WCCM - MEDITAÇÃO CRISTÃ (Portugal)
  • MEDITAÇÃO CRISTÃ
    • Sobre Meditação >
      • Meditação e Oração
      • O MANTRA
    • Como meditar
    • Meditação com Crianças
  • A COMUNIDADE
    • O Grupo de Meditação Semanal >
      • A Importância do Grupo
    • GRUPOS DE MEDITAÇÃO >
      • Grupos On-line
    • Sobre a WCCM
  • JOHN MAIN
    • Aniversário de John Main 2019
    • Aniversário de John Main - 30 de dezembro de 2015
    • Os oceanos de Deus: Última Carta de John Main
    • O Coração da Criação
    • Sabedoria - John Main
  • LAURENCE FREEMAN
  • ATIVIDADES
    • Seminário John Main 2020
    • Fr. Laurence Freeman em Portugal 2017 >
      • Retiro com Fr. Laurence Freeman_20170310-13
      • Conf_Lisboa20170310_Fr. Laurence Freeman
      • SemFtMeditaçãoCrianças_Fatima20170312_Fr. LaurenceFreeman
      • SemCxMeditaçãoCrianças_Coimbra20170312_Fr. Laurence Freeman
      • Conf_Coimbra20170312_Fr. Laurence Freeman
      • Conf_Porto20170313_Fr. Laurence Freeman
    • Retiros 2016 >
      • “Contemplação" - com Ir. Vera de Jesus Graça, 29 Abril a 1 Maio - Mosteiro de Bande
      • Retiro "São Bento" - Roriz, 8-10/11 Julho 2016
      • “Vida no Evangelho e Evangelho na vida” - Frei Fernando Ventura - Fátima, 16-18 Setembro 2016
    • Retiros 2015 >
      • “Contemplação" - com Ir. Vera de Jesus Graça 23 a 25 Out 2015 - Mosteiro de Bande
      • Retiro "São Bento" - Roriz, 10-12 Julho 2015
      • “Vida no Evangelho e Evangelho na vida” - Frei Fernando Ventura - Fátima, 18-20 Setembro 2015
    • Ora et Labora
    • Eucaristia Contemplativa
    • Meditação Cristã e Artes Orientais
    • Fim-de-semana "Partilhar o Essencial" >
      • Fim-de-semana "Partilhar o Essencial"
    • Workshops com professores e educadores
    • Cursos, Apresentações, Workshops e >
      • A Nuvem do Não Saber
      • Curso Introdutório - 20161118-20 - Rio Maior
    • Peregrinações e Caminhadas >
      • Peregrinação a Fátima, 2019, 8-12 de Maio >
        • Peregrinação a Fátima, 2016, 8-12 de Maio
      • Caminhadas 2016 - Lisboa
    • Laudato Si' 2019 - Meditação pela Criação >
      • Laudato Si' 2015 - Meditação pela Criação
    • Diálogo Inter-Religioso >
      • Dia Internacional da Paz - Meditação Inter-Religiosa pela Paz
    • AGENDA Atividades
  • RECURSOS
    • Biblioteca Partilhada
    • QUARESMA 2022 - Reflexões >
      • QUARESMA 2021 - Reflexões
      • QUARESMA 2020 - Reflexões
      • QUARESMA 2019 - Reflexões
      • QUARESMA 2018 - Reflexões
      • QUARESMA 2017 - Reflexões
      • QUARESMA 2016 - Reflexões >
        • Retiro da Semana Santa 2016
      • QUARESMA 2015 - Reflexões >
        • Como aproveitar ao máximo
        • Evangelhos-Quaresma 2015
    • ADVENTO 2020 - Reflexões >
      • ADVENTO 2019 - Reflexões
      • ADVENTO 2018 - Reflexões
      • ADVENTO 2017 - Reflexões
      • ADVENTO 2016 - Reflexões
      • ADVENTO 2015 - Reflexões
    • LEITURAS SEMANAIS
    • LIVROS E MONOGRAFIAS
    • DVD's e CD's
    • JORNAL
    • DOCUMENTOS >
      • TESTEMUNHOS
  • CONTATOS
    • Receba in-formativos
  • DONATIVO

Reflexões para a Quaresma 2019

                                                                       .     
​LAURENCE FREEMAN OSB 

Receba os nosso In-formativos

5ª-feira da Quinta semana

11/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
Quinta-feira da Quinta Semana
(João: 8:51-59)  
​
“Antes de Abraão existir, Eu Sou”. Pegaram então em pedras para Lhe atirar.

Você talvez tenha pensado que qualquer um que ouvisse esta declaração, ainda que não gostasse da pessoa, ainda que a achasse ou louca ou genial, teria dito “explica-me lá o que acabaste de dizer antes que eu te atire pedras até morreres”. Contudo, tanto neste dito como no outro grande “Eu Sou”, Jesus está a revelar uma outra dimensão da realidade tão perturbadoramente diferente do nosso habitual modo de ver, que justamente estas Suas palavras ameaçam a ordem existente.

Sob regimes totalitários os poetas e os artistas são a maior ameaça. Aqueles que resistem aos detentores do poder, por meios políticos ou violentos, são facilmente reprimidos. Os grandes pensadores, no entanto, mudam primeiro, não as estruturas. A sua visão, percepções profundas oriundas da experiência directa, abrem novas dimensões da realidade a outros. Um dos maiores matemáticos modernos, por exemplo, foi Emmy Noether.  Em pé de igualdade com Einstein, ela abriu novos caminhos de percepção na Álgebra e na Física que transformaram para sempre o modo como as coisas nestes campos são vistas. As suas ideias originais entraram tão profundamente na estrutura conceptual de base que ela é raramente sequer citada. Ela não só acrescentou palavras ao vocabulário, como também expandiu a própria linguagem.

Jesus faz isto a toda a visão humana do mundo. É por isso que é tão deprimente quando os Seus ditos revolucionários, nascidos da Sua experiência direta do Pai, são desviados da Sua verdadeira intenção e usados para defender opiniões morais privadas ou estruturas religiosas. Não são apenas os contemplativos os verdadeiros revolucionários. Os verdadeiros revolucionários, em qualquer campo, são contemplativos por natureza e místicos na sua visão da realidade.

Com razão, Ele foi considerado perigoso para a ordem dominante mas a um nível ainda mais profundo do que os Seus críticos imaginaram. Foi preciso a Sua morte para O livrar do poder repressivo dos Seus críticos e libertar a Sua visão (o Seu espírito) que continua a penetrar na consciência humana de modo a mudar a natureza da realidade para nós. Teria sido bom se Ele tivesse sido reconhecido e ouvido pelas autoridades. Mas isso está fadado a não acontecer quando para aceitar um tal novo modo de ver ameaça não só a instituição a que você pertence como tudo aquilo sobre o qual você construiu a sua vida. Ninguém quer ser sujeito a uma transformação total. Gostamos da mudança que podemos controlar. Assim, a Sua violenta rejeição por parte dos Seus contemporâneos estava fadada a acontecer e, se sentimos que havia um plano, isso era até parte do plano. Mesmo aqueles que O amavam não O compreenderam.

A nossa prática espiritual diária e os dias vindouros dos mistérios da Páscoa sintonizam-nos para vermos isto e para compreendermos o que Jesus queria dizer quando usou a palavra “Eu”. Jesus não estava a dizer – como aqueles que O queriam apedrejar ou crucificar confusamente temiam – “Eu sou Deus”. Ele estava a dizer: «Deus é Eu sou”. Isto é o que Eu estou a dizer».



​


Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB 

Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/

Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal 
http://www.meditacaocrista.com/ 
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
0 Comentários

4​ª-feira da Quinta semana

10/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
​ª-feira da Quinta semana
0 Comentários

3​ª-feira da Quinta Semana

9/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
Terça-feira da Quinta Semana 
(João 8:21-30)

Aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou só


Eu estava numa apinhada plataforma recentemente, esperando o metro. Normalmente eu estaria a ler ou a ouvir o mantra. Então assisti intrigado como uma mulher se imortalizou a si própria repetidamente em uma selfie. Foi uma boa representação, já que ela estava determinada em conseguir apenas o sorriso certo e a inclinação da cabeça certa e apenas também o fundo certo. Ela posava, sorria vitoriosamente para si mesma, depois verificava o resultado na tela e tentava de novo. Ela estava alegremente absorvida nessa operação e totalmente inconsciente de que estava parada no meio de uma multidão em movimento numa plataforma estreita. Quando o meu comboio chegou, ela ainda estava visando a perfeita captura.

Como resultado de uma intensa pesquisa académica na Wikipédia eu descobri que a primeira selfie (auto fotografia) conhecida foi um daguerreótipo feito em 1839 e agora na lápide do fotógrafo. Na falta de um smartphone, ele terá removido a tampa da lente, tirado a foto e ficado parado por um minuto ou dois, antes de voltar a cobrir a lente novamente. Uma selfie mais contemplativa. Os artistas sempre gostaram de se pintar e os espelhos existem desde 6000 aC. Nós amamos ver-nos a nós próprios mesmo quando não gostamos do que vemos.

Como qualquer coisa relativamente inofensiva em si mesma, isto pode se tornar numa obsessão e moldar todo um estilo de vida. Para controlá-lo, precisamos de praticar o centramento-no-outro. Torna-lo um hábito, alerta-nos para vermos quando a auto-fixação nos dessensibiliza para as pessoas próximas. Isso nos resgata do aprisionamento no autoconsciente laço do narcisismo. Quando abraçamos o trabalho do centramento-no-outro, vislumbramos a dimensão última que envolve todas as dimensões, a qual Jesus chamou de "Pai", o padrão de centramento-no-outro de Jesus em toda a sua vida. É o segredo de distinguir entre realidade e ilusão e "ver a Deus". Como fui criado numa cidade, tenho de me esforçar, quando estou fora do país, para ler o livro da natureza. Bonnevaux está a ensinar-me assim como o fizeram muitas pessoas que amaram este livro a sua vida inteira.

O poeta inglês Gerard Manly Hopkins escreveu alguns dos mais belos poemas sobre o mundo natural. Ele também usou a palavra "eu" como um verbo. Destruir a beleza (um poema é sobre abater um grupo de álamos) é "não-eusar" o mundo. Ele viu Deus se eusando a si próprio nas inúmeras belezas do mundo onde "Cristo brinca em dez mil lugares". Isso lembra as "10 mil coisas que sobem e descem" do Tao Te Ching, que também podemos interpretar como uma distração sem fim. O que transforma a distração na visão de Deus eusando o mundo é o centramento-no-outro: não o que vemos, mas como vemos.

Agora, com as nossas portas da percepção apenas um bocadinho mais limpas depois da Quaresma e do polimento do mantra, o que é mais intrigante do que ver coisas como a Mente de Cristo - brincando até mesmo numa plataforma apinhada – veja-as.




Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB 

Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/

Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal 
http://www.meditacaocrista.com/ 
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
0 Comentários

2​ª-feira da Quinta Semana

8/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
Segunda-feira da Quinta Semana
(João 8, 12-20)

Eu sei de onde vim e para onde vou.



Muitas pessoas hoje vivem em relacionamentos de longa distância. Por causa do trabalho ou de outros fatores complicadores elas enviam mensagens de texto, falam por Skype ou telefonam às vezes várias vezes num dia. Longas ausências podem enfraquecer e minar os relacionamentos, ou podem fortalecê-los e amadurecê-los. Cada relacionamento tem uma distância ótima. Essa distância focal em que nos “vemos” um ao outro não é uma fixa medida. Ela se ajusta às condições. É realmente difícil para as pessoas que amam estar separadas. Elas sentem saudades uma da outra; mas às vezes é uma “boa saudade”, como alguém de quem eu era próximo me disse uma vez. 

As maneiras de estarmos em relacionamento foram radicalmente afetadas pela tecnologia, globalização e internet. O amor em si não foi mudado; mas o amor cresce através de formas e hábitos, especialmente nos seus estágios iniciais e na infância. Uma criança pode se empolgar ao falar por Skype com um pai (ou mãe) ausente quando ele liga de um aeroporto distante para dizer boa noite, mas não é o mesmo que estar lá todas as noites.

Durante estas reflexões tenho estado a voltar às diferentes dimensões da realidade. Continuo a realçar a dimensão contemplativa porque sinto que esta, que é a mais enfraquecida e frequentemente ignorada na nossa acelerada e fragmentada cultura global, é essencial para lidar com os desumanizantes aspectos da vida “na rede” de hoje. Estar on-line, disponível, instantaneamente apto, com pouco tempo para refletir e ponderar, tem os seus perigos assim como também aspectos positivos. Pode, por exemplo, se tornar um vício. Os meditantes, tal como qualquer outra pessoa, acham difícil desligar os seus telefones, embora possam entender melhor a necessidade de fazê-lo periodicamente. As pessoas frequentemente dizem que querem “ficar longe de tudo por um tempo”. Mas quando a oportunidade surge, encontram uma desculpa para não o fazer. Se nos esquecermos de como viver na dimensão contemplativa – quietos, silenciosos, simples e agora – arriscamo-nos a perder tudo o que ganhamos com a tecnologia e o progresso social.

O mais distante de todos os relacionamentos é com Deus, se vivermos exclusivamente nas três dimensões do tempo e do espaço. Falamos por Skype com Ele na igreja e O encaixamos entre outros compromissos que esprememos na nossa assoberbada agenda. Isso faz com que sintamos Deus sempre distante e tão real quanto para uma criança o seu amigo imaginário. Para o não-crente isto prova que Deus é uma criação humana, uma muleta, uma droga, mais uma das muitas fontes de falsa consolação, em vez de o Ser, a própria consciência.

O poder que abre novas dimensões da realidade é o amor. (A meditação é o trabalho do amor.) Para um casal separado por fusos horários e geografia, o amor prova que eles estão sempre presentes um para o outro.

Isto está agora a trazer-nos para mais perto do propósito da Quaresma - que é o de entendermos melhor a Páscoa. E ver por que é que a meditação abre novas dimensões da realidade. 




Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB 

Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/

Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal 
http://www.meditacaocrista.com/ 
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
0 Comentários

5º. Domingo da Quaresma

7/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
Quinto Domingo da Quaresma 
(João 8 1-11)

Ele olhou para cima e disse-lhes: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!»


No pequeno sultanato de Brunei, recentemente, o líder nacional sentiu um impulso para introduzir leis religiosas mais fortes para o bem-estar do seu povo. Estas incluíram a amputação para os ladrões e o apedrejamento até à morte para os homossexuais. Pergunto-me como é que ele teria reagido se tivesse apanhado o olhar de Jesus quando Ele olhava para cima, depois de escrever na terra, enquanto a mulher apanhada em adultério estava à espera do seu destino. Os seus juízes estavam a puni-la segundo o livro; Jesus “des-escreveu” todos os livros quando Se ajoelhou e escreveu as suas palavras silenciosas na poeira. 

A religião tem as dimensões moral e intelectual, o que traz os benefícios dos princípios éticos e símbolos de cura para os infortúnios da vida. Elas também ajudam a alinhar a fé pessoal e a saúde mental social. Mas há uma oculta e adicional dimensão da religião – a mística – que é ignorada com perigo para quem o faz. Sem a influência da experiência contemplativa, a crença e o comportamento religiosos escorregam para um lento declínio, tornando-se, ou insuportavelmente superficiais, ou moralistas. Ou simplesmente monstruosos.

Quando estamos convencidos de que Deus está do nosso lado começamos a falar em nome de Deus; e então, se os outros nos escutarem, em breve acabamos por acreditar que somos Deus. O paradoxo da verdadeira experiência religiosa é que, depois de termos encarado a infinita diferença e distância entre Deus e nós, descobrimos que Deus está mais próximo de nós do que nós estamos de nós próprios. Somos então puxados para um processo de transformadora união no outro lado da “identidade”. A união diferencia. A distância desta intimidade para além da diferença evoca a verdade do que Mestre Eckhart disse: “não existe distância entre Deus e mim”. 

Isto é menos abstracto do que poderá soar. A integridade da religião tem que ser protegida e promovida porque a religião não pode ser eliminada. Tal como a política tem que ser continuamente purificada pela verdade, se se quer evitar a corrupção. Tal como a música deve ser bem executada. Mas eu não estou a pensar imediatamente nos benefícios que isto traria ao Sultão do Brunei. Estou a pensar mais em todas as vítimas da religião retardada, as mulheres apanhadas em adultério, os homossexuais e ladrões, os bodes expiatórios da falsa religião e aqueles que estão sentados sozinhos em celas de prisão, cujas vidas foram arruinadas pela cruel piedade dos que se auto-consideram justos.

A mulher apanhada em adultério desencadeia um universal acorde de simpatia. Tal como a Regra de Ouro (tratar os outros como gostaríamos de ser tratados) tem uma irredutível e incontestável simplicidade, sendo tanto moral quanto mística. No entanto, tão facilmente, nos desconectamos de seu significado: e é por isso que temos que praticar a dimensão contemplativa e, para isso, precisamos tanto da Quaresma como da meditação. 





Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB 

Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/

Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal 
http://www.meditacaocrista.com/ 
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal

0 Comentários

Sábado da Quarta semana

6/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
Sábado da Quarta Semana
(João 7:40-52)

Deste modo, estabeleceu-se um desacordo entre a multidão, por sua causa.

Em Bonnevaux há três nascentes. Em cada uma, um fluxo contínuo de água borbulha para cima a partir do mundo invisível abaixo, de lençóis de água ou de riachos subterrâneos. Quando estou ao pé delas, vendo a suave perturbação que rompe a superfície vinda da fonte oculta, pressinto uma longa história. As nascentes sempre atraíram os seres humanos não somente como uma fonte de água da qual a vida depende mas como locais sagrados, símbolos vivificantes do significado, da conectividade, da vida. “Acreditem em milagres, em curas e poços curativos”, escreveu Seamus Heaney no seu poema “Cura em Tróia” e repetiu numa comunicação ao Royal College of Physicians (Real Colégio Médico) da Irlanda.

As mitologias do mundo contêm muitas histórias sobre a busca pela “fonte da vida”. Nos sonhos, diz-se que a água simboliza a própria consciência. Jesus queria que descobríssemos o rio de água viva que flui a partir do nosso coração. O coração de cada pessoa é uma nascente através da qual a vida da consciência flui a partir de uma comum fonte do ser. Ela entra nesta tangível dimensão da realidade onde neste momento eu escrevo e você lê. Corações, porém, fecham-se quando os estados negativos da mente com os quais todos nós lutamos, até ao fim dos tempos, distraem-nos e submergem-nos. Pode levar alguns anos para notarmos que o nosso coração se tem estado a fechar. Mas quando o vemos, isso explica muito do que correu mal. Expõe os hábitos de carácter e os padrões de comportamento que gradualmente nos foram prendendo na armadilha e com os quais falsamente nos identificamos. 

Quando o coração se fecha, nos separamos da nossa fonte e da natureza fluente da realidade. Assumimos posições rígidas, fixas. A oposição vem a seguir e não muito depois, o conflito e variadas formas de violência. Fechados e separados, no orgulho de termos razão e condenando os que discordam como estando errados, nunca conseguimos estar de acordo. Nós então perdemos o contacto com os misteriosos caminhos entre as dimensões da realidade. Estas ligações não são tangíveis ou conceptuais na forma em que estamos habituados, e por isso são facilmente rejeitadas como imaginárias. O preço que pagamos é o de ficarmos encalhados, inflexíveis. Sem a nascente da nova vida as nossas ideias ficam estagnadas e os nossos argumentos monótonos. Não conseguimos concordar em nada nem com ninguém excepto nós mesmos. Por fim, nem conseguimos concordar connosco mesmos. 




Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB 

Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/

Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal 
http://www.meditacaocrista.com/ 
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
0 Comentários

6​ª-feira da Quarta semana

5/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
Sexta-feira da Quarta Semana
(João 7:1-30)

Eu é que O conheço, porque procedo d’Ele e foi Ele que Me enviou. 


No longo movimento em direção à autoconscientização, os seres humanos acabaram por reconhecer diferentes níveis de consciência. Parece que os cães sonham mas não parecem estar interessados na diferença entre o estado de vigília e o estado de sonho. Nós temos crescido no reconhecimento de diferentes tipos de conhecimento e operações da mente. Se toda esta evolução de consciência nos tornou melhores do que os cães e os deuses que adoramos, ou o que ela significa, é uma outra questão.

Talvez precisemos de dar dois passos em frente e um passo para trás. Com isto quero dizer que, à medida que crescemos em autoconscientização, precisamos de recordar directamente a diferença entre níveis de consciência. Para nós e para os nossos relacionamentos é importante distinguir o sonho da realidade. Numa cultura saturada pelos media, onde facilmente ficamos adictos aos nossos aparelhos e nos privamos a nós mesmos até de um normal grau de paz – para nem falar da paz de Deus que ultrapassa a compreensão – é crucial que recordemos a existência de um nível de pura consciência. É por isto que vamos para o deserto todos os dias para fazer o trabalho do silêncio. “Abandonando”, como disse João Cassiano no séc. V, “todas as riquezas do pensamento e imaginação”, encontramos a estrada real para a pobreza em espírito – desapego e a capacidade de desfrutar e entender sem possessividade e as ilusões que ela acarreta. O significado da Quaresma e da meditação quotidiana.

Sócrates contou a história de um erudito que se abeirou de um rei egípcio com um maravilhoso novo produto chamado “escrita”. Ele afirmava que ela faria expandir a memória das pessoas: “a minha descoberta fornece a receita para a memória e a sabedoria”, reclamava ele. O rei era demasiado esperto para aderir de imediato ao uso deste novo meio. Ele concluiu que o invento iria ter o efeito oposto porque “as pessoas deixarão de exercitar a memória”. Em vez de recorrerem diretamente aos seus recursos interiores elas próprias, acabarão por ficar dependentes dos “meios de marcação externa”. O rei parece uma pessoa dos tempos modernos a queixar-se de que com o Google e as calculadoras electrónicas perdemos o hábito da memória, do trabalho mental e a arte de aprender. 

É difícil ficar completamente convencido desta posição extrema, especialmente se pensarmos que as palavras de Sócrates tiveram que ser escritas por um seu aluno para poderem chegar até nós hoje. Mas as diferenças entre conhecimento directo e indirecto nunca foram mais importantes, de serem abordadas. Por muito maravilhoso que seja um documentário de TV sobre a Natureza não é a mesma coisa que fazer uma caminhada real. Discutir a meditação ou fazer investigação sobre os seus benefícios não é o mesmo que meditar. Alcançar uma experiência de Deus através de ideias, símbolos ou rituais tem imenso valor. Somos mais débeis sem esta linguagem. Mas saber que “Eu conheço a Deus porque procedo d’Ele e foi Ele que Me enviou” é uma forma de conhecimento que não pode ser digitalizada num sistema binário ou mesmo na mais bela escrita.




Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB 

Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/

Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal 
http://www.meditacaocrista.com/ 
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
0 Comentários

5​ª-feira da Quarta semana

4/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
Quinta-feira da Quarta Semana
 (João 5:31-47) 



Eu não ando à procura de receber glória* dos homens.
(*ou aprovação)
 

Tenho sido tentado, sem dúvida como muitas pessoas nos tempos recentes, a deixar de seguir as notícias. Primeiro, são os infindáveis relatos de fracassos: de liderança, de construção de consensos, de respeito pelo bem comum, do cuidado com os mais vulneráveis, protegendo o disfuncional e o corrupto. Há também a sensação de que aquilo que ouvimos como “notícias” é uma versão consideravelmente distorcida e incompleta dos eventos e daquilo que os principais intervenientes realmente pensam. Concluí, por muito frustrante e desapontante que o presente estado de coisas possa ser na sociedade nacional e global, que temos a responsabilidade, como membros da família, de manter um certo nível de conhecimento e de envolvimento em tudo isto, mesmo se nos parece por vezes que é uma telenovela de má qualidade.

Talvez num eremitério bem escondido no bosque, desligados do mundo, pudéssemos estar dispensados de seguir as notícias mas isso seria porque, ao mais profundo nível do relacionamento humano estaríamos presentes para todos e, de forma misteriosa, até mesmo de modo influente. Ramana Maharshi, que esteve durante a maior parte da sua vida num estado ininterrupto de “samadhi”, de contemplação, nunca saiu do seu ashram. Ele seguia a mesma rotina pessoal todos os dias. Muitos vinham vê-lo e sentavam-se com ele nesse seu silêncio amoroso. Uma vez um visitante perguntou-lhe porque é que ele não viajava para levar a sua paz aos recantos longínquos do mundo. Ramana sorriu e respondeu: “Como é que sabes que não o faço?”

Mas para os comuns mortais como nós, precisamos de equilibrar, nas flutuações do tempo, simultaneamente, trabalho contemplativo e trabalho activo. Se não tivermos tempo para o trabalho contemplativo – para ser em vez de fazer – corremos o risco de nos tornarmos cada vez mais atarefados e ruidosos e cada vez menos realmente úteis. Corremos muito mas cobrimos pouco terreno. Trabalhamos intensamente mas produzimos menos o bom trabalho.

Grande parte do empreendimento e da confusão modernos gira em torno do não-integrado ego. As questões de personalidade e os mexericos ocupam mais e mais as notícias a respeito daqueles que têm responsabilidade em nosso nome para dirigir as instituições e manter o mundo seguro. Excessiva ansiedade em torno da aprovação humana – aquilo que as pessoas pensam acerca de nós – provoca a disrupção do desapego de que precisamos para fazer bons julgamentos e servir em seu nome. Isto é dramaticamente verdade no caso dos líderes mas aplica-se misticamente a todos nós porque formamos um único corpo social, no qual cada indivíduo está ligado a cada um dos outros.

