Quarta-feira de Cinzas
O verdadeiro mistério do humano é que estamos tão convencidos de que temos que chegar a algum lado, sem percebermos que já lá estamos. Não estaríamos pensando em metas e objectivos se estes não tivessem sido já activados na nossa consciência pessoal. Por isso, comecemos hoje a Quaresma com a Ressurreição.
Sem a Ressurreição, a Quaresma seria um tempo aborrecido e autocentrado dedicado a cultivar o nosso próprio jardim espiritual. Estaríamos apenas preocupados em abdicar de coisas de que gostamos ou em fazer coisas difíceis que pensamos que seriam boas para nós. Talvez fossem, mas a motivação é tudo. Muitos pessoas, especialmente os católicos, hoje irão ter conversas sobre o que estão a “fazer para a Quaresma”, muitas vezes com um certo tom de humor e um pouco de competitividade religiosa. “Se ele vai abdicar do álcool na Quaresma, talvez eu devesse fazer o mesmo.” O ensinamento de Jesus sobre tudo isto é claro: não publicitar as nossas “boas obras” e até mesmo “não deixar a nossa mão esquerda saber o que está fazendo a direita”. Se isto soa muito complexo e desafiante, de facto é ridiculamente simples.
Quando a prática espiritual é ocultamente regida pelo ego (e a maioria das coisas são-no), inconscientemente caímos no pensamento de que o progresso, o chegar mais perto de Deus, está ligado ao sofrimento ou ao desconforto voluntário. É como pensar que temos que fazer algo desagradável para fazer com que alguém que já nos ama continue a amar-nos. Não nos sentimentos merecedores. Não confiamos. Protegemos as nossas apostas. Deus deve estar a dar uma boa gargalhada à conta da nossa relutância em acreditar no óbvio.
Tal como a meditação, a Quaresma não consiste em ganhar influência espiritual sobre Deus ou em recuperar o controlo sobre a nossa viagem espiritual. Ao começarmos a Quaresma, vamos decidir, com a mais simples motivação, se vamos fazer alguma coisa ou fazer nada. (A mãe dizia à jovem rainha, na série “The Crown” que nada fazer é a coisa mais difícil.) O dom, hoje é o de determinar acreditar mais profundamente no dom do amor de Deus. Isto é impossível até sentirmos que Deus realmente gosta de nós.
Vamos tentar nesta Quaresma abandonar quaisquer restos da nossa ideia de Deus, pagã e colorida pelo ego, e assim prepararmo-nos para a ressurreição pelo viver na nova luz de Cristo. Os velhos deuses morreram quando a devoção a eles secou. Eles pareciam poderosos mas, tal como as celebridades, alimentam-se da atenção humana e murcham quando esta baixa.
O verdadeiro Deus é bem mais real e interessante e infinitamente amistoso. Então, alguma coisa ou nada? Simplesmente ser mais fiel aos nossos tempos diários de meditação e à simplicidade do mantra combina ambas opções. (Como dizia John Main, “a oração é a ascese essencial da vida cristã”.)
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
O verdadeiro mistério do humano é que estamos tão convencidos de que temos que chegar a algum lado, sem percebermos que já lá estamos. Não estaríamos pensando em metas e objectivos se estes não tivessem sido já activados na nossa consciência pessoal. Por isso, comecemos hoje a Quaresma com a Ressurreição.
Sem a Ressurreição, a Quaresma seria um tempo aborrecido e autocentrado dedicado a cultivar o nosso próprio jardim espiritual. Estaríamos apenas preocupados em abdicar de coisas de que gostamos ou em fazer coisas difíceis que pensamos que seriam boas para nós. Talvez fossem, mas a motivação é tudo. Muitos pessoas, especialmente os católicos, hoje irão ter conversas sobre o que estão a “fazer para a Quaresma”, muitas vezes com um certo tom de humor e um pouco de competitividade religiosa. “Se ele vai abdicar do álcool na Quaresma, talvez eu devesse fazer o mesmo.” O ensinamento de Jesus sobre tudo isto é claro: não publicitar as nossas “boas obras” e até mesmo “não deixar a nossa mão esquerda saber o que está fazendo a direita”. Se isto soa muito complexo e desafiante, de facto é ridiculamente simples.
Quando a prática espiritual é ocultamente regida pelo ego (e a maioria das coisas são-no), inconscientemente caímos no pensamento de que o progresso, o chegar mais perto de Deus, está ligado ao sofrimento ou ao desconforto voluntário. É como pensar que temos que fazer algo desagradável para fazer com que alguém que já nos ama continue a amar-nos. Não nos sentimentos merecedores. Não confiamos. Protegemos as nossas apostas. Deus deve estar a dar uma boa gargalhada à conta da nossa relutância em acreditar no óbvio.
Tal como a meditação, a Quaresma não consiste em ganhar influência espiritual sobre Deus ou em recuperar o controlo sobre a nossa viagem espiritual. Ao começarmos a Quaresma, vamos decidir, com a mais simples motivação, se vamos fazer alguma coisa ou fazer nada. (A mãe dizia à jovem rainha, na série “The Crown” que nada fazer é a coisa mais difícil.) O dom, hoje é o de determinar acreditar mais profundamente no dom do amor de Deus. Isto é impossível até sentirmos que Deus realmente gosta de nós.
Vamos tentar nesta Quaresma abandonar quaisquer restos da nossa ideia de Deus, pagã e colorida pelo ego, e assim prepararmo-nos para a ressurreição pelo viver na nova luz de Cristo. Os velhos deuses morreram quando a devoção a eles secou. Eles pareciam poderosos mas, tal como as celebridades, alimentam-se da atenção humana e murcham quando esta baixa.
O verdadeiro Deus é bem mais real e interessante e infinitamente amistoso. Então, alguma coisa ou nada? Simplesmente ser mais fiel aos nossos tempos diários de meditação e à simplicidade do mantra combina ambas opções. (Como dizia John Main, “a oração é a ascese essencial da vida cristã”.)
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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