Terça-feira da Semana Santa
(João 13:21-38)
E molhando o bocado de pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. E, logo após o bocado, entrou nele Satanás. Jesus disse-lhe, então: «O que tens a fazer fá-lo depressa.» Nenhum dos que estavam com Ele à mesa entendeu, porém, com que fim lho dissera.
A Última Ceia foi uma mais estranha refeição entre amigos do que poderia à primeira vista parecer. Nas frases de abertura da sua descrição confrontamos uma percepção que adentra o intenso drama dos relacionamentos humanos através dos quais somos todos conduzidos ao nosso derradeiro despertar para o relacionamento – a união – com o terreno de ser.
Jesus começa a refeição dizendo que um dos presentes O irá trair. Não é a melhor maneira, poderemos pensar, de começar um serão de amigos reunidos. O Seu comentário, porém, coloca a óbvia dimensão familiar da vida, da convivialidade e relacionamentos aberta a uma dimensão cujas fronteiras são invisíveis. O que é que isso significa? Porque é que Ele disse isto agora? S. João diz que os discípulos olharam uns para os outros, questionando-se sobre o que Ele quereria dizer. A sua troca de olhares complica ainda mais a textura desta comunidade. Jesus parece isolado, intensamente solitário. Denunciou uma falha radical na irmandade deles. Mas está apena a chamar a atenção para ela, sem dar detalhes sobre ela. Deve ser algo de que eles têm que estar cientes.
Pedro, o líder dos discípulos, pede a João, aquele de quem Jesus estava mais próximo, para descobrir quem é o traidor. Tal como em qualquer grupo humano, há camadas de intimidade e estas criam o perigo da rivalidade e do ciúme. Os discípulos são muitas vezes descritos a discutir entre si sobre as suas respectivas posições. Jesus responde dando um pedaço de pão ao traidor e, “logo após o bocado”, Satanás entrou em Judas. O momento de directa comunicação entre eles despoletou a sombra, a força negra. O que ela era, o que a motivou ou como a podemos explicar psicologicamente, nunca o saberemos. “Logo após o bocado”, Judas começou o processo pelo qual ele se tornou um sinónimo ao longo da História para traição, a vergonha eterna da má fé. E no entanto, ele é não somente parte integrante da trama. Ele também ilumina o significado da história.
Porquê então sentimos uma tão estranha simpatia por ele, o pária que traiu o seu amigo e depois cometeu a derradeira rejeição de si mesmo? Porque é que existe esta estranha intimidade entre ele e Jesus já que partilham o conhecimento, excluindo todos os restantes presentes, do que ele irá fazer? Uma intimidade que parece o oposto da que Ele tem com o discípulo amado e porém a inclui. Esta pode ser a chave para todo o mistério.
Todas as contradições e opostos da vida, mesmo a grande divisão entre os mortos e os vivos, são capazes de ser reconciliadas e unidas.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
(João 13:21-38)
E molhando o bocado de pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. E, logo após o bocado, entrou nele Satanás. Jesus disse-lhe, então: «O que tens a fazer fá-lo depressa.» Nenhum dos que estavam com Ele à mesa entendeu, porém, com que fim lho dissera.
A Última Ceia foi uma mais estranha refeição entre amigos do que poderia à primeira vista parecer. Nas frases de abertura da sua descrição confrontamos uma percepção que adentra o intenso drama dos relacionamentos humanos através dos quais somos todos conduzidos ao nosso derradeiro despertar para o relacionamento – a união – com o terreno de ser.
Jesus começa a refeição dizendo que um dos presentes O irá trair. Não é a melhor maneira, poderemos pensar, de começar um serão de amigos reunidos. O Seu comentário, porém, coloca a óbvia dimensão familiar da vida, da convivialidade e relacionamentos aberta a uma dimensão cujas fronteiras são invisíveis. O que é que isso significa? Porque é que Ele disse isto agora? S. João diz que os discípulos olharam uns para os outros, questionando-se sobre o que Ele quereria dizer. A sua troca de olhares complica ainda mais a textura desta comunidade. Jesus parece isolado, intensamente solitário. Denunciou uma falha radical na irmandade deles. Mas está apena a chamar a atenção para ela, sem dar detalhes sobre ela. Deve ser algo de que eles têm que estar cientes.
Pedro, o líder dos discípulos, pede a João, aquele de quem Jesus estava mais próximo, para descobrir quem é o traidor. Tal como em qualquer grupo humano, há camadas de intimidade e estas criam o perigo da rivalidade e do ciúme. Os discípulos são muitas vezes descritos a discutir entre si sobre as suas respectivas posições. Jesus responde dando um pedaço de pão ao traidor e, “logo após o bocado”, Satanás entrou em Judas. O momento de directa comunicação entre eles despoletou a sombra, a força negra. O que ela era, o que a motivou ou como a podemos explicar psicologicamente, nunca o saberemos. “Logo após o bocado”, Judas começou o processo pelo qual ele se tornou um sinónimo ao longo da História para traição, a vergonha eterna da má fé. E no entanto, ele é não somente parte integrante da trama. Ele também ilumina o significado da história.
Porquê então sentimos uma tão estranha simpatia por ele, o pária que traiu o seu amigo e depois cometeu a derradeira rejeição de si mesmo? Porque é que existe esta estranha intimidade entre ele e Jesus já que partilham o conhecimento, excluindo todos os restantes presentes, do que ele irá fazer? Uma intimidade que parece o oposto da que Ele tem com o discípulo amado e porém a inclui. Esta pode ser a chave para todo o mistério.
Todas as contradições e opostos da vida, mesmo a grande divisão entre os mortos e os vivos, são capazes de ser reconciliadas e unidas.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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