Estar desapegado da aprovação humana tem um sentido positivo mas também um sentido muito negativo. Em termos negativos, significa que fazemos o que nos apetece, mentimos, aldrabamos, extorquimos e destruímos e não nos importa o que quem quer que seja diga porque podemos simplesmente, ou negá-lo infinitamente ou eliminar a oposição. Este é o destino dos líderes solitários que perderam a sua solitude, ganhando o mundo à custa do seu verdadeiro “eu”. 

Mas o sentido positivo significa que estamos desapegados, não desligados. Não estamos absorvidos na crescente multidão da Humanidade, nós estamos posicionados fora dela. Mas vivemos conscientemente na comunidade da Humanidade. Quanto mais desapegados estamos, mais compassivamente estamos no coração da sociedade.

Esta é a sabedoria que a história dos últimos dias de Jesus invoca – uma história que nos estamos a preparar para re-contar e ouvir de novo, à medida que a Quaresma se aproxima do fim. É uma história única. Mas, mesmo que não obtenha muita glória humana, a sabedoria é universal. Como diz Lao Tse, o sábio “sabe sem ter que remexer, realiza sem ter que agir”.




Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB 

Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/

Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal 
http://www.meditacaocrista.com/ 
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
0 Comentários

4ª-feira da Quarta Semana

3/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
Quarta-feira da Quarta Semana
(João 5:17-30)

Não busco a Minha vontade, mas a d’Aquele que Me enviou. 


Centramento no outro: uma mais difícil ideia do que auto-centramento. Estamos todos mais familiarizados com um estado mental auto-centrado, embora habitualmente mais prontos a acusar os outros disso do que a vê-lo em nós próprios. O seu oposto está no cerne de todo o ensinamento de sabedoria e da dinâmica básica da própria meditação.

A verdade – que estamos mais plenamente vivos e somos mais verdadeiramente nós mesmos quando estamos orientados para os outros, em vez de o estarmos para os nossos próprios interesses – é difícil de praticar. No entanto, pouco a pouco e com muitas recaídas, à medida da re-orientação das nossas mentes, nossos sentimentos e nossa motivação nos movem nesta nova direcção, descobrimos uma nova forma de felicidade. Um novo nível de significado na vida emerge. A meditação, devidamente compreendida, abraça esta mudança mental de todo o coração, à medida que aprendemos a retirar a atenção de nós mesmos.

Ao princípio, e por algum tempo, parece que estamos a batalhar contra um poderoso vento frontal. A atenção regressa frequentemente aos pensamentos, planos e memórias que estamos a tentar pôr de lado dizendo o mantra. A mente, como um cachorrinho que está a ser treinado para se comportar em casa, continua a cometer o mesmo erro. Isso requer, não força ou castigo, mas uma grande paciência que reflecte o amor que sentimos por ele. Actuais preocupações, com as antigas ansiedades que nos são familiares, continuam a voltar, reclamando a nossa atenção. Parece bastante plausível que poderíamos usar o nosso tempo de forma mais proveitosa resolvendo os nossos problemas ou os re-analisando. Em breve veremos, porém, que a menos que aprendamos a arte de direcionar a nossa atenção, cada pensamento ou plano, incluindo até aqueles que dizem respeito ao bem-estar dos outros, ela é rapidamente sequestrada pelo auto-centramento. O mantra, suave mas consistentemente, retreina a nossa mente com um mais elevado nível de atenção centrada no outro, o que traz verdadeiros benefícios para nós e para todos os aspectos do nosso trabalho.

É um bom trabalho porque faz brotar o melhor que há em nós e produz benefícios para os outros. O que fazemos nas nossas sessões de treino da meditação, deste modo, dá frutos em todo o âmbito das nossas conscientes escolha e actividade; mas também transforma os nossos inconscientes hábitos da mente e sentimento.

