Segunda-feira da Primeira Semana da Quaresma
‘Passados seis dias Jesus tomou Pedro, Tiago e João seu irmão e levou-os até ao cimo de uma montanha e transfigurou-se diante deles: a sua face brilhava como o sol e as suas vestes tornaram-se tão brancas como a luz.’
Rumámos ao alto da montanha da Transfiguração, competindo tão delicadamente quanto possível com outros peregrinos, pelos autocarros. No regresso, enquanto esperávamos há muito pela camioneta que nos levaria de volta, os meus pés arrefeceram imenso. Recordei os Invernos frios da minha infância londrina, à espera do autocarro enquanto a minha cara, mãos e pés enregelavam. O glorioso corpo humano é propenso a muitas aflições e limitações. Pode ser transfigurado em luz, tornar-se como um arco-íris e até ser reerguido de entre os mortos e, ainda assim, ter arrepios, maleitas e dores. Pode florescer e ter o seu período de vida prolongado e pode tristemente falir.
Saúde e manutenção física são um gume de faca, uma corda bamba da qual podemos facilmente cair. Pela primeira vez em cem anos, a esperança de vida no Reino Unido - após dez anos de austeridade muito mal distribuída - está a diminuir e, de uma forma dramática entre mulheres de estratos sociais mais pobres. No entanto, o corpo humano, apesar de todas as suas fragilidades, continua a ser a língua sagrada da fé cristã, tal como o Sânscrito, o Pali, o Hebraico e o Árabe o são para outras comunidades. Latim, Grego ou Aramaico, não foram, nenhuma delas, a língua para que a Palavra de Deus foi traduzida em Nazaré ou o que explodiu em pura energia luminosa na montanha. Foi o corpo que sabe o que são pés frios, borbulhas e também o êxtase.
No seu capítulo sobre a observância da Quaresma e em muitos outros sítios na Regra, S. Bento descreve a atenção e a disciplina, o respeito e o cuidado que o corpo merece. Ao contrário de outros mestres espirituais, ele não despreza o corpo nem sugere que o sofrimento deva ser induzido para nos aproximarmos de Deus. O corpo é um companheiro em constante mudança e um instrumento da jornada espiritual. Trate-o mal, por demasiada indulgência ou por severidade a mais e não poderá tocar a música para a qual foi destinado. No fim da viagem tratamos o corpo físico com honra porque nos serviu tão bem quanto lhe foi possível e porque fomos agora vestidos com outro corpo. Espírito, disse Teillhard de Chardin, é matéria incandescente.
Quando chegarmos ao fim da Quaresma, esperamos estar preparados para entrar nos mistérios da Ressurreição e ver como o corpo de Jesus se manifesta de diferentes formas, uma das quais somos nós próprios. A Transfiguração lembra-nos que somos, mesmo agora, nesta forma física, vasos de barro carregando a luz de Deus que, a seu tempo, nos transformará totalmente nela própria.
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
‘Passados seis dias Jesus tomou Pedro, Tiago e João seu irmão e levou-os até ao cimo de uma montanha e transfigurou-se diante deles: a sua face brilhava como o sol e as suas vestes tornaram-se tão brancas como a luz.’
Rumámos ao alto da montanha da Transfiguração, competindo tão delicadamente quanto possível com outros peregrinos, pelos autocarros. No regresso, enquanto esperávamos há muito pela camioneta que nos levaria de volta, os meus pés arrefeceram imenso. Recordei os Invernos frios da minha infância londrina, à espera do autocarro enquanto a minha cara, mãos e pés enregelavam. O glorioso corpo humano é propenso a muitas aflições e limitações. Pode ser transfigurado em luz, tornar-se como um arco-íris e até ser reerguido de entre os mortos e, ainda assim, ter arrepios, maleitas e dores. Pode florescer e ter o seu período de vida prolongado e pode tristemente falir.
Saúde e manutenção física são um gume de faca, uma corda bamba da qual podemos facilmente cair. Pela primeira vez em cem anos, a esperança de vida no Reino Unido - após dez anos de austeridade muito mal distribuída - está a diminuir e, de uma forma dramática entre mulheres de estratos sociais mais pobres. No entanto, o corpo humano, apesar de todas as suas fragilidades, continua a ser a língua sagrada da fé cristã, tal como o Sânscrito, o Pali, o Hebraico e o Árabe o são para outras comunidades. Latim, Grego ou Aramaico, não foram, nenhuma delas, a língua para que a Palavra de Deus foi traduzida em Nazaré ou o que explodiu em pura energia luminosa na montanha. Foi o corpo que sabe o que são pés frios, borbulhas e também o êxtase.
No seu capítulo sobre a observância da Quaresma e em muitos outros sítios na Regra, S. Bento descreve a atenção e a disciplina, o respeito e o cuidado que o corpo merece. Ao contrário de outros mestres espirituais, ele não despreza o corpo nem sugere que o sofrimento deva ser induzido para nos aproximarmos de Deus. O corpo é um companheiro em constante mudança e um instrumento da jornada espiritual. Trate-o mal, por demasiada indulgência ou por severidade a mais e não poderá tocar a música para a qual foi destinado. No fim da viagem tratamos o corpo físico com honra porque nos serviu tão bem quanto lhe foi possível e porque fomos agora vestidos com outro corpo. Espírito, disse Teillhard de Chardin, é matéria incandescente.
Quando chegarmos ao fim da Quaresma, esperamos estar preparados para entrar nos mistérios da Ressurreição e ver como o corpo de Jesus se manifesta de diferentes formas, uma das quais somos nós próprios. A Transfiguração lembra-nos que somos, mesmo agora, nesta forma física, vasos de barro carregando a luz de Deus que, a seu tempo, nos transformará totalmente nela própria.
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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