Terça-feira da Primeira Semana
(Mateus 6:7–15)
Quando orardes não tagareleis como os pagãos….
Tagarelar significa conversa fiada e oca como, infelizmente, encontramos em muitas igrejas, templos, mesquitas e sinagogas, para não dizer na maior parte dos debates políticos.
Estamos no sétimo dia da Quaresma. É bem possível que a energia das recentes resoluções de Quarta-feira de Cinzas (abdicar de algo e fazer algo extra) esteja a precisar de renovação. Sabendo o que é que necessitamos e conscientemente indo à sua procura põe-nos a meio-caminho de o encontrarmos. É verdade, se nós verdadeiramente procurarmos, nós iremos realmente encontrar. Encontrar significa ver agora que o que esperávamos que surgisse mais tarde está já aqui, apenas aguardando para ser reconhecido. A dimensão do tempo passa por uma alquimia quando nós e o momento presente nos tocamos mutuamente no aqui.
Entre boas intenções e acção há geralmente uma conexão de curta duração. Esta rapidamente se desfaz antes de o fruto ter amadurecido. A adição é existencial. Desligar-se dos seus padrões é a cura. A boa intenção de meditarmos é uma boa ideia que nos torna felizes por termos tomado essa decisão. Mas, quando esbarramos com uma parede de vidro entre a intenção e a acção, o optimismo do nosso querer desaba. Nós vemos claramente o que queremos fazer mas uma força invisível aparece entre nós e aquilo que queremos e sentimo-la como impenetrável. É aqui que o tagarelar começa, à medida que falamos, lemos ou pensamos demasiado sobre aquilo que ainda não estamos a fazer.
Inventamos mil e uma razões para justificarmos este fracasso o que nos leva a rejeitar como falso justamente aquilo que estávamos a tentar alcançar. Esta traição à confiança explica como as relações podem subitamente cair da alegria perfeita para a miséria. A parede de vidro é reforçada pelo tagarelar ruidoso e muitas vezes malicioso, até nos esvaziarmos. Qualquer pessoa que oiça o debate sobre o Brexit conhece a sensação. Resta-nos a desagradável experiência de vergonha e desconexão que vem após qualquer divisão ou conflito violento. Divididos contra nós mesmos, não conseguindo fazer o que queremos, experimentamos o significado de “pecado”. Longe de ser a mera quebra de uma regra, humana ou divina, o pecado só é entendido quando confessamos o quão impotentes nos tornámos, por via das nossas próprias divisões internas e da nossa auto-rejeição.
O que quer que seja que façamos neste desastroso estado de egoísmo nos traz o menor benefício, ou aos outros. Muitas mãos se estenderão para nós quando pedirmos ajuda para nos libertarmos. Algumas delas vão nos cobrar um preço negociado antes de nos ajudarem a sair. Felizes somos nós que nos agarrarmos a uma mão que não nos pede nada a não ser a honra de nos ajudar. O nosso sentimento de valor próprio já está restaurado. Estes são os elementos encontrados no movimento interior da consciência chamado metanoia (conversão da mente) e muitas vezes erradamente traduzido como ‘arrependimento’. Não se trata de culpa, mas de mudança na consciência.
É isto que Jesus começa por dizer ao deixar o deserto, fortalecido por tudo aquilo que Ele transcendeu. Iniciamos o processo de mudança não por construir uma vontade de ferro, mas simplesmente por mudarmos a direcção da nossa atenção – dando a nossa atenção a outro lugar. A realidade está aonde colocamos a nossa atenção. Ela trava o tagarelar da mente e dissolve a parede de vidro da inacção.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
(Mateus 6:7–15)
Quando orardes não tagareleis como os pagãos….
Tagarelar significa conversa fiada e oca como, infelizmente, encontramos em muitas igrejas, templos, mesquitas e sinagogas, para não dizer na maior parte dos debates políticos.
Estamos no sétimo dia da Quaresma. É bem possível que a energia das recentes resoluções de Quarta-feira de Cinzas (abdicar de algo e fazer algo extra) esteja a precisar de renovação. Sabendo o que é que necessitamos e conscientemente indo à sua procura põe-nos a meio-caminho de o encontrarmos. É verdade, se nós verdadeiramente procurarmos, nós iremos realmente encontrar. Encontrar significa ver agora que o que esperávamos que surgisse mais tarde está já aqui, apenas aguardando para ser reconhecido. A dimensão do tempo passa por uma alquimia quando nós e o momento presente nos tocamos mutuamente no aqui.
Entre boas intenções e acção há geralmente uma conexão de curta duração. Esta rapidamente se desfaz antes de o fruto ter amadurecido. A adição é existencial. Desligar-se dos seus padrões é a cura. A boa intenção de meditarmos é uma boa ideia que nos torna felizes por termos tomado essa decisão. Mas, quando esbarramos com uma parede de vidro entre a intenção e a acção, o optimismo do nosso querer desaba. Nós vemos claramente o que queremos fazer mas uma força invisível aparece entre nós e aquilo que queremos e sentimo-la como impenetrável. É aqui que o tagarelar começa, à medida que falamos, lemos ou pensamos demasiado sobre aquilo que ainda não estamos a fazer.
Inventamos mil e uma razões para justificarmos este fracasso o que nos leva a rejeitar como falso justamente aquilo que estávamos a tentar alcançar. Esta traição à confiança explica como as relações podem subitamente cair da alegria perfeita para a miséria. A parede de vidro é reforçada pelo tagarelar ruidoso e muitas vezes malicioso, até nos esvaziarmos. Qualquer pessoa que oiça o debate sobre o Brexit conhece a sensação. Resta-nos a desagradável experiência de vergonha e desconexão que vem após qualquer divisão ou conflito violento. Divididos contra nós mesmos, não conseguindo fazer o que queremos, experimentamos o significado de “pecado”. Longe de ser a mera quebra de uma regra, humana ou divina, o pecado só é entendido quando confessamos o quão impotentes nos tornámos, por via das nossas próprias divisões internas e da nossa auto-rejeição.
O que quer que seja que façamos neste desastroso estado de egoísmo nos traz o menor benefício, ou aos outros. Muitas mãos se estenderão para nós quando pedirmos ajuda para nos libertarmos. Algumas delas vão nos cobrar um preço negociado antes de nos ajudarem a sair. Felizes somos nós que nos agarrarmos a uma mão que não nos pede nada a não ser a honra de nos ajudar. O nosso sentimento de valor próprio já está restaurado. Estes são os elementos encontrados no movimento interior da consciência chamado metanoia (conversão da mente) e muitas vezes erradamente traduzido como ‘arrependimento’. Não se trata de culpa, mas de mudança na consciência.
É isto que Jesus começa por dizer ao deixar o deserto, fortalecido por tudo aquilo que Ele transcendeu. Iniciamos o processo de mudança não por construir uma vontade de ferro, mas simplesmente por mudarmos a direcção da nossa atenção – dando a nossa atenção a outro lugar. A realidade está aonde colocamos a nossa atenção. Ela trava o tagarelar da mente e dissolve a parede de vidro da inacção.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal