
Quaresma 2021 - Quarta-feira da Semana Santa
(Evangelho Mt 26:14 - 25. O Mestre diz: “O Meu tempo está próximo”.)
No coração de todas as tradições espirituais está a experiência religiosa, mística, do seu fundador. É o que dá poder ao seu ensinamento e desperta nos seus seguidores um lento sentido de que são chamados ao mesmo conhecimento e união com Deus. Nenhum autêntico mestre espiritual, realmente, nenhum verdadeiro professor, quer reservar para si a sua experiência como uma forma de dominar os outros. Na Última Ceia, Jesus disse aos Seus discípulos: “Eu chamo-vos amigos porque partilhei convosco tudo o que aprendi de Meu Pai”. Isto perturbou-os. Eles preferiam pensar n’Ele como seu mestre – “Nunca me lavarás os pés”, disse Pedro – em vez de um amigo. Mesmo que um saiba mais do que outro, os amigos devem ser iguais.
De certa forma, dizer que Ele partilhou tudo com eles não é verdade. Jesus tinha tentado partilhar com eles, mas eles eram lentos a expandir os horizontes para o receber. É sempre perigoso ser um discípulo, aprender, porque somos mudados pelo novo conhecimento. O mundo torna-se tanto mais estranho quanto mais aprendemos. Temos de nos continuar a adaptar a uma nova visão da realidade, o que nos torna vulneráveis. Mas o que Ele disse era verdade; sabia que com o tempo a resistência dos discípulos se iria derreter. Eles ou apenas alguns deles, seriam por fim capazes de receber tudo o que Ele tanto ansiou ensinar-lhes. Mas deixou um depósito que seria ativado depois de os ter deixado e ter regressado duma forma que trazia consigo o conhecimento. Tudo o eles tinham de fazer era reconhecê-Lo.
A experiência que queria partilhar, pela sua natureza, era para ser partilhada, não possuída. Partilhar é transformação de todos, quer demos quer recebamos. Na plena partilha, a distinção entre mestre e discípulo, também, é transcendida. A tradição mística judaica expressou isto através do conceito “tikkun olam”. É aplicado concretamente às situações sociais e políticas e todo o sofrimento humano pede que ele seja praticado. Significa “reparar o mundo”. “Partilhar tudo” o que aprendemos é a grande cura que corrige o desequilíbrio, o pecado, do mundo e o reorienta na direção de Deus.
‘‘Tikkun Olam” é espelhado no ideal bodhisattva no Budismo. Os que se comprometem com ele dedicam todos os ganhos da prática espiritual ao alívio do sofrimento no mundo, não neles mesmos. S. Paulo entendia este centramento-no-outro no âmbito do chamamento a conhecer a Deus: “Sou puxado em duas direcções. Quero muito deixar esta vida e estar com Cristo, que é uma coisa muito melhor; mas é mais necessário para vós que eu permaneça no corpo.” (Fl 1:23-24). No Sufismo, também, o indivíduo cujas auto-divisões são curadas no caminho do amor torna-se um agente da unidade para todos os outros.
A experiência de conhecimento, que Jesus ansiava partilhar não é algo que adicionamos ao que já sabemos. É um dom curativo do “eu” a outro. Quando as multidões faziam pouco de Jesus na Cruz – “Salvou os outros, mas não consegue salvar-se a Si mesmo!” – entenderam mal, mas estavam prontas a aprender.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
(Evangelho Mt 26:14 - 25. O Mestre diz: “O Meu tempo está próximo”.)
No coração de todas as tradições espirituais está a experiência religiosa, mística, do seu fundador. É o que dá poder ao seu ensinamento e desperta nos seus seguidores um lento sentido de que são chamados ao mesmo conhecimento e união com Deus. Nenhum autêntico mestre espiritual, realmente, nenhum verdadeiro professor, quer reservar para si a sua experiência como uma forma de dominar os outros. Na Última Ceia, Jesus disse aos Seus discípulos: “Eu chamo-vos amigos porque partilhei convosco tudo o que aprendi de Meu Pai”. Isto perturbou-os. Eles preferiam pensar n’Ele como seu mestre – “Nunca me lavarás os pés”, disse Pedro – em vez de um amigo. Mesmo que um saiba mais do que outro, os amigos devem ser iguais.
De certa forma, dizer que Ele partilhou tudo com eles não é verdade. Jesus tinha tentado partilhar com eles, mas eles eram lentos a expandir os horizontes para o receber. É sempre perigoso ser um discípulo, aprender, porque somos mudados pelo novo conhecimento. O mundo torna-se tanto mais estranho quanto mais aprendemos. Temos de nos continuar a adaptar a uma nova visão da realidade, o que nos torna vulneráveis. Mas o que Ele disse era verdade; sabia que com o tempo a resistência dos discípulos se iria derreter. Eles ou apenas alguns deles, seriam por fim capazes de receber tudo o que Ele tanto ansiou ensinar-lhes. Mas deixou um depósito que seria ativado depois de os ter deixado e ter regressado duma forma que trazia consigo o conhecimento. Tudo o eles tinham de fazer era reconhecê-Lo.
A experiência que queria partilhar, pela sua natureza, era para ser partilhada, não possuída. Partilhar é transformação de todos, quer demos quer recebamos. Na plena partilha, a distinção entre mestre e discípulo, também, é transcendida. A tradição mística judaica expressou isto através do conceito “tikkun olam”. É aplicado concretamente às situações sociais e políticas e todo o sofrimento humano pede que ele seja praticado. Significa “reparar o mundo”. “Partilhar tudo” o que aprendemos é a grande cura que corrige o desequilíbrio, o pecado, do mundo e o reorienta na direção de Deus.
‘‘Tikkun Olam” é espelhado no ideal bodhisattva no Budismo. Os que se comprometem com ele dedicam todos os ganhos da prática espiritual ao alívio do sofrimento no mundo, não neles mesmos. S. Paulo entendia este centramento-no-outro no âmbito do chamamento a conhecer a Deus: “Sou puxado em duas direcções. Quero muito deixar esta vida e estar com Cristo, que é uma coisa muito melhor; mas é mais necessário para vós que eu permaneça no corpo.” (Fl 1:23-24). No Sufismo, também, o indivíduo cujas auto-divisões são curadas no caminho do amor torna-se um agente da unidade para todos os outros.
A experiência de conhecimento, que Jesus ansiava partilhar não é algo que adicionamos ao que já sabemos. É um dom curativo do “eu” a outro. Quando as multidões faziam pouco de Jesus na Cruz – “Salvou os outros, mas não consegue salvar-se a Si mesmo!” – entenderam mal, mas estavam prontas a aprender.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
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