Sexta-feira da Quinta Semana da Quaresma
(João 10:31-42)
Se vos recusais a acreditar em Mim, crede pelo menos nas Minhas obras
Que poderiam essas obras ser... nessa altura e agora?
Depois de Sto. António do Deserto (ou Santo Antão) ter meditado durante vinte anos em solidão, os seus amigos vieram ter com ele, pensando que o encontrariam morto ou meio-louco. Pelo contrário, ele surgiu física e mentalmente radiante, saudável e racional. Ao longo do resto da sua vida foi conhecido por curar os enfermos, confortar os tristes e reconciliar os discordantes. Eis uns bons exemplos para mostrar o que as boas obras e uma vida com sentido significam. Mas estas obras expressam um mais profundo estado de ser. Quem quer que seja que em si próprio toque esse estado e permaneça aí, torna-se capaz de alterar a mente de outros – guiando-os para a mesma profundidade neles próprios. Não importa se você “acredita” nessa pessoa ou não. Ou, pelo menos, a sua opinião sobre ela é secundária em relação ao facto de ser tocado e mudado por ela, através dela. Acreditando naquilo que vê do seu trabalho, torna mais fácil ver quem a pessoa que está por detrás dele realmente é.
Isso implica um certo tipo de liderança. Não daquela que é meramente definida pelos resultados e pelo sucesso ou por carismáticos poderes de persuasão. Mas sim o tipo que expõe a escondida dimensão da bondade em nós e no coração de todos os relacionamentos humanos. Isto é perturbador, mesmo revolucionário, porque tantas das nossas suposições, acerca de nós e dos outros, são construídas na base de uma forte subestimação da nossa bondade essencial. Muitas vezes, é pior ainda: temos um baixo sentido de nós mesmos e uma desconfiança básica dos outros.
O tribunal é corrupto, os campos estão cheios de ervas daninhas, os celeiros estão vazios; no entanto, há os que estão vestidos de sedas, com espadas aos lados, cheios de comida e bebidas e possuidores de demasiada riqueza. Isto é conhecido como assumir a liderança no roubo. Na verdade, isto está muito longe do Caminho. (Tao Te Ching - LIII)
O impacto socialmente desestabilizador das enormes discrepâncias de riqueza na sociedade é cada vez mais óbvio. Será pouco razoável pensar que o Brexit possa estar relacionado com quase quatro milhões de crianças que vivem na pobreza no Reino Unido? Quando Lao Tse escrevia, no séc. VI a.C., as expectativas sociais eram muito diferentes, mas a percepção da pessoa sábia sobre a bondade essencial era a mesma de sempre. Com essa percepção vem a indignação e a profunda tristeza do profeta, ao ver o quão iludidos podemos todos nos tornar e quão impiedosa e injustamente podemos agir, nesse estado de ilusão.
O significado místico da Páscoa que temos estado a preparar nestas quase seis semanas não pode ser separado do seu trabalho. Não se trata, primeiramente, de crença mas de experiência. A crença cresce a partir da experiência. Ser tocado pela Ressurreição remete-nos para a vida com novos modos de ver e um radical desafio aos nossos valores.
Infelizmente, para aqueles que pensam que o guia é a jornada, o modo como isto acontece só pode ser compreendido passando através de todo o processo que leva à ressurreição. O sofrimento e a perda final não podem, em última instância, ser evitados. Estas são as boas notícias.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
(João 10:31-42)
Se vos recusais a acreditar em Mim, crede pelo menos nas Minhas obras
Que poderiam essas obras ser... nessa altura e agora?
Depois de Sto. António do Deserto (ou Santo Antão) ter meditado durante vinte anos em solidão, os seus amigos vieram ter com ele, pensando que o encontrariam morto ou meio-louco. Pelo contrário, ele surgiu física e mentalmente radiante, saudável e racional. Ao longo do resto da sua vida foi conhecido por curar os enfermos, confortar os tristes e reconciliar os discordantes. Eis uns bons exemplos para mostrar o que as boas obras e uma vida com sentido significam. Mas estas obras expressam um mais profundo estado de ser. Quem quer que seja que em si próprio toque esse estado e permaneça aí, torna-se capaz de alterar a mente de outros – guiando-os para a mesma profundidade neles próprios. Não importa se você “acredita” nessa pessoa ou não. Ou, pelo menos, a sua opinião sobre ela é secundária em relação ao facto de ser tocado e mudado por ela, através dela. Acreditando naquilo que vê do seu trabalho, torna mais fácil ver quem a pessoa que está por detrás dele realmente é.
Isso implica um certo tipo de liderança. Não daquela que é meramente definida pelos resultados e pelo sucesso ou por carismáticos poderes de persuasão. Mas sim o tipo que expõe a escondida dimensão da bondade em nós e no coração de todos os relacionamentos humanos. Isto é perturbador, mesmo revolucionário, porque tantas das nossas suposições, acerca de nós e dos outros, são construídas na base de uma forte subestimação da nossa bondade essencial. Muitas vezes, é pior ainda: temos um baixo sentido de nós mesmos e uma desconfiança básica dos outros.
O tribunal é corrupto, os campos estão cheios de ervas daninhas, os celeiros estão vazios; no entanto, há os que estão vestidos de sedas, com espadas aos lados, cheios de comida e bebidas e possuidores de demasiada riqueza. Isto é conhecido como assumir a liderança no roubo. Na verdade, isto está muito longe do Caminho. (Tao Te Ching - LIII)
O impacto socialmente desestabilizador das enormes discrepâncias de riqueza na sociedade é cada vez mais óbvio. Será pouco razoável pensar que o Brexit possa estar relacionado com quase quatro milhões de crianças que vivem na pobreza no Reino Unido? Quando Lao Tse escrevia, no séc. VI a.C., as expectativas sociais eram muito diferentes, mas a percepção da pessoa sábia sobre a bondade essencial era a mesma de sempre. Com essa percepção vem a indignação e a profunda tristeza do profeta, ao ver o quão iludidos podemos todos nos tornar e quão impiedosa e injustamente podemos agir, nesse estado de ilusão.
O significado místico da Páscoa que temos estado a preparar nestas quase seis semanas não pode ser separado do seu trabalho. Não se trata, primeiramente, de crença mas de experiência. A crença cresce a partir da experiência. Ser tocado pela Ressurreição remete-nos para a vida com novos modos de ver e um radical desafio aos nossos valores.
Infelizmente, para aqueles que pensam que o guia é a jornada, o modo como isto acontece só pode ser compreendido passando através de todo o processo que leva à ressurreição. O sofrimento e a perda final não podem, em última instância, ser evitados. Estas são as boas notícias.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
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