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Reflexões para a Quaresma 2022


​LAURENCE FREEMAN OSB 

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Segunda-feira da Terceira Semana

21/3/2022

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Segunda-feira da Terceira Semana
 
Muitos ucranianos que falam russo e têm uma base de dados de números de telefone na Rússia estão a fazer chamadas aleatoriamente para falar com quem quer que atenda sobre o cada vez mais aterrador pesadelo que faz parte da nossa Quaresma deste ano. 

A maioria desliga, assim que ouve um sotaque estrangeiro. Outros envolvem-se cautelosamente com os que chamam, os quais tentam ainda mais cautelosamente começar uma conversa. Muitas vezes ouvem as frases político-partidárias com que o Kremlin ocupou os órgãos de comunicação social: isto começou com os ucranianos, eles estão a bombardear as nossas cidades, o Presidente Putin está a proteger-nos, a Rússia apenas usa a força defensivamente, nós apoiamos a operação.

Os interlocutores ucranianos sabem que não vale a pena dizer “vocês estão enganados, fizeram-vos uma lavagem ao cérebro”. Em vez disso, eles aprendem a escutar. E a fazer perguntas. Na maioria dos casos, a tentativa de conversação não dura muito. Nenhuma conversa pode fluir a não ser que ambos os lados se arrisquem a escutar. Escutar significa estar preparado para ver a questão a partir do ponto de vista do outro. Fazer isto é perigoso num estado autoritário que pune a dissidência. Mas também coloca em perigo o sentimento da própria identidade: deixar o ‘eu’ (self) para trás, abrir mão daquilo que você pensa que é. Os meditantes arriscam isso todos os dias.

Tentar mudar a mentalidade alheia sem sofrer pacientemente a rejeição da sua oferta para escutar é outra espécie de lavagem ao cérebro. Os prisioneiros da última guerra fria eram muitas vezes submetidos a lavagens cerebrais ideológicas antes de serem libertados. Depois tinham que ser recuperados. É como uma perigosa cirurgia cerebral. Invadir e ocupar as mentes dos outros é como a violenta invasão e colonização de um estado soberano. A Rússia está a tentar isto mesmo na Ucrânia e a China conseguiu-o no Tibete.

Ocupar um território é inseparável de procurar ocupar o seu espaço mental. Ambos profanam o ser humano e atacam a civilização. Se forem bem sucedidos, será através de um regime de medo. A resistência mais poderosa a uma ocupação alienígena consiste em continuar a fazer perguntas. Não podemos mudar o esquema mental das pessoas. Mas podemos abrir os seus corações ao abrirmos os nossos a elas: através de perguntas que mostram um caminho não-violento para a verdade.
​
Também precisamos de nos fazer perguntas a nós próprios. Fui eu enganado? O nosso modo de vida de consumismo ocidental é construído numa forma de engano chamada publicidade. Tem ocupado muitos domínios da vida particularmente visíveis naqueles políticos que se comercializam a si próprios e se recusam descaradamente a escutar as perguntas que lhes são dirigidas. Também tenho conhecido muitos cristãos de berço que precisam de ser des-programados de uma força ocupante de crenças na sua infância: um Deus castigador, a rejeição de outras fés, a criminalização da identidade sexual ou a manipulação através da culpa. Só depois de serem descondicionados de tudo isto é que podem revisitar a pura essência do que lhes foi ensinado e decidir por eles mesmos.
 
Tais comparações requerem perspetiva e senso comum. Mas se não nos colocarmos  perguntas radicais acerca da nossa assumida liberdade, como poderemos ajudar os outros? O prisioneiro torna-se o carcereiro até ser libertado. Escutar as perguntas que libertam a própria verdade que nos liberta não é apenas conversa e troca de ideias. Também se alcança – e talvez de forma mais poderosa deste modo, para aqueles que arriscam – através do hábito de se banhar no silêncio interior.
 
Abandonar todas as palavras e pensamentos lava a mente num diferente e melhor sentido.




Laurence



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Terceiro Domingo da Quaresma

20/3/2022

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Terceiro Domingo da Quaresma
 
 
Pode ser que dê fruto para o ano. Se não der, podes cortá-la. (Lucas 13:1-9)
 
Recentemente, estava a ouvir uma inspiradora senhora a falar sobre o poder e o género. Relembrou-nos que, quando um homem é forte a lidar com o poder, ele é designado como decidido ou as pessoas dizem que “ele sabe o que é preciso e trata disso”. Uma mulher que faça o mesmo será, muitas vezes, acusada de ser mandona. Por trás da desigualdade e da sub-representação das mulheres na maior parte da sociedade (excepto como parteiras e na educação primária), existe um preconceito, uma caricatura do poder masculino e feminino. Por trás da caricatura está a assunção de que o poder é a força usada sobre os outros: agir responsavelmente e liderar com eficácia requer uma força externa para fazer com que as pessoas façam alguma coisa.
 
A oradora tinha detido com sucesso muitos lugares de poder durante a sua carreira, tinha lidado com o preconceito e o bullying e tinha sido muitas vezes, a única mulher na sala dos decisores. A meditação também a tinha ajudado a ter consciência de outro tipo de poder usado não sobre, mas com os outros, uma energia que vem dum espaço interior pessoal, em vez de vir das forças políticas que controlam os relacionamentos externos. Este poder mais interior, na sua experiência, liga-nos com uma outra, e mais alta fonte de poder, para além da individual. Enquanto ela descrevia isto, lembrei-me de Jesus a dizer a Pilatos: “não terias nenhum poder sobre Mim se não te fosse dado do Alto”.
 
Ver o poder como força é um entendimento não criativo do poder porque nos bloqueia numa visão egotista da realidade. Faltando-lhe a criatividade da ligação mais alta, ele torna-se destrutivo. Usa um modelo característico do lado esquerdo do cérebro sobre como o poder deve ser acumulado e armazenado. Ignora a natureza fluida do tempo e tenta segurá-lo e possuí-lo, levando ao auto-engano. A realidade está em contínuo fluir. O verdadeiro poder também flui a partir duma fonte além do individual, que combina os aspetos masculino e feminino do poder: força e gentileza, decisão e paciência.
 
A natureza fluida do poder une a impermanência da realidade com a liberdade de saber que “aqui não temos morada permanente”. O que fomos acumulando poderá evaporar-se num instante. Podemos ser descarrilados a qualquer instante por acidente, doença ou morte. O tempo voa mas cada segundo da existência contém a verdade do início do Universo.
 
A meditação é o melhor professor quanto à natureza do poder e como o usar. No deserto, Jesus foi tentado a usar o seu já profundo conhecimento e relacionamento com a realidade para os seus próprios propósitos. Ele sabia como as pessoas poderosas podem ser mal interpretadas por aqueles que sentem a sua influência e que o poder percebido enquanto força conduz ao abuso. Os líderes autocráticos caem nesta armadilha de ligar as multidões e o poder.
 
O poder de abater uma figueira improdutiva é de um tipo. A sabedoria de lhe dar mais tempo e de usar o fracasso como um adubo para nutrir é o outro tipo. Pode parecer uma abdicação, mas é a única maneira saudável de o usar.




​Laurence



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Sábado da Segundo Semana

19/3/2022

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Sábado da Segundo Semana
 
 
Uma verdade óbvia que se aplica igualmente aos padrões de comportamento pessoais e políticos: a não ser que aprendamos com os erros do passado, condenamo-nos a repeti-los.
 
A Quaresma é uma época de graça que dá uma oportunidade reforçada para descobrir o que isto significa. A graça é a influência de Deus sentida no âmbito da autonomia e liberdade que é essencial para o nosso ser. Nós existimos: nos nossos problemas quotidianos, alegrias, tristezas, envelhecimento, erros e boa sorte, humores, impermanência e fidelidade. Mas não existiríamos se não tivéssemos, primeiro, o Ser. A nossa existência depende do dom de Ser, que é a autodoação de Deus que é a fonte do ser. A graça é a influência do Ser sentida e trabalhando através da nossa existência. Quando fazemos uma confusão da nossa existência, por fracassos individuais ou por criminalidade geopolítica, como na Ucrânia, a graça trabalha para restaurar uma harmonia entre existência e ser. Marta e Maria. O que é estranho é que, por causa da natureza divina de todo o ser a liberdade humana é respeitada, até mesmo sob a influência da graça. Somos auxiliados, mas nunca compelidos.
 
