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Reflexões para a Quaresma 2020


​LAURENCE FREEMAN OSB 

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Terça-feira da Quinta Semana

31/3/2020

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Terça-feira da Quinta Semana

Onde é que está a nossa memória armazenada? A resposta dum materialista é no hipocampo do cérebro para as memórias de longo prazo, e no neocórtex do cérebro para aquilo que foi o meu jantar ontem. Uma mais subtil resposta que considera a dimensão espiritual como real (não apenas como um acidente do cérebro), diria que toda a memória está armazenada no nível mais profundo da consciência. Tal como disse o budista Alan Wallace, nosso companheiro de diálogo, nos recentes diálogos inter-contemplativos, nós não pensamos que a memória do computador está armazenada no teclado. Porque é que haveríamos de pensar que o cérebro nos torna conscientes?
 
Uma tia minha idosa sofreu da doença de Alzheimer durante dez anos e não conseguia comunicar de todo. As filhas decidiram contar-lhe que o seu marido, pai delas, tinha morrido, embora soubessem que ela não estaria ciente nem capaz de responder. Ela continuou a balbuciar sem sentido enquanto lho contavam, mas de súbito, as lágrimas escorreram-lhe pelas bochechas. Isso pode não provar nada de cientifico sobre a memória; mas sugere algo sobre a consciência sobreviver à atrofia do cérebro, tal como tem sido demonstrado que sobrevive à morte clínica de pacientes sob cuidados médicos.
 
Ver alguém com quem vivemos e a quem amámos toda a vida perder a memória e afastar-se de nós é morrer em vida. Passamos por mortes em muitos níveis de intensidade ao longo duma vida, mas esta deve ser uma das piores. E no entanto, nesta também, há um substrato de consciência que nos conecta, mesmo quando todos os sinais que intercambiamos para mostrar que nos reconhecemos e nos preocupamos uns com os outros, acabaram por se apagar.
 
A persistência da memória profunda – e o amor é um tipo de memória continuamente relembrada e renovada – não nega a morte. De certa forma torna a morte ainda mais definitiva e terrível. Porém ela transcende a morte e mostra a vida como a grande constante. A vida é inextinguível. A consciência em si mesma é vida e a memória mostra que o amor é mais forte que a morte.
 
Os relacionamentos pessoais ensinam-nos isto. O mesmo fazem as grandes tradições espirituais, que são uma transmissão numa corrente de consciência duma memória viva que nos liga à nossa fonte, ao mesmo tempo que nos leva em frente na nossa jornada individual. Para todos nós, hoje em dia, as nossas jornadas individuais na vida estão conectadas pela ameaça e pelo medo do coronavírus. Para alguns de nós já significou a morte de pessoas queridas. Em todos nós despoleta a consciência da nossa mortalidade e as incertezas da mudança que não podemos controlar.
 
Em épocas tão negras, porém, uma memória colectiva, suprimida pela hiper-distracção, torna-se consciente de novo: a memória da vida experienciada como uma jornada espiritual que começa e termina em mistério, cheia de inexplicável dor e alegria mas cheia de maravilha. É o maravilha que, no final, nos liberta do medo. Somos expostos pela primeira vez à nossa real aflição: de não termos um caminho espiritual numa época como esta, nos faltar uma fonte de significado, não vermos a centelha de vida escondida na escuridão das nossas mortes. Todos estes são sintomas de outro vírus que cresce rapidamente no nosso materialismo e alucinação. Relembrar isto é vencer o medo da morte e de morrer.





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Segunda-feira da Quinta Semana

30/3/2020

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Segunda-feira da Quinta Semana
 
O que é que é normal? Certa vez, estava eu falar com alguém que tinha sido grandemente magoado e se sentia profundamente traído por um amigo. O amigo tinha, segundo penso, agido mal. Porém, era mais fácil para mim ser “objectivo” e pensar: “bem, talvez não quisessem magoar esta pessoa e talvez não soubessem realmente o que estavam a fazer”. Isto é muito mais fácil de dizer quando nós próprios não estamos na cruz.
 
Jesus alcançou a mais alta objectividade, não aquela falsa a partir da qual a maior parte de nós se arroga falar. Ela é alcançada na base da maior subjectividade – quando Ele se conheceu a Si mesmo totalmente e estava prestes a entregar o Seu Espírito à Sua fonte, deixando de estar separado de qualquer maneira, e abandonando qualquer apego a Si mesmo. Ele estava na Cruz naquele momento e disse: “Pai, perdoa-os pois não sabem o que fazem”. É interessante que não tenha dito: “Pai, Eu perdoo-os”…
 
Quando sou “eu” quem concede o perdão, há demasiado apego pessoal à dor e ao drama do perdão. Ao invocar o perdão para a chocante e brutal ignorância dos Seus inimigos, a partir do alicerce do ser, Ele estava a estabelecer contacto com a própria fonte. As Suas últimas palavras ensinam-nos até onde Ele tinha chegado e aquilo que deveríamos almejar.
 
Enfim, voltemos a esta vida. A pessoa com quem eu estava a falar, que se sentia traída, estava a analisar e a condenar a pessoa que a tinha magoado. Todos o fazemos, tentando compreender como é que isto podia ter acontecido, explicando-o duma forma que culpa mas finge ser objectiva. A maior parte das vezes, hoje, usamos linguagem da psicologia. Talvez haja alguma verdade na avaliação psicológica que fazemos dos outros. Mas pode não ser ainda uma verdade que tenhamos merecido o direito de usar. Isso torna-se óbvio quando dizemos algo como: “simplesmente, não é normal. Algo está mal… há algo anormal neles.” Jesus não disse, sobre a Sua última aflição, “simplesmente, não é normal”. De facto, era apenas demasiado normal: culparmos os outros e crucificá-los por forma a protegermo-nos da verdade. Não há nada mais normal nos relacionamentos humanos e nas instituições, do que a criação de bodes expiatórios.
 
É difícil até para o mais devoto cristão dizer exactamente o que a Cruz faz pelo mundo e porque é que é importante. De facto, fora da radiância da Ressurreição, é impossível fazê-lo. Mas, uma partícula útil da verdade total do mistério do Seu sofrimento e morte é que ela denuncia a falsidade, o auto-engano, o terror da verdade que nos dói, da qual fazer dos outros bodes expiatórios é uma das maneiras de fugirmos.
 
O sofrimento, e todos o estamos a experienciar nesta crise, deve ser evitado ou reduzido, se pudermos. Mas se não podemos, que aprendamos com ele. Esperemos que, depois disto passar e nós começarmos a recuperação, tenhamos uma melhor compreensão do que realmente significa “normal”. Utilização normal do tempo, condições climáticas normais, relacionamentos normais. O modo como utilizamos este tempo pode ajudar-nos a descobrir o centramento e o equilíbrio que a Cruz também simboliza. Então estaremos menos propensos a culpar e mais prontos para agir bem. Simplesmente sendo quem somos (como Jesus fez), seremos agentes da mudança para o normal que é real.





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Quinto Domingo da Quaresma

29/3/2020

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Quinto Domingo da Quaresma

Muita da nossa formação sobre a abordagem da vida é sobre conquista, muito pouca sobre realização, e tão pouca sobre precisamente apenas viver. Foi-me útil aprender ontem que uma abelha obreira diligente, na sua atarefada vida de abelha, não produz mais do que um doze avos de uma colher de chá de mel. Claro que tem muitas companheiras (até 60.000) e assim, juntas, podem fazer o suficiente para cobrir um pedaço de pão. Mas, como parecem gostar muito do seu trabalho, presumivelmente têm modos diferentes de avaliar o significado da existência e devem estar menos obcecadas com quantidade e individualidade.

O evangelho de hoje é sobre a ressurreição de Lázaro, um amigo que Jesus amava, irmão das duas irmãs Maria e Marta que Jesus também amava. Quando Jesus chegou a casa deles, quatro dias depois do seu amigo ter morrido, Marta, uma abelha atarefada, saiu de casa ao seu encontro. Ela fez o mesmo no relato de Lucas, em que se torna distraída por causa das suas múltiplas tarefas e revela os sintomas clássicos de stress. Jesus lembra-a de que deve equilibrar a sua personalidade super-conquistadora com as qualidades da sua irmã contemplativa, que prefere simplesmente ser. Na extra-ordinária e, no entanto, comovente história humana de hoje, ambas as irmãs parecem aliviadas por o seu amigo ter vindo consolá-las na sua dor. Quando as viu “Jesus começou a chorar” e as pessoas dizem: “como Ele o amava”.

Ele depois chama Lázaro de novo a esta vida. O morto ergue-se da sepultura ainda envolto nas suas vestes funerárias. Jesus diz: “desatai-o e deixai-o ir”. Como em outras experiências que reconhecemos como autênticas e no entanto não podemos explicar, ou descartamos o episódio como um conto de fadas ou ficamos em silêncio diante do que é dito, num denso realismo simbólico, acerca da pessoa de Jesus.

Como em outros dos Seus feitos extraordinários, Jesus mostra não ter interesse em usar a Sua conquista para impressionar ou recrutar pessoas. Não parece haver qualquer significado quantificável, nada que se ganhe e se deposite no banco. É o que é. Muda uma vida e as vidas daquelas pessoas que compartilham a vida do indivíduo. Para Lázaro foi um adiamento porque ele morreria de novo, finalmente. Portanto, não se trata de ressuscitar dos mortos, como aconteceria com Jesus. Para Ele, o ciclo da morte-e-renascimento, que é o repetitivo padrão das nossas vidas diárias de abelhas atarefadas, foi quebrado e transcendido, dando-nos a nós a esperança de que não estamos condenados a repetir os fracassos-e-sucessos da vida indefinidamente.

Foi este grande acto uma conquista? A Ressurreição é uma conquista? Apesar de a história de Lázaro Lhe ter dado fama e ter conduzido à Sua prisão e execução, não é descrita como algo a acrescentar à defesa de Jesus. Foi um sinal em vez de uma conquista, uma revelação em vez de uma prova.

Esta é outra maneira de avaliar o doce mel da vida, que nem sempre é tão doce. No nosso abrandamento e reclusão, isolamento social e quarentena, será que conseguimos fazer uso do tempo para fazer um itinerário de vida nestes termos? Esqueçam as conquistas pelas quais recebemos créditos e os fracassos pelos quais somos debitados. Vejam em vez disso que eventos, relacionamentos, resultados, doces ou amargos, revelaram sentido e iluminaram a nossa natureza verdadeira.





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Sábado da Quarta Semana

28/3/2020

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Sábado da Quarta Semana

Um bom amigo pode dar-lhe consolo e uma palavra reconfortante quando você se sente desesperado, mas um amigo verdadeiro jamais lhe dará uma falsa esperança. Políticos que querem ser reeleitos, pais que apenas querem que gostem deles, patrões que querem evitar confrontação podem decidir por enganar os que olham para eles em busca de liderança, atirando-lhes restos de ilusões. É como atirar algo que já não queremos para um gato que fica entusiasmado mas depois de o cheirar, põe o nariz no ar e olha para nós com desgosto.

Simone Weil nunca foi evasiva nas palavras e, assim, muita gente acha que a sua percepção das coisas é demasiado concentrada. Ela uma vez disse: “toda a consolação é engano”. Julgo que ela queria dizer falsa consolação e falsa esperança, as quais vêm do “pai das mentiras” e não do fundamento do ser.

          “O vírus é uma notícia falsa; voltaremos à normalidade na Páscoa. Os negócios irão prosperar muito em breve.”
          “Claro que, a meditação não precisa de disciplina. Medite quando lhe apetecer”. 
          “É tudo culpa deles, obviamente. Responsabilize-os”.
          “Você não precisa de sofrer. Viva como se nunca fosse morrer”.

Numa forma ou noutra, de legisladores, pregadores ou gurus de estilos de vida, estamos sempre a engolir mentiras. Passado um tempo, precisamos de mentiras maiores. Quando as falsas esperanças não se realizam, precisamos de outras ainda mais ultrajantes para acreditarmos nelas. Mas à medida que a fasquia fica mais alta mais forte se torna o vício e a negação da realidade. Não estou a dizer que devíamos estar gratos ao vírus ou pelo sofrimento em geral, mas deveríamos reconhecer que ele nos pode ensinar a ver a realidade mais claramente e a mudar os padrões de auto-engano que permitem que outros sem escrúpulos nos enganem.

Os Padres do Deserto entenderam a acedia como uma das principais obstruções ao desenvolvimento humano. Ela significa desânimo que conduz à negatividade e ao cinismo, a rejeição de tudo o que não nos dê o que queremos. Ela nega que tenhamos de atravessar túneis antes de sairmos para a luz. Ela distorce a nossa percepção da verdade e diz mentiras que queremos ouvir, porque já as ouvimos tantas vezes antes. Elas têm apenas a virtude de serem familiares, tendo sido reproduzidas a partir dos nossos arquivos internos provavelmente durante décadas. A acedia não é culpa nossa.

Se as pessoas sentem isto enquanto estão em isolamento durante o grande encerramento, não precisam de se culpar a si próprias. Acontece o mesmo com o tédio. Não há como fugir-lhe. Mas podemos fazer alguma coisa por esses desgraçados estados de espírito. Podemos reconhecê-los e tentar um remédio diferente dos que usámos até aqui. Quietude em vez de actividade. Silêncio em vez de aumentar o volume. Simplicidade em vez de procurar algo novo. O termo colectivo para esta alternativa abordagem à vida é contemplação. O caminho da contemplação pode parecer estreito comparado com o que fazíamos antes. Mas uma vez experimentado, descobrimos que ele “conduz à vida”.
 




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Sexta-feira da Quarta Semana

27/3/2020

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Sexta-feira da Quarta Semana

O vírus global está a ensinar-nos a todos muitas coisas. Cada um está a receber este ensinamento individualmente, através do contexto da sua própria história e personalidade. E claro, estamos a aprender colectivamente lições duras e necessárias. À medida que o impacto financeiro da crise causa profunda preocupação, somos forçados a fazer indesejáveis perguntas sobre valores fundamentais – vamos nós continuar insanamente a acreditar que o PIB tem de aumentar continuamente? Vamos nós aprender a viver dentro dos nossos limites? Poderemos nós descobrir o que “suficiente” significa? Vamos nós ensinar à geração seguinte que estar satisfeito com o suficiente é a condição para a “felicidade” que temos andado a procurar nos lugares errados e da pior maneira?

Em primeiro lugar, porém, o vírus está a ensinar-nos realismo. Não podemos controlar a propagação do vírus indo nos dias quentes para praias e parques cheios de gente. O que estamos a ver nos ecrãs é real nas nossas vidas pessoais. Com uma forte dose de realismo, ficamos prontos para aprender a paciência.

Paciência é uma preciosa virtude porque é um elemento básico de aprendizagem de tudo e mais alguma coisa. Talvez depois da crise quando as escolas e as faculdades abrirem de novo, nos iremos lembrar do que significa paciência. Não abordaremos a educação como algo a ser aquecido rapidamente no micro-ondas e entregue como uma qualificação. Acharemos repulsivo que a educação, mesmo ao nível elementar para crianças pequenas, produza stress, ansiedade e doença mental por causa da competitividade e da obsessão com a avaliação quantitativa. Recordaremos que criar os filhos exige tempo gasto com eles porque eles têm de ser embebidos em atenção pessoal e não colocados em frente de uma ama digital. Talvez aprendamos que leva tempo aprender seja o que for: que a nossa impaciência millenial (da geração millenial) de nos tornarmos especialistas em algo, por uma super-paga via rápida, não conduz a um bom trabalho.

Talvez nos lembremos de que a meditação não foi inventada e empacotada para nos ajudar a fazer face ao stress; ou para resolver problemas, meramente, para mantermos os mesmos estilos de vida que causam esses problemas. Meditamos, como disse John Main, porque somos feitos para meditar. A meditação tem a ver com abrirmos os nossos olhos à realidade, na sua colorida diversidade e maravilhosa simplicidade. A meditação ensina-nos a paciência e precisamos da paciência para desfrutar.

NÓS também precisamos dela para sabermos como sofrer. Aqueles que se tornaram pacientes em casa ou no hospital, porque apanharam o vírus, aprendem como a paciência ensina, tal como a raiz da própria palavra mostra, que a paciência é a qualidade do sofrimento. Pensar que a paciência é apenas esperar por alguma coisa que há-de vir ou ir, apenas nos faz bater-os-dedos impacientemente. A paciência ensina-nos como aceitar e crescer através do sofrimento. Como suportar, ser resiliente, ser pacífico, cuidar dos outros mesmo que estejamos em sofrimento.

Num mundo hedonista, em busca da felicidade nos sítios errados, nós criamos sofrimento sem aprendermos como sofrer. O inescapável segredo da vida é saber como sofrer. Assim, lembremo-nos de que esta é a segunda metade da Quaresma. Estamos nos preparando para comtemplar a Paixão de Cristo. Paixão, neste sentido, é a mais profunda paciência, a ponte entre sofrimento e alegria. 




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Quinta-feira da Quarta Semana

26/3/2020

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Quinta-feira da Quarta Semana

A nossa crise do coronavírus vai durar para além da Quaresma. Mas ela acrescenta uma dimensão pessoal e urgente aos principais temas deste tempo espiritual. Olhámos para eles depois do começo da Quaresma mas talvez agora, eles pareçam mais existenciais e menos meramente espirituais. Ou, dizendo de outro modo, nós estamos a descobrir que o espiritual não é tão abstracto como frequentemente assumimos e que a vida, ela mesma, é uma jornada espiritual que reune todos os aspetos e tipos de experiência humana. Quando nos esquecemos disso, esquecemos um elemento central da nossa humanidade. Arriscamo-nos a nos tornarmos não só espiritualmente subnutridos, mas menos que humanos.

Fiquei chocado recentemente ao receber uma carta dirigida ao Vírus por um(a) jovem de 20 anos. Não a vou citar porque poderia ser perturbador para aqueles que perderam amigos por causa do vírus ou estão seriamente preocupados pelos seus familiares ou por eles mesmos. Era uma carta de agradecimento, escrita de uma forma inteligente e provocadora mas, como podemos esperar de uma pessoa jovem e intensa, faltando-lhe ainda assim uma plena empatia pelos que estão a sofrer. A carta dolorosamente via a crise como um chamamento para um despertar, e uma acusação formal a um estilo de vida insustentável.

Como disse há dias, este não é um tempo para meramente culpar e apontar o dedo, nem mesmo a nós próprios. Mas existe um ensinamento escondido nesta crise e, se o pudermos achar, reconheceremos a oportunidade de mudança que ela oferece. O sofrimento terrível e a taxa de mortalidade no final não serão justificados, mas serão parte desse significado difícil de engolir. Para qualquer pessoa viva hoje, seja qual for a geração a que pertença, infectado ou não, o mundo jamais será o mesmo. A família humana será mais fraca e a recuperação será difícil. Em tempos como estes, as forças obscuras da política e das finanças podem procurar tirar vantagem e nunca será mais importante do que agora ter uma massa crítica de pessoas nas quais a mente contemplativa já despertou. Não heróis nem santos mas seres humanos que recuperaram a dimensão espiritual da realidade, tantas vezes perdida, ridicularizada, negligenciada, rejeitada ou banalizada na nossa cultura de hoje.

Quando colocamos a espiritualidade numa outra categoria, ou a reduzimos materialisticamente a neurónios e mitos, iniciamos o processo de desumanização da Humanidade. A paz é buscada pela força, a riqueza é armazenada por uns poucos, as estruturas políticas são sequestradas e a religião torna-se meramente mais uma identidade pessoal ou uma agressiva ideologia.

Ainda que não se tenha expressado na perfeição, a pessoa jovem que escreveu a carta compreendeu bem que não estamos apenas a enfrentar uma crise humana de sofrimento, que exige compaixão e acção, mas também uma oportunidade para se viver melhor. As oportunidades podem ser mais desafiadoras do que os fracassos. John Main perguntou-me uma vez quando eu estava no início deste caminho, se eu estava preparado para tudo o que ele iria trazer. Julguei que se referia àquilo a que eu iria renunciar. Mas ele corrigiu-me: “Eu refiro-me à alegria”. Etty Hillesum escreveu, enquanto ajudava os judeus que estavam a ser arrebanhados pelos nazis e embarcados para Auschwitz: “Hoje eu sinto um desespero total. Vou ter que lidar com isto”.

Estamos agora nos dias do equinócio da Primavera, a mais poderosa força de ressurreição na Natureza. É o tempo exacto para lidarmos com a alegria.
 


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Quarta-feira da Quarta Semana

25/3/2020

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Quarta-feira da Quarta Semana

Na nossa comunidade por todo o mundo, estamos a trabalhar juntos para oferecer um “caminho contemplativo através da crise”. Como já viu pela nosso site ou por outras mensagens que tenha recebido da comunidade, iremos propor uma saudável variedade de recursos e acontecimentos dos quais poderá escolher o que melhor lhe convier pessoalmente ou para a sua família, ou para um grupo com quem possa estar a meditar pela internet.

Se pertence a um grupo de meditação regular e estiver a sentir-lhe a falta porque ele está suspenso, pense em encontrarem-se juntos online, à mesma hora. Não é difícil de configurar e pode aconselhar-se com alguém, se por razões tecnológicas precisar. Há já uma enorme lista de grupos a juntarem-se online e também pode escolher um a partir daí.

Este Caminho já começou com uma série online de “diálogos inter-contemplativos” entre Alan Wallace, um velho amigo e um mestre budista muito conhecido, e eu próprio com Eva Natanya, uma académica budista católica. Estarei sentado na biblioteca em Bonnevaux com algumas pessoas da nossa comunidade de aqui. Alan e Eva estarão sentados num mosteiro carmelita, no Colorado. E você estará onde quer que esteja. Estaremos todos no mesmo momento, a prestar atenção juntos. Cada sessão será concluída com um momento de meditação. Estaremos juntos então no único lugar que nos une a todos através das dimensões do tempo e do espaço. Estes diálogos serão publicados na net depois da sua transmissão ao vivo. Celebraremos uma Missa contemplativa no Domingo.

Todas as atualizações sobre este caminho serão publicadas no nosso site, o qual será o seu ponto único de paragem e chamamento:     www.wccm.org

Muitos dos professores da Comunidade Mundial estarão envolvidos na sua construção e contribuirão para este Caminho Contemplativo. E convido-o a contribuir com as suas ideias e sugestões sobre o que sentir seja útil e possa nutrir.

De um modo assaz regular, mas não de modo a sobrecarregá-lo com escolhas, actualizaremos recursos e acontecimentos que poderá achar úteis para seguir um caminho contemplativo através deste tempo difícil, de ansiedade e, para muitos, de solidão. Já todos ouvimos dizer que a palavra chinesa para “crise” significa ao mesmo tempo perigo e oportunidade. Espero que este Caminho Contemplativo ajude a tornar a oportunidade mais óbvia e mais fácil de agarrar.

O essencial propósito de tudo isto é fortalecer a sua prática diária do músculo da atenção – que é oração pura. A oração de súplica e de intercessão são formas autênticas de oração e precisamos delas também. Assim como beneficiamos, também, de adorar juntos. Mas é a oração pura, a oração do coração – que não é “minha” apenas, mas é a minha entrada na única, unificadora oração do Espírito – que é muito potente e transformadora. Mude o seu coração e já começou a mudar o mundo.





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Terça-feira da Quarta Semana

25/3/2020

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Terça-feira da Quarta Semana

A atenção é como um músculo. Se não o usarmos – ou apenas imaginarmos que o estamos a exercitar quando de facto não estamos – ele irá atrofiar. As pessoas que tiveram um acidente e ficam de cama durante um tempo prolongado contam o quão rapidamente os seus músculos enfraquecem. Quando se podem levantar, finalmente, descobrem que não conseguem fazer as coisas mais simples sem uma grande dificuldade. O caminho de volta para a mobilidade e a saúde pode ser longo e seguramente exigirá exercício regular.

Na nossa cultura (pelo menos, até ao Corona) sobrecarregada e distraída, podemos estar tão distraídos que nem sequer sabemos que estamos distraídos. Este estado pode durar até tentarmos dar atenção a algo novo e indesejável como uma crise global. Ela passa para fora dos sites de notícias e invade as nossas famílias e o nosso dia-a-dia como uma inescapável disrupção. O global invade o pessoal. O filme de um desastre que vimos por lazer torna-se uma arrepiante realidade num bloqueio urbano, ruas desertas e clientes a lutarem por desinfectantes para as mãos. Quem é que quer prestar atenção a uma coisa tão desagradável como esta?

Ficar obcecado com algo – seja agradável ou detestável – não é o mesmo que prestar atenção. Estar simplesmente viciado ou fixado em algo é uma forma extrema de distração compulsiva. Assim, podemos estar colados às actualizações das notícias, ao longo do dia, a maior parte das quais não dizem nada de novo. O melhor é racionarmos a nossa ingestão de notícias. Permanecer em contato, manter-se informado mas não exagerar como fazemos com a maioria das distracções de que nos servimos para nos distrairmos da distracção.

Exercitamos um músculo físico contraindo-o e relaxando-o alternadamente. Contrai, relaxa, contrai, relaxa. A pouco e pouco o músculo vai-se fortalecendo e podemos fazer mais coisas com ele. Do mesmo modo, com o músculo da atenção, percebemos que estamos a ficar mais atentos em cada vez mais aspectos das nossas vidas – às pessoas com quem estamos, ao ambiente à nossa volta, aos simples milagres da vida – o cantar dos pássaros, a formação das nuvens, aos tons do verde nas árvores. Estas não são distrações, mas dão-nos a diversidade de conteúdos de que precisamos para manter as nossas mentes saudavelmente flexíveis, receptivas e focadas.

A atenção que não consegue manter-se num objeto por um tempo suficientemente longo para o podermos apreciar por ele próprio – não apenas pelo que me pode dar – perde-se na distracção. Salta de sensação em sensação ou numa interminável navegação. A atenção pode focar-se e desfrutar em função do prazer ou do relacionamento; pode mover-se através do espectro da consciência calmamente. Movemo-nos de uma coisa para outra sem pânico nem caos. A variedade é saudável e nutritiva.

Assim, ao longo destes dias em que a vida mudou para todos nós, a meditação é um grande caminho, simples e ao nosso dispor para reconstruir o nosso poder de atenção. Não quer dizer que nos sentamos e meditemos 24 horas por dia. Mas vamos construindo nos tempos estabelecidos e percebendo que conseguimos viver entre esses tempos com mais paz e melhor apreciação da beleza à nossa volta – e dentro de nós. A atenção sem um pensamento ou imagem é oração pura. Mas exercê-la deste modo, nos tempos da meditação, significa que podemos pensar, ler, olhar, escutar, tocar e cheirar, o resto do tempo, de um modo verdadeiramente orante.





Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB 

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Segunda-feira da Quarta Semana

23/3/2020

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Segunda-feira da Quarta Semana


Os meditantes aprendem que “a experiência é o mestre”. À medida que deixam de confiar demasiado em fontes de autoridade externas e passam a confiar no seu próprio coração, aprendem o que significa a experiência, ela própria. Não apenas o que acontece, mas o que acontece por causa do que acontece. Quero dizer, não apenas o que acontece durante a meditação mas o que acontece em nós mesmos e na vida como um todo, por causa do que acontece na meditação, ainda que não o vejamos acontecer todo o tempo.

A meditação é uma fonte de sabedoria porque nos ensina esta verdade tão simples. Ajuda-nos a ler os sinais e padrões da vida e a ler o livro da própria Natureza. Num tempo relativamente curto as pessoas pelo mundo fora foram obrigadas a ficar em casa, a não andar em correrias, voar, conduzir, ir às compras, comprar o último modelo e ir para casa e deitar fora o antigo, desperdiçar recursos e o tempo. Isto é um pouco julgador, mas também não me excluo a mim próprio.

Às vezes, o que lemos no livro da Natureza é infantilmente óbvio. Desde que estas restrições foram impostas, o seu impacto é visível nos relatórios de poluição no Norte de Itália, reunidos pelo Satélite Sentinela da Agência Espacial Europeia. As emissões de dióxido de azoto (escape dos veículos) caíram consideravelmente. A poluição na China, especialmente em Wuhan e na província de Hubei, também caiu drasticamente.

É isto que está a acontecer, mas o que acontece por causa do que está a acontecer?

Depois da primeira meditação esta manhã eu tive como sempre 20 minutos antes da segunda. Geralmente leio nesse tempo, mas como a manhã estava tão fresca e bonita, andei por ali e dei comigo a ler o livro da Natureza. Não foi difícil. Não tive que medir o azoto nem de fazer teologia. O canto dos pássaros era suficiente, a pureza do ar e a lucidez do silêncio. Um som que eu já tinha ouvido mas sem conseguir identificar antes, tornou-se evidente quando um pássaro fez um voo rasante e emitiu um estranho som áspero. As rãs já começaram a sua cacofonia. E por causa da chuva o lago está maravilhosamente cheio, e os peixes parecem gordos. Jean Christophe cortou a erva e o seu cheiro lembra-nos os dias quentes que estão para vir.

Com o coronavírus, estará a Natureza a castigar-nos por causa do modo como a temos tratado? É uma maneira de ver as coisas. É o que está a acontecer karmicamente. Mas o que está a acontecer, mais do que isso, é que podemos estar a despertar para a beleza infinita da Natureza e do reino animal. Quem é que não se apaixona pelo belo? E quem pode fazer mal ao que ama, enquanto ama?

Assim, andei pelo ar fresco da manhã, seus aromas e sons, pensando também nos perigos que nos rodeiam e na solidão e medo que tantas pessoas estão sofrendo. Pensei nos meus próprios pecados. Mas mais, senti a graça maravilhosa que restaura a nossa visão quando nos tínhamos tornado cegos.

A beleza salvará o mundo.





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Quarto Domingo da Quaresma

22/3/2020

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Quarto Domingo da Quaresma

Talvez a questão “porque é que os padres católicos usam vestes cor-de-rosa neste Domingo da Quaresma?” não seja, por ora, a preocupação mais premente deste mundo. Mas  oferece um vislumbre por detrás da ansiedade e da turbulência interior e exterior que a nossa família humana está sofrendo. Hoje é o Domingo ‘Gaudete‘ (Alegra-te) e o rosa é a cor litúrgica tradicional da alegria.

O que há por aí para se estar feliz? Não muito, mas a alegria é diferente. Felicidade (guarda-a bem enquanto a tens) depende de circunstâncias externas ou de formas de relacionamento. Enquanto estas duram, facilmente deslizamos numa gratidão que assume que o tempo de felicidade irá ser permanente. E o que é que, afinal, é permanente? Alegria, contudo, não depende de circunstâncias externas ou formas passageiros. Ela flui continuamente de uma nascente, uma pura fonte, do próprio ser. Nada a pode bloquear excepto a nossa própria sombria tendência para engarrafar a água da fonte, para possuir, para poluir a sua pura e inocente realidade com ilusões de proveito próprio e de ganância.

Nada é tão doloroso no início como a transição da felicidade perdida para a pura alegria.

Há algumas décadas que temos vindo a estar conscientes de que a felicidade material sem precedentes, identificada com a abundância, vem com um preço irracional e insustentável. A nossa humanidade pessoal, civilidade e justiça social, sanidade e a nossa própria casa global estavam a ser poluídas e abusadas. Mas o que poderíamos fazer a esse respeito? As pessoas que fizeram soar o alarme foram desacreditadas como sendo excêntricas ou exageradas. Os que gemiam e suspiravam também se tornaram uma classe, uma indústria. Os políticos estavam entre aqueles que detinham o poder. Mas vimos que a política era cada vez mais uma máscara pública do poder. A confiança e o respeito pela política e pela lei, necessários para qualquer forma de civilização, desabaram. Assistimos ao caos eleito e a governos de bárbaros.

A alegria de viver foi sendo gradualmente sugada e engarrafada em graus cada vez piores de injustiça e egoísmo surreal: os mais ricos, um por cento, hoje possuem metade da riqueza mundial – mesmo agora, ao estarmos socialmente distanciados e em quarentena e estando os mais vulneráveis a sofrer a parte pior. Alguns dos um por cento são pessoas generosas e boas, mas até as piores deles estavam lentamente a compreender que a situação era um pouco irreal demais para durar. A raiva contra eles pode aumentar – como aconteceu com a agressão passiva do populismo. Mas demonizá-los é injusto e irreal também.

No evangelho de hoje Jesus cura um cego de nascença. Os seus discípulos perguntaram-lhe quem era o culpado pela sua desgraça e Ele recusou-se a apontar o dedo da culpa. Ele disse que a própria cura era o significado – ela revelou a divina plenitude da vida, a alegria de ser, que ultrapassa as humanas limitações e inferioridades. Jesus curou o homem cuspindo no chão e fazendo uma pasta com terra, aplicando-a nos olhos dele e dizendo-lhe para se lavar nas águas de nascente da Piscina de Siloé. Mais tarde o homem disse: “tudo o que eu sei é que, antes eu era cego e agora, eu consigo ver”.

Palavras usadas em 1772 por John Newton, o negociante de escravos reformado, no seu hino Graça Maravilhosa (Amazing Grace). ‘E a graça irá trazer-nos para casa’, o hino também diz.





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