Assim, um novo horizonte fica visível. Vemos a inata ordem moral da realidade, a essencial bondade do universo que é, ele próprio, o supremo bom trabalho. Isto reflecte-se no nosso instinto de consistência – na fidelidade, justiça, verdade e bondade – em tudo o que nos diz respeito, no corpo, mente e linguagem. Mesmo reconhecendo as consequências das nossas palavras e acções e vendo as nossas responsabilidades tal como realmente são, sentimos que não é apenas a nossa própria vontade que estamos a seguir. Há uma vontade no universo que é, ela própria, centrada-no-outro, estabelecida na natureza da realidade. Lao Tse chamava-lhe o Caminho. Jesus conhecia-a como o Pai.




Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB 

Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/

Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal 
http://www.meditacaocrista.com/ 
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
0 Comentários

3ª-feira da Quarta Semana

2/4/2019

0 Comentários

 
Imagem
Terça-feira da Quarta Semana
 (João 5:1-16) 


«Queres ficar são?» 


Algumas estatísticas sobre Jesus. Pelo relato evangélico sabemos que ele fez 307 perguntas. Fizeram-Lhe 183 perguntas, das quais Ele respondeu a 3.

Um dos aspectos desconcertantes do discurso público moderno é o familiar – a nova norma na política – de os políticos falarem muito mas dizendo nada. A arte de não responder à pergunta é fundamental para a vida política hoje. Não admira que a política esteja a perder a confiança das pessoas.

No caso de Jesus, por contraste, a Sua recusa em responder à maioria das perguntas que Lhe faziam aprofunda a nossa confiança na Sua autoridade e integridade. Muitas das perguntas eram armadilhas. Portanto, mesmo não as tendo respondido especificamente, Ele realmente deu resposta a elas, corrigindo-as com o contar de uma história. A ficção honesta, como numa parábola, ajuda a fazer-nos chegar à verdade mais directamente do que respostas puramente “factuais”. Em algumas ocasiões, Ele ficava simplesmente em silêncio, recusando-Se a ser arrastado para o labirinto das palavras; mas nessas ocasiões o Seu silêncio denunciava a falsidade das questões de modo a revelar a profundidade da verdade.

Ele ensinava, isso sim, mais através de fazer perguntas do que de dar respostas. Isto salienta a diferença entre a contrastante motivação de um professor e um instrutor ou a de um funcionário da ortodoxia da crença. Um professor é movido pelo desejo de despertar o direto conhecimento no aluno. Simplesmente descarregar a informação ou as respostas não conduz à compreensão, por muito bem que sejam repetidas. 

Uma vez eu estava a ler um ensaio de uma aluna. O seu domínio do Inglês era fraco, mas eu estava a tentar pôr de lado esse aspecto e ver o que ela estava a tentar dizer. Então uma passagem apareceu de repente, em Inglês perfeito. Passado um pouco a qualidade linguagem colapsou de novo – um não muito subtil caso de plágio. Havia mais verdade, mais conhecimento directo na sua luta com a língua do que na desonestidade das palavras de outra pessoa. Política, religião, vida empresarial, discussões médicas, toda a comunicação humana quebram a confiança ao esconderem-se por trás das palavras.

Porque é que as perguntas, melhor do que as respostas, despertam o directo conhecimento? Porque elas conduzem-nos a aceitar a responsabilidade pessoal, a praticar a integridade e a ser humildes. Neste estado mental, a resposta que encontramos, mesmo que seja “eu não sei”, pode surgir como uma revelação e um progresso. Tornamo-nos parte duma comunidade de aprendizagem, um discípulo, que vê que qualquer resposta, por muito correcta que seja, é um passo na viagem, não ainda o destino.

A pergunta “Queres fica são?” soa a verdadeira. Foca a atenção não em quem fala mas na outra pessoa, o que sempre abre a porta da verdade. 




Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB 

Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/

Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal 
http://www.meditacaocrista.com/ 
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
0 Comentários
<<Anterior
Seguinte>>

    WCCM Portugal

    A nossa missão:
    ​Divulgar e fomentar a prática da meditação cristã segundo os ensinamentos de 
    John Main no seio da tradição cristã, num espírito de serviço à união entre todos.


    Imagem
    Grupos de Meditação
    Meditação Cristã
    Como Meditar

    O Evangelho do dia:

    (clique na imagem)
    Imagem

    Bíblia Sagrada:
    (clique na imagem)
    Imagem


    ​Histórico

    Abril 2019
    Março 2019

    Anos anteriores
    ​Quaresma 2018
    Quaresma 2017
    Quaresma 2016

    Quaresma 2015

    Feed RSS

Powered by Create your own unique website with customizable templates.