Outra coisa estranha é o como a escala social-global da existência humana faz um paralelo com as nossas lutas pessoais e dúvidas sobre nós mesmos. O que está a acontecer em nós quando batalhamos contra uma adição e repetimos destrutivos padrões de comportamento, lança luz sobre o que acontece quando tentamos destruir a liberdade de um país soberano com violência brutal e sem sentido.
 
No cerne do ensinamento de Jesus e de outras almas universais iluminadas está a sabedoria de clareza-cristalina de que a violência é uma profanação da nossa humanidade comum e um crime contra a natureza sagrada da Criação. Ela des-ordena o cosmos. As consequências da violência apontam para esta verdade que atravessa a História e as culturas. Há circunstâncias em que a violência é tragicamente necessária, como uma resposta, para a pessoa se defender a si mesma ou a um inocente. Mas até este tipo de legítima violência nos envergonha em certo grau. Ela tem de ser controlada, de ter alvos conscientemente definidos e de ser terminada tão cedo quanto possível. De certa forma, ela também precisa de perdão.
 
Resolver esta questão moral, requer uma consciência clara e profunda. Manter um estado mental consciente, mesmo quando estamos justificadamente a autodefender-nos, ajuda-nos ver a ligação entre o individual e o social, entre existência e Ser. Por exemplo, uma adição que provoca danos a nós mesmos, como o abuso de drogas ou do álcool, trabalhar excessivamente ou a trivialização de nós mesmos, produz o mesmo padrão de fracasso que quando um país mais forte invade outro e o deixa em ruínas. Os padrões de adição ao vodca ou à violência apontam para os mesmos fracassos e exigem a mesma experiência de aprendizagem com os nossos erros.
 
O pensamento, a reflexão e a conversação ajudam-nos a compreender. Mas a meditação desprende-nos da existência e do pensamento quotidianos e nos larga no coração do Ser. Aí, a verdade que precisamos de aprender nos espera e a graça nos auxilia a usar a nossa liberdade semelhante à de Deus para a aceitar.

 


Laurence



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Sexta-feira da Segundo Semana

18/3/2022

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Sexta-feira da Segundo Semana
 
 
A meditação corresponde bem à natureza da vida enquanto viagem na qual nunca fazemos totalmente pausas. Há muitos altos e baixos, períodos de intensa luta e tempos de descontração e gozo. Mas, porque somos passageiros no rio do tempo estamos sempre em movimento. Como em todas as viagens, precisamos de ser guiados, reassegurados por vezes, de companheirismo e alimento para a viagem. E significado: porque, sem significado, não somos peregrinos, mas antes vagabundos sem rumo.
 
O deserto, com os seus oásis e uma estranha fertilidade tem sido usado muitas vezes para descrever o aspeto interior da viagem da vida. Relembrando o maná no deserto do Êxodo, podemos pensar no mantra como o nosso maná, tal como muitos pensam na Eucaristia como “o pão nosso de cada dia”.
 
O mantra, tal como a substância leve e em flocos do maná, não soa a um festim substancial. Isso é correto num certo sentido, porque na dimensão interior da viagem humana, tal como no mundo relacional da física quântica, estamos sujeitos a leis diferentes. Aqui, um festim pode ser fome e a fome um festim. Aqui, a pobreza é a chave para a arca do tesouro do Reino. Aqui, abrir mão é o caminho seguro para atingir a nossa meta. Aqui, até mesmo a morte é a porta para vida mais plena. O fracasso transforma-se em florescimento, através das muitas nascentes ocultas de graça.
 
O meditante aprende a viver com o paradoxo numa base de momento-a-momento, seja o que for que estejamos a suportar ou a desfrutar.
 
Dizemos o mantra levemente, aprendendo a escutá-lo com plena atenção, em vez de o brandir como uma arma de controlo da mente manipulada pela nossa vontade. O mantra, na sua simplicidade e delicadeza é uma alavanca que move a montanha do ego. Qualquer meditante que tenha desenvolvido uma prática por muito imperfeita que lhe possa parecer, aprendeu a render-se à realidade de boa vontade, apesar de isso significar a renúncia a muitas ilusões acalentadas.
 
Perguntem a um meditante de longa data porque é que ele pratica e ele irá muitas vezes ter dificuldade em responder de imediato. Por onde começar? Por outro lado, cada meditante para quem a sua prática se tornou o fio condutor da viagem interior, que entretece com o trabalho da vida quotidiana, dirá: “É um dom!”
 
Este é o significado do maná, que caiu gratuitamente, diariamente do céu (duas doses no Shabat). O mesmo para todos, não podia ser acumulado. Só podia ser recebido por aqueles que o recebiam como um dom que provava a sua igualdade face a todos. Assim, ele abriu um funil de percepção bem fundo na natureza da realidade. Ele mostra que cada um de nós está destinado a um grau igual de felicidade, mas esta irá tomar diferentes formas para cada um. Ele é “capaz de todos os sabores e adaptado a todos os gostos”. E, todavia, não está à venda. Ele é, tal como o nosso próprio ser, puro dom.
 
Lei básica sobre Deus: Deus nunca retira um dom. Segunda lei básica: o dom de Deus inclui os meios para o aceitar.




Laurence



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Quinta-feira da Segundo Semana

17/3/2022

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Quinta-feira da Segundo Semana
 
 
Habitualmente, pensamos no primeiro objetivo da justiça como o processo de identificar e punir os culpados. Mas e se esse fosse o resultado do processo, enquanto o primeiro objetivo fosse descobrir o inocente? Não seria o mundo um lugar mais gentil e a sociedade mais bem orientada para as tarefas humanas essenciais de aprender as sagradas disciplinas do amor e da celebração da beleza em todas as suas formas?
 
Quer Putin decida destruir Kiev ou não, deveríamos estar a pensar agora em como iremos levá-lo a ele e aos seus capangas perante a justiça, assim que a sua orgia de morte e destruição se tenha virado sobre si mesma, como sempre acontece com a violência.
 
Na história do Livro do Êxodo, na reflexão de ontem, os hebreus resmungavam e rebelaram-se porque a sua viagem de libertação era desconfortável. Deus não puniu a sua ingratidão culposa (o oitavo pecado mortal), como se poderia esperar que Ele fizesse. Em vez disso, enviou-lhes o maná (e juntou-lhe. Igualmente, uma quota de carne de codorniz). O maná é também mencionado no Corão como um remédio para os olhos. Era uma substância leve e em flocos para ser consumida fresca diariamente porque se fosse armazenada, rapidamente ficava rançosa. Só no Sabath, quando havia dose dupla, é que podia ser guardado por um dia. Aparecia no chão durante a noite, como o orvalho, e tinha de ser colhido antes de derreter com o calor do sol. Sabia a bolachas com mel. A palavra maná parece derivar de “o que é?”, sugerindo o elemento de surpresa e maravilha que sentimos, sempre que somos alimentados e cuidados, especialmente quando esperávamos ser punidos. É o alimento do perdão. Transforma o estado de culpa e vergonha em inocência.
 
Na espiritualidade católica e cristã ortodoxa, o maná era associado à fina hóstia, com uma forma parecida com a de uma bolacha, usada na comunhão e consagrada como o Corpo de Cristo. O maná, tal como a Eucaristia, é um símbolo físico que transcende o reino das aparências e ultrapassa a compreensão comum. Eu fui educado com uma forte reverência pela Missa e uma devoção pelo Santíssimo Sacramento reservado no tabernáculo. Originalmente era reservado para levar aos doentes da comunidade que não podiam vir pessoalmente à Eucaristia. Mais tarde, tornou-se um objeto mais estático de devoção em si mesmo. Por vezes isso pode roçar a idolatria, como os cristãos protestantes muitas vezes notam. Mas se evitarmos este perigo – e mantivermos o maná fresco – ele concede um deleite físico e espiritual a que nenhuma companhia farmacêutica jamais se poderá aproximar. Como diz o Livro da Sabedoria sobre o maná:
 
Pelo contrário, deste ao Teu povo alimento dos anjos, e sem esforço deles, enviaste-lhe do céu um pão capaz de todos os sabores e que satisfazia todos os gostos. Este alimento manifestava a Tua doçura para com os Teus filhos, já que se acomodava ao gosto de quem o comia e se transformava segundo o desejo de cada um. (Sabedoria 16: 20-21)
 
Isto descreve uma experiência: um estado de alma e tão efémero. Mas pode também tornar-se uma progressiva força de cura na quieta profundeza da pessoa, para lá da experiência consciente.
 
Amanhã iremos refletir sobre como é que o meditante poderá entender isto.




Laurence



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Quarta-feira da Segundo Semana

16/3/2022

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Quarta-feira da Segundo Semana
 
 
A história do Êxodo - a fuga dos hebreus à escravatura no Egipto, os seus quarenta anos vagueando no deserto e a sua entrada final na “Terra Prometida” - é um dos grandes mitos da Humanidade. Embora não exista qualquer registo histórico dela, tem sido uma potente história contada ao longo de muitas gerações. Ela subjaz à fundação do Estado de Israel, após o Holocausto, e tem inspirado muitas interpretações místicas na Fé Cristã. A Quaresma é um tempo em que ela é recontada e reinterpretada, à luz da experiência do presente.
 
Em muitas ocasiões, no seu percurso pelo deserto, os hebreus rebelaram-se contra o seu líder Moisés. Queixavam-se das condições que tinham de suportar. “Porque é que não nos deixaste sossegados na escravidão quando nela podíamos comer, beber e ver Netflix quando queríamos? Não era perfeito, mas era melhor do que esta liberdade.” Moisés respondeu: Bem, não me culpem a mim, culpem o Senhor vosso Deus. Foi ideia d’Ele e vocês concordaram.
 
Poderíamos esperar que o Senhor nosso Deus mandasse um raio sobre o Seu povo pela sua falta de fé e pela sua insubordinação. Em vez disso, Ele disse a Moisés que faria chover pão do céu (o seu pão de cada dia). Haverá que chegue para todos e, no Shabat, haverá uma porção dupla para cada um. O propósito desta generosidade, acrescenta Ele, é, não o mantê-los calados, mas testá-los para ver se conseguem segui-Lo melhor no futuro. Deus está lhes dando o que precisam - e um bónus - não para os tratar como crianças mimadas (que é como se estavam a comportar), mas para os ensinar. Somos melhor ensinados quando somos surpreendidos pelo amor enquanto esperamos e sentimos que merecemos ser castigados.
 
Não é assim que o nosso ego pensa. E portanto, não é o modo como age a nossa imagem de Deus, porque cada imagem ou ideia de Deus que temos é, em certo grau, um falso deus. Temos de ser surpreendidos - e des-iludidos - para vermos a verdade.
 
Na história (Êxodo 16), a esta altura, Deus envia uma porção diária de carne, sob a forma de codornizes. Deus diz que cada pessoa tem de recolher o que precisa, de acordo com o tamanho da sua família. Isto significava que os que recolhiam menos e os que recolhiam mais ficavam igualmente satisfeitos. Qualquer pessoa que conheça a história da Multiplicação dos Pães, nos Evangelhos, verá uma ressonância com esta história. Ela sublinha a Refeição Eucarística como um símbolo de unidade e justiça para todos.
 
O princípio da igualdade e justiça é o segredo do contentamento. Sem contentamento perdemos o sentido de proporção e de justiça e somos consumidos pelas ilusões da ganância.



Laurence



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Terça-feira da Segundo Semana

15/3/2022

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Terça-feira da Segundo Semana
 
Como é que podemos fazer alguém mudar de ideias? Habitualmente, não vale a pena o esforço e apenas nos irá fazer ficar mais frustrados e zangados. Se for bem sucedido, poderá ser apenas um ajustamento superficial, não uma real metanoia.
 
Tocar o coração de alguém que não consegue mudar de ideias, porque o seu coração se tornou de pedra, é a melhor abordagem. Se falhar, podemos ficar tristes mas provavelmente não ficaremos enraivecidos. Quando o sentimento de fracasso passar, a esperança irá jorrar de novo e empurrar-nos mesmo contra o nosso pensamento racional, para tentar de novo, mesmo quando isso nos faz parecer ainda mais tolos do que antes.
 
