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Reflexões para a Quaresma 2019

                                                                       .     
​LAURENCE FREEMAN OSB 

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5ª. feira da Segunda Semana

21/3/2019

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Quinta-feira da Segunda Semana 
(Lucas 16:19-31)

Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e fazia todos os dias esplêndidos banquetes. Um pobre, chamado Lázaro, jazia ao seu portão, coberto de chagas. Bem desejava ele saciar-se com o que caía da mesa do rico; mas eram os cães que vinham lamber-lhe as chagas. 

O nosso bem-estar material, físico, é uma questão sensível. Sentimo-lo cada vez que passamos por um mendigo no metro ou na rua. Cientes do nosso privilégio, por um momento, esquecemos as nossas normais queixas e problemas, “podia ser tudo muito pior”, pensamos. Se mantivermos este pensamento por mais do que alguns segundos, poderemos ponderar o não impossível cenário no qual os nossos papéis poderiam ser invertidos. Os poderosos são por vezes derrubados dos seus tronos. Mas então pensamos: Vamos dar alguma coisa? Porque é que estamos realmente a fazê-lo? Para quem é que estamos a ser bondosos? Será que este breve encontro com o outro lado da sociedade vai ter um impacto duradouro na nossa maneira de viver, nos nossos valores vividos?

Uma vez, num lindo dia de Verão, saí de um edifício para uma brilhante luz do sol. Toda a gente parecia feliz. Até o jovem sentado no chão de mão estendida. Os nossos olhos encontraram-se e sem pensar eu disse, “Que dia tão bonito!”. Ele assentiu entusiasticamente com a cabeça e disse, “Sim fantástico… espero que dure.” Foi uma momentânea confusão de papéis mas mesmo assim fez parte do dia lindo.

Na parábola de hoje sobre o homem rico e Lázaro, ouvimos falar de “um grande abismo entre nós e vós, de modo que, se alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo, nem tão-pouco vir daí para junto de nós.” Isto refere-se às karmicas consequências do auto-isolamento, de se estar tão preocupado com melhorar ou proteger o nosso próprio bem-estar que, com efeito, deliberadamente ignoramos a oportunidade de melhorar as condições daqueles com maiores necessidades ou de, simplesmente nos relacionarmos com eles. O “grande abismo” no reino do karma (depois da vida) é visível e tangível todos os dias para aqueles que têm um mínimo de sensibilidade. É uma importante causa de instabilidade e de tumulto do mundo moderno – o protesto dos humilhados. “Os pobres sempre os tereis convosco”, disse Jesus, mas a dimensão do abismo tornou-se no nosso grande problema.

Na nossa prática quaresmal – abdicar de alguma coisa e fazer alguma coisa extra – esperamos re-sensibilizar a nós mesmos para a realidade. Infelizmente, tendemos a ser selectivos quanto aos aspectos da realidade que reconhecemos e com que nos relacionamos. A alguns pedaços, salientamo-los e desfrutamo-los. A outros, negamos ou optamos por esquecer: “deliberada letargia” (escolher não ver) é uma expressão de TS Eliot que denuncia os nossos jogos mentais e denuncia a fragilidade de qualquer falsa paz construída sobre ela: “A serenidade apenas uma deliberada letargia. A sabedoria apenas o conhecimento de segredos mortos. Inúteis na escuridão para a qual espreitaram. Ou da qual afastaram os olhos.” 

Não podemos ser selectivos quanto à realidade sem comprometermos tudo. Essencialmente a “santidade” que almejamos na Quaresma não é uma virtude moral mas uma questão de percepção, de como vemos o todo a que pertencemos. E salvar a nós mesmos não consiste em evitar o castigo do eterno fogo do inferno, mas em salvar o tempo agora. (A Primavera começa hoje)


​
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB

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4ª feira da Segunda Semana

20/3/2019

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Quarta-feira da Segunda Semana
(Mateus 20: 17-28) 

“Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores, e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós.”


O Evangelho imagina. Ele invoca perante nós uma nova e extraordinária visão da Humanidade e da sociedade. Se não nos sentimos um pouco confundidos por isto, não o imaginámos. Deixa-nos perplexos porque soa, ao mesmo tempo, completamente certo e no entanto altamente improvável que alguma vez se realize. Mesmo que seja irrealista, se a rejeitarmos, estamos a diminuir-nos a nós mesmos. A sério? Uma ordem mundial em que os que detém o poder genuinamente actuam como servidores, em que amam as pessoas, não a luxúria do poder? Entre outras coisas, a Quaresma é uma oportunidade para todos nós auditarmos as nossas formas de usar qualquer poder que temos e rever o nosso sentido de serviço àqueles que não têm nenhum. 

Não conseguimos começar a imaginar a este nível se não nos tivermos sentido defraudados pelos limites do que conseguimos ver e entender. A religião é nisto que consiste. Confrontar-nos com questões, não em martelar respostas na nossa cabeça. É por isto que os grandes génios religiosos tinham o génio da simplicidade e de nos fazem pasmar maravilhados em vez de simplesmente aplaudirmos vitoriosamente. Vejamos, por exemplo, as parábolas do Reino.

O Reino de Deus é semelhante a uma pessoa que descobriu um tesouro enterrado num campo. Enterrou-o novamente e em completa alegria foi vender tudo o que tinha e comprou o terreno. Trinta e três palavras simples que descrevem uma clara sequência de acontecimentos que pode servir para manter um grupo de pessoas inteligentes a conversar durante horas e regressar para mais no dia seguinte. Interpretar os múltiplos significados nos elementos desta passagem é expormo-nos a nós mesmos e, se o quisermos, conhecermo-nos a nós mesmos melhor do que antes. Porque é que a pessoa enterrou de novo o tesouro? (Para evitar que outros soubessem dele. Para o manter seguro. Porque ele deve estar no campo. Porque ela queria que outros viessem desfrutar dele. Porque ele precisa de estar lá para crescer.) Porque é que a pessoa sentiu tamanha alegria? Porque é que a alegria conduziu à imprudência de vender tudo? O que é que “comprar” o campo significa? Será que algumas respostas estão certas e outras erradas? Estarão algumas mais certas ou erradas do que outras? 

Depois da meditação da manhã levantamo-nos num salto e partimos para o mundo com uma mente aberta, não para impor respostas predefinidas em todas as situações, forçadamente convertendo os outros à nossa visão, mas sentindo a verdade com uma buscadora inteligência espiritual. Ao final da tarde, interiormente mais desarrumados do que estávamos de manhã, sentamo-nos e deixamos o espaço interior ser posto em ordem, não somente avaliando o dia como bom o mau, mas testando os seus significados. Neste ritmo, recarregamos o poder da imaginação e travamos a tendência perene da Fantasia para nos fazer descarrilar.


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3ª feira da Segunda Semana

19/3/2019

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Terça-feira da Segunda Semana
(Lucas 2:41-51)

"Porque me procuráveis?" Ele respondeu. " Não sabíeis que eu deveria estar ocupado com os assuntos de meu Pai?" Mas eles não entenderam o que Ele queria dizer.


Ainda há muita coisa sobre o que Jesus disse que nós não compreendemos. Podemos lidar com este fracasso: i) pensando que Ele não está a dizer nada de relevante para nós porque não gostamos de ser trazidos aos limites da nossa compreensão. Ou, ii) nós reduzimos o significado do que Ele diz àquilo que conseguimos manusear facilmente – ignorando o seu mais profundo sentido espiritual por nos contentarmos com uma mensagem a preto-e-branco e moralista. Qualquer uma dessas abordagens que escolhermos fazer relativamente à dimensão espiritual, reflectir-se-á na forma como encontramos significado nos eventos das nossas vidas.

Há alguns dias um suprematista branco irrompeu em tumulto numa tranquila e civilizada cidade de um país decente e socialmente responsável e cometeu um insano massacre de homens e mulheres tementes a Deus que estavam em oração. Por um momento, o mundo inteiro sente-se um, um com as famílias das vítimas e com todo o povo de Christchurch e da Nova Zelândia no seu traumático luto. Mais uma vez, somos recordados por uma erupção de desumano ódio, da necessidade de afirmar o terreno comum da Humanidade. Lembramos que o que une é mais significativo do o que separa. Então, de algum modo – este é o paradoxo – o pior evoca o melhor.

A escuridão pode invadir e inundar o ser humano, individualmente ou em massa. Chamamos-lhe escura porque ela produz comportamentos que nos fazem querer fechar os nossos olhos. Preferíamos não os ver. É a escuridão tornada visível e o demoníaco tornado tangível: um pesadelo. Pior ainda, ela diminui a Humanidade em todo o lado. Do mesmo modo que a virtude heróica ou a santidade elevam a nossa auto-estima por nos recordarem daquilo de que somos capazes, também a desumanidade nos faz questionar se talvez nós realmente não possuamos a natureza budíca, não sejamos criados à imagem de Deus, não possamos ser “outros Cristos”.
 
A não ser que escolhamos ver de outro modo. “Ver a escuridão” implica a presença de alguma, escura, luz invisível. Não podemos ver sem luz porque a visão – a consciência – é luz. Do mesmo modo que o Universo está impregnado de uma misteriosa energia escura que não compreendemos, também um certo tipo de luz que não conseguimos compreender brilha na mais densa escuridão e o escuro não pode apagá-la.

Se odiarmos aqueles que nos odeiam que outra recompensa poderemos esperar senão uma escalada do ódio, a orgia da autodestruição que no final conclui cada triunfo do mal? Quando pessoas que estão em oração são ceifadas por um louco, os inocentes encarcerados ou os pobres rotineiramente explorados, nós deveríamos sentir a pura ira dos profetas. Mas se esta ira conduzir a ódio e violência mais profundos, a escuridão meramente engrossa. Quando no curto ritual formal de detenção, o juiz chamou ao homem detido de “senhor”, ele recusou-se a desumanizar até mesmo pessoas que negam a humanidade de outras. A luz brilha na escuridão. Vemos, através das lágrimas, como o triunfo do mal pode ser revertido, por meio do humanizante perdão, o vencedor derradeiro trunfo.



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2ª feira da Segunda Semana

18/3/2019

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Segunda-feira da Segunda Semana
(Lucas 9:28-36)

Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros será usada convosco.


Ontem, reflectimos sobre a transformação física que acompanha a profunda realidade espiritual. Isto tem mais significado do que o espessamento da massa cinzenta do cérebro observado pelos cientistas que estudam os que meditam regularmente. O Evangelho liga esta inundação do espírito no físico à compaixão – “sede compassivos como o vosso Pai é compassivo”. É isto que desencadeia o transbordar. Nada poderia perverter mais isto do que o “evangelho da prosperidade”, com recompensas e punições, que seduz tantas pessoas hoje em dia, ligando-o à ganância oportunista numa transacção financeira. (“Envie um donativo ao pregador e Deus dar-lhe-á em dobro.”) 

Uma vez fui visitar a Casa da Madre Teresa para os moribundos, em Calcutá. As camas estavam todas ocupadas e o transbordante de indivíduos em sofrimento cobria os pavimentos. As Missionárias da Caridade dirigem uma organização compassiva, mas eficiente e com instalações imaculadamente limpas. Uma delas pediu-me vivamente que fosse ter com uma pessoa de corpo muito diminuto, se homem ou mulher não se percebia, jazendo no chão de costas para nós e que lhe desse a bênção. Quando me ajoelhei, vi o mais magro dos jovens e pela sua quietude presumi que já estaria morto. Toquei o seu ombro e fiquei chocado quando ele se mexeu e com uma surpreendente rapidez se virou para mim. Soergueu-se apoiado no seu magro braço e olhou-me por dentro com os seus olhos escancarados cheios de felicidade. Levemente questionei-me por um momento se o teria distraído daquilo que ele estava a contemplar. Mas ele era indistraível. Fui eu quem foi abençoado quando o seu olhar penetrou através dos muros das nossas identidades distintas e me trouxe momentaneamente à visão. 

Santo Agostinho diz que a visão de Deus, que é a meta do destino humano, não consiste em observar Deus como um ser separado a grande distância. Esta é a imagem que vemos em muitas pinturas antigas, a hierarquia da sociedade humana repetida no Céu, com os que mais têm sentados nos melhores lugares, à frente, e os restantes, por ordem decrescente de importância, atrás deles. Em vez disso, diz Agostinho, a visão consiste em nos virarmos uns para os outros e olharmos nos olhos uns dos outros, aonde vemos a Deus. Isso produz em nós uma felicidade que o outro percebe e compreende melhor porque o viu no nosso reflectido olhar. Isso torna-o mais feliz, o que aumenta a nossa felicidade – e assim por diante eternamente.

A “dádiva” na citação acima é inquantificável. Quantificar é fracassar. Mas a proporcionalidade é real. Quanto mais damos, mais recebemos até que caiamos da cachoeira numa cascata de alegria. Ela dura até começarmos a nos perguntarmos quanto mais vai durar e se a poderemos perder. 

A compaixão, tal como a bondade, não é recompensada. Ela liberta e é a recompensa, o florescer em ilimitada generosidade, de si mesma. Começa com um olhar mútuo e prossegue para o retorno infinito.

Então, talvez, uma prática quaresmal para hoje: faça e mantenha contato visual sem medo.



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2º Domingo da Quaresma 2019

17/3/2019

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Segundo Domingo da Quaresma
(Lucas 9:28-36)  

Enquanto orava, o aspecto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante.

Há uns anos atrás, uma muito descontente jovem mulher costumava vir regularmente ao nosso centro de meditação em Londres. Ela olhava resolutamente para o lado negro da vida, normalmente focando-se em tudo o que lhe faltava em vez de ter em conta o lado positivo. Era hipersensível, reactiva, e todos lidavam com ela com muito cuidado. Um dia ela disse-nos – como se fosse a prova da sua convicção há muito interiorizada de que o universo estava determinado em apanhá-la – que lhe tinha sido diagnosticado um cancro agressivo e terminal. Nos meses seguintes ela continuou a vir ao centro e a meditar connosco e alguns membros da nossa comunidade em particular revelaram muita bondade e paciência para com ela. O seu azedume na vida aumentou mas pelo menos ela não rejeitava por completo a paciência e a compaixão de que era alvo. Ajudámo-la a encontrar um sítio onde acabar os seus dias. Quando foi para os cuidados hospitalares costumávamos visitá-la.

Num Domingo depois da missa da comunidade levei-lhe a comunhão ao hospital. Estava com péssimo aspecto e a sua expressão constrita continha uma imensa raiva. Quando lhe disse que tinha trazido a comunhão ela fez uma careta desagradável e disse: “bom, isso não me vai fazer um grande bem, vai? Não obrigada.” Mas acrescentou que gostaria que eu me sentasse ao pé dela um bocado. Conversámos um pouco e ela protestou porque uma celebridade do momento, que tinha tido um notório estilo de vida estava a desfrutar de fama e sucesso. Ela, pelo contrário, tinha sido “boa” toda a vida, obedecido aos mandamentos e acabou assim, sozinha e a morrer jovem. Eu escutei. Então, ela pegou num caderno, olhou para mim e perguntou-me se eu gostaria de ler os seus poemas. Desonestamente disse-lhe que sim e olhei para o caderno, mas não conseguia ler a caligrafia dela e então perguntei-lhe se ela não quereria lê-los para mim.

Ela começou por ler um poema chamado “Canção da Baleia” que descrevia as canções que as baleias cantam umas para as outras através de vastas distâncias no fundo do oceano. Foi verdadeiro e profundamente comovente, o modo como ela sublimou o seu intenso e solitário sofrimento em palavras de beleza. Ela cantou-se a si mesma para além de si mesma. Lançou-me um olhar rápido para ver como é que eu estava a reagir e viu que eu estava comovido. Naquele instante ela também, tal como Jesus na montanha no Evangelho de hoje, estava fisicamente transfigurada. O seu magro e emaciado rosto, irradiava beleza e uma espécie de glória. Os seus olhos brilhavam alegremente com uma visão da realidade para além do véu da carne e das suas aflições. Foi breve mas intemporal. Ela acabou por ter a sua comunhão afinal. Em breve a sua expressão normal desceu de novo, mas de uma forma mais leve. Ela morreu poucos dias depois.

A oração pura flui no coração humano de mais profundamente que as palavras, pensamentos e sentimentos. Às vezes ela rompe a superfície e o próprio corpo estremece e é fisicamente alterado. As práticas espirituais desta estação lembram-nos que o corpo é um instrumento e um sacramento. Não toca esta música todos os dias. Mas nunca se sabe.


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Sábado da 1ª semana da Quaresma 2019

16/3/2019

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Sábado da Primeira Semana
 (Mateus 5:43-48)

Porque Ele faz o sol brilhar sobre bons e maus e a chuva cair sobre justos e injustos

A ideia de que Deus não castiga nem o pode fazer pode ser ofensiva para algumas pessoas. Desafia uma ideia de justiça largamente aceite, pela qual os transgressores devem pagar pelos seus crimes e os bons devem ser recompensados. Isso perturba a visão do universo dessas pessoas como um sistema moralmente coerente, no qual o bem e o mal estão em perpétuo conflito. A verdade é bem mais simples do que isso.

