Sexta-feira depois das Cinzas
O primeiro “sinal” registado que Jesus deu em público não foi uma palestra numa sinagoga, um tuite ou um aclamado primeiro livro. Aconteceu durante um casamento em Canaã da Galileia, a que Ele assistiu com a Sua família e amigos. A Sua Mãe disse-Lhe que o vinho para a recepção tinha acabado. Sem fazer grande alarido, Ele transformou muita água em vinho da muito boa qualidade.
O que quer que, de facto, tenha acontecido naquela ocasião – e como isso ficou simbolizado na transmissão oral que mais tarde se tornou a tradição do Novo Testamento – está oculto na História. Mas o cenário é importante, especialmente para o terceiro dia da Quaresma. O vinho está proibido aos monges budistas e noutras tradições religiosas como sendo um estimulante artificial que nubla o estado puro da mente. Na tradição bíblica, um salmo cheio de felicidade louva a Deus pelo vinho porque ele “alegra o coração do homem” tal como o óleo faz a sua cara brilhar. S. Bento achava que os monges não o deviam beber mas como estava em Itália não os conseguia convencer, e por isso ficou satisfeito advogando a moderação. No clímax da Sua vida Jesus escolheu o vinho, como parte dum ritual religioso, para simbolizar como o Seu corpo era realmente a línguagem sagrada de quem Ele era e de tudo o Ele estava a ensinar.
Na nossa peregrinação a Canaã, os casais renovaram os seus votos matrimoniais. Liz e Albert King tinham o recorde de 60 anos. Tivemos a igreja só para nós e nos divertimos muito, embora o único vinho fosse o do cálice. Houve muita alegria e gargalhadas e histórias contadas que fazem parte da reverência dum cristão pelo casamento, como símbolo do relacionamento de Cristo com os Seus seguidores.
Os rostos sorridentes na missa devem ter ecoado a expressão e estado de espírito no casamento a que Jesus assistiu. Um casamento triste teria sido um pesadelo. Estaria Jesus ali a assistir como um amigo espiritual de aspecto solene que não queria realmente ali estar, que não podia participar no divertimento e só tinha sido útil porque salvou o dia com o Seu primeiro milagre? Ou estaria a divertir-Se como parte duma comunidade de amigos?
Quantas vezes é que vemos ou imaginamos Jesus a rir duma forma simples e humana, não para simbolizar alguma coisa, mas porque era isso que Ele realmente sentia? Todos nós sabemos o quanto um sorriso pode subitamente transformar e iluminar um rosto e mudar o humor de todo um grupo. Simone Weil diz que aquele sorriso de Jesus está agora estendido, para além do dia das Bodas em Canaã e se está espalhando por todo o Cosmos. Ela diz que o sorriso d’Ele é a beleza do Mundo.
A nossa percepção da beleza e das suas variadas formas pode ser fugaz. Mas o que vemos é um lampejo da verdadeira natureza da realidade. Recentemente, estava a observar um comissário de bordo. Ele estava a atender num voo lotado e parecia stressado. Porém, sorria sempre que era suposto fazê-lo, se bem que o sorriso desaparecia rapidamente quando terminava o momento de contacto com o passageiro. Há algo triste num sorriso que desaparece demasiado depressa. Os sorrisos genuínos perduram nos lábios e nos olhos quando o sinal que dão já não é necessário.
Muito depois de Canaã, o sorriso de Jesus que nos irradia em cada meditação, é ainda humano e não um sinal vazio.
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
O primeiro “sinal” registado que Jesus deu em público não foi uma palestra numa sinagoga, um tuite ou um aclamado primeiro livro. Aconteceu durante um casamento em Canaã da Galileia, a que Ele assistiu com a Sua família e amigos. A Sua Mãe disse-Lhe que o vinho para a recepção tinha acabado. Sem fazer grande alarido, Ele transformou muita água em vinho da muito boa qualidade.
O que quer que, de facto, tenha acontecido naquela ocasião – e como isso ficou simbolizado na transmissão oral que mais tarde se tornou a tradição do Novo Testamento – está oculto na História. Mas o cenário é importante, especialmente para o terceiro dia da Quaresma. O vinho está proibido aos monges budistas e noutras tradições religiosas como sendo um estimulante artificial que nubla o estado puro da mente. Na tradição bíblica, um salmo cheio de felicidade louva a Deus pelo vinho porque ele “alegra o coração do homem” tal como o óleo faz a sua cara brilhar. S. Bento achava que os monges não o deviam beber mas como estava em Itália não os conseguia convencer, e por isso ficou satisfeito advogando a moderação. No clímax da Sua vida Jesus escolheu o vinho, como parte dum ritual religioso, para simbolizar como o Seu corpo era realmente a línguagem sagrada de quem Ele era e de tudo o Ele estava a ensinar.
Na nossa peregrinação a Canaã, os casais renovaram os seus votos matrimoniais. Liz e Albert King tinham o recorde de 60 anos. Tivemos a igreja só para nós e nos divertimos muito, embora o único vinho fosse o do cálice. Houve muita alegria e gargalhadas e histórias contadas que fazem parte da reverência dum cristão pelo casamento, como símbolo do relacionamento de Cristo com os Seus seguidores.
Os rostos sorridentes na missa devem ter ecoado a expressão e estado de espírito no casamento a que Jesus assistiu. Um casamento triste teria sido um pesadelo. Estaria Jesus ali a assistir como um amigo espiritual de aspecto solene que não queria realmente ali estar, que não podia participar no divertimento e só tinha sido útil porque salvou o dia com o Seu primeiro milagre? Ou estaria a divertir-Se como parte duma comunidade de amigos?
Quantas vezes é que vemos ou imaginamos Jesus a rir duma forma simples e humana, não para simbolizar alguma coisa, mas porque era isso que Ele realmente sentia? Todos nós sabemos o quanto um sorriso pode subitamente transformar e iluminar um rosto e mudar o humor de todo um grupo. Simone Weil diz que aquele sorriso de Jesus está agora estendido, para além do dia das Bodas em Canaã e se está espalhando por todo o Cosmos. Ela diz que o sorriso d’Ele é a beleza do Mundo.
A nossa percepção da beleza e das suas variadas formas pode ser fugaz. Mas o que vemos é um lampejo da verdadeira natureza da realidade. Recentemente, estava a observar um comissário de bordo. Ele estava a atender num voo lotado e parecia stressado. Porém, sorria sempre que era suposto fazê-lo, se bem que o sorriso desaparecia rapidamente quando terminava o momento de contacto com o passageiro. Há algo triste num sorriso que desaparece demasiado depressa. Os sorrisos genuínos perduram nos lábios e nos olhos quando o sinal que dão já não é necessário.
Muito depois de Canaã, o sorriso de Jesus que nos irradia em cada meditação, é ainda humano e não um sinal vazio.
Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original , em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal