Quinta-feira Santa
“Fazei isto em memória de Mim” – diz Jesus, durante a Última Ceia, que evoluiu – e ainda está evoluindo na vida cristã – como a Eucaristia. Nos “relembramos” (remembramos) d’Ele como membros do Seu corpo místico e este relembrar alimenta-nos e ajuda-nos a crescer. É alimento para a viagem, uma cura da condição humana, uma celebração da vida tal como esta poderia ser vivida com os poderes do perdão, da igualdade e da partilha. É claro, é simbólico. Mas os símbolos são forças de transformação.
Há diferentes tipos de actos de memória. Há um relembrar de raiva e ressentimento a que chamamos vingança. Há a nostalgia, de remorso e tristeza por aquilo que se perde no tempo. Estes tipos de memória mantêm-nos a olhar para trás. Não conseguem incorporar o passado no presente. Não podem preparar-nos para o que vem a seguir no fluxo do tempo, o desconhecido futuro. Estas formas de relembrar não nos guiam ao momento presente. Não são a forma de “chamar à mente” que é a Eucaristia.
Numa Eucaristia Contemplativa, como a que celebramos em Bonnevaux (e fazemos online todos os Domingos), é mais fácil sentir a presença de Cristo no eterno agora, o momento presente onde o passado é curado, e nós somos renovados para construir o futuro.
Muitos dos leitores destas reflexões diárias foram forçados a tornar-se mais solitários e até mesmo isolados desde o começo da Quaresma. Estive a falar hoje com um meditante que tem estado em quarentena durante duas semanas num quarto de hotel. Está a aguentar-se bem, disse-me ele. Não tem ligado a televisão de todo. Alguns dias ele acrescenta uma terceira meditação às suas sessões regulares da manhã e do final da tarde. Mantém-se em contacto online com a família e os amigos chegados e começou um projecto de trabalho criativo que o está a absorver. Ele começou a forçada solitude e o dramático desacelerar com a vantagem de um já estabelecido caminho espiritual. Está contente por ir para casa em breve, mas aprendeu muito com a experiência e está grato por ela. Sente que irá viver de maneira diferente, com mais simplicidade e gratidão.
Para muitos outros a desaceleração ou a solitude não têm sido tão fáceis. O tempo pendurou-se pesadamente sobre eles. Têm se sentido irrequietos, solitários, isolados, esquecidos, abandonados. Quando estamos a sofrer, é natural procurarmos distração, para “tirar o assunto da cabeça”. Mas a distração pode tornar-se um problema em si mesma, dando apenas um alívio temporário. Ao tornar-se mais viciante, doses maiores são necessárias para alcançar o mesmo resultado.
Muitos de nós já estamos viciados em algumas formas de distração. Dar por nós em prisão domiciliária pode significar aumentarmos automaticamente a dose ou procurarmos instintivamente outras maneiras de resolver o problema – que não o resolvem. Pode ser também uma oportunidade para descobrir o que um caminho e prática espiritual significa.
A meditação não resolve o problema da Covid-19. Se o vírus é contagioso antes da meditação, ele será ainda contagioso depois dela. Mas uma simples prática quotidiana da meditação irá, sem dúvida, mudar a forma como abordamos e lidamos com a crise.
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
“Fazei isto em memória de Mim” – diz Jesus, durante a Última Ceia, que evoluiu – e ainda está evoluindo na vida cristã – como a Eucaristia. Nos “relembramos” (remembramos) d’Ele como membros do Seu corpo místico e este relembrar alimenta-nos e ajuda-nos a crescer. É alimento para a viagem, uma cura da condição humana, uma celebração da vida tal como esta poderia ser vivida com os poderes do perdão, da igualdade e da partilha. É claro, é simbólico. Mas os símbolos são forças de transformação.
Há diferentes tipos de actos de memória. Há um relembrar de raiva e ressentimento a que chamamos vingança. Há a nostalgia, de remorso e tristeza por aquilo que se perde no tempo. Estes tipos de memória mantêm-nos a olhar para trás. Não conseguem incorporar o passado no presente. Não podem preparar-nos para o que vem a seguir no fluxo do tempo, o desconhecido futuro. Estas formas de relembrar não nos guiam ao momento presente. Não são a forma de “chamar à mente” que é a Eucaristia.
Numa Eucaristia Contemplativa, como a que celebramos em Bonnevaux (e fazemos online todos os Domingos), é mais fácil sentir a presença de Cristo no eterno agora, o momento presente onde o passado é curado, e nós somos renovados para construir o futuro.
Muitos dos leitores destas reflexões diárias foram forçados a tornar-se mais solitários e até mesmo isolados desde o começo da Quaresma. Estive a falar hoje com um meditante que tem estado em quarentena durante duas semanas num quarto de hotel. Está a aguentar-se bem, disse-me ele. Não tem ligado a televisão de todo. Alguns dias ele acrescenta uma terceira meditação às suas sessões regulares da manhã e do final da tarde. Mantém-se em contacto online com a família e os amigos chegados e começou um projecto de trabalho criativo que o está a absorver. Ele começou a forçada solitude e o dramático desacelerar com a vantagem de um já estabelecido caminho espiritual. Está contente por ir para casa em breve, mas aprendeu muito com a experiência e está grato por ela. Sente que irá viver de maneira diferente, com mais simplicidade e gratidão.
Para muitos outros a desaceleração ou a solitude não têm sido tão fáceis. O tempo pendurou-se pesadamente sobre eles. Têm se sentido irrequietos, solitários, isolados, esquecidos, abandonados. Quando estamos a sofrer, é natural procurarmos distração, para “tirar o assunto da cabeça”. Mas a distração pode tornar-se um problema em si mesma, dando apenas um alívio temporário. Ao tornar-se mais viciante, doses maiores são necessárias para alcançar o mesmo resultado.
Muitos de nós já estamos viciados em algumas formas de distração. Dar por nós em prisão domiciliária pode significar aumentarmos automaticamente a dose ou procurarmos instintivamente outras maneiras de resolver o problema – que não o resolvem. Pode ser também uma oportunidade para descobrir o que um caminho e prática espiritual significa.
A meditação não resolve o problema da Covid-19. Se o vírus é contagioso antes da meditação, ele será ainda contagioso depois dela. Mas uma simples prática quotidiana da meditação irá, sem dúvida, mudar a forma como abordamos e lidamos com a crise.
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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