Mas como é que tocamos o coração de um tirano, um psicopata ou um fanático? Isso nunca será conseguido por eles verem o sofrimento que estão a causar. Mas poderá ser conseguido ao surpreendê-los. Como disse ontem, é como a surpresa que acompanha cada manifestação de amor. Podemos tê-la imaginado ou ansiado por ela, mas jamais poderíamos estar preparados para ela. Este é um dos aspetos da pobreza em espírito ou do vazio que desenvolvemos na meditação: a capacidade de sermos surpreendidos, inocente e genuinamente, pela realidade.
 
Quando confrontamos um oponente com um coração fechado, precisamos de abrir mais o nosso próprio coração. Isto é muito mais do que uma emoção ou uma boa intenção. É abrirmo-nos a nós mesmos à sua rejeição e ridicularização. Não iremos parecer heroicos nem nobres, pelo menos a nós mesmos e às pessoas que nos rodeiam, nessa altura. No momento da confrontação, quando o oponente está à procura do próximo murro ou truque sujo que nós lhe vamos aplicar, em vez disso, nós acolhemos o sofrimento que dele recebemos. Ele irá infligir mais e mais, esperando que reajamos com ódio ou violência. Mas quanto mais sofremos, mais o nosso coração se abre. A única hipótese de abrir um coração fechado noutra pessoa é abrir o nosso próprio coração a ela.
 
Será prático? Quer dizer que os ucranianos deviam passar por cima sem se defender? Não creio. Significa que ao defenderem-se por causa do amor que têm pelo seu país, mas sem fecharem os seus corações no ódio pelos indivíduos que os magoam, estão a abrir os seus corações ainda mais. E ver um coração aberto no oponente surpreende-nos e pode tornar-se numa brecha no coração empedernido que não se consegue preencher e o muro de pedra que fecha o coração pode, simplesmente, começar a desmoronar-se.
 
Em termos da Quaresma, isto é avançar rapidamente para Sexta-feira Santa. Não é uma estratégia política ou militar, mas mística, que surge da fé profunda na bondade da natureza humana. É uma arma poderosa, eventualmente a única que não fica sem munições.




Laurence



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Segunda-feira da Segundo Semana

14/3/2022

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Segunda-feira da Segundo Semana 
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Se há um coisa que esta Quaresma em particular deveria estar a fazer é verificar a condição do nosso coração. Temos suficientes testes de esforço disponíveis na vida quotidiana e na nossa resposta a esta crise global.
 
Em todas as tradições místicas, o coração é entendido como um portal entre este mundo e o próximo, de forma a poderem fundir-se e tornar-se um só. Mas a porta do coração precisa ser aberta e escancarada, para isto acontecer. As consequências dum coração fechado contra os outros devastam e destroem interiormente e, por fim, no exterior. Ontem eu estava a ler uma avaliação geopolítica da crise da Ucrânia e compreendi como a excessiva intelectualização duma situação de sofrimento humano faz bater e trancar a porta do coração. A abstração torna-nos sem coração e a ausência de coração piora qualquer situação. Sem dúvida que certos diplomatas e estrategas em alguns países ignoram o bombardeamento de infantários e hospitais para se concentrarem apenas nos objetivos estratégicos de longo prazo da China, dos EUA e da União Europeia. Mais crianças e refugiados irão morrer como resultado direto disso.
 
Tem aquecido o coração a muitos ver a forma como países que, anteriormente, fecharam os corações e as fronteiras aos refugiados sírios, como a Polónia e a Hungria, estão a abrir os braços aos ucranianos que fogem da morte e da destruição. Espera-se que seja um sinal duma conversão permanente. No entanto, a capacidade para desenvolver e defender um coração de pedra está poderosamente imbricada na psique humana. O espírito humano clama por ser libertado deste encarceramento. Desejá-lo é em si mesmo virar-se para Deus:
 
 
Dar-te-ei um coração novo e porei um novo espírito em ti; Eu retirarei de ti o teu coração de pedra e dar-te-ei um coração de carne. (Ezequiel 36:26)
 
Há momentos de fraqueza num coração empedernido, quando baixamos a guarda e vislumbramos o que estamos a fazer, a nós mesmos e aos outros, mantendo uma posição teimosa. Mas estas são ocorrências raras e as reservas do ego rapidamente se vertem para tapar a brecha. Reconhecer a resistência em nós mesmos a mudar o nosso ponto de vista torna mais fácil ver o que acontece na mente dos estrategas geopolíticos, cujos corações se fecharam e deixaram as suas mentes à mercê dos seus egos. A implacabilidade do tirano e a sua resistência à discussão é uma horrível ampliação da nossa própria relutância em ceder terreno nos conflitos domésticos ou locais.
 
Há quatrocentos anos, o filósofo Francis Bacon disse: “Assim que um intelecto humano adota uma opinião (seja como algo de que gosta ou como algo geralmente aceite), vai buscar tudo o resto para confirmá-la e apoiá-la.”
 
Não conseguimos mudar o pensamento duma pessoa sem tocar o ser coração.
 
Não podemos ir a uma festa dizendo: “vou me apaixonar por alguém”. Apaixonar-se é uma outra maneira de abrir o coração e ela sempre nos surpreende. Ficamos perturbados, mas felizes, por sermos surpreendidos desta maneira. Mas como é que surpreendemos o tirano cujo coração se tornou pedra?



Laurence



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Segundo Domingo da Quaresma

13/3/2022

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Segundo Domingo da Quaresma
 
E estando Ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto e a sua roupa ficou resplandecente como um clarão. (Lc 9:28)
 
A festa da Transfiguração é em 6 de Agosto, a data em 1945 em que foi lançada a primeira bomba atómica sobre Hiroxima que provocou uma luz ofuscante: estes são os polos opostos do potencial humano.
 
Ontem escrevi sobre o poderoso processo do perdão e como devemos estar preparados para nele entrar imediatamente, ao sermos vítimas de injustiça. A alternativa é demasiado horrível: ser sugado por ela e tornarmo-nos iguais à injustiça que sofremos. Ao resistirmos à injustiça, como temos obrigação de fazer, podemos por vezes perder a nossa inocência e cometer nós mesmos injustiças. A fim de prevenir ou moderar esse efeito em cadeia do mal – espelhando aquilo contra o qual estamos a lutar – temos de nos esforçar, heroicamente, e contra todas as eventualidades, por amar os nossos inimigos, ainda que enquanto os combatemos. Estar do lado certo não nos faculta uma carta branca moral.
 
A “demonização dos hunos” pelos Aliados na Primeira Guerra Mundial, alimentou os horrores das trincheiras e a morte de dez milhões de soldados e dez milhões de civis. A demonização do Dalai Lama pela China, tão absurda e enganadora como a justificação de Putin para atacar a Ucrânia, justifica a violação e a poluição do Tibete. Há anos, fui ao cinema para ver o filme do “Senhor dos Anéis”. Nas cenas digitalizadas das batalhas, hordas de Orcs medonhos avançavam contra os bons rapazes que eram massacrados em grande número para delícia das crianças à minha volta. Isto repetiu-se em várias cenas, até que, finalmente, tive que sair para ir apanhar ar. As séries da Netflix usam maneiras ainda mais tortuosas de agarrar o público, com violência gráfica sádica que tanto choca como vicia o espectador.
 
Uma mulher russa em França que se opõe à guerra disse-me que estava a ser atacada e rejeitada pelos seus camaradas russos que a chamavam de antipatriótica e também por não-russos que a colocavam no mesmo grupo de todos os russos assumidos como putinistas. Algumas orquestras sinfónicas baniram Tchaikovsky dos seus reportórios.
 
Nas declarações da resistência ucraniana, não oiço uma denúncia assim tão ampla e racista da Rússia. Sinto que a sua motivação não é o ódio, mas um amor corajoso pela sua terra pátria. No seu sofrimento face à brutalidade avassaladora e surreal, vemos como o amor pelo inimigo e o perdão podem ser revelados. Não é a rendição ou a imitação da Besta, mas uma expressão de amor e fidelidade: manter a nossa atenção no Bem mesmo quando somos flagelados pelo Mal.
 
