estáveis: ansiosos, irrequietos e confusos confrontando as imensas ondas de agitação mental e emocional. Nós vemos o quão distraídos somos mas instintivamente procuramos distrair-nos da distração por mais distração. Deixar ir os pensamentos é a resposta simples para ultrapassar essa reação. Mas confundimos isso com a meta de esvaziar a mente e assim sentimos que falhámos se, após quarenta segundos, estamos ainda distraídos. Portanto nós então acabamos por decidir em vez disso não desperdiçar o nosso tempo, fazer qualquer coisa útil e adiar a meditação por mais quarenta dias.
Para não nos rendermos às distrações, precisamos de duas coisas: ânimo em como podemos confiar, que nos vem do exterior; e genuína abertura a algo novo e inimaginado. Como isto leva tempo, precisamos da virtude a que os japoneses chamam de gamon: perseverança, a determinação para continuar apesar do vento contrário, suportando a derrota com paciência e dignidade e assim transformando o fracasso em sabedoria. Quando os nipo-americanos foram internados durante a guerra, os seus colegas-carcereiros americanos interpretaram mal o seu gamon como sendo passividade e falta de iniciativa. Do mesmo modo, hoje podemos ver o bom trabalho da meditação como irrealista, substituindo-o por “bem-estar” ou relaxamento. Mas nós então perdemos o verdadeiro fruto do trabalho do silêncio: a não-autoconsciência da genuína compaixão.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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