Quarta-feira da Terceira Semana
Na última guerra, quando a Inglaterra estava à espera de ser invadida, como já tinha acontecido a outros países europeus, o governo tomou medidas para dificultar as coisas ao inimigo quando chegasse. Usaram camuflagem em instalações costeiras, criaram uma Guarda Doméstica de homens de idade e rapazes com espingardas obsoletas, em relação às quais os ingleses ainda agora sentem nostalgia; e derrubaram todos os pontos de sinalização de trânsito. É uma ideia engraçada pensar que o poderoso exército alemão tivesse ficado seriamente bloqueado, por não saber se deveria virar à direita ou à esquerda num cruzamento no campo inglês.
Quando eu li sobre isto, pensei que reflectia um sentimento que temos em qualquer jornada de fé – no início de um casamento ou de uma nova comunidade, ao terminar a escrita de um livro ou a educação das crianças. Estas são todas jornadas nas quais a fé – compromisso pessoal e confiança – tem de ser aprofundada a cada conjuntura. E no entanto, muitas vezes não há nenhuns pontos de sinalização que apontem claramente para nos assegurar de que estamos no caminho certo ou que vamos virar na curva certa. Às vezes os sinais estão lá mas não ajudam muito: como quando os meus poderes de decisão ficaram paralisados. Eu estava a conduzir de Bere Island para Cork. Cheguei a uma bifurcação na estrada. Ali havia um sinal. Mas um dos lados apontava “Cork” para a esquerda e outro apontava “Cork” para a direita.
Na dimensão espiritual o próprio caminho é tudo. Quanto mais aprofundamos o silêncio e deixamos de lado palavras, pensamentos e imaginação, como fazemos com o mantra, menos sinais convencionalmente reconfortantes existem. Há simplesmente o caminho, a via que estamos a caminhar. E há o caminhar, dar o próximo passo. No princípio protestamos pela ausência de garantias e re-confirmação da nossa direção. Os nossos sentidos de direção e de confiança são desafiados ou confundidos.
Lentamente nós realizamos que o caminho em si é a própria garantia. Aí surge o sentimento de alívio de que há um caminho, através da selva, através do labirinto de opções que sobrecarregam as pessoas de hoje. Encontrámo-lo. Há uma grande diferença, que muda a de vida, ao compreendermos que estamos num caminho. Podemos sentir, também, que foi ele que nos encontrou porque há um sentido, que vem do próprio percurso, de que estamos a ser conduzidos por uma direta e íntima ligação com ele. Ele conhece-nos melhor do que nós a ele. A ligação é simplesmente o nosso trilhar o caminho, sempre dando o próximo passo. Não foste tu que me escolheste, Eu é que te escolhi… Eu sou o Caminho. Este sentido pertence exclusivamente à dimensão espiritual. Permite-nos seguir por aqueles troços da estrada que não têm sinais.
Tudo isto pode parecer excêntrico e impraticável. O sinal de que é real é lido na vida de todos os dias, nos caminhos paralelos de acção e de tomada de decisão. Em questões materiais há decisões difíceis de tomar com tempo ou informação insuficientes. A fé da nossa jornada interior é surpreendentemente útil aqui. Nós não entramos em pânico, quando necessário esperamos e aguentamos melhor. Quando tomamos uma decisão temos mais clareza e fazemos a melhor escolha que podemos. Nós confiamos. Se acontecer que estávamos errados ajustamos pelo direcionar de novo.
Se formos fiéis nas questões profundas da jornada interior seremos também mais fiéis nas questões materiais da vida.
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Na última guerra, quando a Inglaterra estava à espera de ser invadida, como já tinha acontecido a outros países europeus, o governo tomou medidas para dificultar as coisas ao inimigo quando chegasse. Usaram camuflagem em instalações costeiras, criaram uma Guarda Doméstica de homens de idade e rapazes com espingardas obsoletas, em relação às quais os ingleses ainda agora sentem nostalgia; e derrubaram todos os pontos de sinalização de trânsito. É uma ideia engraçada pensar que o poderoso exército alemão tivesse ficado seriamente bloqueado, por não saber se deveria virar à direita ou à esquerda num cruzamento no campo inglês.
Quando eu li sobre isto, pensei que reflectia um sentimento que temos em qualquer jornada de fé – no início de um casamento ou de uma nova comunidade, ao terminar a escrita de um livro ou a educação das crianças. Estas são todas jornadas nas quais a fé – compromisso pessoal e confiança – tem de ser aprofundada a cada conjuntura. E no entanto, muitas vezes não há nenhuns pontos de sinalização que apontem claramente para nos assegurar de que estamos no caminho certo ou que vamos virar na curva certa. Às vezes os sinais estão lá mas não ajudam muito: como quando os meus poderes de decisão ficaram paralisados. Eu estava a conduzir de Bere Island para Cork. Cheguei a uma bifurcação na estrada. Ali havia um sinal. Mas um dos lados apontava “Cork” para a esquerda e outro apontava “Cork” para a direita.
Na dimensão espiritual o próprio caminho é tudo. Quanto mais aprofundamos o silêncio e deixamos de lado palavras, pensamentos e imaginação, como fazemos com o mantra, menos sinais convencionalmente reconfortantes existem. Há simplesmente o caminho, a via que estamos a caminhar. E há o caminhar, dar o próximo passo. No princípio protestamos pela ausência de garantias e re-confirmação da nossa direção. Os nossos sentidos de direção e de confiança são desafiados ou confundidos.
Lentamente nós realizamos que o caminho em si é a própria garantia. Aí surge o sentimento de alívio de que há um caminho, através da selva, através do labirinto de opções que sobrecarregam as pessoas de hoje. Encontrámo-lo. Há uma grande diferença, que muda a de vida, ao compreendermos que estamos num caminho. Podemos sentir, também, que foi ele que nos encontrou porque há um sentido, que vem do próprio percurso, de que estamos a ser conduzidos por uma direta e íntima ligação com ele. Ele conhece-nos melhor do que nós a ele. A ligação é simplesmente o nosso trilhar o caminho, sempre dando o próximo passo. Não foste tu que me escolheste, Eu é que te escolhi… Eu sou o Caminho. Este sentido pertence exclusivamente à dimensão espiritual. Permite-nos seguir por aqueles troços da estrada que não têm sinais.
Tudo isto pode parecer excêntrico e impraticável. O sinal de que é real é lido na vida de todos os dias, nos caminhos paralelos de acção e de tomada de decisão. Em questões materiais há decisões difíceis de tomar com tempo ou informação insuficientes. A fé da nossa jornada interior é surpreendentemente útil aqui. Nós não entramos em pânico, quando necessário esperamos e aguentamos melhor. Quando tomamos uma decisão temos mais clareza e fazemos a melhor escolha que podemos. Nós confiamos. Se acontecer que estávamos errados ajustamos pelo direcionar de novo.
Se formos fiéis nas questões profundas da jornada interior seremos também mais fiéis nas questões materiais da vida.
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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