Sábado da Quarta Semana
(João 7:40-52)
Deste modo, estabeleceu-se um desacordo entre a multidão, por sua causa.
Em Bonnevaux há três nascentes. Em cada uma, um fluxo contínuo de água borbulha para cima a partir do mundo invisível abaixo, de lençóis de água ou de riachos subterrâneos. Quando estou ao pé delas, vendo a suave perturbação que rompe a superfície vinda da fonte oculta, pressinto uma longa história. As nascentes sempre atraíram os seres humanos não somente como uma fonte de água da qual a vida depende mas como locais sagrados, símbolos vivificantes do significado, da conectividade, da vida. “Acreditem em milagres, em curas e poços curativos”, escreveu Seamus Heaney no seu poema “Cura em Tróia” e repetiu numa comunicação ao Royal College of Physicians (Real Colégio Médico) da Irlanda.
As mitologias do mundo contêm muitas histórias sobre a busca pela “fonte da vida”. Nos sonhos, diz-se que a água simboliza a própria consciência. Jesus queria que descobríssemos o rio de água viva que flui a partir do nosso coração. O coração de cada pessoa é uma nascente através da qual a vida da consciência flui a partir de uma comum fonte do ser. Ela entra nesta tangível dimensão da realidade onde neste momento eu escrevo e você lê. Corações, porém, fecham-se quando os estados negativos da mente com os quais todos nós lutamos, até ao fim dos tempos, distraem-nos e submergem-nos. Pode levar alguns anos para notarmos que o nosso coração se tem estado a fechar. Mas quando o vemos, isso explica muito do que correu mal. Expõe os hábitos de carácter e os padrões de comportamento que gradualmente nos foram prendendo na armadilha e com os quais falsamente nos identificamos.
Quando o coração se fecha, nos separamos da nossa fonte e da natureza fluente da realidade. Assumimos posições rígidas, fixas. A oposição vem a seguir e não muito depois, o conflito e variadas formas de violência. Fechados e separados, no orgulho de termos razão e condenando os que discordam como estando errados, nunca conseguimos estar de acordo. Nós então perdemos o contacto com os misteriosos caminhos entre as dimensões da realidade. Estas ligações não são tangíveis ou conceptuais na forma em que estamos habituados, e por isso são facilmente rejeitadas como imaginárias. O preço que pagamos é o de ficarmos encalhados, inflexíveis. Sem a nascente da nova vida as nossas ideias ficam estagnadas e os nossos argumentos monótonos. Não conseguimos concordar em nada nem com ninguém excepto nós mesmos. Por fim, nem conseguimos concordar connosco mesmos.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
(João 7:40-52)
Deste modo, estabeleceu-se um desacordo entre a multidão, por sua causa.
Em Bonnevaux há três nascentes. Em cada uma, um fluxo contínuo de água borbulha para cima a partir do mundo invisível abaixo, de lençóis de água ou de riachos subterrâneos. Quando estou ao pé delas, vendo a suave perturbação que rompe a superfície vinda da fonte oculta, pressinto uma longa história. As nascentes sempre atraíram os seres humanos não somente como uma fonte de água da qual a vida depende mas como locais sagrados, símbolos vivificantes do significado, da conectividade, da vida. “Acreditem em milagres, em curas e poços curativos”, escreveu Seamus Heaney no seu poema “Cura em Tróia” e repetiu numa comunicação ao Royal College of Physicians (Real Colégio Médico) da Irlanda.
As mitologias do mundo contêm muitas histórias sobre a busca pela “fonte da vida”. Nos sonhos, diz-se que a água simboliza a própria consciência. Jesus queria que descobríssemos o rio de água viva que flui a partir do nosso coração. O coração de cada pessoa é uma nascente através da qual a vida da consciência flui a partir de uma comum fonte do ser. Ela entra nesta tangível dimensão da realidade onde neste momento eu escrevo e você lê. Corações, porém, fecham-se quando os estados negativos da mente com os quais todos nós lutamos, até ao fim dos tempos, distraem-nos e submergem-nos. Pode levar alguns anos para notarmos que o nosso coração se tem estado a fechar. Mas quando o vemos, isso explica muito do que correu mal. Expõe os hábitos de carácter e os padrões de comportamento que gradualmente nos foram prendendo na armadilha e com os quais falsamente nos identificamos.
Quando o coração se fecha, nos separamos da nossa fonte e da natureza fluente da realidade. Assumimos posições rígidas, fixas. A oposição vem a seguir e não muito depois, o conflito e variadas formas de violência. Fechados e separados, no orgulho de termos razão e condenando os que discordam como estando errados, nunca conseguimos estar de acordo. Nós então perdemos o contacto com os misteriosos caminhos entre as dimensões da realidade. Estas ligações não são tangíveis ou conceptuais na forma em que estamos habituados, e por isso são facilmente rejeitadas como imaginárias. O preço que pagamos é o de ficarmos encalhados, inflexíveis. Sem a nascente da nova vida as nossas ideias ficam estagnadas e os nossos argumentos monótonos. Não conseguimos concordar em nada nem com ninguém excepto nós mesmos. Por fim, nem conseguimos concordar connosco mesmos.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal