
Quaresma 2021 - Quinta-feira da Quarta Semana
(Evangelho: Jo 5 31-47. Como podeis acreditar se andais à procura da aprovação uns dos outros?)
O Mestre Eckhart elogia as coisas de que a mente humana habitualmente foge. Ele via o desapego como a dinâmica essencial do nosso progresso para Deus, do nosso processo de iluminação. Mas não um desapego superficial, como abdicar dos doces ou do gin tónico durante a Quaresma. Ele é mais como Bento que diz: “a vida do monge é uma contínua Quaresma”. Neste ponto, a maioria dirá: “bom, graças a Deus eu não sou monge” e maioria dos monges diz: “bem, vejamos como é que podemos interpretar isso”. Eckhart usa o vocabulário da Quaresma para todos os dias – e para a meditação quotidiana: deserto, vazio, pobreza, nudez da mente.
Estes termos não se referem a práticas externas ou ao ascetismo, mas ao modo como aprendemos a não estar dependentes de coisas externas para o nosso sentido de quem somos e de quem somos chamados a ser. Uma dessas coisas externas é a opinião dos outros sobre nós. Jesus refere-se no evangelho de hoje à nossa tendência para buscar a aprovação humana em vez da “aprovação de Deus”, a qual poderíamos descrever como o “sermos autênticos”. Esta é uma boa marca para o autoconhecimento, à medida que nos aproximamos do maior drama humano da história da Páscoa. No centro deste teatro da vida está a morte que se segue ao desapego, vendo-se claramente como não depender da aprovação dos outros pode conduzir a uma violenta rejeição.
Tudo isto seria muito pouco atrativo se não tivesse, de facto, que ver com o florescimento humano, com a realização, não com a degradação ou a perda. O deserto floresce quando compreendemos e aceitamos a sua simplicidade. O vazio enche-se com infinitos graus de plenitude quando desligámos completamente a ficha. A pobreza torna-se em “grande pobreza”, que é como Cassiano descreve o efeito do mantra. A nudez da alma, quando nos despimos das auto-imagens e da vaidade, ultrapassa a vergonha, a duplicidade e o medo de ser conhecido. O estilo de pensamento místico de Eckhart é robusto e positivo, especialmente quando fala sobre coisas que à primeira vista nos fazem querer sair do caminho ou, pelo menos desacelerar.
Penso que as pessoas que lutam para meditar todos os dia, embora gostassem de o fazer, têm maiores probabilidades de melhorar a sua prática se compreenderem o significado da meditação desta maneira. É simplesmente compreender qual é o significado da vida, com as suas alegrias e dores, perdas e descobertas, amores e solidão. A vida é um assunto sério e, quando o percebemos, podemos ficar alegres com isso, na sua plenitude.
Eckhart dizia que a viagem consiste em ser “des-formado, in-formado e trans-formado”. John Main compreendia isto como a natureza absoluta da meditação, ao mesmo tempo que reconhecia que necessitava de ser alcançada por estágios. O que para ele importa é, realmente, começar a viagem e “estar a caminho”, em vez de pensar que devíamos estar a fazer melhor e ficar demasiado auto-desencorajados para começar de novo. Para ele, o mantra combina estes três estágios da viagem num só: um simples acto de pura e pobre fé repetido e que sempre nos conduz mais fundo.
Encontramos o encorajamento para praticar este pleno desapego interior em passagens da Escritura como esta:
“Conto tudo como perda por causa do valor insuperável de conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por Sua causa, sofri a perda de todas as coisas e considero-as lixo, para que eu possa ganhar Cristo e ser encontrado n’Ele… de modo a que eu possa conhecer a Ele e ao poder da Sua ressurreição.” (Fil 3:8-10)
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
(Evangelho: Jo 5 31-47. Como podeis acreditar se andais à procura da aprovação uns dos outros?)
O Mestre Eckhart elogia as coisas de que a mente humana habitualmente foge. Ele via o desapego como a dinâmica essencial do nosso progresso para Deus, do nosso processo de iluminação. Mas não um desapego superficial, como abdicar dos doces ou do gin tónico durante a Quaresma. Ele é mais como Bento que diz: “a vida do monge é uma contínua Quaresma”. Neste ponto, a maioria dirá: “bom, graças a Deus eu não sou monge” e maioria dos monges diz: “bem, vejamos como é que podemos interpretar isso”. Eckhart usa o vocabulário da Quaresma para todos os dias – e para a meditação quotidiana: deserto, vazio, pobreza, nudez da mente.
Estes termos não se referem a práticas externas ou ao ascetismo, mas ao modo como aprendemos a não estar dependentes de coisas externas para o nosso sentido de quem somos e de quem somos chamados a ser. Uma dessas coisas externas é a opinião dos outros sobre nós. Jesus refere-se no evangelho de hoje à nossa tendência para buscar a aprovação humana em vez da “aprovação de Deus”, a qual poderíamos descrever como o “sermos autênticos”. Esta é uma boa marca para o autoconhecimento, à medida que nos aproximamos do maior drama humano da história da Páscoa. No centro deste teatro da vida está a morte que se segue ao desapego, vendo-se claramente como não depender da aprovação dos outros pode conduzir a uma violenta rejeição.
Tudo isto seria muito pouco atrativo se não tivesse, de facto, que ver com o florescimento humano, com a realização, não com a degradação ou a perda. O deserto floresce quando compreendemos e aceitamos a sua simplicidade. O vazio enche-se com infinitos graus de plenitude quando desligámos completamente a ficha. A pobreza torna-se em “grande pobreza”, que é como Cassiano descreve o efeito do mantra. A nudez da alma, quando nos despimos das auto-imagens e da vaidade, ultrapassa a vergonha, a duplicidade e o medo de ser conhecido. O estilo de pensamento místico de Eckhart é robusto e positivo, especialmente quando fala sobre coisas que à primeira vista nos fazem querer sair do caminho ou, pelo menos desacelerar.
Penso que as pessoas que lutam para meditar todos os dia, embora gostassem de o fazer, têm maiores probabilidades de melhorar a sua prática se compreenderem o significado da meditação desta maneira. É simplesmente compreender qual é o significado da vida, com as suas alegrias e dores, perdas e descobertas, amores e solidão. A vida é um assunto sério e, quando o percebemos, podemos ficar alegres com isso, na sua plenitude.
Eckhart dizia que a viagem consiste em ser “des-formado, in-formado e trans-formado”. John Main compreendia isto como a natureza absoluta da meditação, ao mesmo tempo que reconhecia que necessitava de ser alcançada por estágios. O que para ele importa é, realmente, começar a viagem e “estar a caminho”, em vez de pensar que devíamos estar a fazer melhor e ficar demasiado auto-desencorajados para começar de novo. Para ele, o mantra combina estes três estágios da viagem num só: um simples acto de pura e pobre fé repetido e que sempre nos conduz mais fundo.
Encontramos o encorajamento para praticar este pleno desapego interior em passagens da Escritura como esta:
“Conto tudo como perda por causa do valor insuperável de conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por Sua causa, sofri a perda de todas as coisas e considero-as lixo, para que eu possa ganhar Cristo e ser encontrado n’Ele… de modo a que eu possa conhecer a Ele e ao poder da Sua ressurreição.” (Fil 3:8-10)
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
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