Quarta-feira da Primeira Semana da Quaresma
A meditação é uma sabedoria universal. Está no coração de todas as grandes tradições religiosas como um desafiante reconhecimento da verdadeira natureza da Humanidade. Ela expressa uma intuição radical da nossa simplicidade essencial. Não se trata de uma teoria – embora existam abundantes ideias e sistemas filosóficos em torno dela. Mas a meditação não tem a ver com o domínio de uma teoria complexa ou com a pesquiza de um conhecimento misterioso. Não está ligada a nenhum sistema particular de crença e, no entanto, podemos falar cabalmente sobre meditação hindu, budista, judia ou cristã de um modo que exprime tanto a sua universalidade como as suas diversas manifestações. Com algumas reservas (por exemplo, separando-a do consumismo), também podemos falar de meditação secular.
Praticada sob esta luz totalmente inclusiva, a meditação desenvolve uma comunidade de fé composta por pessoas de diferentes crenças. Num mundo fragmentado em divisões que muitas vezes negam até o direito do outro lado a existir, a meditação é uma sabedoria perene de supremo valor. Fazer a distinção entre fé e crença, que são tantas vezes confundidas, ajuda a ver o subjacente terreno comum em que estamos com toda a Humanidade.
O desafio é, por um lado, não emudecer esta sabedoria com o fito de aumentar as vendas; por outro, não dar a ideia de que é algo de esotérico ou de especialista. A descoberta de que as crianças podem meditar, tendo um não reconhecido dom para o silêncio e para a quietude interiores que os mais crescidos esqueceram, é um recurso importante para qualquer pessoa que queira partilhar amplamente o dom da meditação. Quem pode ignorar o silêncio de um grupo de crianças em profunda meditação como um vívido sinal da vinda do Espírito para nos ensinar? Quem pode deixar de se sentir tocado, movido ao maravilhamento?
Uma prática contemplativa é algo que fazemos por si só, por simples amor e não por recompensa. Sejam quais forem os benefícios eles são subprodutos e não a razão para a prática. A partir da infância, então, ela pode preparar e formar crianças para uma vida equilibrada e harmoniosa, em que elas estarão preparadas para evitar os perigos do extremismo e da adição. Ela é também re-formativa para aqueles que já se perderam do seu caminho e caíram em estilos de vida disfuncionais, muitas vezes auto-abusivos. A contemplação reequilibra-nos. Ela sustenta-nos na vida da via media, o ensinamento do “caminho estreito de Jesus”, que conduz à fonte da vida.
Todas as tradições de sabedoria afirmam o valor e a necessidade de viver o caminho do meio. Evitar os extremos não é optar por uma vida de banalidade como, no entanto, se acredita numa cultura como a nossa, viciada em estimulantes e novidades. O caminho do meio entre extremos torna-se cada vez mais nítido, um fino gume de faca de moderação. Por fim, o gume desaparece completamente, tal como um “ponto” em matemática, que se diz ter posição mas não ter magnitude. O muito pequeno, quando cai sobre o gume do caminho do meio, torna-se o muito grande, na verdade, no que se expande infinitamente.
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
A meditação é uma sabedoria universal. Está no coração de todas as grandes tradições religiosas como um desafiante reconhecimento da verdadeira natureza da Humanidade. Ela expressa uma intuição radical da nossa simplicidade essencial. Não se trata de uma teoria – embora existam abundantes ideias e sistemas filosóficos em torno dela. Mas a meditação não tem a ver com o domínio de uma teoria complexa ou com a pesquiza de um conhecimento misterioso. Não está ligada a nenhum sistema particular de crença e, no entanto, podemos falar cabalmente sobre meditação hindu, budista, judia ou cristã de um modo que exprime tanto a sua universalidade como as suas diversas manifestações. Com algumas reservas (por exemplo, separando-a do consumismo), também podemos falar de meditação secular.
Praticada sob esta luz totalmente inclusiva, a meditação desenvolve uma comunidade de fé composta por pessoas de diferentes crenças. Num mundo fragmentado em divisões que muitas vezes negam até o direito do outro lado a existir, a meditação é uma sabedoria perene de supremo valor. Fazer a distinção entre fé e crença, que são tantas vezes confundidas, ajuda a ver o subjacente terreno comum em que estamos com toda a Humanidade.
O desafio é, por um lado, não emudecer esta sabedoria com o fito de aumentar as vendas; por outro, não dar a ideia de que é algo de esotérico ou de especialista. A descoberta de que as crianças podem meditar, tendo um não reconhecido dom para o silêncio e para a quietude interiores que os mais crescidos esqueceram, é um recurso importante para qualquer pessoa que queira partilhar amplamente o dom da meditação. Quem pode ignorar o silêncio de um grupo de crianças em profunda meditação como um vívido sinal da vinda do Espírito para nos ensinar? Quem pode deixar de se sentir tocado, movido ao maravilhamento?
Uma prática contemplativa é algo que fazemos por si só, por simples amor e não por recompensa. Sejam quais forem os benefícios eles são subprodutos e não a razão para a prática. A partir da infância, então, ela pode preparar e formar crianças para uma vida equilibrada e harmoniosa, em que elas estarão preparadas para evitar os perigos do extremismo e da adição. Ela é também re-formativa para aqueles que já se perderam do seu caminho e caíram em estilos de vida disfuncionais, muitas vezes auto-abusivos. A contemplação reequilibra-nos. Ela sustenta-nos na vida da via media, o ensinamento do “caminho estreito de Jesus”, que conduz à fonte da vida.
Todas as tradições de sabedoria afirmam o valor e a necessidade de viver o caminho do meio. Evitar os extremos não é optar por uma vida de banalidade como, no entanto, se acredita numa cultura como a nossa, viciada em estimulantes e novidades. O caminho do meio entre extremos torna-se cada vez mais nítido, um fino gume de faca de moderação. Por fim, o gume desaparece completamente, tal como um “ponto” em matemática, que se diz ter posição mas não ter magnitude. O muito pequeno, quando cai sobre o gume do caminho do meio, torna-se o muito grande, na verdade, no que se expande infinitamente.
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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