Quarto Domingo da Quaresma
(Lucas 15:1-32)
“Este homem,” murmuravam entre si os fariseus e os escribas, “acolhe os pecadores e come com eles”.
Ser rejeitado, ser lançado nas trevas exteriores longe do grupo sentado à roda do fogo tribal, é um dos medos mais profundos da Humanidade. Os rejeitados subitamente tornam-se o inimigo do grupo que os rejeitam. Associar-se a eles é um sinal de deslealdade e faz deles tóxicos e infecciosos.
No filme inglês Apostasia, a Igreja das Testemunhas de Jeová excomunga uma jovem mulher por ela romper com as regras desta e a família dela confronta-se (e falha) com uma agonizante escolha entre rejeitar a jovem e permanecerem como membros dos eleitos. O mais diabólico aspecto do drama é a invertida linguagem religiosa da autojustificação e o falso e arrepiante tom dos moralistas de coração duro. A palavra “diabolus” implica o estado de “di-visão”, colocar à parte. A palavra oposta é “symbolum” que une e junta as partes separadas. O diabólico ataca em nome de Deus. Divide, servindo-se de todos os estratagemas, incluindo a citação das Escrituras, de modo a dar a ideia de que está do lado dos anjos.
Momentos de abismo surgem de tempos em tempos quando somos obrigados a escolher onde nos posicionamos. Ficamos na segurança da multidão que grita por sangue, ou nos posicionamos em solidariedade com o excluído? Tomem os imigrantes como exemplo. Em algumas partes da sociedade rica de hoje é perigoso falar compassivamente sobre imigrantes. Assim que o nosso líder estatal os tenha acusado de serem “traficantes de droga, criminosos e violadores, a sua desumanização inicia-se. A linha limite para o abusar deles, os mais vulneráveis, foi elevada.
“Pecadores” é um termo comum para rejeição no vocabulário religioso, ainda que seja frequentemente usado de modo errado. Jesus juntou-se a “pecadores”, gente fora do radar da pureza. Ele viu que o pecado que importa não é ser rejeitado, como os intocáveis no sistema de classes. A palavra grega para pecado significa “errar o alvo”. Não no sentido de não fazer parte da sociedade respeitável, mas no sentido humano de falhar. Quando tentamos deitar um pedaço de papel no caixote do lixo e falhamos, devemos zangar-nos e praguejar ou devemos apanhá-lo e tentar de novo?
Para compreendermos o pecado, temos de ser honestos relativamente às nossas divisões e contradições interiores, os sintomas universais da fraqueza humana. Caso contrário, mergulhamos na hipocrisia colectiva que é a força aglutinadora de qualquer multidão.
Os que jantam com pecadores põem-se a si mesmos em risco. Mas, mesmo quando, por sua vez, são desprezados e rejeitados, eles esvaziam o poder da hipocrisia. Eles expõem os verdadeiros pecadores no drama humano – não a vítima mas os vitimadores, os que separam e não os separados. Fica claro como é fácil escorregarmos do lado dos anjos para o dos demónios. Os verdadeiros pecadores são os que rejeitam e não os rejeitados. São os escorraçadores não os escorraçados os que realmente pecam.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
(Lucas 15:1-32)
“Este homem,” murmuravam entre si os fariseus e os escribas, “acolhe os pecadores e come com eles”.
Ser rejeitado, ser lançado nas trevas exteriores longe do grupo sentado à roda do fogo tribal, é um dos medos mais profundos da Humanidade. Os rejeitados subitamente tornam-se o inimigo do grupo que os rejeitam. Associar-se a eles é um sinal de deslealdade e faz deles tóxicos e infecciosos.
No filme inglês Apostasia, a Igreja das Testemunhas de Jeová excomunga uma jovem mulher por ela romper com as regras desta e a família dela confronta-se (e falha) com uma agonizante escolha entre rejeitar a jovem e permanecerem como membros dos eleitos. O mais diabólico aspecto do drama é a invertida linguagem religiosa da autojustificação e o falso e arrepiante tom dos moralistas de coração duro. A palavra “diabolus” implica o estado de “di-visão”, colocar à parte. A palavra oposta é “symbolum” que une e junta as partes separadas. O diabólico ataca em nome de Deus. Divide, servindo-se de todos os estratagemas, incluindo a citação das Escrituras, de modo a dar a ideia de que está do lado dos anjos.
Momentos de abismo surgem de tempos em tempos quando somos obrigados a escolher onde nos posicionamos. Ficamos na segurança da multidão que grita por sangue, ou nos posicionamos em solidariedade com o excluído? Tomem os imigrantes como exemplo. Em algumas partes da sociedade rica de hoje é perigoso falar compassivamente sobre imigrantes. Assim que o nosso líder estatal os tenha acusado de serem “traficantes de droga, criminosos e violadores, a sua desumanização inicia-se. A linha limite para o abusar deles, os mais vulneráveis, foi elevada.
“Pecadores” é um termo comum para rejeição no vocabulário religioso, ainda que seja frequentemente usado de modo errado. Jesus juntou-se a “pecadores”, gente fora do radar da pureza. Ele viu que o pecado que importa não é ser rejeitado, como os intocáveis no sistema de classes. A palavra grega para pecado significa “errar o alvo”. Não no sentido de não fazer parte da sociedade respeitável, mas no sentido humano de falhar. Quando tentamos deitar um pedaço de papel no caixote do lixo e falhamos, devemos zangar-nos e praguejar ou devemos apanhá-lo e tentar de novo?
Para compreendermos o pecado, temos de ser honestos relativamente às nossas divisões e contradições interiores, os sintomas universais da fraqueza humana. Caso contrário, mergulhamos na hipocrisia colectiva que é a força aglutinadora de qualquer multidão.
Os que jantam com pecadores põem-se a si mesmos em risco. Mas, mesmo quando, por sua vez, são desprezados e rejeitados, eles esvaziam o poder da hipocrisia. Eles expõem os verdadeiros pecadores no drama humano – não a vítima mas os vitimadores, os que separam e não os separados. Fica claro como é fácil escorregarmos do lado dos anjos para o dos demónios. Os verdadeiros pecadores são os que rejeitam e não os rejeitados. São os escorraçadores não os escorraçados os que realmente pecam.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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