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Reflexões para a Quaresma 2021


​LAURENCE FREEMAN OSB 

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Segundo Domingo da Quaresma - Quaresma 2021

28/2/2021

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Quaresma 2021 – Segundo Domingo da Quaresma
(Mc 9:2-10)
 
 
Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João e leva-os, só a eles, para uma alta montanha onde podiam estar a sós.
Uma vez descreveram-no como “rezando sozinho na companhia dos seus discípulos”. Ele levou-os, como a nós, para onde estamos sós e ao mesmo tempo irrevogavelmente conectados: sós e com. Por muito que lhe resistamos, não há como evitar este destino.
 
Aí diante deles Ele foi transfigurado; as Suas vestes tornaram-se resplandecentes e muito brancas, como lavadeiro algum da terra as poderia branquear assim.
Ele não os podia convocar para mais profunda intimidade do que esta. A Sua forma física foi-lhes revelada, como Ele já sabia que era, translúcida com a luz do Pai. A partir do âmago do Seu ser. Ele diz: ´Eu sou a luz do mundo´.
 
E apareceu-lhes Elias com Moisés e ambos conversavam com Jesus.
Esta é a Sua herança espiritual: a Lei e os Profetas. Eles falam com Ele a partir de dentro d’Ele mesmo como a Palavra, do eterno para a história. Cada um deles entende cada um dos outros porque eles são um na Palavra encarnada.
 
Então Pedro diz a jesus: ´Mestre é maravilhoso para nós estarmos aqui; façamos três tendas: uma para Ti, uma para Moisés e uma para Elias´. Ele não sabia o que dizer, pois estavam aterrados. 
Pedro é de novo o porta-voz dos Doze e mais uma vez mostra que a rocha sobre a qual Jesus fundou a Sua Igreja é falível, medrosa e no entanto, mais importante que tudo, fiel. O medo é um sinal de reconhecimento de que o que ele encontra é o limite de sua própria identidade.
 
Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra e da nuvem veio uma voz, ´Este é o Meu Filho Amado: escutai-O´.
Por detrás do véu, a partir de uma nova dimensão da realidade, eles recebem um entendimento, que não podem entender, sobre de onde Jesus vem e para onde Ele nos está a encaminhar a todos nós através daqueles que O escutam.
 
E de repente, olhando à volta, já não viram mais ninguém, a não ser Jesus, sozinho com eles.
A vida continua como antes, mas é uma vida sendo transformada por aquilo que tinham visto.
 
E descendo eles da montanha, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, senão quando o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos. Eles guardaram a palavra fielmente, indagando uns com os outros o que é que ressuscitar dos mortos poderia querer dizer.
Como poderiam eles falar disso abertamente naquele momento? Precisavam da revelação completa, a Ressurreição, que os iria transfigurar a eles e a toda a Humanidade.
(A Festa da Transfiguração é a 6 de Agosto, o dia em 1945 do ofuscante clarão de Hiroxima.)


Laurence



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Sábado da Primeira Semana - Quaresma 2021

27/2/2021

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Quaresma 2021 – Sábado da Primeira Semana
(Evangelho de hoje: Mt 5:43-48 Ama os teus inimigos…)
 
Um dos nossos traços humanos comuns que a Quaresma (e a Quaresma prolongada da pandemia) realça é a fome da novidade. Os monges do deserto sentiam-na periodicamente após se esgotar o “primeiro fervor da conversão”. O que parecia fresco e esperançoso no começo perdia o florescimento da juventude e a sua doçura tornava-se até amarga e repulsiva. Quando a vítima desta “acédia” - ou entropia espiritual – descarregava o seu desânimo, inquietação e um feroz sentimento de traição no seu professor, ele ou ela ouviam palavras encorajadoras e recebiam um suave olhar de compreensão. O professor concluía: “Agora volta para a tua cela e senta-te e ela te ensinará tudo”. E deste modo, se eles assim pudessem, cumpririam e o ciclo retomaria o seu ritmo.

O crescimento é cíclico. Pisamos muitas vezes o mesmo chão. Há traços ou apegos que não conseguimos sacudir e temos de aprender a viver com eles. Então, com aceitação, podemos ser libertados. Nada disto é meramente uma repetição mecânica. Fracassar ou desistir do trabalho do desapego pode causar a intermitência do ciclo de crescimento ou a sua paragem total. No entanto falhar é uma ocasião para graça e para um novo começo. Se pararmos e começarmos de novo com todo o coração, retomaremos o caminho a um nível mais profundo. Isto apanha o ego desarmado e ajuda-nos a controlá-lo.

O anseio pelo novo está em todo o nosso metabolismo. Nós não somos máquinas. Nem somos como animais de estimação satisfeitos por comer a mesma comida todos os dias. (Os seus donos projetam os seus próprios anseios nos seus animais quando lhes compram mimos caros). O desejo sexual e o desempenho são igualmente condicionados pela necessidade de variedade.

Precisamos de confrontar e dominar esta busca incessante pela novidade separando-a da nossa criatividade inata. Criatividade – o que é verdadeiramente novo – surge espontaneamente depois de um trabalho árduo. Muita da nossa fome por mudança não é, na verdade, por algo realmente novo. Antes de o novo poder surgir, uma morte deverá ocorrer e, como sabemos, nós evitamos a morte como a uma praga. O nosso anseio é por variações naquilo que nos está a entediar após a sua atratividade ter sido descarregada. Nós não  queremos realmente o “novo e melhorado” dos artifícios de  marketing, mas o mesmo, com um leve toque ou uma nova embalagem. Mudar o estilo pessoal do penteado ou do vestuário, as séries da internet que nos viciam, o carro que conduzimos ou as assinaturas que eliminamos são satisfações temporárias deste ansiar.

Sentarmo-nos na nossa cela, aprender diretamente com ela, é a melhor forma de encontrarmos o realmente novo. É como encontrar uma fonte de água fresca depois de uma longa escavação. Uma vez encontrada, o trabalho árduo, as dores nas costas, a luta contra as obstinadas rochas e acédia, a nossa impaciência embaraçosa e a auto-distração desaparecem da memória. O verdadeiramente novo está sempre presente. Não precisamos mais de memória. Agora sabemos que ele estava, está, sempre lá aguardando que nós estejamos presentes para ele.

O verdadeiramente novo é perdoar. O seu efeito curador começa no instante da descoberta. Os velhos padrões podem voltar e atiçar-nos com anseios conhecidos. Mas o poder do verdadeiramente novo é o poder do eterno agora. Ele faz o ansiar pela novidade parecer algo infantil e antiquado. Os tempos de meditação e de escavação com o nosso mantra são a nossa cela. Têm de se tornar um trabalho regular e sério de modo a chutar-nos fora da órbita do ego e em direção à espontaneidade e alegria da nova criação, o paraíso que esta vida, neste mundo, pode ser, se virmos o que é agora na realidade pelo que verdadeiramente é.




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Sexta-feira da Primeira Semana - Quaresma 2021

26/2/2021

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Quaresma 2021 - Sexta-feira da Primeira Semana
 
O Evangelho de hoje é: Mateus 5:20-26 “Pois digo-vos que, a não ser que a vossa justiça exceda a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no reino dos Céus.”

Algumas pessoas têm-me questionado recentemente sobre como é que o Ano Covid me influenciou pessoalmente. Julgo estar entre os dez por cento das pessoas que, segundo sugere a investigação, retiraram da situação uma vantagem geral, por algo embaraçoso que  possa ser dizê-lo.

Aparentemente, 60% das pessoas foram muito resilientes, algumas com uma doença mental pré-existente sofreram intensamente e outras sofreram episódios de depressão e ansiedade. Claro que esta é uma simples pesquisa estatística que ignora a sacralidade de cada experiência pessoal e a imensidade da tragédia que tem sido para alguns. A maior parte de nós moveu-se, ao longo do ano, por entre um espectro de respostas. Uma avaliação final poderá não ser conclusiva por alguns anos. Conheço pessoas que morreram e outras que têm sofrido de uma longa Covid. E estou muitíssimo consciente de que, embora tenhamos sido todos atingidos pela mesma tempestade, não estivemos, de modo nenhum, todos no mesmo barco.

Quando as paralisações começaram, eu estava em Bonnevaux com uma calorosa, animada e amorosa comunidade. É um lugar de uma grande beleza natural e uma longa história de contemplação impregnou-se na terra e nos edifícios, permitindo que emita uma contínua energia de paz. Ao longo dos anos tenho viajado muito. Mas, de cada vez que partia para uma viagem, muitas vezes tinha a esperança, por breves momentos no dia anterior ao da partida, que qualquer coisa acontecesse para cancelá-la. Algumas pessoas assumiram que eu me tinha apegado às viagens só pelo gosto de viajar, mas isso não é verdade. Contudo, uma vez longe, sentia-me em casa em todo o lado e profundamente abençoado pelas pessoas e lugares que visitava. Quando as viagens pararam, não senti de todo a falta delas e passei nove meses em Bonnevaux quase sempre contentemente. Entre o programa diário espiritual, sendo parte do que outros estavam a viver em comunidade e com sessenta e sete comunidades nacionais como família alargada, foi uma vida cheia, de facto muito cheia.

Sentimos a necessidade de chegarmos até às pessoas que se encontravam menos seguras e mais carentes do que nós. Por isso, desenvolvemos um programa online de formação e acompanhamento da meditação, oferecendo retiros e cursos e muitos conferencistas e diálogos, com o intuito de ajudar as pessoas a dar um sentido contemplativo à crise. Pelos comentários recebidos, sentimos que ele valeu a pena e foi, sem dúvida, um tempo intenso e criativo. Descobri o potencial espiritual da internet e também como isso podia ser mais exigente, em tempo e energia, do que a dimensão física. Também me senti com mais claridade em relação ao papel que Bonnevaux estava a ser chamado a desempenhar.

Depois, quando a comunidade decidiu parar por uns tempos, no fim do ano, vim para um ermitério em Bere Island e tenho passado várias semanas em solidão. Apesar de manter o ensino online, a vida tem sido muito diferente. Tenho podido fixar o meu próprio plano diário e meditar mais longamente. Tem sido, não só um tempo menos intenso do que antes, mas também me ajudou a revitalizar capacidades pessoais de paz e vivência contemplativa que tinham enfraquecido sem que eu desse por isso.

A Covid não tem sido nada fácil, mas tenho sofrido muito menos do que muitos outros. Espero que as graças que inesperadamente emergiram me ajudarão a, na nossa comunidade, servir melhor os que buscam um sentido neste caos, paz nos seus medos e Deus nos seus corações.
Laurence
 


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Quinta-feira da Primeira Semana - Quaresma 2021

26/2/2021

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Quaresma 2021 - Quinta-feira da Primeira Semana
 
 - Evangelho de hoje: MT: 7:7-12 “Pedi e ser-vos-á dado“…

​O evangelho hoje exemplifica como não ler e também como ler a Escritura – e na verdade a vida.

No Reino Unido, que tem um muitíssimo rápido e bem sucedido programa de vacinação, as notícias estão cheias de “quando poderemos voltar ao normal?´ Quando o numero de casos baixa, há apelos a que se salve a economia e se abra novamente. Quando  aumentam, culpa-se alguém por se ter aberto cedo demais. Os governos, que gostam de agradar a todos, escondem-se atrás  da “ciência”. Tenham cuidado com o que pedem porque poderão obtê-lo e não gostar.

O evangelho hoje abre com a garantia dada por Jesus de que, se nós pedirmos, iremos receber. Quem bater, terá a porta aberta e quem procura irá encontrar. Isto podia ser interpretado do mesmo modo de curto prazo e impaciente em que os governos podiam abrir restaurantes e hotéis cedo demais. Claramente, apenas pedir o que se quer não é como esfregar uma lâmpada mágica e pedir um desejo. “Se ao menos fosse assim”, poderíamos dizer. Mas, se a oração fosse a realização-de-desejo deste modo, a vida tornar-se-ia mortal de outro modo, mortalmente aborrecida; e a nossa humanidade ficaria reduzida ao baixo nível de um consumidor com um crédito infinito, cuja vida não realizada seria gasta a realizar desejos. Se Jesus quisesse dizer isso e se receber o que pedimos significasse uma gratificação instantânea, logo estaríamos a pedir para que essa grande bênção nos fosse retirada. Ansiaríamos por sofrimento de um cariz mais saudável.

Há uma mais profunda compreensão do mistério da vida nas últimas palavras da passagem. Jesus traça uma comparação entre um bom pai e Deus. Se uma criança pede pão ao pai será que o pai lhe vai dar uma serpente venenosa? “Do mesmo modo o vosso Pai que está no céu dá coisas boas a quem lhas pedir”.

Isto significa, peça, mas por algo em particular. Peça, mas de um lugar onde a fantasia não interfira com o puro desejo. Procure, mas procure interiormente e não no exterior. Busque sem imaginar o que está à procurar. Bata a uma porta que não pode abrir e espere por outro meio para poder entrar. Bata em ambos os lados da porta.

