Primeiro Domingo da Quaresma
O modesto Rio Jordão alimenta o Mar da Galileia, que é o mais baixo lago de água doce da Terra. O local é também um dos primeiros assentamentos humanos no mundo. Na nossa viagem de barco senti que há qualquer coisa a que podemos chamar de espírito do lugar. Há um espírito do Mar da Galileia, assim como há um espírito de Bonnevaux, um certo tipo de energia e de presença que se encontra intensamente em certos lugares, que fazem com que os sintamos como se fossem há muito familiares quando os visitamos pela primeira vez.
Foi aqui que Jesus caminhou sobre as águas, salvou Pedro de se afogar na sua dúvida e foi aqui que cozinhou um pequeno-almoço de peixe para os Seus amigos, depois da Ressurreição. De manhã cedo, ao largo num barco no meio do lago, desligámos o motor, lemos as partes da Escritura que se referem ao lago e depois nos sentámos numa imensa silenciosa presença.
Quando Jesus acalmou a tempestade aqui, foi acordado pelos Seus aterrorizados companheiros que não conseguiam acreditar como é que Ele conseguia estar a dormir no meio duma tal tempestade. Ele ralhou-lhes pela sua falta de confiança. Na paz do Mar da Galileia, tal como no silêncio do deserto, o nosso habitual e infindável questionamento e a exigência desassossegada da nossa mente por certezas e segurança são aquietados por um momento. Em certos períodos de meditação, também, conseguimos entrar num espaço de profundo silêncio e quietude, livres de pensamento, só vagamente cientes de que os pensamentos estão à conversa fora do palco, atrás da cortina. Poderíamos virar a nossa atenção para este ruído mental, mas porquê nós o faríamos? Estaremos de volta ali com a brevidade suficiente.
A estes períodos podíamos chamar de “boas meditações”. Mas no panorama geral, elas não são melhores do que os períodos de turbulência ou de luta a que chamamos de “más” ou “duras”. A paz da Ressurreição que buscamos e por que ansiamos e que conseguimos saborear é diferente de ambas. Ela subjaz ambas e contém ambas. Esta é a paz que não é abalada nem mesmo quando as tempestades nos atingem na vida ou a turbulência interior subitamente emerge como uma fase inesperada do nosso trabalho interior.
Quanto mais familiarizados nos tornamos com esta paz que não conseguimos compreender, mais livres nos tornamos da dependência das “boas” meditações e do temor das “duras”. Esta liberdade permitiu a Jesus mover-se através da turbulência, da rejeição e finalmente da aflição e da violência com o tipo de desapego que não nos isola numa bolha de auto-suficiência, mas robustece a nossa solitude num mais profundo relacionamento com os outros. No Seu caso, esta identidade única fê-Lo presente para todos os outros, desde os primeiros ocupantes humanos das praias do lago, milénios antes, até aos Seus amigos e discípulos com quem Ele caminhou da Galileia até à Judeia.
Na paz da não dualidade somos compassivamente presentes para todos. A partir da Sua equanimidade Jesus reconhece a fonte das tentações a que Ele foi submetido depois dos Seus quarenta dias no deserto. Quando estamos despertos para o Eu universal, não é tão difícil enfrentar a voz do ego – como vemos no evangelho de hoje (Mateus 4:1-11).
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
O modesto Rio Jordão alimenta o Mar da Galileia, que é o mais baixo lago de água doce da Terra. O local é também um dos primeiros assentamentos humanos no mundo. Na nossa viagem de barco senti que há qualquer coisa a que podemos chamar de espírito do lugar. Há um espírito do Mar da Galileia, assim como há um espírito de Bonnevaux, um certo tipo de energia e de presença que se encontra intensamente em certos lugares, que fazem com que os sintamos como se fossem há muito familiares quando os visitamos pela primeira vez.
Foi aqui que Jesus caminhou sobre as águas, salvou Pedro de se afogar na sua dúvida e foi aqui que cozinhou um pequeno-almoço de peixe para os Seus amigos, depois da Ressurreição. De manhã cedo, ao largo num barco no meio do lago, desligámos o motor, lemos as partes da Escritura que se referem ao lago e depois nos sentámos numa imensa silenciosa presença.
Quando Jesus acalmou a tempestade aqui, foi acordado pelos Seus aterrorizados companheiros que não conseguiam acreditar como é que Ele conseguia estar a dormir no meio duma tal tempestade. Ele ralhou-lhes pela sua falta de confiança. Na paz do Mar da Galileia, tal como no silêncio do deserto, o nosso habitual e infindável questionamento e a exigência desassossegada da nossa mente por certezas e segurança são aquietados por um momento. Em certos períodos de meditação, também, conseguimos entrar num espaço de profundo silêncio e quietude, livres de pensamento, só vagamente cientes de que os pensamentos estão à conversa fora do palco, atrás da cortina. Poderíamos virar a nossa atenção para este ruído mental, mas porquê nós o faríamos? Estaremos de volta ali com a brevidade suficiente.
A estes períodos podíamos chamar de “boas meditações”. Mas no panorama geral, elas não são melhores do que os períodos de turbulência ou de luta a que chamamos de “más” ou “duras”. A paz da Ressurreição que buscamos e por que ansiamos e que conseguimos saborear é diferente de ambas. Ela subjaz ambas e contém ambas. Esta é a paz que não é abalada nem mesmo quando as tempestades nos atingem na vida ou a turbulência interior subitamente emerge como uma fase inesperada do nosso trabalho interior.
Quanto mais familiarizados nos tornamos com esta paz que não conseguimos compreender, mais livres nos tornamos da dependência das “boas” meditações e do temor das “duras”. Esta liberdade permitiu a Jesus mover-se através da turbulência, da rejeição e finalmente da aflição e da violência com o tipo de desapego que não nos isola numa bolha de auto-suficiência, mas robustece a nossa solitude num mais profundo relacionamento com os outros. No Seu caso, esta identidade única fê-Lo presente para todos os outros, desde os primeiros ocupantes humanos das praias do lago, milénios antes, até aos Seus amigos e discípulos com quem Ele caminhou da Galileia até à Judeia.
Na paz da não dualidade somos compassivamente presentes para todos. A partir da Sua equanimidade Jesus reconhece a fonte das tentações a que Ele foi submetido depois dos Seus quarenta dias no deserto. Quando estamos despertos para o Eu universal, não é tão difícil enfrentar a voz do ego – como vemos no evangelho de hoje (Mateus 4:1-11).
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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