
Quaresma 2021 – Sábado da Terceira Semana
(Evangelho de Lc 18:9-14. Todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.)
Estamos agora na estirada final, no meio da Quaresma. Na Quarta-feira de Cinzas, ao iniciarmos a nossa caminhada de quarenta dias através do deserto, relembrámos a nossa mortalidade. Não para nos instilar medo, mas para ficarmos livres do medo tantas vezes reprimido, da passagem do tempo e da nossa saída final deste reino da existência para o inimaginável. Lembrarmo-nos de que somos pó é um tónico bem conhecido em todas as tradições de sabedoria. Prepara-nos para a morte, reduz a nossa ansiedade acerca dela e permite-nos saborear as maravilhas da vida mais intensamente por vermos como o inimaginável já permeia o presente.
O final da terceira semana da Quaresma é então, um bom ponto para olharmos para trás e vermos as pegadas que deixámos atrás de nós. Onde estamos agora comparando com antes? Podemos fazer um juízo sobre nós mesmos, sobre como mantivemos as nossas resoluções. Mais importante do que isso, nós deveríamos refletir sobre o que é que aprendemos. Nós muitas vezes nos contorcemos quando colocados nessa perspetiva particular: “Será que eu aprendi alguma coisa? O que é que você quer que eu diga?” No entanto não podemos passar através do tempo sem aprendermos alguma coisa, mesmo que seja entender por que pensamos que não aprendemos nada
Ideias e experiências são também mortais. E por isso, se limitarmos o que já aprendemos ao que já lemos ou ouvimos ou a eventos, ficamos desanimados. Ideias, filmes, encontros, altos e baixos emocionais, é claro que nos ensinam; mas o seu impacto desvanece. Não é espantoso o quanto temos que lutar para nos lembrarmos de algo que antes nos arrebatou? Todas as experiências no riu do tempo são levadas para o mar. Aprendemos alguma coisa, então?
Sentir que nada estamos a aprender é deprimente. Julgar mal o que já aprendemos é um desnecessário erro que nos retarda. Aprender, a um nível mais profundo, não é estarmos a par do fluxo de informação. A educação hoje em dia é largamente restrita a informação e qualificações com um valor económico a elas vinculado. Em alguns países neste momento, as crianças que voltam para a escola depois do confinamento são consideradas como apenas tendo “ficado para trás” na corrida pelos exames e qualificações. Aquilo que elas poderão ter aprendido com a sua experiência dolorosa da Covid é mais urgente. Estão a ser propostas férias mais curtas e tempo de escola mais longo para as ajudar a recuperar o atraso. Terão aprendido como viver melhor, com mais sabedoria e resiliência? Estará sendo perdida oportunidade para se colocar a questão fundamental, ou seja, o que é significa realmente a educação? Uma dos maiores artistas do séc. XX, a escultora Barbara Hepworth, recebeu uma avaliação de uma escola de arte que lhe transmitiu que ela tinha falta de talento e “não teria nenhum futuro em escultura”.
Seja o que for que aprendamos, mesmo aquilo de que nos esquecemos rapidamente, é útil. Mas é secundário em comparação com a vida enquanto uma escola que nos torna plenamente humanos. A verdadeira aprendizagem consiste mais naquilo a que se pode chamar de intuição – a fonte de toda a criatividade, génio e coragem. O que aprendemos no coração é que, estaremos sempre em busca da melhor forma de compreender e exprimir as mais importantes verdades que descobrimos. Quanto mais as conhecemos tanto mais precisamos do dom contemplativo do não-saber.
Como um caminho do coração, a meditação ensina-nos como aprender e como viver.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
original: AQUI
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
(Evangelho de Lc 18:9-14. Todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.)
Estamos agora na estirada final, no meio da Quaresma. Na Quarta-feira de Cinzas, ao iniciarmos a nossa caminhada de quarenta dias através do deserto, relembrámos a nossa mortalidade. Não para nos instilar medo, mas para ficarmos livres do medo tantas vezes reprimido, da passagem do tempo e da nossa saída final deste reino da existência para o inimaginável. Lembrarmo-nos de que somos pó é um tónico bem conhecido em todas as tradições de sabedoria. Prepara-nos para a morte, reduz a nossa ansiedade acerca dela e permite-nos saborear as maravilhas da vida mais intensamente por vermos como o inimaginável já permeia o presente.
O final da terceira semana da Quaresma é então, um bom ponto para olharmos para trás e vermos as pegadas que deixámos atrás de nós. Onde estamos agora comparando com antes? Podemos fazer um juízo sobre nós mesmos, sobre como mantivemos as nossas resoluções. Mais importante do que isso, nós deveríamos refletir sobre o que é que aprendemos. Nós muitas vezes nos contorcemos quando colocados nessa perspetiva particular: “Será que eu aprendi alguma coisa? O que é que você quer que eu diga?” No entanto não podemos passar através do tempo sem aprendermos alguma coisa, mesmo que seja entender por que pensamos que não aprendemos nada
Ideias e experiências são também mortais. E por isso, se limitarmos o que já aprendemos ao que já lemos ou ouvimos ou a eventos, ficamos desanimados. Ideias, filmes, encontros, altos e baixos emocionais, é claro que nos ensinam; mas o seu impacto desvanece. Não é espantoso o quanto temos que lutar para nos lembrarmos de algo que antes nos arrebatou? Todas as experiências no riu do tempo são levadas para o mar. Aprendemos alguma coisa, então?
Sentir que nada estamos a aprender é deprimente. Julgar mal o que já aprendemos é um desnecessário erro que nos retarda. Aprender, a um nível mais profundo, não é estarmos a par do fluxo de informação. A educação hoje em dia é largamente restrita a informação e qualificações com um valor económico a elas vinculado. Em alguns países neste momento, as crianças que voltam para a escola depois do confinamento são consideradas como apenas tendo “ficado para trás” na corrida pelos exames e qualificações. Aquilo que elas poderão ter aprendido com a sua experiência dolorosa da Covid é mais urgente. Estão a ser propostas férias mais curtas e tempo de escola mais longo para as ajudar a recuperar o atraso. Terão aprendido como viver melhor, com mais sabedoria e resiliência? Estará sendo perdida oportunidade para se colocar a questão fundamental, ou seja, o que é significa realmente a educação? Uma dos maiores artistas do séc. XX, a escultora Barbara Hepworth, recebeu uma avaliação de uma escola de arte que lhe transmitiu que ela tinha falta de talento e “não teria nenhum futuro em escultura”.
Seja o que for que aprendamos, mesmo aquilo de que nos esquecemos rapidamente, é útil. Mas é secundário em comparação com a vida enquanto uma escola que nos torna plenamente humanos. A verdadeira aprendizagem consiste mais naquilo a que se pode chamar de intuição – a fonte de toda a criatividade, génio e coragem. O que aprendemos no coração é que, estaremos sempre em busca da melhor forma de compreender e exprimir as mais importantes verdades que descobrimos. Quanto mais as conhecemos tanto mais precisamos do dom contemplativo do não-saber.
Como um caminho do coração, a meditação ensina-nos como aprender e como viver.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
original: AQUI
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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