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Reflexões para a Quaresma 2020


​LAURENCE FREEMAN OSB 

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Domingo de Páscoa

12/4/2020

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Domingo de Páscoa
 
Enquanto escrevo isto, estou ainda a sentir a surpresa de ter sentido a brilhante luz duma enorme lua às primeiras horas desta manhã. O luar parece sempre estar a inundar suavemente o nosso corpo e depois ataca subitamente a mente. Acabo por me distrair, porém, de pensar na festa lunar da Páscoa, na ligação com o estrogénio e com as eternamente minguantes e crescentes fases da lua. A distracção vem dum ruído contínuo e estridente como o de uma multidão num estádio de futebol celebrando a vitória num campeonato, que se está a espalhar pelo meu quarto através das janelas abertas em frente à minha secretária, com vista para o lago de Bonnevaux. Sapos em plena desarmonia coral. Como explica o livro que consultei, os jovens sapos machos despertam da sua hibernação com uma única coisa em mente e as fêmeas cheias de ovas desovam, e em menos dum piscar de olhos estas estão fertilizadas.
 
                     "Ascendi de entre os mortos depois de remover o aguilhão da morte e largar os grilhões do inferno… pois, vede, o Inverno passou, a chuva parou e foi-se embora. As flores aparecem sobre a terra. Eu ascendi dos mortos, eu ofereci paz." (Orígenes: Homilias sobre o Cântico dos Cânticos)
 
 
Primavera. O calmo, pacífico e influente ciclo da lua que enforma os calendários religiosos e agrícolas e os nossos estados de humor. A fixação frenética e a impaciência dos rituais de acasalamento. A energia que passa para cima no corpo e explode no espírito.
 
A ressurreição acontece tanto na Natureza como na nossa psique que a reflecte. O desacerto do passo na dança entre os ritmos interior e exterior perturba tudo. Muitos perceberam isto através do seu áspero encontro com o vírus, uma face da Natureza, durante as últimas semanas. A diferença entre a Ressurreição de Jesus e o ciclo biológico da Natureza é que n’Ele o ciclo da morte e renascimento não é repetido mas transcendido. É verdade, nós continuamos a experienciar muitas mortes e renascimentos, como sempre, quanto mais profunda a morte mais alto o renascimento. Mas atravessando cada ciclo nas nossas vidas pessoal e colectiva, conseguimos respirar melhor à luz do Ressuscitado, que nunca mais morrerá, Jesus, e perdermo-nos e encontrarmo-nos a nós mesmos n’Ele.
 
A crise do coronavírus tem significado morte para muitos indivíduos, uma miríade de formas de sofrimento e talvez, a morte dum modo de vida. Há muito que sabíamos que este era insustentável. Crescimento fora de controlo é cancro. A Páscoa recorda-nos que não precisamos de temer a mudança ou a morte, depois de nos termos comprometido com a vida real. O nosso caminho espiritual, seja qual for a forma que assuma, é esse compromisso. À medida que

entrarmos no ciclo da morte e ressurreição mais intimamente, ficamos mais cientes da sua verdade universal, de que ele é o modelo para todos os seres. Começamos a apreciar o que é o Mistério […] É o ciclo sobre o qual cada meia-hora de meditação se baseia: morte para a possessividade e trivialidade que ocupam o nosso ego e uma ascensão para a liberdade que amanhece quando nos encontramos a nós mesmos por olharmos totalmente para o Outro. […] Estamos a morrer e a ascender para uma nova vida todos os dias. […] No entanto também é verdade que só há uma morte e uma ascensão, às quais Jesus se submeteu por toda a Criação.
(John Main, A Palavra que Leva ao Silêncio)

 
 




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Sábado Santo

11/4/2020

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Sábado Santo
 
A família ou os entes queridos esperam à cabeceira de quem está em suporte de vida ou – como acontece na crise do corona – não são autorizados a estar a seu lado, mas esperam por notícias à distância – enquanto há respiração há esperança. Por muito próximo que possa estar o inevitável, é uma outra era, um outro mundo distante. Mas quando chega, e o último suspiro é esboçado, quando já não há próxima inspiração, entramos no summum silentium da morte. O grande silêncio.
 
Nos mosteiros esta expressão refere-se ao silêncio que é suposto os monges observarem estritamente depois da oração da noite. Porém, não é desconhecido o facto de alguns monges entrarem no Zoom ou num “chat”, conversando com alguém da comunidade depois do grande silêncio. Com a morte, todavia, não há escolha, o silêncio tem mesmo se ser observado. Não podemos fazer batota com a morte. E é chocante o quão impotentes somos. Como crianças que pensam que podem obter o que querem pela insistência, pela sedução, pelo choro, pela ameaça, nós finalmente desistimos e admitimos que estamos derrotados. O que se foi se foi.
 
Por muito que repitamos conversas com os mortos jamais votaremos a ouvi-los ou a vê-los como víamos. Fotos, velhas cartas, objetos pessoais que estimamos, são todos uma magra consolação e passado algum tempo tornam-se impedimentos a um novo relacionamento que se está formando no túmulo e que lentamente evolui para se tornar um útero.
 
O inflexível e intransigente silêncio da não-comunicação, o fracasso em estabelecer contato, em saber o que a pessoa morta poderia estar a ver ou sentir – se é que alguma coisa. O silêncio de nos questionarmos se elas se importam – se estão em algum lugar ou em algum tipo de existência na qual poderiam se importar com aqueles que delas sentem falta. Por fim o processo de luto permite ao desolado aceitar o óbvio e o inevitável. Embora com outro peso para carregar no seu pesado coração, seguem em frente. Ao morrermos na morte o summum silentium mostra sinais de vida. Brotos verdes rompem do solo morto.
 
Isto não significa que as mensagens dos mortos estão a circular numa movimentada rede mas que o silêncio se torna mais profundo. Nos tornamos melhor habilitados para escutar o silêncio sem o povoar com os nossos desejos e medos e imaginação. Torna-se uma simples presença. Simples mas mais intensamente presente do que qualquer coisa que antes pensámos que era real.
 
Nas entrelinhas desta pandemia e da disrupção dolorosa, mas não sem significado, que ela está a causar, deveríamos estar habilitados para escutar este grande silêncio. Se não tivermos uma ou se caiu em desuso, esta é a altura para começar ou para re-usar uma prática espiritual. É tempo de ver o quão necessário é para a sobrevivência, o silêncio das coisas. O silêncio que dá poder à vida por meio da morte.
 
Aqui em Bonnevaux tenho notado nos meus passeios o quanto os pássaros e outros animais parecem mais presentes e amistosos. Imagino que isto seja uma projeção minha. Fui eu quem mudou, não eles. Mas quem sabe? Talvez seja tudo, no fim de contas, uma questão de relacionamento, não apenas de observação ou de ser-se observado. É altura de começar a Quaresma de novo.





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Sexta-feira Santa

11/4/2020

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Sexta-feira Santa
 
Tem importância a forma como morremos. E como morremos depende de como abordamos o morrer. Como a abordamos inevitavelmente depende de como tivermos vivido. Como vivemos depende do quanto aprendemos o amor.
 
Em muitas tradições de sabedoria a morte está associada com uma crise – a palavra “krisis” significa “julgamento”. Um acerto de contas tem de ser feito e, tal como para fazer a declaração do IRS, ninguém tem grande vontade de passar por ele, mas não é tão mau como parece depois de nos dispormos mentalmente para isso. Quanto mais complicados forem os nossos assuntos, mais tempo vai tomar. Mas contrariamente à declaração do IRS não podemos pagar a alguém para o fazer por nós. Morrendo, todos nós nos tornamos eremitas e, se não tivermos entendido a solitude antes, iremos aprendê-la nesta última crise da vida.
 
Os Egípcios viam o juízo final como o pesar do coração humano, pondo do outro lado da balança a plumagem da verdade. Se o coração do falecido fosse demasiado pesado, demasiado impuro, a deusa da verdade devorá-lo-ia e a desafortunada alma seria detida na sua viagem para a imortalidade, presa num certo limbo intermédio ou mundo inferior.
 
Assim, com medo da desconhecida vida depois da vida, as pessoas costumavam rezar por uma morte santa. Isto significava a pessoa abrir mão da sua vida, dos seus apegos e dos seus entes queridos, pacificamente. Mesmo quando a dor era aguda, a pessoa podia alcançar uma digna equanimidade; nada de andar por aí a arrastar-se dramaticamente, queixando-se da “noite escura”, para dentro da qual o poeta romântico Dylan Thomas disse que não devíamos ir mansamente. Em vez disso, ele disse que devíamos “enraivecer-nos contra o esmorecimento da luz”. Mas perante o testemunho de uma morte santa isto soa embaraçosamente adolescente.
 
E que dizer da Sexta-feira Santa no meio desta pandemia em que tantos já morreram e que irá levar muitos outros, antes de terminar o seu curso? Se tivermos vindo a seguir a Quaresma – e que Quaresma foi esta em 2020 – deveremos estar um pouco mais preparados para olhar a morte nos olhos e encarar o nosso medo mais profundo. Quando os medos são encarados, eles  desmoronam. É só quando fugimos deles que se tornam monstruosos e fazem naufragar a nossa vida e a nossa capacidade de amar.
 
Até a morte dos injustamente acusados, das crianças, das vítimas de genocídio ou da desigualdade social (como vemos nos números das vítimas da Covid-19), até as mais perturbadoras mortes nos ensinam coisas sobre a vida. Yama, o mítico deus da morte no Katha Upanishad, é um professor de humanidade. O mesmo acontece com o plenamente humano e histórico Jesus, não somente naquilo que Ele pregava, mas na forma como viveu e morreu dentro do Seu ensinamento, de facto tornando-se naquilo que ensinou. Se morrermos do mesmo modo que vivemos, o nosso morrer é um dom, um autêntico ensinamento em si mesmo, para aquelas de quem nos despedimos. Mesmo no nosso pesar conseguimos sentir a graça de uma morte santa e a sua alegre, tipo-nascimento, expansão e libertação. Todas as mortes, Jesus mostra-nos, podem ser redentoras.
 
Ele não se enraiveceu contra o esmorecimento da luz. Ele viu a luz crescente. Ditas a partir deste incomunicável despertar, as Suas últimas palavras iluminam-nos: “Tenho sede. Hoje tu estarás comigo no paraíso. Pai, perdoa-lhes pois não sabem o que fazem. Pai, nas Tuas mãos, entrego o Meu Espírito. Tudo está consumado.”





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Quinta-feira Santa

9/4/2020

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Quinta-feira Santa
 
“Fazei isto em memória de Mim” – diz Jesus, durante a Última Ceia, que evoluiu – e ainda está evoluindo na vida cristã – como a Eucaristia. Nos “relembramos” (remembramos) d’Ele como membros do Seu corpo místico e este relembrar alimenta-nos e ajuda-nos a crescer. É alimento para a viagem, uma cura da condição humana, uma celebração da vida tal como esta poderia ser vivida com os poderes do perdão, da igualdade e da partilha. É claro, é simbólico. Mas os símbolos são forças de transformação.
 
Há diferentes tipos de actos de memória. Há um relembrar de raiva e ressentimento a que chamamos vingança. Há a nostalgia, de remorso e tristeza por aquilo que se perde no tempo. Estes tipos de memória mantêm-nos a olhar para trás. Não conseguem incorporar o passado no presente. Não podem preparar-nos para o que vem a seguir no fluxo do tempo, o desconhecido futuro. Estas formas de relembrar não nos guiam ao momento presente. Não são a forma de “chamar à mente” que é a Eucaristia.
 
Numa Eucaristia Contemplativa, como a que celebramos em Bonnevaux (e fazemos online todos os Domingos), é mais fácil sentir a presença de Cristo no eterno agora, o momento presente onde o passado é curado, e nós somos renovados para construir o futuro.
 
Muitos dos leitores destas reflexões diárias foram forçados a tornar-se mais solitários e até mesmo isolados desde o começo da Quaresma. Estive a falar hoje com um meditante que tem estado em quarentena durante duas semanas num quarto de hotel. Está a aguentar-se bem, disse-me ele. Não tem ligado a televisão de todo. Alguns dias ele acrescenta uma terceira meditação às suas sessões regulares da manhã e do final da tarde. Mantém-se em contacto online com a família e os amigos chegados e começou um projecto de trabalho criativo que o está a absorver. Ele começou a forçada solitude e o dramático desacelerar com a vantagem de um já estabelecido caminho espiritual. Está contente por ir para casa em breve, mas aprendeu muito com a experiência e está grato por ela. Sente que irá viver de maneira diferente, com mais simplicidade e gratidão.
 
Para muitos outros a desaceleração ou a solitude não têm sido tão fáceis. O tempo pendurou-se pesadamente sobre eles. Têm se sentido irrequietos, solitários, isolados, esquecidos, abandonados. Quando estamos a sofrer, é natural procurarmos distração, para “tirar o assunto da cabeça”. Mas a distração pode tornar-se um problema em si mesma, dando apenas um alívio temporário. Ao tornar-se mais viciante, doses maiores são necessárias para alcançar o mesmo resultado.
 
Muitos de nós já estamos viciados em algumas formas de distração. Dar por nós em prisão domiciliária pode significar aumentarmos automaticamente a dose ou procurarmos instintivamente outras maneiras de resolver o problema – que não o resolvem. Pode ser também uma oportunidade para descobrir o que um caminho e prática espiritual significa.
 
A meditação não resolve o problema da Covid-19. Se o vírus é contagioso antes da meditação, ele será ainda contagioso depois dela. Mas uma simples prática quotidiana da meditação irá, sem dúvida, mudar a forma como abordamos e lidamos com a crise.






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Quarta-feira da Semana Santa

8/4/2020

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Quarta-feira da Semana Santa 

O vírus pode ter estado fisicamente presente em humanos, durante longo tempo. Reuniram-se circunstâncias que fizeram acontecer a terrível mutação que estamos a experienciar. Por fim, iremos compreender a ciência e descobrir uma vacina. Não culpamos pessoalmente o vírus em si pelo que ele está destruindo, do mesmo modo que não culpamos as condições meteorológicas pelos desastres naturais. Seriamos tolos porém, se não questionássemos o elemento humano – desrespeito pelo ambiente, injustiça social, exploração dos fracos – na criação destas desastrosas circunstâncias. Porque todo o efeito tem uma causa.

 
Mas ao nível humano – ontem estive a reflectir sobre o carácter de Judas e a nossa capacidade para a traição – a responsabilidade pessoal não pode ser evitada. Apontamos sempre o dedo da culpa para algum lado. O marido de uma amiga minha deu-lhe um presente de Natal nada bem-vindo, ao confessar-lhe que vinha mantendo um caso amoroso com a sua melhor amiga, ao longo da última década. Num instante (o mesmo tempo que levou Satã a entrar em Judas), ele transmitiu o vírus da infidelidade que destroçou o mundo dela, interiormente e exteriormente. Não leva muito tempo para se matar alguém. Mas mais tarde, quando a sua vida se tinha começado a re-formar, ela disse-me que ainda estava furiosa com ele, mas que conseguia ver como aquilo tinha acontecido e o seu próprio envolvimento nas circunstâncias por trás do colapso do relacionamento deles. Ele tinha-se tornado altamente stressado no trabalho, emocionalmente distante, e ela tinha-lhe permitido ficar cada vez mais separado, convencendo-se a si mesma de que esta era a melhor maneira de ela o amar.
 
Esta semana estamos a viver a história dos últimos dias de Jesus. É uma história raiz na memória colectiva da Humanidade. Ajuda-nos a ler a história das nossas vidas e a ver sentido no que não tem sentido, luz na escuridão. Ver a escuridão é o começo da visão espiritual. O que a história não nos vai permitir fazer, é escapar à verdade ou negar a realidade. A menos que cheguemos a um entendimento interior do significado da nossa própria história, estaremos condenados a repetir as obras da escuridão, até que a história da nossa vida termine. Por isso, não sabemos porque é que Judas se tornou o arquétipo do traidor. E, se soubéssemos, isso tornaria a história demasiado pessoal e impediria que ela fosse a história raiz da Humanidade.
 
Tudo o que podemos dizer é que as nossas acções escuras estão vinculadas àquilo que a escuridão previamente já nos tocou e traumatizou. Quem é que traiu Judas? Porque é que ele não conseguia suportar a luz? Fosse qual fosse a causa, a sua traição conduziu ao triunfo em clímax das forças negras da Paixão de Cristo. A partir deste momento de escuridão, Jesus torna-se o Cristo: o Seu sofrimento tornou-se universal.
 
Lemos a história permitindo que ela nos leia a nós. Vemos como o nosso sofrimento e escuridão estão já contidos na história. Nós simplesmente aceitamos o que não podemos evitar. Com a sabedoria que isto traz nós penetramos na escuridão. Precisamos apenas de um caminho para nos guiar para dentro dela e para a atravessar.
 
O caminho é o nosso guia através do escuro. “O Príncipe deste mundo aproxima-se. Ele não tem direitos sobre Mim; mas o mundo tem que ver que Eu amo o Pai e que faço exactamente como Ele ordena; portanto levantemo-nos, vamo-nos daqui.” (Jo 14:30-31)




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Terça-feira da Semana Santa

7/4/2020

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Terça-feira da Semana Santa
 
O evangelho de hoje (Jo 13:21-33; 36-38) é muito estranho. É um momento misterioso na história que está nos absorvendo esta semana, uma história na qual se espera que nos encontremos a nós mesmos. Se não nos encontrarmos nesta história, também não encontraremos Jesus.
 
Ele está a cear e cai numa “profunda agitação de espírito”. Não está a aproximar-se do fim da Sua vida com tranquilo estoicismo. Mas também não está a entrar em pânico. Filosoficamente, a morte é algo que podemos objectificar, distanciar de nós mesmos. Está por aí, algo que afecta outros. Mas, como nos mostrou a presente crise, não está aí fora. Agora ou mais tarde, ela vem ter com todos nós. É melhor estar preparado e que melhor forma de o fazer do que a prática de morrer? Um caminho espiritual não nos isola em segurança acima do duro facto da nossa mortalidade. Jesus tremeu perante ela. Mas a oração profunda mostra-nos o que a morte, essa grande desconhecida, realmente é. A meditação quer creiamos quer não, é oração profunda.
 
Alcançamos um vislumbre da mente de Jesus sempre que vemos, em nós mesmos, como a meditação nos torna ao mesmo tempo mais sensíveis e vulneráveis ao sofrimento, mas também nos liberta do instinto de ripostar àqueles que nos magoam. O sofrimento vem sob muitas formas: neste momento da história, está na dor mais crua duma íntima traição, a morte do amor.
 
Jesus diz aos discípulos directamente que um deles O irá trair. Eles ficam confusos e começam a murmurar entre eles quem poderá ser. Pedro pede a João, o discípulo mais íntimo de Jesus, que estava reclinado ao Seu lado, para Lhe perguntar quem é que iria ser. Jesus acede; como amigo íntimo Ele partilha tudo. Dá um pedaço de pão a Judas, significando que ele é aquele cujo nome será para sempre amaldiçoado na história depois desta noite.
 
Nesse instante, “Satã entra em Judas”. Esta é uma negra inversão do que deveria acontecer. O pão que Jesus deu a Judas é o mesmo com que Jesus Se identificou: “isto é o Meu corpo”. Dando o pão dá-Se a Si mesmo, como todo o cristão que celebra a Eucaristia de alguma forma o sente. Mas Satã? Subitamente, porém, isto torna-se como uma missa negra, do tipo que celebram os satanistas. Não o receber da sagrada comunhão mas blasfémia, o soltar da negra perversão da autodestruição.
 
O coração humano é bom, Divino. As pessoas oferecem-se a si mesmas, como as 600.000 que no Reino Unido recentemente em 24 horas se voluntariaram para auxiliar os outros durante a crise. Mas há também um coração da escuridão com o qual teremos de contar. Há estilhaços desta escuridão em cada um de nós. Nos seres humanos, até mesmo entre aqueles que são íntimos, a escuridão pode tornar-se pessoal e consciente: as pessoas que tossiram na cara do polícia que lhes disse que estavam a quebrar as regras do distanciamento social; o pedófilo que prepara as suas vítimas; o assassino em série; o viciado; aqueles a quem o poder ou a riqueza corromperam.
 
A mesma escuridão está à espera, inconscientemente e impessoalmente, nos biliões de vírus da Covid-19 que poderiam caber no espaço deste ponto final. Não sabemos grande coisa sobre o vírus ou sobre o porquê de Judas ter traído o seu mestre e amigo. A escuridão é escura. O evangelho diz que, quando Judas saiu da mesa para trair Jesus, “a noite caiu”.





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Segunda-feira da Semana Santa

6/4/2020

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Segunda-feira da Semana Santa
 
Aqui em Bonnevaux, tenho uma magnífica vista da janela do meu estúdio. Dá para o lago e para o vale que desce para aquela que designámos por Árvore da Ressurreição. Esta é um velho carvalho onde acendemos o fogo da Páscoa na noite de Sábado Santo, no ano passado, pela primeira vez. Esperamos fazer o mesmo de novo, o mesmo ritual num mundo diferente, daqui a poucos dias. Vou ver se conseguimos pôr uma fotografia desta vista e da árvore na nossa Daily Wisdom (Sabedoria Diária) de hoje.
 
