
Quaresma 2021 – Quarto Domingo
(Jo 3:14-21. Jesus disse a Nicodemos…)
Jesus aqui fala em estilo de paradoxo: humanamente divino, pessoalmente cósmico.
“O Filho do Homem deverá ser içado ao alto, assim como Moisés içou a serpente no deserto, para que todo o que n’Ele crê tenha a vida eterna.”
No deserto da Quaresma, surgiram “serpentes flamejantes” mordendo e matando muitos. Moisés fez uma serpente em bronze, espetou-a num pau e fosse quem fosse que para ela olhasse ficava curado. Olhar para a Cruz é enfrentar e transcender a mortalidade. Olhando, vendo. A contemplação cura. A vida eterna é mais do que apenas não morrer. É morrer sem medo, viver sem medo, quer da morte quer da vida.
Sim, Deus amou de tal maneira o mundo que lhe deu o seu único Filho, para que todo aquele que acredita n’Ele não se possa perder, mas tenha a vida eterna.
Jesus revela-se por meio do mito fundador do seu povo em termos que eles reconhecem, embora isso saia fora dos limites do mito e os conduza (e a nós, se escutarmos) a uma experiência direta. Crucialmente, Ele diz que “foi enviado”. Saber isso é saber que Ele traz o amor de Deus diretamente para a Humanidade e para cada ser humano. Isto é tão simples quanto difícil para nós aceitarmos, assim como o foi para Nicodemos.
Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo não para condenar o mundo, mas para que, através d’Ele, o mundo pudesse ser salvo. Ninguém que acredite n’Ele será condenado, mas quem se recusar a acreditar n’Ele já está condenado, porque se recusou a acreditar no nome do Filho único de Deus.
A nossa ideia de Deus é uma projeção do superego. Diz que seremos recompensados por sermos bons e, se não o formos, seremos condenados. Jesus atira esta imagem de Deus, de um deus, diretamente para o fogo da Sarça Ardente. Toda a “condenação” é agora vista como autocondenação. “Recusar-se a acreditar” significa endurecer os nossos corações, recusando-nos a sair da cela da prisão mesmo depois de termos ouvido o apelo à liberdade. Mas não somos castigados duas vezes pela nossa recusa. É uma auto-infligida ferida. Uma vez é suficiente. Mas o terapeuta divino, ao curar o mundo, aguarda. Se um tipo de tratamento não nos serve, outro servirá. Como acabei de receber a primeira dose da vacina, perdoem-me se eu comparar isso com recusá-la.
Com base nisso é pronunciada a sentença: que, apesar de a luz ter vindo ao mundo, os homens mostraram que preferem as trevas à luz porque os seus atos eram maus. E, na verdade, todo aquele que pratica o mal odeia a luz e evita-a, por medo de que as suas ações fiquem expostas; mas o homem que vive segundo a verdade sai para a luz, para que possa ser visto claramente que o que ele faz é feito em Deus´.
A vida traz responsabilidade moral. Não fazer nada é fazer mal. É escuridão porque não somos capazes de ver o que estamos a fazer. Uma nova luz irrompeu nas nossas mentes escuras, mas a escuridão continua mais familiar, mais fácil. A religião sem a luz da sabedoria conspira com a escuridão, sem o saber. Jesus transcende a religião, mesmo aquela que leva o seu nome. A verdade é implacável na exposição das nossas ambiguidades e hipocrisia. Quando nos desprendemos e nos rendemos à verdade, não há aonde nos escondermos. Então, vemos que é tudo trabalho de amor e sempre assim foi.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
(Jo 3:14-21. Jesus disse a Nicodemos…)
Jesus aqui fala em estilo de paradoxo: humanamente divino, pessoalmente cósmico.
“O Filho do Homem deverá ser içado ao alto, assim como Moisés içou a serpente no deserto, para que todo o que n’Ele crê tenha a vida eterna.”
No deserto da Quaresma, surgiram “serpentes flamejantes” mordendo e matando muitos. Moisés fez uma serpente em bronze, espetou-a num pau e fosse quem fosse que para ela olhasse ficava curado. Olhar para a Cruz é enfrentar e transcender a mortalidade. Olhando, vendo. A contemplação cura. A vida eterna é mais do que apenas não morrer. É morrer sem medo, viver sem medo, quer da morte quer da vida.
Sim, Deus amou de tal maneira o mundo que lhe deu o seu único Filho, para que todo aquele que acredita n’Ele não se possa perder, mas tenha a vida eterna.
Jesus revela-se por meio do mito fundador do seu povo em termos que eles reconhecem, embora isso saia fora dos limites do mito e os conduza (e a nós, se escutarmos) a uma experiência direta. Crucialmente, Ele diz que “foi enviado”. Saber isso é saber que Ele traz o amor de Deus diretamente para a Humanidade e para cada ser humano. Isto é tão simples quanto difícil para nós aceitarmos, assim como o foi para Nicodemos.
Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo não para condenar o mundo, mas para que, através d’Ele, o mundo pudesse ser salvo. Ninguém que acredite n’Ele será condenado, mas quem se recusar a acreditar n’Ele já está condenado, porque se recusou a acreditar no nome do Filho único de Deus.
A nossa ideia de Deus é uma projeção do superego. Diz que seremos recompensados por sermos bons e, se não o formos, seremos condenados. Jesus atira esta imagem de Deus, de um deus, diretamente para o fogo da Sarça Ardente. Toda a “condenação” é agora vista como autocondenação. “Recusar-se a acreditar” significa endurecer os nossos corações, recusando-nos a sair da cela da prisão mesmo depois de termos ouvido o apelo à liberdade. Mas não somos castigados duas vezes pela nossa recusa. É uma auto-infligida ferida. Uma vez é suficiente. Mas o terapeuta divino, ao curar o mundo, aguarda. Se um tipo de tratamento não nos serve, outro servirá. Como acabei de receber a primeira dose da vacina, perdoem-me se eu comparar isso com recusá-la.
Com base nisso é pronunciada a sentença: que, apesar de a luz ter vindo ao mundo, os homens mostraram que preferem as trevas à luz porque os seus atos eram maus. E, na verdade, todo aquele que pratica o mal odeia a luz e evita-a, por medo de que as suas ações fiquem expostas; mas o homem que vive segundo a verdade sai para a luz, para que possa ser visto claramente que o que ele faz é feito em Deus´.
A vida traz responsabilidade moral. Não fazer nada é fazer mal. É escuridão porque não somos capazes de ver o que estamos a fazer. Uma nova luz irrompeu nas nossas mentes escuras, mas a escuridão continua mais familiar, mais fácil. A religião sem a luz da sabedoria conspira com a escuridão, sem o saber. Jesus transcende a religião, mesmo aquela que leva o seu nome. A verdade é implacável na exposição das nossas ambiguidades e hipocrisia. Quando nos desprendemos e nos rendemos à verdade, não há aonde nos escondermos. Então, vemos que é tudo trabalho de amor e sempre assim foi.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
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