Termina com a Regra de Ouro que se encontra em todas as tradições de sabedoria, a universal chave-de-acesso para a realidade. É o que nós temos que fazer  se quisermos estar prontos para receber, para encontrar, para abrir a porta: Trate os outros como gostaria de ser tratado por eles.
​
Laurence


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Quarta-feira da Primeira Semana - Quaresma 2021

24/2/2021

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Quaresma 2021 - Quarta-feira da Primeira Semana


​Um jovem juiz em ascensão ficou sob a influência espiritual de um mestre Sufi e começou a avançar pelos primeiros estádios de um despertar pessoal. Isto levou-o, com o tempo, a renunciar à sua posição e ao seu “status” e a tornar-se um dervixe, residente na Confraria Sufi como parte de uma comunidade agregada à volta do sheikh. Ele estava feliz. Ele não tinha dúvidas quanto à sua decisão e estava cheio de generoso entusiasmo e esperança.

Então lentamente, subtilmente no início, o seu ego resistiu e reclamou. “Foste muito nobre ao renunciar a tudo e ao seguir este caminho. As pessoas têm admiração por isso.” Ele estava feliz por ter seguido tão ilustre caminho – essa “via do amor” como lhe chamava o sheikh – sob a orientação de um professor altamente conceituado. “Mas”, sussurrava-lhe o seu ego, “tu és diferente destes outros discípulos. És instruído, bem relacionado, e um bom líder. Tu mereces ser reconhecido por isso.” Quando uma questão legal sobre propriedade foi apresentada ao sheikh para que sobre ela arbitrasse, o novo noviço ofereceu orgulhosamente os seus serviços observando que esse era o campo em que se especializara e sobre o qual “tudo sabia”. Não pôde reprimir o sorriso de auto-satisfação e de prazer por poder usar os seus talentos. O sheikh olhou para ele, terna e sagazmente, e disse-lhe que havia um trabalho especial na Confraria que um ex-juiz poderia cumprir melhor do que qualquer outro. O sorriso na cara do noviço alargou-se. O sheikh levou-o às traseiras da Confraria e mostrou-lhe o cão, entregou-lhe a tijela do cão e disse: “o teu trabalho é alimentar e cuidar do nosso cão.” Quando o sheikh se virou e entrou de novo na  Confraria o noviço explodiu numa vergonha raivosa e atirou a tijela para o chão. O sheikh voltou e olhou para ele.

Ele alimentou o cão obedientemente todos os dias e enfrentou as lutas que se seguiram com o seu ego, no seu quarto ou quando encontrava pessoas da sua vida anterior, que se divertiam com o seu novo e modesto estado. Foi ajudado pela atenção especial do seu professor e fez progresso com o seu mantra. Isto, contudo, levou outro membro da Confraria, um jovem oficial de posição elevada, a sentir-se invejoso. Essa inveja transformou-se num ciúme incontrolável por causa da forma como o sheikh estava a tratar o recém-chegado e como os outros membros da fraternidade estavam a aumentar o respeito por ele. Maldosamente, inventou uma calúnia sobre o seu rival e a filha do sheikh e espalhou-a.  

A vítima desta ciumeira sofreu intensamente, por si próprio e pela jovem mulher. Ele ficou indignado, furioso e determinado a confrontar isso; por isso, foi contar ao sheikh o que estava a acontecer. O sheikh ouviu-o e disse-lhe, então, que ele tinha falhado. Ele devia ter suportado a ofensa em silêncio. Olhou para ele e disse-lhe friamente que ele tinha de se ir embora da Confraria. Em lágrimas, desfeito e arrasado, o noviço partiu para o mundo de novo um errante no deserto sem nada.

Claro que isto não é o fim da história. Mas lança luz sobre o processo do confronto e da luta livre com o ego por que passa cada meditante à medida que nos movemos da superfície para as camadas mais profundas do “caminho do amor”. Como a Quaresma é um tempo especialmente propício para reflectir sobre essa jornada, esta pode ser uma história que nos ajude a compreender onde estamos e quais os desafios que enfrentamos neste momento.


Laurence



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Terça-feira da Primeira Semana - Quaresma 2021

23/2/2021

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Quaresma 2021 - Terça-feira da Primeira Semana
 


​Ele manteve um segredo guardado desde sempre. Protegê-lo tornou-se um reflexo prioritário que influenciou todas as decisões da sua vida. Depois, ele não tinha a certeza se sabia o que estava a fazer ou não. Pensou que talvez soubesse mesmo, às vezes, e logo reprimia ou esquecia. Guardou o segredo até dele próprio, embora ele o conhecesse melhor do que ninguém. Foi o fato real que aconteceu ou a razão pela qual aconteceu ou a vergonha que inexplicavelmente o foi carregando? O que é que o conduziu a construir uma identidade cuja falsidade apenas aumentou a sua vergonha?

