Quarta-feira da Semana Santa
O vírus pode ter estado fisicamente presente em humanos, durante longo tempo. Reuniram-se circunstâncias que fizeram acontecer a terrível mutação que estamos a experienciar. Por fim, iremos compreender a ciência e descobrir uma vacina. Não culpamos pessoalmente o vírus em si pelo que ele está destruindo, do mesmo modo que não culpamos as condições meteorológicas pelos desastres naturais. Seriamos tolos porém, se não questionássemos o elemento humano – desrespeito pelo ambiente, injustiça social, exploração dos fracos – na criação destas desastrosas circunstâncias. Porque todo o efeito tem uma causa.
Mas ao nível humano – ontem estive a reflectir sobre o carácter de Judas e a nossa capacidade para a traição – a responsabilidade pessoal não pode ser evitada. Apontamos sempre o dedo da culpa para algum lado. O marido de uma amiga minha deu-lhe um presente de Natal nada bem-vindo, ao confessar-lhe que vinha mantendo um caso amoroso com a sua melhor amiga, ao longo da última década. Num instante (o mesmo tempo que levou Satã a entrar em Judas), ele transmitiu o vírus da infidelidade que destroçou o mundo dela, interiormente e exteriormente. Não leva muito tempo para se matar alguém. Mas mais tarde, quando a sua vida se tinha começado a re-formar, ela disse-me que ainda estava furiosa com ele, mas que conseguia ver como aquilo tinha acontecido e o seu próprio envolvimento nas circunstâncias por trás do colapso do relacionamento deles. Ele tinha-se tornado altamente stressado no trabalho, emocionalmente distante, e ela tinha-lhe permitido ficar cada vez mais separado, convencendo-se a si mesma de que esta era a melhor maneira de ela o amar.
Esta semana estamos a viver a história dos últimos dias de Jesus. É uma história raiz na memória colectiva da Humanidade. Ajuda-nos a ler a história das nossas vidas e a ver sentido no que não tem sentido, luz na escuridão. Ver a escuridão é o começo da visão espiritual. O que a história não nos vai permitir fazer, é escapar à verdade ou negar a realidade. A menos que cheguemos a um entendimento interior do significado da nossa própria história, estaremos condenados a repetir as obras da escuridão, até que a história da nossa vida termine. Por isso, não sabemos porque é que Judas se tornou o arquétipo do traidor. E, se soubéssemos, isso tornaria a história demasiado pessoal e impediria que ela fosse a história raiz da Humanidade.
Tudo o que podemos dizer é que as nossas acções escuras estão vinculadas àquilo que a escuridão previamente já nos tocou e traumatizou. Quem é que traiu Judas? Porque é que ele não conseguia suportar a luz? Fosse qual fosse a causa, a sua traição conduziu ao triunfo em clímax das forças negras da Paixão de Cristo. A partir deste momento de escuridão, Jesus torna-se o Cristo: o Seu sofrimento tornou-se universal.
Lemos a história permitindo que ela nos leia a nós. Vemos como o nosso sofrimento e escuridão estão já contidos na história. Nós simplesmente aceitamos o que não podemos evitar. Com a sabedoria que isto traz nós penetramos na escuridão. Precisamos apenas de um caminho para nos guiar para dentro dela e para a atravessar.
O caminho é o nosso guia através do escuro. “O Príncipe deste mundo aproxima-se. Ele não tem direitos sobre Mim; mas o mundo tem que ver que Eu amo o Pai e que faço exactamente como Ele ordena; portanto levantemo-nos, vamo-nos daqui.” (Jo 14:30-31)
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
O vírus pode ter estado fisicamente presente em humanos, durante longo tempo. Reuniram-se circunstâncias que fizeram acontecer a terrível mutação que estamos a experienciar. Por fim, iremos compreender a ciência e descobrir uma vacina. Não culpamos pessoalmente o vírus em si pelo que ele está destruindo, do mesmo modo que não culpamos as condições meteorológicas pelos desastres naturais. Seriamos tolos porém, se não questionássemos o elemento humano – desrespeito pelo ambiente, injustiça social, exploração dos fracos – na criação destas desastrosas circunstâncias. Porque todo o efeito tem uma causa.
Mas ao nível humano – ontem estive a reflectir sobre o carácter de Judas e a nossa capacidade para a traição – a responsabilidade pessoal não pode ser evitada. Apontamos sempre o dedo da culpa para algum lado. O marido de uma amiga minha deu-lhe um presente de Natal nada bem-vindo, ao confessar-lhe que vinha mantendo um caso amoroso com a sua melhor amiga, ao longo da última década. Num instante (o mesmo tempo que levou Satã a entrar em Judas), ele transmitiu o vírus da infidelidade que destroçou o mundo dela, interiormente e exteriormente. Não leva muito tempo para se matar alguém. Mas mais tarde, quando a sua vida se tinha começado a re-formar, ela disse-me que ainda estava furiosa com ele, mas que conseguia ver como aquilo tinha acontecido e o seu próprio envolvimento nas circunstâncias por trás do colapso do relacionamento deles. Ele tinha-se tornado altamente stressado no trabalho, emocionalmente distante, e ela tinha-lhe permitido ficar cada vez mais separado, convencendo-se a si mesma de que esta era a melhor maneira de ela o amar.
Esta semana estamos a viver a história dos últimos dias de Jesus. É uma história raiz na memória colectiva da Humanidade. Ajuda-nos a ler a história das nossas vidas e a ver sentido no que não tem sentido, luz na escuridão. Ver a escuridão é o começo da visão espiritual. O que a história não nos vai permitir fazer, é escapar à verdade ou negar a realidade. A menos que cheguemos a um entendimento interior do significado da nossa própria história, estaremos condenados a repetir as obras da escuridão, até que a história da nossa vida termine. Por isso, não sabemos porque é que Judas se tornou o arquétipo do traidor. E, se soubéssemos, isso tornaria a história demasiado pessoal e impediria que ela fosse a história raiz da Humanidade.
Tudo o que podemos dizer é que as nossas acções escuras estão vinculadas àquilo que a escuridão previamente já nos tocou e traumatizou. Quem é que traiu Judas? Porque é que ele não conseguia suportar a luz? Fosse qual fosse a causa, a sua traição conduziu ao triunfo em clímax das forças negras da Paixão de Cristo. A partir deste momento de escuridão, Jesus torna-se o Cristo: o Seu sofrimento tornou-se universal.
Lemos a história permitindo que ela nos leia a nós. Vemos como o nosso sofrimento e escuridão estão já contidos na história. Nós simplesmente aceitamos o que não podemos evitar. Com a sabedoria que isto traz nós penetramos na escuridão. Precisamos apenas de um caminho para nos guiar para dentro dela e para a atravessar.
O caminho é o nosso guia através do escuro. “O Príncipe deste mundo aproxima-se. Ele não tem direitos sobre Mim; mas o mundo tem que ver que Eu amo o Pai e que faço exactamente como Ele ordena; portanto levantemo-nos, vamo-nos daqui.” (Jo 14:30-31)
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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