As linhas de transgressão para as pessoas religiosas deslizam ao longo desta divisão. Um mundo piedoso de recompensa e castigo reforça o sentimento de segurança daqueles cuja religião tem um papel importante como apólice de seguro de vida e necessidade de protecção. Tudo é claro e simples nesta dimensão mas acontece que depende de um andaime de definições, regras e rituais que mantém essa visão do mundo de pé. Nesta dimensão, excluir marginalizados, crentes de outras tradições e minorias sexuais faz-nos sentir mais seguros. Nos extremos, este tipo de dimensão religiosa bloqueia resolutamente qualquer vislumbre do livre e vivo Espírito de Deus – assim como a fé cristã que abençoou o apartheid e as bombas de napalm e fechou os olhos ao Holocausto. Sacuda o andaime e parece que o edifício inteiro vai colapsar. Se o apanharem a sacudir, tenha cuidado. A visão de Deus que Jesus encarna, e que a Quaresma nos ajuda a encontrar, é mais desafiante mas menos obviamente segura.

Espero que até agora você já tenha falhado o suficiente em manter a Quaresma para ser capaz de ver através deste estado de espírito bidimensional, ao qual todos nós estamos pelo menos parcialmente ligados. Ele pensa que Deus é semelhante a nós, enquanto que o Evangelho antevê o destino humano como passando a ser semelhante a Deus. Existe uma importante diferença na perspectiva aqui. Para abraçar a realidade mais desafiante de um universo multidimensional, temos de perfurar em vários sítios a nossa autojustificação e confiança de estarmos do lado certo. Cada punção, cada fracasso na vida é potencialmente uma janela para esta mais expansiva e inclusiva visão da realidade, uma rota de fuga das duras condições da prisão do fundamentalismo e da dualidade. 

Mas a Bíblia não nos mostra um Deus que castiga os maus (talvez até por vezes um pouco excessivamente)? E Jesus não fala também ocasionalmente sobre os pecadores que são lançados num lugar de choro e ranger de dentes? Como enquadrar este círculo? Olhado de uma forma impessoal, o universo é um sistema onde a lei do karma governa: boas ações produzem bons resultados, más ações, temos de pagar por elas. Mas desperte um pouco mais vendo-se a si mesmo num universo permeado pela dimensão espiritual, a mente de Deus. Você então verá uma lei superior ao karma.

Esta é a dimensão suprema do amor, para a qual podemos – apesar de todas as nossas falhas, ou por causa das nossas falhas – despertar. O karma e o amor coexistem mas o karma dissolve-se no contacto consciente com o amor. O pai do Filho Pródigo castiga? Pode ele? Expandimos para esta dimensão superior através do amor aos nossos inimigos, rezando por aqueles que nos perseguem, dando a outra face. Todos essas coisas idealistas, impossíveis, que somos incapazes de fazer, a menos que passemos a ser “semelhantes a Deus”.



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6ª feira da 1ª semana da Quaresma 2019

15/3/2019

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Sexta-feira da Primeira Semana
 (Mateus 5:20-26) 

Se a vossa virtude não exceder a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus.

Em defesa dos hipócritas, devemos lembrar que muita da hipocrisia deriva de uma falta de consciência, mesmo quando nós em parte escolhemos permanecer inconscientes. Despertar, especialmente se você esteve a dormir durante muito tempo, é sempre difícil. Resistimos à transição para uma maior e menos passiva dimensão da realidade. Empurramos a mão que nos sacode ou carregamos no botão dormir e viramo-nos para o outro lado. Esta relutância em estar despertos também é perceptível no modo como votamos e passamos o nosso tempo livre.

O valor de qualquer coisa será mais bem avaliado em referência ao seu oposto. Valorizamos o sono porque ele nos ajuda a estar mais despertos durante o dia. Valorizamos o silêncio para podermos comunicar melhor. Valorizamos a riqueza para que possamos partilhá-la. A relação entre opostos produz equilíbrio, viver saudável e pessoas boas que são amáveis e justas para os mais necessitados. Pender para um lado da equação – ficar na cama todo o dia, falar sem parar, agarrar-se aos seus bens materiais – conduz-nos mais fundo para um mundo unidimensional, ilusório, da auto-absorção, onde permanecemos inconscientes das muitas outras dimensões em que vivemos, nos movemos e existimos. Num mundo assim, a vida torna-se uma foto selfie contínua. Em vez disso, “ficai despertos”, diz-nos o Evangelho. O Buda caminhava um dia quando outro transeunte ficou fulminado pelo brilho radiante da sua presença e lhe perguntou: “O senhor é um Deus?” “Não”. “Então é um mágico?” “Não.” “Então quem é?” “Estou desperto”, o Buda replicou.

