
Quaresma 2021 - Quarta-feira da Primeira Semana
Um jovem juiz em ascensão ficou sob a influência espiritual de um mestre Sufi e começou a avançar pelos primeiros estádios de um despertar pessoal. Isto levou-o, com o tempo, a renunciar à sua posição e ao seu “status” e a tornar-se um dervixe, residente na Confraria Sufi como parte de uma comunidade agregada à volta do sheikh. Ele estava feliz. Ele não tinha dúvidas quanto à sua decisão e estava cheio de generoso entusiasmo e esperança.
Então lentamente, subtilmente no início, o seu ego resistiu e reclamou. “Foste muito nobre ao renunciar a tudo e ao seguir este caminho. As pessoas têm admiração por isso.” Ele estava feliz por ter seguido tão ilustre caminho – essa “via do amor” como lhe chamava o sheikh – sob a orientação de um professor altamente conceituado. “Mas”, sussurrava-lhe o seu ego, “tu és diferente destes outros discípulos. És instruído, bem relacionado, e um bom líder. Tu mereces ser reconhecido por isso.” Quando uma questão legal sobre propriedade foi apresentada ao sheikh para que sobre ela arbitrasse, o novo noviço ofereceu orgulhosamente os seus serviços observando que esse era o campo em que se especializara e sobre o qual “tudo sabia”. Não pôde reprimir o sorriso de auto-satisfação e de prazer por poder usar os seus talentos. O sheikh olhou para ele, terna e sagazmente, e disse-lhe que havia um trabalho especial na Confraria que um ex-juiz poderia cumprir melhor do que qualquer outro. O sorriso na cara do noviço alargou-se. O sheikh levou-o às traseiras da Confraria e mostrou-lhe o cão, entregou-lhe a tijela do cão e disse: “o teu trabalho é alimentar e cuidar do nosso cão.” Quando o sheikh se virou e entrou de novo na Confraria o noviço explodiu numa vergonha raivosa e atirou a tijela para o chão. O sheikh voltou e olhou para ele.
Ele alimentou o cão obedientemente todos os dias e enfrentou as lutas que se seguiram com o seu ego, no seu quarto ou quando encontrava pessoas da sua vida anterior, que se divertiam com o seu novo e modesto estado. Foi ajudado pela atenção especial do seu professor e fez progresso com o seu mantra. Isto, contudo, levou outro membro da Confraria, um jovem oficial de posição elevada, a sentir-se invejoso. Essa inveja transformou-se num ciúme incontrolável por causa da forma como o sheikh estava a tratar o recém-chegado e como os outros membros da fraternidade estavam a aumentar o respeito por ele. Maldosamente, inventou uma calúnia sobre o seu rival e a filha do sheikh e espalhou-a.
A vítima desta ciumeira sofreu intensamente, por si próprio e pela jovem mulher. Ele ficou indignado, furioso e determinado a confrontar isso; por isso, foi contar ao sheikh o que estava a acontecer. O sheikh ouviu-o e disse-lhe, então, que ele tinha falhado. Ele devia ter suportado a ofensa em silêncio. Olhou para ele e disse-lhe friamente que ele tinha de se ir embora da Confraria. Em lágrimas, desfeito e arrasado, o noviço partiu para o mundo de novo um errante no deserto sem nada.
Claro que isto não é o fim da história. Mas lança luz sobre o processo do confronto e da luta livre com o ego por que passa cada meditante à medida que nos movemos da superfície para as camadas mais profundas do “caminho do amor”. Como a Quaresma é um tempo especialmente propício para reflectir sobre essa jornada, esta pode ser uma história que nos ajude a compreender onde estamos e quais os desafios que enfrentamos neste momento.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
original: AQUI
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
Um jovem juiz em ascensão ficou sob a influência espiritual de um mestre Sufi e começou a avançar pelos primeiros estádios de um despertar pessoal. Isto levou-o, com o tempo, a renunciar à sua posição e ao seu “status” e a tornar-se um dervixe, residente na Confraria Sufi como parte de uma comunidade agregada à volta do sheikh. Ele estava feliz. Ele não tinha dúvidas quanto à sua decisão e estava cheio de generoso entusiasmo e esperança.
Então lentamente, subtilmente no início, o seu ego resistiu e reclamou. “Foste muito nobre ao renunciar a tudo e ao seguir este caminho. As pessoas têm admiração por isso.” Ele estava feliz por ter seguido tão ilustre caminho – essa “via do amor” como lhe chamava o sheikh – sob a orientação de um professor altamente conceituado. “Mas”, sussurrava-lhe o seu ego, “tu és diferente destes outros discípulos. És instruído, bem relacionado, e um bom líder. Tu mereces ser reconhecido por isso.” Quando uma questão legal sobre propriedade foi apresentada ao sheikh para que sobre ela arbitrasse, o novo noviço ofereceu orgulhosamente os seus serviços observando que esse era o campo em que se especializara e sobre o qual “tudo sabia”. Não pôde reprimir o sorriso de auto-satisfação e de prazer por poder usar os seus talentos. O sheikh olhou para ele, terna e sagazmente, e disse-lhe que havia um trabalho especial na Confraria que um ex-juiz poderia cumprir melhor do que qualquer outro. O sorriso na cara do noviço alargou-se. O sheikh levou-o às traseiras da Confraria e mostrou-lhe o cão, entregou-lhe a tijela do cão e disse: “o teu trabalho é alimentar e cuidar do nosso cão.” Quando o sheikh se virou e entrou de novo na Confraria o noviço explodiu numa vergonha raivosa e atirou a tijela para o chão. O sheikh voltou e olhou para ele.
Ele alimentou o cão obedientemente todos os dias e enfrentou as lutas que se seguiram com o seu ego, no seu quarto ou quando encontrava pessoas da sua vida anterior, que se divertiam com o seu novo e modesto estado. Foi ajudado pela atenção especial do seu professor e fez progresso com o seu mantra. Isto, contudo, levou outro membro da Confraria, um jovem oficial de posição elevada, a sentir-se invejoso. Essa inveja transformou-se num ciúme incontrolável por causa da forma como o sheikh estava a tratar o recém-chegado e como os outros membros da fraternidade estavam a aumentar o respeito por ele. Maldosamente, inventou uma calúnia sobre o seu rival e a filha do sheikh e espalhou-a.
A vítima desta ciumeira sofreu intensamente, por si próprio e pela jovem mulher. Ele ficou indignado, furioso e determinado a confrontar isso; por isso, foi contar ao sheikh o que estava a acontecer. O sheikh ouviu-o e disse-lhe, então, que ele tinha falhado. Ele devia ter suportado a ofensa em silêncio. Olhou para ele e disse-lhe friamente que ele tinha de se ir embora da Confraria. Em lágrimas, desfeito e arrasado, o noviço partiu para o mundo de novo um errante no deserto sem nada.
Claro que isto não é o fim da história. Mas lança luz sobre o processo do confronto e da luta livre com o ego por que passa cada meditante à medida que nos movemos da superfície para as camadas mais profundas do “caminho do amor”. Como a Quaresma é um tempo especialmente propício para reflectir sobre essa jornada, esta pode ser uma história que nos ajude a compreender onde estamos e quais os desafios que enfrentamos neste momento.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
original: AQUI
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv