Quarta-feira da Segunda Semana
(Mateus 20: 17-28)
“Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores, e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós.”
O Evangelho imagina. Ele invoca perante nós uma nova e extraordinária visão da Humanidade e da sociedade. Se não nos sentimos um pouco confundidos por isto, não o imaginámos. Deixa-nos perplexos porque soa, ao mesmo tempo, completamente certo e no entanto altamente improvável que alguma vez se realize. Mesmo que seja irrealista, se a rejeitarmos, estamos a diminuir-nos a nós mesmos. A sério? Uma ordem mundial em que os que detém o poder genuinamente actuam como servidores, em que amam as pessoas, não a luxúria do poder? Entre outras coisas, a Quaresma é uma oportunidade para todos nós auditarmos as nossas formas de usar qualquer poder que temos e rever o nosso sentido de serviço àqueles que não têm nenhum.
Não conseguimos começar a imaginar a este nível se não nos tivermos sentido defraudados pelos limites do que conseguimos ver e entender. A religião é nisto que consiste. Confrontar-nos com questões, não em martelar respostas na nossa cabeça. É por isto que os grandes génios religiosos tinham o génio da simplicidade e de nos fazem pasmar maravilhados em vez de simplesmente aplaudirmos vitoriosamente. Vejamos, por exemplo, as parábolas do Reino.
O Reino de Deus é semelhante a uma pessoa que descobriu um tesouro enterrado num campo. Enterrou-o novamente e em completa alegria foi vender tudo o que tinha e comprou o terreno. Trinta e três palavras simples que descrevem uma clara sequência de acontecimentos que pode servir para manter um grupo de pessoas inteligentes a conversar durante horas e regressar para mais no dia seguinte. Interpretar os múltiplos significados nos elementos desta passagem é expormo-nos a nós mesmos e, se o quisermos, conhecermo-nos a nós mesmos melhor do que antes. Porque é que a pessoa enterrou de novo o tesouro? (Para evitar que outros soubessem dele. Para o manter seguro. Porque ele deve estar no campo. Porque ela queria que outros viessem desfrutar dele. Porque ele precisa de estar lá para crescer.) Porque é que a pessoa sentiu tamanha alegria? Porque é que a alegria conduziu à imprudência de vender tudo? O que é que “comprar” o campo significa? Será que algumas respostas estão certas e outras erradas? Estarão algumas mais certas ou erradas do que outras?
Depois da meditação da manhã levantamo-nos num salto e partimos para o mundo com uma mente aberta, não para impor respostas predefinidas em todas as situações, forçadamente convertendo os outros à nossa visão, mas sentindo a verdade com uma buscadora inteligência espiritual. Ao final da tarde, interiormente mais desarrumados do que estávamos de manhã, sentamo-nos e deixamos o espaço interior ser posto em ordem, não somente avaliando o dia como bom o mau, mas testando os seus significados. Neste ritmo, recarregamos o poder da imaginação e travamos a tendência perene da Fantasia para nos fazer descarrilar.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
(Mateus 20: 17-28)
“Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores, e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós.”
O Evangelho imagina. Ele invoca perante nós uma nova e extraordinária visão da Humanidade e da sociedade. Se não nos sentimos um pouco confundidos por isto, não o imaginámos. Deixa-nos perplexos porque soa, ao mesmo tempo, completamente certo e no entanto altamente improvável que alguma vez se realize. Mesmo que seja irrealista, se a rejeitarmos, estamos a diminuir-nos a nós mesmos. A sério? Uma ordem mundial em que os que detém o poder genuinamente actuam como servidores, em que amam as pessoas, não a luxúria do poder? Entre outras coisas, a Quaresma é uma oportunidade para todos nós auditarmos as nossas formas de usar qualquer poder que temos e rever o nosso sentido de serviço àqueles que não têm nenhum.
Não conseguimos começar a imaginar a este nível se não nos tivermos sentido defraudados pelos limites do que conseguimos ver e entender. A religião é nisto que consiste. Confrontar-nos com questões, não em martelar respostas na nossa cabeça. É por isto que os grandes génios religiosos tinham o génio da simplicidade e de nos fazem pasmar maravilhados em vez de simplesmente aplaudirmos vitoriosamente. Vejamos, por exemplo, as parábolas do Reino.
O Reino de Deus é semelhante a uma pessoa que descobriu um tesouro enterrado num campo. Enterrou-o novamente e em completa alegria foi vender tudo o que tinha e comprou o terreno. Trinta e três palavras simples que descrevem uma clara sequência de acontecimentos que pode servir para manter um grupo de pessoas inteligentes a conversar durante horas e regressar para mais no dia seguinte. Interpretar os múltiplos significados nos elementos desta passagem é expormo-nos a nós mesmos e, se o quisermos, conhecermo-nos a nós mesmos melhor do que antes. Porque é que a pessoa enterrou de novo o tesouro? (Para evitar que outros soubessem dele. Para o manter seguro. Porque ele deve estar no campo. Porque ela queria que outros viessem desfrutar dele. Porque ele precisa de estar lá para crescer.) Porque é que a pessoa sentiu tamanha alegria? Porque é que a alegria conduziu à imprudência de vender tudo? O que é que “comprar” o campo significa? Será que algumas respostas estão certas e outras erradas? Estarão algumas mais certas ou erradas do que outras?
Depois da meditação da manhã levantamo-nos num salto e partimos para o mundo com uma mente aberta, não para impor respostas predefinidas em todas as situações, forçadamente convertendo os outros à nossa visão, mas sentindo a verdade com uma buscadora inteligência espiritual. Ao final da tarde, interiormente mais desarrumados do que estávamos de manhã, sentamo-nos e deixamos o espaço interior ser posto em ordem, não somente avaliando o dia como bom o mau, mas testando os seus significados. Neste ritmo, recarregamos o poder da imaginação e travamos a tendência perene da Fantasia para nos fazer descarrilar.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
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