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Reflexões para a Quaresma 2022


​LAURENCE FREEMAN OSB 

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Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor

17/4/2022

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Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor
 
Mais do que qualquer outra parte do Evangelho, a passagem que descreve alguns dos discípulos da comunidade que Jesus formou a visitar o Seu túmulo sublinha o papel e a autoridade das mulheres.
 
Elas tinham visto Jesus na cruz, assistido ao seu funeral, preparado as especiarias para a Sua unção e foram as primeiras testemunhas oculares do túmulo vazio. Elas ouviram as notícias espantosas que lhes contaram os dois homens com roupas resplandecentes que viram no túmulo. (Mas eles não eram nem homens nem mulheres, mas sim anjos.)
 
Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui: ressuscitou. Lembrai-vos do que Ele disse quando ainda estava na Galileia…
 
Elas recordaram-se e foram ter diretamente com os restantes onze discípulos. Estes consideraram um disparte o que elas diziam. Excepto Pedro. Ele correu para o túmulo, encontrou-o vazio e regressou a casa espantado. As mulheres foram as primeiras testemunhas e comunicadoras da Ressurreição. O Cristianismo começa com elas.
 
Este é um aspeto surpreendente da história da Ressurreição. Indica que o que acontece através dela não ficará confinado a Jesus e à sua pequena comunidade disfuncional. Irá espalhar-se por toda a parte, como um fogo florestal que começa com um fósforo ou um vírus global com um único micróbio. Onde quer que vá, irá abanar as fundações do poder e do orgulho. Irá trazer o ensinamento e o espírito vivo de Jesus para desafiar e mudar a nossa visão da realidade e a nossa maneira de viver.
 
Neste nosso dividido e violento mundo, em Jerusalém, em Kiev e Moscovo, ela é a nossa infalível esperança e a nossa verdadeira paz.
 
 
Que as nossas primeiras palavras a todas as pessoas hoje sejam:
- “Kristós Anésti” (Cristo Ressuscitou!)
E possam elas atrever-se a responder:
- “Alithós Anésti!” (Ele Ressuscitou realmente!)
 
______________________________________
 
Aqui terminam as Reflexões da Quaresma por este ano. Os meus mais calorosos agradecimentos às fiéis equipas de tradutores espalhadas pelos vários fusos horários, que fizeram o seu trabalho sem se queixarem, mesmo quando deviam ter se queixado pelo meu atraso na entrega da reflexão para o próximo dia. E muito obrigado gentis leitores que fizeram parte desta peregrinação e pelos vossos comentários e mensagens que me enriqueceram e encorajaram. Desfrutem do silêncio. Páscoa Feliz!



Laurence



​Reflexões para a Quaresma 2022 - LAURENCE FREEMAN OSB 


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Sábado Santo

16/4/2022

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Sábado Santo
 
Crux est mundi medicina: a cruz é a medicina do mundo.
O leão ruge numa árvore vazia.
São Boaventura e o koan budista combinam-se no Sábado Santo.
 
O dia de hoje é uma vasta planície de silêncio: um rugir de silêncio cujo eco nos conduz à árvore vazia da Cruz, depois do corpo de Jesus ter sido baixado e deposto no túmulo. Se, como Maria Madalena, procurarmos o corpo, a prova física da pessoa que conhecemos, ficaremos desapontados. Choraremos lágrimas de vazio. Ficaremos retidos no passado, com um Jesus que já não podemos conhecer. Mas se esperarmos, as nossas lágrimas são transformadas em riso, a canção do vazio revela presença na ausência, plenitude no vazio.
Quanto mais longe formos no silêncio do vazio, mais iremos ouvir onde o rugido começa.
 
O espaço não é um vácuo. É um “plenum”, uma plenitude. Na oração espaçosa, na qual não estamos a encher com desejos, alcançamos uma antevisão do pleroma, a plenitude de Cristo. Quanto mais fundo seguirmos, mais veremos que todas as tentativas que fazemos para mudar a realidade servem, em primeiro lugar, para nos mudar a nós e à nossa inteira visão da realidade.
 
Iremos ver que apenas existe indivisa plenitude em contínuo fluxo e crescimento e que somos inseparáveis dela. A ilusão de que estamos apartados dela, mesmo como observadores objetivos, morre na cruz.
 
O curativo poder da Cruz não pode ser expresso em termos de uma folha de balanço espiritual. Onde operam a liberdade total e a graça, não há qualquer divida a pagar, não há folha de cálculo para equilibrar. Mas a Cruz, na qual o universal próximo, irmão, professor, morreu, ainda nos pede contas quando traímos o nosso próximo.
 