É isto que muda o “aspeto” da face humana, transfigurando o ódio na luz de Deus, ainda que em intenso e desamparado sofrimento. Então podemos ver onde está Deus nesses momentos em que a Humanidade se torna desumana. Deus compartilha o sofrimento e Deus é incapaz de ser outra coisa senão Deus. Isto transfigura o próprio sofrimento. É o que Blaise Pascal compreendeu ao dizer que “Jesus estará em agonia até ao fim do mundo”. 




Laurence



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Sábado da Primeira Semana

12/3/2022

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​Sábado da Primeira Semana
 
 
O longo e profundo processo do perdão deve ter início assim que o mal for feito. Não é uma questão de vontade, mas sim de estar preparado. John Main disse uma vez que a meta da educação cristã é preparar os jovens para a experiência da traição que encontrarão nas suas vidas.
 
No primeiro instante em que vemos o dano ser deliberadamente orientado para nós, sentimo-nos chocados e tristes. “Zangados e tristes”, como ficou Caim quando se sentiu mal tratado por Deus. Deus disse-lhe para esperar e processar esses sentimentos. De outro modo, a besta da violência emergiria das sombras e tomaria conta dele. Ficamos zangados, em primeiro lugar, porque qualquer acto de injustiça é um ataque ao equilíbrio delicado do universo. Os efeitos em cascata da nossa justificada indignação estendem-se largamente e por várias gerações. Isto é visceral, antes de racionalizarmos e culparmos. A própria besta é visceral e está profundamente  impregnada na nossa psique. Vladimir Putin descreveu-se a si próprio, na infância, como um bandido de rua que aprendeu que, se sentir que vai haver uma luta, garante que o primeiro soco é seu. A nossa tendência em sermos dominados pela besta, assim como uma predisposição para o alcoolismo, reside profundamente na nossa memória celular, desde ainda antes da formação da nossa personalidade.
 
Podemos estar preparados para ela. Assim como acontece com muitos vírus, ela pode estar adormecida nos assuntos humanos, mas não pode ser erradicada. A nossa indignação visceral contra a violência injustificada permite o início imediato do processo do perdão, mesmo quando resistimos e nos defendemos, como estão fazendo os ucranianos. Ninguém espera que eles digam como os russos são simpáticos. Mas eles, tal como nós, em situações diárias menos extremas, podem aprender a não transformar o inimigo num objeto demonizado. É por isso que é importante para nós ouvir e admirar os muitos exemplos de oposição russa a esta guerra, que têm sido brutalmente castigados e reprimidos. Eles recordam-nos de que, por causa do medo por nós próprios ou por se ter sofrido uma lavagem ao cérebro, qualquer um pode obedecer a ordens desumanas. E horrivelmente, no ódio por nós próprios, por nos sabermos “virados”, podemos começar a gostar da situação. Nenhum de nós pode dizer com segurança que não encontraria um modo de justificar esse mesmo comportamento, se a sua vida ou a dos seus familiares estivesse a ser ameaçada.
 
Do mesmo modo na vida quotidiana, quando alguém nos atraiçoa ou trai a nossa confiança temos de nos lembrar das coisas boas que fez no passado. Estamos, então, a lidar com um frágil e não confiável ser humano e não com uma figura satânica de um jogo de vídeo qualquer da nossa fantasia, que podemos fazer explodir no ecrã. Muitos dos jovens recrutas russos estremecem no fio da navalha da consciência ao decidirem obedecer e lutar ou serem castigados para exemplo dos outros. As trincheiras da Primeira Guerra Mundial deram muitos exemplos dessas situações. A guerra espalha injustiça como uma pandemia no seu auge. Somos todos poluídos por ela.
 
Quando o equilíbrio do universo foi perturbado com um acto de injustiça, muitos inocentes, pessoas comuns, são forçadas a fazer coisas contra a sua consciência. A injustiça ofusca a nossa visão moral. Mas o processo do perdão liberta entendimento, sabedoria e compaixão, os quais só por si podem restaurar a claridade da caridade. Não há maior mestre disso que Jesus
. 



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