
Quaresma 2021 - Sábado da Quarta Semana
(Evangelho Jo 7:40-52. As pessoas não conseguiam pôr-se de acordo a Seu respeito)
Uma meditante queria iniciar os seus netos na meditação. A filha dela, que era uma forte ateia, concordou, com a condição de que ela deixasse de fora a religião. A senhora respeitou os desejos da filha mas quando teve de escolher qual o mantra que ia dar às crianças não se conseguia decidir, por isso, pediu-lhes que escolhessem eles próprios. O rapazinho escolheu “empada de pastor” porque era a sua comida preferida. Depois de pensar um pouco, a sua irmã escolheu “dicionário” porque ele “continha todas as palavras”.
As pessoas podem levar longo tempo até estabilizarem num mantra e, às vezes, nunca o fazem. Procuram incessantemente uma palavra com mais significado, mais “poderosa”, sem compreenderem que a meditação não é o que pensamos. A tradição diz que tornamos o mantra unicamente nosso ao dizê-lo fielmente, de modo que ele acaba por conter todos os significados e sentimentos concebíveis.
Quando se pergunta às pessoas “qual é a língua sagrada do Cristianismo?”, elas ficam intrigadas. Conhecemos a língua sagrada dos Hindus, dos Judeus e dos Muçulmanos. Mas a língua sagrada do Cristianismo? O Grego? O Aramaico? O Latim? É, deve ser, o corpo humano porque Deus transladou-se a Si mesmo para o interior do corpo do filho de Maria. Era um corpo tal e qual o nosso, que cresceu desde a infância até à maturidade, se sentiu cansado, com fome, conheceu o prazer e a dor, chorou e morreu. Na obra apócrifa Actos de João, Jesus é descrito a dançar num círculo com os Seus discípulos depois da Última Ceia. Ele chama-os para que se juntem a Ele porque “se não dançardes, não conhecereis aquilo que Nós conhecemos”.
Como tantas outras pessoas eu sou um dançarino relutante. Dizemos: “não sou bom a dançar” ou “prefiro assistir”. A nossa autoconsciência ou medo de parecer tonto bloqueia a experiência do corpo como a língua do Deus incarnado. Não conseguimos ver que pertencemos, não aos que observam a partir das margens, mas que somos convocados a juntarmo-nos à dança da vida da melhor forma que conseguirmos, a nossa forma única. Tragicamente, grande parte do Cristianismo ao longo dos séculos encorajou exatamente o contrário, uma auto-alienação face ao nosso próprio corpo que nos impediu de entrar no Corpo de Cristo. “Tocámos flauta para vós, mas não dançastes.” (Mt 11:17) Culpa, embaraço ou vergonha impedem-nos de ver o quanto pertencemos à dança da vida, que contém todos os concebíveis tipos de dança – incluindo aquele que parece mais perturbar a Igreja, as rotinas de dança da sexualidade que existem em grande variedade. Onde é que Jesus mostra estar de algum modo perturbado por esta parte da dança?
O nosso corpo é uma enciclopédia contendo todo o tipo de conhecimento. Os seres humanos são um microcosmos do Universo. O corpo humano estende-se tão amplamente como o cosmos. E assim, não conseguimos saber tudo sobre os seus mistérios, tal como não conseguimos conhecer todas as maravilhas e mistérios do cosmos. Mas, se uma palavra é suficiente para combinar todos os pensamentos e anseios dos nossos corações, então um corpo é suficiente para estar consciente da nossa unidade com a Criação e a sua fonte e a Palavra que a chamou à existência. A meditação junta estas duas escalas – o imenso e o minúsculo. Ela não pode ser analisada. Não pode ser observada enquanto está a acontecer. Conhecemo-la na dança divina para dentro da qual o Cristo ressuscitado nos convoca tal como uma vez Jesus convidou os Seus amigos a juntarem-se a Ele.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
(Evangelho Jo 7:40-52. As pessoas não conseguiam pôr-se de acordo a Seu respeito)
Uma meditante queria iniciar os seus netos na meditação. A filha dela, que era uma forte ateia, concordou, com a condição de que ela deixasse de fora a religião. A senhora respeitou os desejos da filha mas quando teve de escolher qual o mantra que ia dar às crianças não se conseguia decidir, por isso, pediu-lhes que escolhessem eles próprios. O rapazinho escolheu “empada de pastor” porque era a sua comida preferida. Depois de pensar um pouco, a sua irmã escolheu “dicionário” porque ele “continha todas as palavras”.
As pessoas podem levar longo tempo até estabilizarem num mantra e, às vezes, nunca o fazem. Procuram incessantemente uma palavra com mais significado, mais “poderosa”, sem compreenderem que a meditação não é o que pensamos. A tradição diz que tornamos o mantra unicamente nosso ao dizê-lo fielmente, de modo que ele acaba por conter todos os significados e sentimentos concebíveis.
Quando se pergunta às pessoas “qual é a língua sagrada do Cristianismo?”, elas ficam intrigadas. Conhecemos a língua sagrada dos Hindus, dos Judeus e dos Muçulmanos. Mas a língua sagrada do Cristianismo? O Grego? O Aramaico? O Latim? É, deve ser, o corpo humano porque Deus transladou-se a Si mesmo para o interior do corpo do filho de Maria. Era um corpo tal e qual o nosso, que cresceu desde a infância até à maturidade, se sentiu cansado, com fome, conheceu o prazer e a dor, chorou e morreu. Na obra apócrifa Actos de João, Jesus é descrito a dançar num círculo com os Seus discípulos depois da Última Ceia. Ele chama-os para que se juntem a Ele porque “se não dançardes, não conhecereis aquilo que Nós conhecemos”.
Como tantas outras pessoas eu sou um dançarino relutante. Dizemos: “não sou bom a dançar” ou “prefiro assistir”. A nossa autoconsciência ou medo de parecer tonto bloqueia a experiência do corpo como a língua do Deus incarnado. Não conseguimos ver que pertencemos, não aos que observam a partir das margens, mas que somos convocados a juntarmo-nos à dança da vida da melhor forma que conseguirmos, a nossa forma única. Tragicamente, grande parte do Cristianismo ao longo dos séculos encorajou exatamente o contrário, uma auto-alienação face ao nosso próprio corpo que nos impediu de entrar no Corpo de Cristo. “Tocámos flauta para vós, mas não dançastes.” (Mt 11:17) Culpa, embaraço ou vergonha impedem-nos de ver o quanto pertencemos à dança da vida, que contém todos os concebíveis tipos de dança – incluindo aquele que parece mais perturbar a Igreja, as rotinas de dança da sexualidade que existem em grande variedade. Onde é que Jesus mostra estar de algum modo perturbado por esta parte da dança?
O nosso corpo é uma enciclopédia contendo todo o tipo de conhecimento. Os seres humanos são um microcosmos do Universo. O corpo humano estende-se tão amplamente como o cosmos. E assim, não conseguimos saber tudo sobre os seus mistérios, tal como não conseguimos conhecer todas as maravilhas e mistérios do cosmos. Mas, se uma palavra é suficiente para combinar todos os pensamentos e anseios dos nossos corações, então um corpo é suficiente para estar consciente da nossa unidade com a Criação e a sua fonte e a Palavra que a chamou à existência. A meditação junta estas duas escalas – o imenso e o minúsculo. Ela não pode ser analisada. Não pode ser observada enquanto está a acontecer. Conhecemo-la na dança divina para dentro da qual o Cristo ressuscitado nos convoca tal como uma vez Jesus convidou os Seus amigos a juntarem-se a Ele.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
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