
Quaresma 2021 – Terça-feira da Terceira Semana
(Evangelho Mt 18:21-35 “Não devias tu ter tido piedade, tal como eu tive piedade de ti?)
De vez em quando as pessoas descrevem um sonho em que abençoadamente encontram aquilo que procuravam no mais profundo e pleno nível. Dizem que é como se estivessem a trabalhar num problema complexo e de repente ele fosse resolvido – com simplicidade, elegância e total beleza. Os cientistas usam frequentemente estes termos para descrever as suas maiores descobertas. Quando os sonhadores acordam, ainda estão iluminados por esta experiência de verdade pura. Mas quando tentam lembrar-se de qual foi a solução que lhes proporcionou um tal momento de plenitude e alegria, o brilho rapidamente desvanece; e em breve, ao retornarem à consciência normal, estão muito longe dessa descoberta. De facto, até se esqueceram do que é que andavam à procura. Tudo o que resta é um brilho remanescente feito de procurar e encontrar – mas o para quê ou como perdeu-se agora – como acontece a tanta coisa na nossa vida de sonho. Não admira que as pessoas se interroguem sobre o que irão relembrar desta vida na vida que está para vir. Talvez esta seja a verdadeira questão acerca da nossa “sobrevivência” – não haverá memória porque tudo será agora.
Há coisas que não podemos ter esperança explicar a este nível mundano de consciência. Quanto mais tentamos mais retrocede a sua realidade. Se você continuar a tentar resolver o “problema de Deus”, por exemplo, você ficará agarrado a muitas ideias e contra-argumentos. Você pode tornar-se um especialista mundial na teoria, mas irá sentir que o gosto de Deus desapareceu e se tornou seco e rançoso.
O carácter esquivo da verdade, é um eterno desafio para o nosso hemisfério esquerdo. Até o Caminho e a Verdade é um desafio. Podemos sentir que estamos a “seguir Jesus” com um mais forte sentimento de união que cresce de ano para ano. Uma vez por outra, se pensamos em deixar o relacionamento, repetimos para nós próprios as palavras de S. Pedro: “Senhor, para quem iremos?” No entanto, apesar disso e de todas as teologias expostas ao longo de milénios sobre Jesus e o Seu significado para a Humanidade, nem uma só explicação foi achada. As perguntas “quem é Ele?” ou “o que é que Ele fez?” conduzem-nos a um horizonte que se vai afastando. Isto é um pouco embaraçoso quando você precisa de explicar a sua fé a alguém que não O segue. Por outro lado, poderá ser a melhor prova de que o discipulado não é ilusório. Ainda mais estranho é que, quanto mais você aceitar esse estado de irredutível não-saber, mais paz sentirá em relação a isso.
Outra ilustração desta situação peculiar está na experiência da meditação quando perdemos a nossa autoconsciência até ao ponto de entrarmos na plenitude da consciência. “O monge que sabe que está a rezar, não está realmente a rezar”, dizem as Madres e os Padres do Deserto. Esta é uma declaração sobre a natureza da experiência mais elevada de que somos capazes nesta vida. Pode parecer absurdo – como acontece com os paradoxos – e inexplicável. Contudo, também comporta uma autoridade na qual estamos inclinados a confiar. Talvez o simples facto de ser tão impossível de explicar mostre que podemos acreditar que é verdade.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
original: AQUI
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
(Evangelho Mt 18:21-35 “Não devias tu ter tido piedade, tal como eu tive piedade de ti?)
De vez em quando as pessoas descrevem um sonho em que abençoadamente encontram aquilo que procuravam no mais profundo e pleno nível. Dizem que é como se estivessem a trabalhar num problema complexo e de repente ele fosse resolvido – com simplicidade, elegância e total beleza. Os cientistas usam frequentemente estes termos para descrever as suas maiores descobertas. Quando os sonhadores acordam, ainda estão iluminados por esta experiência de verdade pura. Mas quando tentam lembrar-se de qual foi a solução que lhes proporcionou um tal momento de plenitude e alegria, o brilho rapidamente desvanece; e em breve, ao retornarem à consciência normal, estão muito longe dessa descoberta. De facto, até se esqueceram do que é que andavam à procura. Tudo o que resta é um brilho remanescente feito de procurar e encontrar – mas o para quê ou como perdeu-se agora – como acontece a tanta coisa na nossa vida de sonho. Não admira que as pessoas se interroguem sobre o que irão relembrar desta vida na vida que está para vir. Talvez esta seja a verdadeira questão acerca da nossa “sobrevivência” – não haverá memória porque tudo será agora.
Há coisas que não podemos ter esperança explicar a este nível mundano de consciência. Quanto mais tentamos mais retrocede a sua realidade. Se você continuar a tentar resolver o “problema de Deus”, por exemplo, você ficará agarrado a muitas ideias e contra-argumentos. Você pode tornar-se um especialista mundial na teoria, mas irá sentir que o gosto de Deus desapareceu e se tornou seco e rançoso.
O carácter esquivo da verdade, é um eterno desafio para o nosso hemisfério esquerdo. Até o Caminho e a Verdade é um desafio. Podemos sentir que estamos a “seguir Jesus” com um mais forte sentimento de união que cresce de ano para ano. Uma vez por outra, se pensamos em deixar o relacionamento, repetimos para nós próprios as palavras de S. Pedro: “Senhor, para quem iremos?” No entanto, apesar disso e de todas as teologias expostas ao longo de milénios sobre Jesus e o Seu significado para a Humanidade, nem uma só explicação foi achada. As perguntas “quem é Ele?” ou “o que é que Ele fez?” conduzem-nos a um horizonte que se vai afastando. Isto é um pouco embaraçoso quando você precisa de explicar a sua fé a alguém que não O segue. Por outro lado, poderá ser a melhor prova de que o discipulado não é ilusório. Ainda mais estranho é que, quanto mais você aceitar esse estado de irredutível não-saber, mais paz sentirá em relação a isso.
Outra ilustração desta situação peculiar está na experiência da meditação quando perdemos a nossa autoconsciência até ao ponto de entrarmos na plenitude da consciência. “O monge que sabe que está a rezar, não está realmente a rezar”, dizem as Madres e os Padres do Deserto. Esta é uma declaração sobre a natureza da experiência mais elevada de que somos capazes nesta vida. Pode parecer absurdo – como acontece com os paradoxos – e inexplicável. Contudo, também comporta uma autoridade na qual estamos inclinados a confiar. Talvez o simples facto de ser tão impossível de explicar mostre que podemos acreditar que é verdade.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
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