O governo do Reino Unido anunciou na Sexta-feira Santa, que os refugiados que em desespero arriscam embarcar em pequenos barcos para atravessar o Canal da Mancha para implorar por refúgio, irão em breve ser despachados para o Ruanda, no meio de África, distando quase 10.000 km.
“Quando eu era estrangeiro, convidastes-Me a entrar…”
 
O silêncio de Sábado Santo, contudo, não está preocupado com julgamentos ou respostas. Mas o misticismo da Cruz denuncia as nossas próprias intrincadas cumplicidades na crucifixão do inocente.
 
O único poder em que podemos confiar absolutamente é o poder daquele que se humilhou absolutamente. Recordemos a morte de Cristo para entrar nesta humildade porque a mensagem da Cruz é o poder do puro amor que se eleva da total abnegação. Só o amor tem o poder para redimir e amor absoluto redime absolutamente.



Laurence



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Sexta-feira Santa

15/4/2022

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Sexta-feira Santa
 
Os pensadores cristãos há longo tempo que ligam a Eucaristia com a Cruz – a Quinta-feira Santa, quando celebramos a Última Ceia, com a Sexta-feira Santa quando o tema da perda atinge o clímax na morte de Jesus. Quando ligamos as duas com a experiência da meditação podemos ver porque é que ambas trazem a cura à condição humana. Porque é que se diz que a Semana Santa é o “clímax da história da salvação”.
 
“Eucaristia” significa dar graças e mostra-nos como a gratidão é a nossa verdadeira natureza, que surge da alegria de ser em vez da satisfação de ter. O nosso hábito de sempre reclamar interiormente e de nos focarmos naquilo que nos falta é suspenso. A felicidade, descobrimos, vem de ser-se grato em lugar de a gratidão depender da felicidade. Do modo similar, podemos sentar-nos para meditar presos na armadilha da raiva, do descontentamento e da reclamação. Começamos a cavar atravessando estas camadas que podem ter muitos anos de espessura. Mas tomamos a decisão de dizer o mantra, nada mais, atravessando ondas de negatividade ou voos de fantasia. Abrimos mão das coisas velhas, deixamo-las morrer, a nascente da alegria flui de novo.
 
Esta perda voluntária conduz à pobreza em espírito e à auto-aceitação e humildade de que precisamos para amar a Deus com o mesmo amor com que Ele nos ama. A meditação em breve nos mostra que nós não caímos em amores por Deus. Isso é uma fantasia. Nós caímos no amor de Deus. Meditação e a Eucaristia são curas complementares e como é que pode a pessoa que sente a cura não se sentir agradecida?
 
A Eucaristia sempre foi vista como um remédio para a pessoa como um todo. Ao celebrá-la, sentimos o cuidado e a atenção do médico divino que se move dentro da comunidade unida em koinonia. A confiança em alguém que cura faz com que a cura aconteça por meio do relacionamento. Porém, sem a perda que Jesus aceitou na Cruz, Ele não estaria presente na Eucaristia ou no silêncio do nosso coração na meditação. Não estaria disponível para o relacionamento ilimitado que é tornado possível pela contínua libertação do Seu Espírito.
 
Hoje, os cristãos em todo o lado veneram a Cruz. Aqui em Bonnevaux, iremos ajoelhar-nos e tocá-la como um humilde sinal de reverência ao seu poder, que está bem além de qualquer coisa que possamos explicar. Isto é mais profundo do que ver a Cruz apenas como um exemplo trágico e nobre da integridade da qual os seres humanos raramente são capazes. Com mais entendimento interior do que isso, o acto da veneração, um leve beijo ou um dedo sobre a madeira da cruz, reconhece-a como um evento na História que toca e cura a natureza humana, para diante e para trás no tempo.
 
Isto é dizer - tentar dizer - muito mais do que as palavras conseguem suportar. O longo silêncio que se segue amanhã é necessário. O que se eleva desse silêncio é a torrente de saúde, a plenitude de vida, para a qual a cura nos restaura, mudando a forma como vivemos, vemos tudo e amamos.




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Quinta-feira Santa

14/4/2022

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Quinta-feira Santa
 
Hoje começamos o Tríduo, o núcleo com três dias de duração do mistério da Páscoa. Cada dia tem uma celebração simbólica única. Hoje a Eucaristia expressa união, koinonia, amizade que se propaga pela Humanidade e pelo cosmos, proclamando a justiça e a paz.
 
Sexta-feira tem como força elementar a separação, a perda, a morte e a divisão: não se pode celebrar nenhuma Eucaristia mas na fé a Cruz é venerada.
 
Sábado é o dia depois de todos os funerais: os enlutados foram para casa, a sepultura está fechada, o longo vácuo, escuridão e vazio da ausência tornam-se visíveis, num silêncio pesado e estranha inatividade.
 
Mas, nas profundezas da escuridão, a Vigília Pascal começa com o acender do fogo pascal. