Quinta-feira da Quinta Semana
(João: 8:51-59)
“Antes de Abraão existir, Eu Sou”. Pegaram então em pedras para Lhe atirar.
Você talvez tenha pensado que qualquer um que ouvisse esta declaração, ainda que não gostasse da pessoa, ainda que a achasse ou louca ou genial, teria dito “explica-me lá o que acabaste de dizer antes que eu te atire pedras até morreres”. Contudo, tanto neste dito como no outro grande “Eu Sou”, Jesus está a revelar uma outra dimensão da realidade tão perturbadoramente diferente do nosso habitual modo de ver, que justamente estas Suas palavras ameaçam a ordem existente.
Sob regimes totalitários os poetas e os artistas são a maior ameaça. Aqueles que resistem aos detentores do poder, por meios políticos ou violentos, são facilmente reprimidos. Os grandes pensadores, no entanto, mudam primeiro, não as estruturas. A sua visão, percepções profundas oriundas da experiência directa, abrem novas dimensões da realidade a outros. Um dos maiores matemáticos modernos, por exemplo, foi Emmy Noether. Em pé de igualdade com Einstein, ela abriu novos caminhos de percepção na Álgebra e na Física que transformaram para sempre o modo como as coisas nestes campos são vistas. As suas ideias originais entraram tão profundamente na estrutura conceptual de base que ela é raramente sequer citada. Ela não só acrescentou palavras ao vocabulário, como também expandiu a própria linguagem.
Jesus faz isto a toda a visão humana do mundo. É por isso que é tão deprimente quando os Seus ditos revolucionários, nascidos da Sua experiência direta do Pai, são desviados da Sua verdadeira intenção e usados para defender opiniões morais privadas ou estruturas religiosas. Não são apenas os contemplativos os verdadeiros revolucionários. Os verdadeiros revolucionários, em qualquer campo, são contemplativos por natureza e místicos na sua visão da realidade.
Com razão, Ele foi considerado perigoso para a ordem dominante mas a um nível ainda mais profundo do que os Seus críticos imaginaram. Foi preciso a Sua morte para O livrar do poder repressivo dos Seus críticos e libertar a Sua visão (o Seu espírito) que continua a penetrar na consciência humana de modo a mudar a natureza da realidade para nós. Teria sido bom se Ele tivesse sido reconhecido e ouvido pelas autoridades. Mas isso está fadado a não acontecer quando para aceitar um tal novo modo de ver ameaça não só a instituição a que você pertence como tudo aquilo sobre o qual você construiu a sua vida. Ninguém quer ser sujeito a uma transformação total. Gostamos da mudança que podemos controlar. Assim, a Sua violenta rejeição por parte dos Seus contemporâneos estava fadada a acontecer e, se sentimos que havia um plano, isso era até parte do plano. Mesmo aqueles que O amavam não O compreenderam.
A nossa prática espiritual diária e os dias vindouros dos mistérios da Páscoa sintonizam-nos para vermos isto e para compreendermos o que Jesus queria dizer quando usou a palavra “Eu”. Jesus não estava a dizer – como aqueles que O queriam apedrejar ou crucificar confusamente temiam – “Eu sou Deus”. Ele estava a dizer: «Deus é Eu sou”. Isto é o que Eu estou a dizer».
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
(João: 8:51-59)
“Antes de Abraão existir, Eu Sou”. Pegaram então em pedras para Lhe atirar.
Você talvez tenha pensado que qualquer um que ouvisse esta declaração, ainda que não gostasse da pessoa, ainda que a achasse ou louca ou genial, teria dito “explica-me lá o que acabaste de dizer antes que eu te atire pedras até morreres”. Contudo, tanto neste dito como no outro grande “Eu Sou”, Jesus está a revelar uma outra dimensão da realidade tão perturbadoramente diferente do nosso habitual modo de ver, que justamente estas Suas palavras ameaçam a ordem existente.
Sob regimes totalitários os poetas e os artistas são a maior ameaça. Aqueles que resistem aos detentores do poder, por meios políticos ou violentos, são facilmente reprimidos. Os grandes pensadores, no entanto, mudam primeiro, não as estruturas. A sua visão, percepções profundas oriundas da experiência directa, abrem novas dimensões da realidade a outros. Um dos maiores matemáticos modernos, por exemplo, foi Emmy Noether. Em pé de igualdade com Einstein, ela abriu novos caminhos de percepção na Álgebra e na Física que transformaram para sempre o modo como as coisas nestes campos são vistas. As suas ideias originais entraram tão profundamente na estrutura conceptual de base que ela é raramente sequer citada. Ela não só acrescentou palavras ao vocabulário, como também expandiu a própria linguagem.
Jesus faz isto a toda a visão humana do mundo. É por isso que é tão deprimente quando os Seus ditos revolucionários, nascidos da Sua experiência direta do Pai, são desviados da Sua verdadeira intenção e usados para defender opiniões morais privadas ou estruturas religiosas. Não são apenas os contemplativos os verdadeiros revolucionários. Os verdadeiros revolucionários, em qualquer campo, são contemplativos por natureza e místicos na sua visão da realidade.
Com razão, Ele foi considerado perigoso para a ordem dominante mas a um nível ainda mais profundo do que os Seus críticos imaginaram. Foi preciso a Sua morte para O livrar do poder repressivo dos Seus críticos e libertar a Sua visão (o Seu espírito) que continua a penetrar na consciência humana de modo a mudar a natureza da realidade para nós. Teria sido bom se Ele tivesse sido reconhecido e ouvido pelas autoridades. Mas isso está fadado a não acontecer quando para aceitar um tal novo modo de ver ameaça não só a instituição a que você pertence como tudo aquilo sobre o qual você construiu a sua vida. Ninguém quer ser sujeito a uma transformação total. Gostamos da mudança que podemos controlar. Assim, a Sua violenta rejeição por parte dos Seus contemporâneos estava fadada a acontecer e, se sentimos que havia um plano, isso era até parte do plano. Mesmo aqueles que O amavam não O compreenderam.
A nossa prática espiritual diária e os dias vindouros dos mistérios da Páscoa sintonizam-nos para vermos isto e para compreendermos o que Jesus queria dizer quando usou a palavra “Eu”. Jesus não estava a dizer – como aqueles que O queriam apedrejar ou crucificar confusamente temiam – “Eu sou Deus”. Ele estava a dizer: «Deus é Eu sou”. Isto é o que Eu estou a dizer».
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
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Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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