Sábado da Primeira Semana
(Mateus 5:43-48)
Porque Ele faz o sol brilhar sobre bons e maus e a chuva cair sobre justos e injustos
A ideia de que Deus não castiga nem o pode fazer pode ser ofensiva para algumas pessoas. Desafia uma ideia de justiça largamente aceite, pela qual os transgressores devem pagar pelos seus crimes e os bons devem ser recompensados. Isso perturba a visão do universo dessas pessoas como um sistema moralmente coerente, no qual o bem e o mal estão em perpétuo conflito. A verdade é bem mais simples do que isso.
As linhas de transgressão para as pessoas religiosas deslizam ao longo desta divisão. Um mundo piedoso de recompensa e castigo reforça o sentimento de segurança daqueles cuja religião tem um papel importante como apólice de seguro de vida e necessidade de protecção. Tudo é claro e simples nesta dimensão mas acontece que depende de um andaime de definições, regras e rituais que mantém essa visão do mundo de pé. Nesta dimensão, excluir marginalizados, crentes de outras tradições e minorias sexuais faz-nos sentir mais seguros. Nos extremos, este tipo de dimensão religiosa bloqueia resolutamente qualquer vislumbre do livre e vivo Espírito de Deus – assim como a fé cristã que abençoou o apartheid e as bombas de napalm e fechou os olhos ao Holocausto. Sacuda o andaime e parece que o edifício inteiro vai colapsar. Se o apanharem a sacudir, tenha cuidado. A visão de Deus que Jesus encarna, e que a Quaresma nos ajuda a encontrar, é mais desafiante mas menos obviamente segura.
Espero que até agora você já tenha falhado o suficiente em manter a Quaresma para ser capaz de ver através deste estado de espírito bidimensional, ao qual todos nós estamos pelo menos parcialmente ligados. Ele pensa que Deus é semelhante a nós, enquanto que o Evangelho antevê o destino humano como passando a ser semelhante a Deus. Existe uma importante diferença na perspectiva aqui. Para abraçar a realidade mais desafiante de um universo multidimensional, temos de perfurar em vários sítios a nossa autojustificação e confiança de estarmos do lado certo. Cada punção, cada fracasso na vida é potencialmente uma janela para esta mais expansiva e inclusiva visão da realidade, uma rota de fuga das duras condições da prisão do fundamentalismo e da dualidade.
Mas a Bíblia não nos mostra um Deus que castiga os maus (talvez até por vezes um pouco excessivamente)? E Jesus não fala também ocasionalmente sobre os pecadores que são lançados num lugar de choro e ranger de dentes? Como enquadrar este círculo? Olhado de uma forma impessoal, o universo é um sistema onde a lei do karma governa: boas ações produzem bons resultados, más ações, temos de pagar por elas. Mas desperte um pouco mais vendo-se a si mesmo num universo permeado pela dimensão espiritual, a mente de Deus. Você então verá uma lei superior ao karma.
Esta é a dimensão suprema do amor, para a qual podemos – apesar de todas as nossas falhas, ou por causa das nossas falhas – despertar. O karma e o amor coexistem mas o karma dissolve-se no contacto consciente com o amor. O pai do Filho Pródigo castiga? Pode ele? Expandimos para esta dimensão superior através do amor aos nossos inimigos, rezando por aqueles que nos perseguem, dando a outra face. Todos essas coisas idealistas, impossíveis, que somos incapazes de fazer, a menos que passemos a ser “semelhantes a Deus”.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
(Mateus 5:43-48)
Porque Ele faz o sol brilhar sobre bons e maus e a chuva cair sobre justos e injustos
A ideia de que Deus não castiga nem o pode fazer pode ser ofensiva para algumas pessoas. Desafia uma ideia de justiça largamente aceite, pela qual os transgressores devem pagar pelos seus crimes e os bons devem ser recompensados. Isso perturba a visão do universo dessas pessoas como um sistema moralmente coerente, no qual o bem e o mal estão em perpétuo conflito. A verdade é bem mais simples do que isso.
As linhas de transgressão para as pessoas religiosas deslizam ao longo desta divisão. Um mundo piedoso de recompensa e castigo reforça o sentimento de segurança daqueles cuja religião tem um papel importante como apólice de seguro de vida e necessidade de protecção. Tudo é claro e simples nesta dimensão mas acontece que depende de um andaime de definições, regras e rituais que mantém essa visão do mundo de pé. Nesta dimensão, excluir marginalizados, crentes de outras tradições e minorias sexuais faz-nos sentir mais seguros. Nos extremos, este tipo de dimensão religiosa bloqueia resolutamente qualquer vislumbre do livre e vivo Espírito de Deus – assim como a fé cristã que abençoou o apartheid e as bombas de napalm e fechou os olhos ao Holocausto. Sacuda o andaime e parece que o edifício inteiro vai colapsar. Se o apanharem a sacudir, tenha cuidado. A visão de Deus que Jesus encarna, e que a Quaresma nos ajuda a encontrar, é mais desafiante mas menos obviamente segura.
Espero que até agora você já tenha falhado o suficiente em manter a Quaresma para ser capaz de ver através deste estado de espírito bidimensional, ao qual todos nós estamos pelo menos parcialmente ligados. Ele pensa que Deus é semelhante a nós, enquanto que o Evangelho antevê o destino humano como passando a ser semelhante a Deus. Existe uma importante diferença na perspectiva aqui. Para abraçar a realidade mais desafiante de um universo multidimensional, temos de perfurar em vários sítios a nossa autojustificação e confiança de estarmos do lado certo. Cada punção, cada fracasso na vida é potencialmente uma janela para esta mais expansiva e inclusiva visão da realidade, uma rota de fuga das duras condições da prisão do fundamentalismo e da dualidade.
Mas a Bíblia não nos mostra um Deus que castiga os maus (talvez até por vezes um pouco excessivamente)? E Jesus não fala também ocasionalmente sobre os pecadores que são lançados num lugar de choro e ranger de dentes? Como enquadrar este círculo? Olhado de uma forma impessoal, o universo é um sistema onde a lei do karma governa: boas ações produzem bons resultados, más ações, temos de pagar por elas. Mas desperte um pouco mais vendo-se a si mesmo num universo permeado pela dimensão espiritual, a mente de Deus. Você então verá uma lei superior ao karma.
Esta é a dimensão suprema do amor, para a qual podemos – apesar de todas as nossas falhas, ou por causa das nossas falhas – despertar. O karma e o amor coexistem mas o karma dissolve-se no contacto consciente com o amor. O pai do Filho Pródigo castiga? Pode ele? Expandimos para esta dimensão superior através do amor aos nossos inimigos, rezando por aqueles que nos perseguem, dando a outra face. Todos essas coisas idealistas, impossíveis, que somos incapazes de fazer, a menos que passemos a ser “semelhantes a Deus”.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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