O facto foi um abominável abuso de poder de um adulto sobre uma criança, uma degradação e confusão das expectativas legítimas da criança, de poder estar segura e confiante de ser amada e bem cuidada. As razões para esta traição da criança eram parte de um mundo adulto de vingança e poder incompreensível para ele enquanto criança. Isso tinha-o deixado com uma vergonha que ele não podia descartar. Ela colou-se-lhe sob uma persona que o mundo achava encantadora e invejável. Mas, desde a infância, isso tornou-o incapaz de se entregar, de amar ou de se relacionar seriamente com alguém, a não ser por pequenos períodos, até ser impossível não fugir de novo.

O seu caso era particularmente intenso. Mas todos nós temos esta tendência para guardarmos segredo daquilo que um dia nos magoou e fez com que um manto de vergonha nos cobrisse. Todo este esquema de mágoa, vergonha e segredo pode ser chamado de pecado. A Queda de Adão e Eva no Livro do Génesis descreve-o com rigorosa honestidade. Quem quer que seja que não se reveja na história devia aprendê-la de cor.

A Quaresma é uma oportunidade para refletir sobre o que  consideramos como pecado. Enquanto não o entendermos direito, não entenderemos a graça. É uma deficiência severa estar impedido de reconhecer a graça. Eu tenho reparado recentemente quantas campanhas publicitárias de venda de prazeres (chocolate, séries da Netflix, spas de saúde) usam até o próprio termo “pecado” para atrair a nossa atenção ou apenas nos provocar pela atração do indecente ou do proibido. Parece inofensivo mas é perigosamente estúpido porque limita o pecado às suas sete manifestações mortais e distrai-nos da verdadeira natureza do pecado e da sua profunda mancha na condição humana.

Onde abunda o pecado, superabunda a graça. A graça é a divinamente incondicional e nunca-retirada oferta de ajuda. Tudo o que é preciso para que seja libertada é confessarmos a nossa necessidade de ajuda, é o reconhecermos que errámos e que querermos agora fazer corretamente. Então uma graça maravilhosa surge na revelação de que toda a cura – e perdão é cura – é autocura. Isso arranca de nós o manto de vergonha com a descoberta de que temos, pela graça de Deus, um poder imenso dentro de nós, maior do que seja o que for que nos possa acorrentar ou desgraçar.

Na noite de Sábado Santo, na escuridão apenas iluminada pelo círio pascal, cantamos a gratidão pela Queda porque ela nos trouxe uma graça muito maior do que ela própria. “O Felix Culpa: Ó Feliz falta de Adão que nos fez ganhar tão grande, tão glorioso Salvador”.
 
 
Laurence

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Segunda-feira da Primeira Semana - Quaresma 2021

22/2/2021

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Quaresma 2021 - Segunda-feira da Primeira Semana
 
Como é que respondemos à palavra “quietude”? Será que a associamos a balanço, contrapeso, equilíbrio, ordem, tranquilidade? Ou a inação, estagnação, recessão, passividade? Será a quietude dinâmica ou estática? Será a meta que deveríamos estar a perseguir ou uma condição de que deveríamos sair o mais rapidamente possível? Como meditantes, poderíamos dizer: “tudo depende”, porque os meditantes gostam de ter o melhor de ambos os mundos. E eles podem tê-lo.

Provavelmente depende mesmo das circunstâncias, mas pode (ainda assim), haver uma preferência pelo conceito ou contra ele. Por trás dessa preferência poderá esconder-se quer um medo da quietude quer um anseio por ela. Se formos hiperativos, a quietude parecerá atrativa. Se estivermos aborrecidos, estivermos sem trabalho ou em quarentena, a quietude será a última coisa que queremos. A polarização de visões opostas, mesmo sobre o significado duma palavrinha inofensiva como esta conduz a um sentimento de conflito que é muitas vezes baseado numa sensação de que “se não conseguir tudo, poderei acabar sem nada”. E assim, a pessoa que discorda de mim, que parece estar do outro lado de um rio que flui mais rápido que o pensamento e sem pontes à vista, é minha inimiga. Portanto, não tem tanto direito a existir como eu. A sensação de potencial deficiência – mesmo aquilo que penso que tenho me pode ser tirado – inflama-se.

As facões pró e anti Trump nos EUA, os adeptos da permanência e os da saída do Reino Unido da UE, geraram uma profunda sensação de divisão e de desunião. Reconstruir o diálogo e o espírito de confiança será um trabalho árduo para ambas as sociedades, nos anos vindouros. Onde é que isto não foi sentido no mundo? As divisões perturbam o equilíbrio da sociedade civil e a quietude; um acalmar do facciosismo e da mútua rejeição tem pelo menos algum atrativo. A questão é: como?

A abordagem “tudo depende” é inadequada. A resposta não é ‘uma coisa ou a outra’ mas ambas, e ambas em harmonia. A forma mais prática de alcançar a mistura da quietude dinâmica e da atividade harmoniosa é sacrificar, de bom grado, tempo para o trabalho da quietude. Porque a natureza humana é propensa à hiperatividade (física, económica ou mental), o desafio, como deixa claro a história de Marta e Maria, é proteger o elemento de quietude e silêncio; e apreciá-lo como uma parte essencial do bem-estar humano. A vida de Jesus, exemplificando como os seres humanos deveriam viver, incluía períodos de solitude e de aquietamento, bem como tempos de atarefada atividade externa.

A quietude é inerente à boa vida. A par da oração e do jejum, a justiça toca o centro onde a quietude é encontra. Todos três são aspetos duma boa observação da Quaresma. Tem a ver com o equilíbrio sempre duramente conquistado e duro de manter, seja na nossa vida pessoal, seja na vida social.

 
Laurence




Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB 
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Primeiro Domingo da Quaresma - Quaresma 2021

21/2/2021

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Quaresma 2021 - Primeiro Domingo da Quaresma
 
           Porventura podem estar tristes os convidados para as núpcias enquanto  
           
o esposo está com eles…? (Mateus 9:14-15)
 
Na Sexta-feira, uma meditante que é membro do nosso grupo de meditação para executivos em Bonnevaux contou-nos uma história bonita e pessoal da sua vida, ao mesmo tempo aterradora e divertida. Até aos quarenta anos, dizia ela, tinha estado focada inteiramente no sucesso e em divertir-se e tinha conseguido as duas coisas. A sua ambição de ser apanha-bolas de John McEnroe em Wimbledon não foi satisfeita mas todas as outras sim. Então, a sua mãe foi diagnosticada com cancro severo e a vida dela começou a desintegrar-se. O seu corpo era o mensageiro do que estava a acontecer e ela perdeu o controlo: dores nos músculos e articulações, insónia, problemas respiratórios, lapsos de memória e ataques de pânico com crescente frequência. O corpo nunca mente. Por fim, um incidente horrível de amnésia com os seus filhos no centro comercial fê-la aceitar: “eu preciso de ajuda”. A inescapável humildade deste reconhecimento foi o ponto de viragem na sua vida que a conduziu a um processo gradual em direção ao centramento-no-outro. Agora, dedica-se com sucesso a ajudar os outros a reconhecer estes sintomas e a encará-los a tempo de evitar o pior. Nem todos sobrevivem ao pior como ela fez.
 
Ela disse que quando começou a arranjar tempo para a quietude e o silêncio – coisa que nunca antes tinha feito, no seu redemoinho de desatenção – ela começou realmente a reparar nas outras pessoas. Sentada no jardim, olhando simplesmente paras as pessoas, pela primeira vez ela via não apenas um desfile de caras mas expressões, sentimentos, sinais comunicativos. A meditação é agora um pilar da sua nova vida mais alegre e com significado e todos os executivos stressados que ela ajuda são introduzidos à meditação.
 
Muitas das histórias de Jesus mostram-No em refeições e festas de casamento. Ele usa muitas vezes estes eventos para ilustrar o Seu ensinamento, como no evangelho de hoje. Não se consegue imaginar que Ele tivesse uma presença infeliz ou lúgubre em qualquer evento onde as pessoas se estivessem a divertir e, será que não se teria Ele juntado à dança? O Seu breve ensinamento de hoje reconhece que a vida não é toda diversão e brincadeira. Nada do que conseguimos apreender deixa de ser uma mistura de luz e sombra. Negá-lo é reprimir aquilo que tememos encarar. A repressão acaba por explodir, através do corpo ou do nosso comportamento. A verdade virá à luz do dia. (Se repararmos que somos morbidamente atraídos pelas notícias ou pelos filmes sobre aquilo que tememos, deveríamos perguntar-nos porque é que isso é inconscientemente catártico para nós.)

