
Quaresma 2021 – Terceiro Domingo
(Evangelho Jo 2: 13-25. Ele falava do santuário que era o Seu corpo)
João põe a limpeza do Templo no início da breve carreira de Jesus enquanto os outros evangelhos a colocam no fim e sugerem que ela poderá ter sido uma razão imediata para o Seu fim prematuro e trágico. João deixa-nos sem qualquer dúvida de que Jesus confrontou a corrupção institucional, desde o início, tão abertamente como denunciou a pecaminosidade dos indivíduos. Ele não era um “espiritualizador”; e, ao contrário da maior parte das pessoas religiosas, Ele não funcionava com duplicidade de princípios.
Em “Jesus de Montreal”, o grande filme contemporâneo alegórico do Evangelho, feito no Quebeque, esta cena é evocada com Jesus, o líder dum grupo de teatro amador, friamente, partindo as câmaras e a instalação dum anúncio de TV que carregava de sexualidade a cerveja e degradava a actriz (Maria Madalena). É surpreendente por mostrar uma intensa raiva a ser expressa com uma certa violência, mas controlada por uma mais profunda e pacífica paixão pela justiça. Na versão de João, Ele faz um chicote e expulsa os comerciantes desonestos e os seus haveres do recinto sagrado.
Num dos incontáveis níveis em que podemos compreender Jesus, Ele foi um reformador religioso, um purificador da corrupção e da duplicidade. Motivado pela raiva contra a injustiça mais forte do que o medo de confrontar o poder sobre o qual as instituições sociais assentam, Ele pagou o preço que muitos têm sofrido, antes e depois. Por muito que tente usar cosméticos para parecer melhor, o poder corrompido mostra tanto mais o seu lado implacável e vingativo quanto mais se sente denunciado pelos profetas da época, os jornalistas ou as vítimas. Pode começar destruindo a reputação daqueles que dizem a verdade ao poder mas, se não for controlado, ele não hesita em pôr fim às suas vidas também.
Um dos efeitos da pandemia tem sido o de denunciar a corrupção e as mentiras através das quais ela lança cortinas de fumo sobre si mesma, juntamente com as injustiças institucionalizadas nos sistemas económicos nacionais e globais. O que esta cena-pivô da vida de Jesus mostra sobre Ele é a ligação que via entre o pecado individual e o pecado social. É por isso que ela é tão perturbadora e perigosa. O Cristianismo Institucional defendeu-se a si mesmo contra ela, interpretando a Igreja como uma sociedade perfeita e incorruptível. Os seus líderes foram treinados para esconder qualquer evidência do contrário. Até aos tempos modernos, os “pérfidos Judeus” (como continuaram a ser chamados no Missal Romano até tal ter terminado com João XXIII, em 1962) eram bodes expiatórios facilmente usados para manter a fachada de impecabilidade do Cristianismo.
Sabemos como nos autojustificarmos e evitar assumir a culpa dos nossos erros. É um reflexo ao que quer que ameace o nosso lugar no sistema de poder dos nossos mundos privados. Tempos no deserto – como a quotidiana Quaresma da nossa meditação – são necessários para nos ensinar como enfrentar a verdade sobre nós mesmos. O mantra serve, de forma mais suave, mas igualmente efetiva, o mesmo propósito do chicote. Sabemos que está a funcionar quando conseguimos agradecer ao Espírito por expulsar estes falsos vendilhões do templo de Deus que é cada um de nós.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
original: AQUI
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
(Evangelho Jo 2: 13-25. Ele falava do santuário que era o Seu corpo)
João põe a limpeza do Templo no início da breve carreira de Jesus enquanto os outros evangelhos a colocam no fim e sugerem que ela poderá ter sido uma razão imediata para o Seu fim prematuro e trágico. João deixa-nos sem qualquer dúvida de que Jesus confrontou a corrupção institucional, desde o início, tão abertamente como denunciou a pecaminosidade dos indivíduos. Ele não era um “espiritualizador”; e, ao contrário da maior parte das pessoas religiosas, Ele não funcionava com duplicidade de princípios.
Em “Jesus de Montreal”, o grande filme contemporâneo alegórico do Evangelho, feito no Quebeque, esta cena é evocada com Jesus, o líder dum grupo de teatro amador, friamente, partindo as câmaras e a instalação dum anúncio de TV que carregava de sexualidade a cerveja e degradava a actriz (Maria Madalena). É surpreendente por mostrar uma intensa raiva a ser expressa com uma certa violência, mas controlada por uma mais profunda e pacífica paixão pela justiça. Na versão de João, Ele faz um chicote e expulsa os comerciantes desonestos e os seus haveres do recinto sagrado.
Num dos incontáveis níveis em que podemos compreender Jesus, Ele foi um reformador religioso, um purificador da corrupção e da duplicidade. Motivado pela raiva contra a injustiça mais forte do que o medo de confrontar o poder sobre o qual as instituições sociais assentam, Ele pagou o preço que muitos têm sofrido, antes e depois. Por muito que tente usar cosméticos para parecer melhor, o poder corrompido mostra tanto mais o seu lado implacável e vingativo quanto mais se sente denunciado pelos profetas da época, os jornalistas ou as vítimas. Pode começar destruindo a reputação daqueles que dizem a verdade ao poder mas, se não for controlado, ele não hesita em pôr fim às suas vidas também.
Um dos efeitos da pandemia tem sido o de denunciar a corrupção e as mentiras através das quais ela lança cortinas de fumo sobre si mesma, juntamente com as injustiças institucionalizadas nos sistemas económicos nacionais e globais. O que esta cena-pivô da vida de Jesus mostra sobre Ele é a ligação que via entre o pecado individual e o pecado social. É por isso que ela é tão perturbadora e perigosa. O Cristianismo Institucional defendeu-se a si mesmo contra ela, interpretando a Igreja como uma sociedade perfeita e incorruptível. Os seus líderes foram treinados para esconder qualquer evidência do contrário. Até aos tempos modernos, os “pérfidos Judeus” (como continuaram a ser chamados no Missal Romano até tal ter terminado com João XXIII, em 1962) eram bodes expiatórios facilmente usados para manter a fachada de impecabilidade do Cristianismo.
Sabemos como nos autojustificarmos e evitar assumir a culpa dos nossos erros. É um reflexo ao que quer que ameace o nosso lugar no sistema de poder dos nossos mundos privados. Tempos no deserto – como a quotidiana Quaresma da nossa meditação – são necessários para nos ensinar como enfrentar a verdade sobre nós mesmos. O mantra serve, de forma mais suave, mas igualmente efetiva, o mesmo propósito do chicote. Sabemos que está a funcionar quando conseguimos agradecer ao Espírito por expulsar estes falsos vendilhões do templo de Deus que é cada um de nós.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
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