Estar desperto faz parte da sabedoria universal inerente a todo o ensinamento verdadeiro. Estar realmente desperto está para além do que entendemos como moralidade ou, digamos, é a base fundamental do julgamento moral. O hipócrita em nós é muito rápido a condenar os outros, entronizando-se no alto patamar da moral a partir do qual pode actuar com incrível crueldade. Mas isso está na dimensão dos sonhos, não do mundo real. Vemos o efeito do estar desperto na diferença entre o trabalho bem feito, que exibe o melhor de nós mesmos, trazendo benefícios aos outros, e o trabalho que leva ao esgotamento e à divisão. Por outro lado, estar desperto mostra a diferença entre uma bela representação artística da forma humana e uma imagem obscena.

É difícil de ver como, na velocidade e na sobrecarga de informações da vida moderna, podemos manter-nos despertos sem uma prática contemplativa integrada na vida quotidiana. Faltando isto, como podemos nós (ainda que com as melhores intenções com que o hipócrita em nós muitas vezes parte) evitar sermos arrastados para o torpor da superactividade, o estado-de-sonho do meio-acordado?

O mesmo equilíbrio que nos mantém despertos também reduz a nossa hipocrisia. A chave é aceitar as nossas limitações. Na Quaresma, não se trata de nos apoucarmos ou negarmos o dom dos prazeres simples. Trata-se sim de aceitar que as nossas limitações são o meio pelo qual nos orientamos entre os extremos. Fisicamente estamos limitados pelos limites biológicos aos quais devemos dar resposta de forma adequada – por exemplo, no sono ou na alimentação. Intelectualmente, estamos limitados pela quantidade de dados que podemos absorver e também pela necessidade de conteúdos saudáveis, em vez do entretenimento sem fim. Só na dimensão espiritual não existem limites.




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5ª feira da 1ª semana da Quaresma 2019

14/3/2019

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Quinta-feira da 1ª semana da Quaresma 2019
(Mateus 7:7-12)


Pedi e ser-vos-á dado; procurai e encontrareis; batei à porta e ela ser-vos-á aberta.

A confiança nestas palavras é convincente. Mas poderemos sentir que elas descrevem um mundo irreal de fantástica hospitalidade, um mundo de finais sempre felizes. O universo não é assim tão acolhedor e complacente como isso. Todos os dias crianças choraram por comida e morrem de fome e inocentes rezam por justiça e são maltratados.

Mesmo assim, a Sua autoridade impele-nos a escavar abaixo do nosso cepticismo em busca de uma mais profunda fonte de significado. Ao procurarmos mais fundo, logo parece que estamos a mergulhar em queda livre em direcção a um chão sem fundo. A partir deste ponto, a jornada para o silêncio do deserto torna-se simultaneamente mais exigente e mais compensadora, à medida que passamos por um despertar para o qual não estávamos preparados.

Até agora, só aprendemos a nos sentarmos imóveis nas quatro dimensões familiares de espaço e tempo – com uma postura direita mas confortável. Na meditação da manhã os pensamentos giram à nossa volta como ventos fortes. À tardinha, como mosquitos e comichões. Mas depressa nos damos conta de que a própria quietude nos está a revelar uma outra dimensão: uma jornada para um significado mais profundo, mais estranho, mais familiar, mais auto-verificável e mais rico do que alguma vez poderíamos ter imaginado. Sentimo-nos bem-vindos nesta jornada: uma sensação de regresso a casa, apesar da estranheza, uma genuína hospitalidade e não uma falsa consolação.

Cada passo neste caminho faz avançar a transformação que está sendo operada em nós. A nossa própria mente torna-se mais lúcida e mais amorosa. Para sustentar esta jornada passo a passo nós dizemos o mantra: uma palavra que repetimos, primeiro na mente superficialmente e finalmente no coração com ressonância. Com a prática nós evoluímos do dizê-lo para o ouvi-lo. Esta evolução interior reflecte-se nas mudanças de longo alcance, no modo como interagimos com as pessoas, com o trabalho e com o tempo. Reconhecemos um sentido naquilo que antes nos pareciam meras contradições ou um absurdo. A partir da profundidade do aparente disparate de se dizer que iremos sempre receber aquilo que pedimos, surge então uma esvoaçante sabedoria.

A palavra que recomendamos é maranatha: uma palavra sagrada na tradição dos Evangelhos, aramaica, a língua que o Jesus histórico falava. A palavra significa “vem Senhor”. Mas como o mantra serve para pôr de lado todos os pensamentos, até mesmo os pensamentos sobre o seu próprio significado, e porque dizer o mantra é o trabalho do silêncio, nós não pensamos no significado enquanto estamos a dizê-lo. Para a mente tagarela isto é refrescantemente desafiador. Pode-se escolher outra palavra mas aplicam-se sempre os mesmos princípios para qualquer palavra que se escolha – é melhor não ser uma palavra do seu próprio idioma e também é melhor dizer sempre a mesma palavra continuamente ao longo de cada período de meditação, dia após dia. Isto planta a semente bem fundo e permite que o crescimento aconteça, “como, não sabemos”, como diz o Evangelho.

A meditação leva-nos através da selva exuberante de todos os nossos pensamentos, imagens e emoções. É um caminho estreito – mas é melhor ter um caminho estreito numa selva do que não ter nenhum caminho. O mantra é um pequeno passo, mas é um gigante salto de fé. De cada vez que voltamos a ele, avançamos mais um passo no caminho. Por muito tempo que nós nos afastemos dele, distraídos na floresta cerrada dos nossos medos e desejos, nós estamos felizmente, nunca a mais de um passo de re-tornarmos ao caminho: simplesmente começamos a dizer o mantra de novo. Este imediatismo introduz-nos na dimensão do momento presente. Aqui, pedir e receber tornam-se a mesma e uma só coisa.



​Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB

Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/

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4ª feira da 1ª semana da Quaresma 2019

13/3/2019

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Quarta-feira da Primeira Semana
(Lucas 11:29-32)


Esta geração é uma geração perversa; procura um sinal
 
Desejar sinais é como exigir que uma só resposta resolva todos os aspectos de uma interrogação. Isso encerra-nos na mais superficial dimensão da realidade. Perdemos assim o mais profundo e mais satisfatório significado da vida e a tangível verdade da experiência plena. Supera isso, diz Jesus aos supersticiosos e aos mais próximos aliados destes, os fundamentalistas.
 
Através da experiência directa, a meditação ensina-nos o que o pensar e o falar não conseguem. Comunicação, sem esta dimensão do silêncio, torna-se um tagarelar e conduz ao conflito que emerge da confusão. “Vamos nos sentar juntos e esclarecer as coisas”, dizemos em situações pessoais complicadas. É precisamente o que fazemos na meditação. Não é assim que nos parece, contudo, até termos tentado e testado a experiência.
 
Porque será que ir para o deserto (eremos) nos ajuda a viver melhor no mundo urbano? O deserto é mais real do que imaginamos. A cidade é mais ilusória do que gostamos de admitir. No deserto não existe nada de real para contemplar a não ser a própria natureza nas suas mais simples e nuas formas. Como é que sabemos – qual é o sinal – de que o que estamos a fazer é real? Talvez seja a experiência da beleza, significando a instantânea penetração do nosso ser pelo todo misteriosamente presente numa parte que nos toca e nos muda. Nós não pensamos em beleza nem decidimos sentir que algo é belo. Não podemos negar a beleza nem explicá-la. Rendemo-nos a ela. A imitação da beleza seduz-nos mas a sua falsidade fica logo exposta. A verdadeira, como a beleza que encontramos no deserto, expõe o “glamour” do centro comercial. Assim que o falso é visto temos que o abandonar rapidamente. Se não, a ilusão toma conta de nós e o vício a seguirá.
 
É por isso que precisamos de eremos, nos sentarmos e ser. As crianças, para surpresa dos seus professores e pais, conseguem e amam o deserto interior. Para nós isso envolve um re-aprender. A não ser que nos tornemos como crianças pequenas… A aprendizagem começa com a postura física. O corpo é o maior de todos os sinais, o sacramento primário, a beleza (mesmo depois de começar a declinar do seu apogeu físico) que é verdade. Um corpo emaciado e desgastado não é menos sagrado ou essencialmente belo do que o corpo apto e firme, porque o corpo nunca mente. Ainda mais do que ser um sinal, o corpo é o nosso primordial símbolo. Um sinal apenas aponta. Um símbolo encarna. Não imagem corporal. Mas o corpo que o encarna a si.
 
O modo como se senta a meditar exprime a sua atitude mental para a sessão que começa. Ele francamente lhe revela a si a verdade da sua mente e das suas expectativas. Se você se curva ou inclina, é aí que está a sua mente e isso vai fazer com que a verticalidade interior da meditação seja mais difícil. Portanto, sente-se direito. Isso também o ajudará a respirar melhor, o que vai permitir que fique mais calmo e desperto. Se está sentado numa cadeira, pode chegar-se para a frente e sentar-se mais na borda da cadeira, de forma a endireitar melhor as costas. Talvez pôr uma almofada pequena atrás de si. Se você for alto, sente-se numa almofada. Se for baixo, ponha algo debaixo dos seus pés de modo a que os pés formem um ângulo de 90 graus com os seus joelhos. Sentado no chão, poderá precisar de uma almofada, de modo a que a sua coluna fique direita e os seus joelhos toquem no chão. Se usa um banco de oração, mantenha as costas direitas, as mãos no colo ou sobre os joelhos. Os ombros relaxados, o maxilar solto, a respiração normal, o queixo levemente flexionado de modo a endireitar mais a parte da nuca.
 
O que é que poderia ser mais belo? Que grande sinal é para si e para os outros à sua volta de que, quando nos sentamos e somos quem somos, não precisamos de procurar por sinais.


Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB

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3ª feira da 1ª semana da Quaresma 2019

12/3/2019

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Terça-feira da Primeira Semana
(Mateus 6:7–15)  


Quando orardes não tagareleis como os pagãos….


Tagarelar significa conversa fiada e oca como, infelizmente, encontramos em muitas igrejas, templos, mesquitas e sinagogas, para não dizer na maior parte dos debates políticos.

Estamos no sétimo dia da Quaresma. É bem possível que a energia das recentes resoluções de Quarta-feira de Cinzas (abdicar de algo e fazer algo extra) esteja a precisar de renovação. Sabendo o que é que necessitamos e conscientemente indo à sua procura põe-nos a meio-caminho de o encontrarmos. É verdade, se nós verdadeiramente procurarmos, nós iremos realmente encontrar. Encontrar significa ver agora que o que esperávamos que surgisse mais tarde está já aqui, apenas aguardando para ser reconhecido. A dimensão do tempo passa por uma alquimia quando nós e o momento presente nos tocamos mutuamente no aqui.

Entre boas intenções e acção há geralmente uma conexão de curta duração. Esta rapidamente se desfaz antes de o fruto ter amadurecido. A adição é existencial. Desligar-se dos seus padrões é a cura. A boa intenção de meditarmos é uma boa ideia que nos torna felizes por termos tomado essa decisão. Mas, quando esbarramos com uma parede de vidro entre a intenção e a acção, o optimismo do nosso querer desaba. Nós vemos claramente o que queremos fazer mas uma força invisível aparece entre nós e aquilo que queremos e sentimo-la como impenetrável. É aqui que o tagarelar começa, à medida que falamos, lemos ou pensamos demasiado sobre aquilo que ainda não estamos a fazer.

Inventamos mil e uma razões para justificarmos este fracasso o que nos leva a rejeitar como falso justamente aquilo que estávamos a tentar alcançar. Esta traição à confiança explica como as relações podem subitamente cair da alegria perfeita para a miséria. A parede de vidro é reforçada pelo tagarelar ruidoso e muitas vezes malicioso, até nos esvaziarmos. Qualquer pessoa que oiça o debate sobre o Brexit conhece a sensação. Resta-nos a desagradável experiência de vergonha e desconexão que vem após qualquer divisão ou conflito violento. Divididos contra nós mesmos, não conseguindo fazer o que queremos, experimentamos o significado de “pecado”. Longe de ser a mera quebra de uma regra, humana ou divina, o pecado só é entendido quando confessamos o quão impotentes nos tornámos, por via das nossas próprias divisões internas e da nossa auto-rejeição. 

O que quer que seja que façamos neste desastroso estado de egoísmo nos traz o menor benefício, ou aos outros. Muitas mãos se estenderão para nós quando pedirmos ajuda para nos libertarmos. Algumas delas vão nos cobrar um preço negociado antes de nos ajudarem a sair. Felizes somos nós que nos agarrarmos a uma mão que não nos pede nada a não ser a honra de nos ajudar. O nosso sentimento de valor próprio já está restaurado. Estes são os elementos encontrados no movimento interior da consciência chamado metanoia (conversão da mente) e muitas vezes erradamente traduzido como ‘arrependimento’. Não se trata de culpa, mas de mudança na consciência.

É isto que Jesus começa por dizer ao deixar o deserto, fortalecido por tudo aquilo que Ele transcendeu. Iniciamos o processo de mudança não por construir uma vontade de ferro, mas simplesmente por mudarmos a direcção da nossa atenção – dando a nossa atenção a outro lugar. A realidade está aonde colocamos a nossa atenção. Ela trava o tagarelar da mente e dissolve a parede de vidro da inacção.



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