Sexta-feira da Quarta Semana
O vírus global está a ensinar-nos a todos muitas coisas. Cada um está a receber este ensinamento individualmente, através do contexto da sua própria história e personalidade. E claro, estamos a aprender colectivamente lições duras e necessárias. À medida que o impacto financeiro da crise causa profunda preocupação, somos forçados a fazer indesejáveis perguntas sobre valores fundamentais – vamos nós continuar insanamente a acreditar que o PIB tem de aumentar continuamente? Vamos nós aprender a viver dentro dos nossos limites? Poderemos nós descobrir o que “suficiente” significa? Vamos nós ensinar à geração seguinte que estar satisfeito com o suficiente é a condição para a “felicidade” que temos andado a procurar nos lugares errados e da pior maneira?
Em primeiro lugar, porém, o vírus está a ensinar-nos realismo. Não podemos controlar a propagação do vírus indo nos dias quentes para praias e parques cheios de gente. O que estamos a ver nos ecrãs é real nas nossas vidas pessoais. Com uma forte dose de realismo, ficamos prontos para aprender a paciência.
Paciência é uma preciosa virtude porque é um elemento básico de aprendizagem de tudo e mais alguma coisa. Talvez depois da crise quando as escolas e as faculdades abrirem de novo, nos iremos lembrar do que significa paciência. Não abordaremos a educação como algo a ser aquecido rapidamente no micro-ondas e entregue como uma qualificação. Acharemos repulsivo que a educação, mesmo ao nível elementar para crianças pequenas, produza stress, ansiedade e doença mental por causa da competitividade e da obsessão com a avaliação quantitativa. Recordaremos que criar os filhos exige tempo gasto com eles porque eles têm de ser embebidos em atenção pessoal e não colocados em frente de uma ama digital. Talvez aprendamos que leva tempo aprender seja o que for: que a nossa impaciência millenial (da geração millenial) de nos tornarmos especialistas em algo, por uma super-paga via rápida, não conduz a um bom trabalho.
Talvez nos lembremos de que a meditação não foi inventada e empacotada para nos ajudar a fazer face ao stress; ou para resolver problemas, meramente, para mantermos os mesmos estilos de vida que causam esses problemas. Meditamos, como disse John Main, porque somos feitos para meditar. A meditação tem a ver com abrirmos os nossos olhos à realidade, na sua colorida diversidade e maravilhosa simplicidade. A meditação ensina-nos a paciência e precisamos da paciência para desfrutar.
NÓS também precisamos dela para sabermos como sofrer. Aqueles que se tornaram pacientes em casa ou no hospital, porque apanharam o vírus, aprendem como a paciência ensina, tal como a raiz da própria palavra mostra, que a paciência é a qualidade do sofrimento. Pensar que a paciência é apenas esperar por alguma coisa que há-de vir ou ir, apenas nos faz bater-os-dedos impacientemente. A paciência ensina-nos como aceitar e crescer através do sofrimento. Como suportar, ser resiliente, ser pacífico, cuidar dos outros mesmo que estejamos em sofrimento.
Num mundo hedonista, em busca da felicidade nos sítios errados, nós criamos sofrimento sem aprendermos como sofrer. O inescapável segredo da vida é saber como sofrer. Assim, lembremo-nos de que esta é a segunda metade da Quaresma. Estamos nos preparando para comtemplar a Paixão de Cristo. Paixão, neste sentido, é a mais profunda paciência, a ponte entre sofrimento e alegria.
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
O vírus global está a ensinar-nos a todos muitas coisas. Cada um está a receber este ensinamento individualmente, através do contexto da sua própria história e personalidade. E claro, estamos a aprender colectivamente lições duras e necessárias. À medida que o impacto financeiro da crise causa profunda preocupação, somos forçados a fazer indesejáveis perguntas sobre valores fundamentais – vamos nós continuar insanamente a acreditar que o PIB tem de aumentar continuamente? Vamos nós aprender a viver dentro dos nossos limites? Poderemos nós descobrir o que “suficiente” significa? Vamos nós ensinar à geração seguinte que estar satisfeito com o suficiente é a condição para a “felicidade” que temos andado a procurar nos lugares errados e da pior maneira?
Em primeiro lugar, porém, o vírus está a ensinar-nos realismo. Não podemos controlar a propagação do vírus indo nos dias quentes para praias e parques cheios de gente. O que estamos a ver nos ecrãs é real nas nossas vidas pessoais. Com uma forte dose de realismo, ficamos prontos para aprender a paciência.
Paciência é uma preciosa virtude porque é um elemento básico de aprendizagem de tudo e mais alguma coisa. Talvez depois da crise quando as escolas e as faculdades abrirem de novo, nos iremos lembrar do que significa paciência. Não abordaremos a educação como algo a ser aquecido rapidamente no micro-ondas e entregue como uma qualificação. Acharemos repulsivo que a educação, mesmo ao nível elementar para crianças pequenas, produza stress, ansiedade e doença mental por causa da competitividade e da obsessão com a avaliação quantitativa. Recordaremos que criar os filhos exige tempo gasto com eles porque eles têm de ser embebidos em atenção pessoal e não colocados em frente de uma ama digital. Talvez aprendamos que leva tempo aprender seja o que for: que a nossa impaciência millenial (da geração millenial) de nos tornarmos especialistas em algo, por uma super-paga via rápida, não conduz a um bom trabalho.
Talvez nos lembremos de que a meditação não foi inventada e empacotada para nos ajudar a fazer face ao stress; ou para resolver problemas, meramente, para mantermos os mesmos estilos de vida que causam esses problemas. Meditamos, como disse John Main, porque somos feitos para meditar. A meditação tem a ver com abrirmos os nossos olhos à realidade, na sua colorida diversidade e maravilhosa simplicidade. A meditação ensina-nos a paciência e precisamos da paciência para desfrutar.
NÓS também precisamos dela para sabermos como sofrer. Aqueles que se tornaram pacientes em casa ou no hospital, porque apanharam o vírus, aprendem como a paciência ensina, tal como a raiz da própria palavra mostra, que a paciência é a qualidade do sofrimento. Pensar que a paciência é apenas esperar por alguma coisa que há-de vir ou ir, apenas nos faz bater-os-dedos impacientemente. A paciência ensina-nos como aceitar e crescer através do sofrimento. Como suportar, ser resiliente, ser pacífico, cuidar dos outros mesmo que estejamos em sofrimento.
Num mundo hedonista, em busca da felicidade nos sítios errados, nós criamos sofrimento sem aprendermos como sofrer. O inescapável segredo da vida é saber como sofrer. Assim, lembremo-nos de que esta é a segunda metade da Quaresma. Estamos nos preparando para comtemplar a Paixão de Cristo. Paixão, neste sentido, é a mais profunda paciência, a ponte entre sofrimento e alegria.
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal