Segundo Domingo da Quaresma
No evangelho de hoje, o da Transfiguração, Jesus leva os Seus três discípulos mais chegados consigo pelo monte acima “de modo a poderem estar sós”. Não foi para uma reunião de planeamento ou estratégia financeira, mas sim para orar, para estarem verdadeiramente juntos. Tendo eu próprio estado nesse mesmo monte recentemente, posso confirmar que não existe lá sinal de telefone. Temos de ser. Para eles, foi o momento em que O viram como um ser de luz.
Noutra altura e lugar, quando Ele “orava sozinho na companhia dos seus discípulos”, pôs-lhes a questão que muda uma vida: “quem dizeis vós que Eu sou?” Eles estavam então suficientemente despertos, como comunidade, para ouvir a questão por eles próprios, na solidão. Noutras ocasiões nos evangelhos, solidão e comunidade, aparentemente opostos, surgem integrados. Isto também é experienciado através da meditação regular e pela vivência da comunidade que a própria meditação cria. A dança de solidão e comunidade, como dois lados da giratória moeda da vida, é essencial para a saúde da mente e da alma. Quando a dança funciona e estamos saudavelmente equilibrados, não receamos a solidão nem nos sentimos presos pela comunidade.
A vida hoje é excessivamente direccionada para o exterior e demasiadamente ocupada. À medida que há uma sobrecarga de informações e a exigência por uma resposta imediata aumenta, o mesmo acontece com o sentimento de que estamos a ser sobrecarregados com tudo o que insiste em ser feito ou respondido agora. A comunidade, o equilíbrio de vida, o apoio delicado de grupos de amigos e família, hão de sentir a tensão quando o stress aumenta. Muitas pessoas de negócios inconscientemente começam a sacrificar as suas famílias às suas carreiras profissionais, antes de perceberem o que está a acontecer à parte mais preciosa das suas vidas.
Debaixo da pressão de tudo isto, o elemento contemplativo da vida – a capacidade de ser mais do que de fazer e de desfrutar mais do que de adquirir – é a primeira vítima fatal. Não vos surpreenderá que eu recomende a meditação numa base diária para o reavivar e salvar o dia. Mas há outra pequena “prática da presença de Deus” (também conhecida como mindfulness, atenção plena ou lembrança alinhada) que não só nos pode preparar para a meditação como é um fruto da meditação. Também é uma coisa boa para fazer, se estiver demasiado ocupado para meditar.
S. Bento, no seu manual de estilo de vida, A Regra para os Mosteiros, começa com um bom conselho: “de cada vez que começares com um bom trabalho, deverás rezar a Deus muito sinceramente, para que o faças na perfeição.” Para pessoas para quem a ideia de Deus é uma coisa séria, é possível interpretar isto como uma chamada para uma presença plena da mente e do coração no trabalho que fazemos, num espírito de centramento-no-outro. Mesmo para quem pensa que isto é um exemplo da imaginação mítica, a mensagem tem utilidade – reflecte no sentido do teu trabalho antes de nele te afogares.
Tudo o que temos que fazer, em cada nova tarefa ao longo do dia, é uma pausa. Depois chama à tua mente a questão do “porquê”. “Porque faço isto? De onde vem a minha motivação? Será que posso sentir o significado do meu trabalho como uma ligação entre o que faço e as pessoas que serão influenciadas por ele?” Deste modo, damos por nós a trabalhar para os outros e a fazer um trabalho, senão perfeito, pelo menos certamente um bom trabalho.
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
No evangelho de hoje, o da Transfiguração, Jesus leva os Seus três discípulos mais chegados consigo pelo monte acima “de modo a poderem estar sós”. Não foi para uma reunião de planeamento ou estratégia financeira, mas sim para orar, para estarem verdadeiramente juntos. Tendo eu próprio estado nesse mesmo monte recentemente, posso confirmar que não existe lá sinal de telefone. Temos de ser. Para eles, foi o momento em que O viram como um ser de luz.
Noutra altura e lugar, quando Ele “orava sozinho na companhia dos seus discípulos”, pôs-lhes a questão que muda uma vida: “quem dizeis vós que Eu sou?” Eles estavam então suficientemente despertos, como comunidade, para ouvir a questão por eles próprios, na solidão. Noutras ocasiões nos evangelhos, solidão e comunidade, aparentemente opostos, surgem integrados. Isto também é experienciado através da meditação regular e pela vivência da comunidade que a própria meditação cria. A dança de solidão e comunidade, como dois lados da giratória moeda da vida, é essencial para a saúde da mente e da alma. Quando a dança funciona e estamos saudavelmente equilibrados, não receamos a solidão nem nos sentimos presos pela comunidade.
A vida hoje é excessivamente direccionada para o exterior e demasiadamente ocupada. À medida que há uma sobrecarga de informações e a exigência por uma resposta imediata aumenta, o mesmo acontece com o sentimento de que estamos a ser sobrecarregados com tudo o que insiste em ser feito ou respondido agora. A comunidade, o equilíbrio de vida, o apoio delicado de grupos de amigos e família, hão de sentir a tensão quando o stress aumenta. Muitas pessoas de negócios inconscientemente começam a sacrificar as suas famílias às suas carreiras profissionais, antes de perceberem o que está a acontecer à parte mais preciosa das suas vidas.
Debaixo da pressão de tudo isto, o elemento contemplativo da vida – a capacidade de ser mais do que de fazer e de desfrutar mais do que de adquirir – é a primeira vítima fatal. Não vos surpreenderá que eu recomende a meditação numa base diária para o reavivar e salvar o dia. Mas há outra pequena “prática da presença de Deus” (também conhecida como mindfulness, atenção plena ou lembrança alinhada) que não só nos pode preparar para a meditação como é um fruto da meditação. Também é uma coisa boa para fazer, se estiver demasiado ocupado para meditar.
S. Bento, no seu manual de estilo de vida, A Regra para os Mosteiros, começa com um bom conselho: “de cada vez que começares com um bom trabalho, deverás rezar a Deus muito sinceramente, para que o faças na perfeição.” Para pessoas para quem a ideia de Deus é uma coisa séria, é possível interpretar isto como uma chamada para uma presença plena da mente e do coração no trabalho que fazemos, num espírito de centramento-no-outro. Mesmo para quem pensa que isto é um exemplo da imaginação mítica, a mensagem tem utilidade – reflecte no sentido do teu trabalho antes de nele te afogares.
Tudo o que temos que fazer, em cada nova tarefa ao longo do dia, é uma pausa. Depois chama à tua mente a questão do “porquê”. “Porque faço isto? De onde vem a minha motivação? Será que posso sentir o significado do meu trabalho como uma ligação entre o que faço e as pessoas que serão influenciadas por ele?” Deste modo, damos por nós a trabalhar para os outros e a fazer um trabalho, senão perfeito, pelo menos certamente um bom trabalho.
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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