À medida que o tempo vai aquecendo e as árvores se vão enchendo de verde rapidamente, estou a abrir a janela mais frequentemente, já que é aqui que escrevo. Quando o fazia agora mesmo, vi um dos gatos de Bonnevaux a patrulhar, à procura duma presa. Olhou para mim e emitiu um patético miau, depois retomou a sua busca. No lago os sapos estão a treinar o seu fazer-amor primaveril, com grande ruído e súbitos silêncios. O canto dos pássaros tornou-se mais 3-D. Todos os animais, até a arrepiante centopeia que me assustou quando fui à cozinha a noite passada, são nossos amigos. Necessitamos do seu companheirismo tanto como dos nossos amigos humanos. Talvez passemos a tratar ambos melhor a partir do que estamos a aprender em solitude por estes dias.
 
Pelo ar mais fresco e mais limpo, depois da redução da poluição, vêm ondas de novos perfumes. O nosso amigo, o mundo natural, é capaz de se partilha a si mesmo connosco e de nos recordar como pertencemos – juntos – a algo maior.
 
A história do evangelho de hoje abre com um jantar de amigos: Jesus, Marta e Maria. O irmão delas, Lázaro, foi ressuscitado dos mortos. Como acontece com todos os que são levantados, restaurados e ressuscitados, ele foi restaurado para esta mesma vida de companheirismo, sabendo aonde pertencemos, mas de uma nova forma. Ele também está no jantar.
 
Maria traz para a sala um unguento muito caro, de puro nardo. Esta planta cresce nos Himalaias da China, do Nepal e da Índia. Quando estive em Israel há poucas semanas, deram-me uma pequena bisnaga dele e acabo de voltar a cheirá-lo. Tem uma cor de âmbar e é usado para fazer medicamentos, incenso (no Templo em Jerusalém) e como perfume – três propósito com significados interligados.
 
Maria usou esta coisa preciosa para ungir os pés de Jesus e secou-Lhos com os cabelos. Os quatro evangelhos contam a história com variações. Em Lucas, por exemplo, a mulher é uma pecadora, o que muitas vezes é tomado como significando uma prostituta. Ungir os pés era um gesto de respeito, embora o detalhe dos cabelos seja diferente e inabitual. Na versão de João Judas, reduzindo o mistério e o ritual ao nível material, queixa-se da extravagância. Jesus defende a mulher, ligando a cena ao dia do Seu sepultamento, que sabemos irá ser por demais breve. Estes diferentes relatos criam uma sensação de incerteza, a impossibilidade da precisão racional: um período de transição que aproxima um clímax e um tempo novo.
 
A incerteza – tal como a estamos a experienciar agora nesta pandemia – pode também ser ricamente misteriosa e cheia de significado. Se soubermos viver com a incerteza e abertos ao mistério, poderemos cheirar o significado, tal como as pessoas nesta história cheiraram o perfume do nardo que enchia toda a casa.





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Domingo de Ramos

5/4/2020

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Domingo de Ramos
 
Hoje na Missa lemos na íntegra a história da Paixão, desde a Última Ceia até à entrega por Jesus do Seu Espírito na Cruz.
 
A maior parte de vocês que leram esta última frase sabem o que eu quero dizer. Lembremo-nos da geração entre nós que não tem a mais pálida das ideias sobre aquilo a que me refiro. Porém, todos nós já conhecemos ou iremos conhecer o que é sofrer a perda de alguém de quem gostamos profundamente e o que significa viver com a sua nova e estranhamente infinita ausência. Falei esta manhã com uma amiga cujo pai morreu subitamente de um ataque cardíaco. Ela e a sua mãe, que se juntaram a nós através do WhatsApp, foram transportadas, nos poucos minutos que o seu amado pai e marido levou a morrer, para um mundo diferente. Há muito poucas palavras que uma pessoa possa dizer àqueles que têm uma dor tão fresca. É mais fácil falar de mistérios cósmicos do que da perda pessoal. Todavia a simples e carinhosa presença de outros nos momentos em que a vida foi virada de pernas para o ar e do avesso, pode evitar que colapsemos ou fiquemos loucos.
 
Ao vermos simplesmente o tão longo alcance da influência desta súbita pandemia e como parou o mundo de forma tão brusca, enviando choques convulsivos para todos os aspectos da nossa vida, a necessidade de ligação pessoal nunca foi mais preciosa. Aqui em Bonnevaux o ritmo regular da nossa vida quotidiana, com meditação, trabalho, leitura, conversas e amizade, sustenta-nos enquanto tentamos partilhar o dom de uma prática espiritual com outros ao redor do mundo, através de eventos online e de mensagens. Esta manhã, meditei online com a força de trabalho da DPA Architects de Singapura – a firma que está a supervisionar a renovação de Bonnevaux – a partir dos seus ateliês espalhados pelo mundo, desde Xangai até Londres. O website do programa Caminho Contemplativo ficará online em breve.
 
No nosso novo mundo desacelerado, confinado, a forma como oscilamos entre o global e o local nunca foi mais óbvia. Seja a pesquisar ou falar online, seja a entrar na próxima divisão da casa ou no jardim, sentimos o quanto somos criaturas que existem porque estão ligadas, ou procuram a ligação, ou choram as ligações perdidas. Vivemos da presença, não só de pão.
 
De repente, perder aquilo que nos faz florescer tira-nos a respiração. Porque dói, podemos pensar que fizemos alguma coisa para o merecer ou sentimo-nos escolhidos por uma força alienígena. Sentimo-nos, também, des-iludidos porque tomámos por certo que as coisas iriam ficar como eram, enquanto necessitássemos que assim fosse. Não temos que nos culpar por sentir isto. É esquisito, mas no fim de contas, faz algum tipo de sentido.
 
Mas depois vem a banalidade da dor. O carácter súbito da perda é melodramático, um clímax. Mas os clímax desaceleram para rotinas de viver com a perda, deslocando-se mais lentamente, com uma tristeza semelhante a uma dor maçante. É quando mais precisamos de um caminho, uma prática que dá esperança através do experienciar ligação a uma eterna fonte de ser em nós. Esta é a alvorada da idade da Ressurreição.
 
Este é o significado da Semana Santa (saibamos ou não o que isso significa), que iniciamos hoje. Aqui em Bonnevaux, ficaríamos felizes por partilhá-la convosco online, dia a dia, ligados. (www.wccm.org)




Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB 

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Sábado da Quinta Semana

4/4/2020

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Sábado da Quinta Semana
 
Numa crise, sentindo-nos incertos sobre como ou se ela irá terminar, ouvindo uma miríade de opiniões e previsões de pessoas que acabaram de ouvir alguma coisa em que querem que acreditemos, o que é que há para fazer excepto simplesmente “fazer a próxima coisa”?
 
Bastantes vezes, descobrimos a coragem que não sabíamos que tínhamos, simplesmente ao fazer a próxima coisa confiantemente e sem delongas. O grande inimigo é sempre o adiamento induzido pelo medo. Obedecer sem demora, diz S. Bento. Em tempos de crise, mal sabemos a que é que estamos a obedecer. Porém tantas vezes, não saber qual será a próxima coisa depois da próxima coisa faz com que as coisas corram melhor do que poderíamos ter esperado ou imaginado.
 
As crises chegam de muitas maneiras. Podem aproximar-se furtivamente de nós ou, de repente, dar-nos um encontrão lateral e fazer-nos ir a rebolar por uma estrada escorregadia. Uma crise real porém é sempre mais do que um temporário desafio ou perturbação. Está lá na manhã seguinte e na manhã depois dessa e durante tanto tempo quanto conseguimos antever. Não há imaginação ou desejo que faça reverter o que aconteceu. Essa é a sua finalidade que revolve o estômago, a sua inevitabilidade.
 
Apesar disso, ela continua a assumir novas formas, novos medos, novas questões sobre o porquê e sobre se alguma vez terá fim. Será que sobrevivemos a ela? Numa perturbação temporária, esta questão pode fazer-nos cair em nós: “bem, é claro que com o tempo irei recuperar”, dizemos para nós mesmos. Mas, numa crise real não sabemos. Apenas sabemos que há uma real possibilidade de não sobrevivermos. Talvez esta seja a última. A esperança depende de encararmos essa possibilidade.
 
Cada vez mais, numa crise real e cada vez mais profunda, compreendemos que jamais haverá um retorno à forma como as coisas eram e, no entanto, não temos a certeza se o que está à nossa frente é a beira dum precipício ou um novo mundo. O tempo dirá que tipo de crise foi este coronavírus. Muitos sentem que a vida não será nunca mais a mesma, que a recuperação será dura e pode haver uma mudança fundamental, para bem ou para mal. E também não conseguimos saber se e por quanto tempo iremos recordar as lições aprendidas durante a parte pior de tudo isto.
  
Tudo isso é a médio e longo prazo. O que temos que encarar agora é a próxima coisa a fazer, com tudo fechado, trabalhando a partir de casa ou dependendo dos outros para nos mantermos vivos ou abastecidos. Será que entramos em parafuso ou será que iremos delicadamente, corajosamente, mergulhar no momento presente, fazendo a próxima coisa com presença de espírito? Temos que manter o nosso equilíbrio mental, aprendendo, ao mesmo tempo, a abdicar de muitos dos hábitos mentais que nos desequilibravam no passado. É a isto que me quero referir com a descoberta dum caminho contemplativo para atravessar a crise. Não se trata de nos tornarmos subitamente religiosos ou piedosos.
 
Significa deixar ir a ansiedade e o medo e o estarmos sempre a tentar espreitar o outro lado da esquina, predizendo o futuro de forma a podermos controlá-lo. A meditação é a forma de treinar para o fazer. Os frutos da meditação são muitos e tranquilamente revolucionários. Mas não esperem experiências dramáticas ou revelações. Esperem até verem que estão a fazer a próxima coisa com calma e clareza, apesar de sentirem medo e ansiedade. Isso mostra que estamos num caminho contemplativo e que a vida tem propósito e direção. Duas vezes ao dia, a meditação é a próxima coisa.





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Sexta-feira da Quinta Semana

3/4/2020

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Sexta-feira da Quinta Semana
 
Embora a resposta ao programa Contemplative Path (Caminho Contemplativo) nos tenha mantido online e em contacto com os meditantes em redor do mundo, temos vivido uma vida normal e tranquila em Bonnevaux. Mas ontem eu perturbei a paz por fazer disparar o alarme de incêndio em casa, ao tentar acender o lume na lareira do meu estúdio, porque de repente ficou mais frio por cá. A minha fracassada tentativa produziu nuvens de fumo que vieram para dentro de casa em vez de subir pela chaminé. Pensava que já tinha aprendido a acender o lume com lenha numa pequena lareira. Mas mais uma vez eu descobri o pouco que sei e como é fácil repetir erros.
 
É claro que, para acender o lume começamos com papel. Quanto colocar é sempre uma decisão difícil. Depois, adiciona-se caruma, pequenos pedaços de lenha ou cartão. Não se consegue ter a certeza se a lenha está suficientemente seca e, por vezes, ela rejeita as nossas tentativas de ignição, As acendalhas que adiciono depois são irritantemente temperamentais e habitualmente apagam-se assim que pomos alguma coisa em cima delas. Ou caiem entre a lenha e o papel e eu tento salvar o lume ateando o papel. Isto produz uma gratificante chama inicial e uma fugaz sensação de sucesso. Eu sinto-me bem-sucedido ou, para ser honesto, simplesmente com sorte. Mas é uma falsa esperança.
 
Alguns dos pequenos pedaços de madeira finalmente pegam fogo de má vontade. Fico com esperança de que ele se espalhe aos toros maiores que eu tenho estado à espera para colocar. Como sou muito impaciente, habitualmente ponho os toros maiores sobre as chamas recentes com demasiada pressa. Eu espero, eu imagino, eu rezo para que peguem fogo. Mas depois dum momento tudo esmorece. Fiz exigências exageradas às pequenas chamas e esperei demais. Em breve apenas algumas brasas restam. Nesta altura é fácil desesperar. Não é uma grande questão da vida, acender uma lareira, mas o mais pequeno desapontamento pode despoletar momentos mais negros de desespero. O simples sumiço da chave do carro pode alvejar uma série de perdas prévias e mais dolorosas na vida. Porque não acender simplesmente o aquecedor eléctrico?
 
Mas a minha determinação irlandesa luta contra o desespero. Corro lá fora para buscar um novo fornecimento de pequenos pedaços de madeira. Quando volto as brasas estão quase mortas, mas eu cuidadosamente ponho mais caruma por cima delas. Atiro para lá uma das inúteis acendalhas também. O que é que perco com isso? Deitado no chão sopro longa e fortemente sobre as brasas brilhantes e, por fim, aparecem algumas chamas gloriosas. Encorajante mas não de se fiar.
 
Aí uma hora mais tarde, depois de frequentes intervenções e experiências de quase morte, o lume arde alegremente. O segredo, é claro, não está naquilo que pomos em cima mas no que está por baixo. Quando os alicerces do lume estão quentes e brilhantes, qualquer coisa que juntemos será consumida. O fogo tal como o amor consome aquilo de que se alimenta. Há uma união gloriosa e acabou-se. O quarto está quase quente demais e são horas de ir para a cama.
 
Não vos vou maçar com uma explicação desta parábola. Penso que é óbvia. Para a Quaresma. Para uma pandemia. Para a meditação quotidiana.




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