Apalavra para “luto”, é “penthos”, em grego: o espírito da lamentação na mitologia e um importante elemento da teologia mística. No Seu ensinamento maior sobre as Bem-aventuranças, Jesus diz: “felizes os que choram pois serão consolados”. Não devíamos ter medo se, de vez em quando, a meditação nos dá um sentimento de luto ou de dor. A Quaresma pode ser um tempo em que reconhecemos isto como um aspeto saudável de sermos uma obra em curso (como esta senhora descreve a sua vida agora). Progresso em direção à plenitude de ser e à verdadeira felicidade. Um precoce sinal disso é a nossa capacidade de notar a expressão nacara das outras pessoas e retribuir uma atenção que responda àquilo que estão a comunicar. Para Isaías, na primeira leitura de hoje, esta compaixão ativa é o significado da justiça. Sem ela, jejum e esmola e todo esse tipo de coisas são apenas sombras daquilo para que é suposto servirem.    
    

Laurence



Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB 
original: https://mailchi.mp/wccm/wccm-lentreflections-week-389821?e=36d8acf788​


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Sábado depois das Cinzas - Quaresma 2021

20/2/2021

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Quaresma 2021 - Sábado depois das Cinzas
 
As cinzas de Quarta-feira tradicionalmente vêm da queima dos ramos do Domingo de Ramos do ano anterior. O acenar dos ramos de palmeiras pelas ruas de Jerusalém dando as boas-vindas à entrada triunfante de Jesus. Um dia mais tarde, estavam a gritar: “crucifica-O”. Tudo muda. Queimar os ramos é como queimar memórias. As potências coloniais europeias ainda têm dificuldade em abrir mão do império, engolindo a vergonha do imperialismo. É por isso que é difícil para elas acolher os filhos dos povos colonizados como parte da sua família. As memórias individuais também se agarram a nós. A luta com o ego é a mesma ao nível do indivíduo e da nação.
 
Mas a vida está sempre a começar. Desta vez, deixemos que seja mais simples, humilde e bondosa. Uma nova atitude para a nova vida. Aspergida diariamente com pequenos atos de bondade, afastando o protecionismo, a dominação e a exploração. A escolha está sempre lá: tornar-se no Reino de Deus, ser-se bem-vindo no Reino de Deus, mudado. Uma segunda chance está infinitamente disponível: Deus não é como nós, mas quer que nós nos tornemos como Ele.
 
As cinzas significam que tudo é queimado. São o último sinal visível do passado. Tudo irá desaparecer em chamas, deste modo, no final, segundo nos dizem os cosmólogos. O Apocalipse que aí vem. A fogueira das vaidades hoje.
 
Não temos como evitar aprender a aceitar a mortalidade: todos os apegos, os grandes projetos, planos, fantasias. Um sacrifício em holocausto oferecido à única coisa real, o momento presente. Queimado pelo mantra. A perda é dolorosa, porém, não violenta. Uma transformação pelo grande amor que não tem apegos, que não se agarra a coisa alguma. A morte do ego parece terrível, mas é mais suave do que tememos que seja. Depende de por quanto tempo lhe resistimos. S. Francisco louvava-a: “Louvado sejas Tu, meu Senhor, por meio da nossa irmã, a Morte do Corpo, da qual nenhum homem vivo pode escapar.”
 
Cinzas na boca agora. Em breve, a doçura da Palavra de Deus na língua. O veneno engolido torna-se remédio. A meditação faz-nos descer à terra. Deus disse a Adão: “És cinza e às cinzas hás-de voltar”. A verdade da impermanência que nós adiamos. Tal como um ponto na agenda que ninguém quer discutir mas que por fim toma conta da reunião. A Quarta-feira de Cinzas prepara a Sexta-feira Santa. O medo é queimado para sempre também na fogueira do amor.
 
A Quaresma é uma época de alegre luto – perda e recuperação, restauração para a verdadeira saúde. Eliminamos medicamentos contrafeitos, as falsas consolações. Enfrentamos a verdade nua e crua, despida de decorações. Descobrimos a beleza transcendente, o tesouro em vasos de barro. O Santo Graal. O segredo do alquimista. A pérola de grande valor. O Filho Pródigo regressado. A vida eterna que não nasceu e que nunca poderá morrer. O eterno nascimento que consome a morte.
 
Nada a temer. Não tenhamos medo do nada.
 
Jesus disse: não aparentes tristeza por causa disto, faz a tua face brilhar, porque isto não é triste. Deixa que as próprias cinzas se espalhem.  Diz o mantra como um amante.
  
Laurence
 
 

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Sexta-feira depois das Cinzas - Quaresma 2021

19/2/2021

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Quaresma 2021 - Sexta-feira depois das Cinzas
 
A segunda sessão mensal do Seminário Bonnevaux sobre a Saúde, conduzida pelo Dr Barry White, teve lugar online na Terça-feira. Tem atraído uma grande plateia por causa do seu entendimento profundo e integral do que significa a saúde e, sem dúvida, por causa da ansiedade e da curiosidade das pessoas sobre o seu bem-estar físico e mental durante esta pandemia. Ele coloca a meditação no centro do seu modelo de saúde, o que lhe concede um papel unificador dos diferentes aspetos de que ele vai falar nas suas palestras mais à frente, tais como o sono, o exercício, a dieta e a dor.

O pensamento de Barry sobre este tema tem vindo a evoluir ao longo dos anos e ele está a receber agora os seus benefícios. O pensamento de algumas pessoas sobre um assunto salta de ramo para ramo, embora se mantenha no mesmo nível. O dele vai consistentemente mais fundo e mostra o sistema radical que suporta toda a árvore do conhecimento. Fiquei especialmente surpreendido, desta vez, com o seu discernimento baseado na visão de John Main de que, para transcender as nossas limitações temos primeiro de as aceitar. Barry aplicou isto mesmo à nossa saúde pessoal. Por vezes, temos que aceitar as nossas enfermidades do corpo, da mente ou de carácter, até mesmo a nossa mortalidade. No entanto, misteriosamente, esta aceitação revela novas fontes e caminhos de cura e, com ela, vem um discernimento pessoal único sobre o significado do sofrimento.

Aprendemos melhor estas coisas pela experiência, que nos permite interiorizar o conhecimento que ela traz de modo a jamais o podermos esquecer. Não são só os eventos dramáticos que o fazem, mas também pequenas coisas aborrecidas, tais como as que estavam sempre a acontecer à minha ligação à internet, sempre que eu falava. Até então, o WiFi parecia estar a aguentar-se; mas, sempre que eu falava, aparecia aquele aviso ameaçador brilhando no ecrã: “A ligação interconectada está instável”, como se fosse uma mensagem que tivesse fugido dum buraco negro no centro da Cloud (Nuvem). De cada vez que tentava, esperava que corresse pelo melhor, mas inevitavelmente a ligação caía, as minhas palavras evaporavam-se no éter e eu tinha que esperar para ver se e quando é que a ligação se reiniciava, o que realmente acontecia. Eu não estava tão instável interiormente a ponto de atirar o meu computador portátil ao chão mas após a décima interrupção o quarto dos frutos do Espírito (a paciência) estava difícil de encontrar. Por essa altura, compreendi que nada havia a fazer a não ser aceitar as limitações impostas, fosse quem fosse o responsável, se é que o havia. Em breve percebi que tinha que escolher entre o áudio e o vídeo e imediatamente escolhi ser ouvido em vez de ser visto. A luta com as frustrações e a impaciência estava, pelo menos por enquanto, terminada.

Certa vez, um jovem disse-me que tinha andado à procura, sem sucesso, do seu “porquê pessoal” durante largo tempo, mas que a meditação o estava a ensinar a viver com o seu fracasso em encontrá-lo. Sentia-se seguro de que o iria encontrar um dia, mas não da forma que tinha imaginado.

Desperdiçaríamos a Quaresma se a tratássemos apenas como uma forma de tentar com mais afinco, aumentar a nossa força de vontade e ter mais sucesso no alcançar dos nossos ‘porquês pessoais’. Uma Quaresma contemplativa requer – tal como acontece com o entendimento da saúde que estamos a explorar nos seminários – uma prática contemplativa central e regular. Ela deixa-nos capazes de sermos ensinados. Aprendemos que lutar contra as nossas limitações com o ego apenas intensifica o ego. Aceitá-las com um verdadeiro amor por si mesmo converte-as numa ponte que leva além do ego, para um amigo que está para além de futuros mal-entendidos.



Laurence



Reflexões para a Quaresma 2020 - LAURENCE FREEMAN OSB 

Texto  original , em inglês: aqui

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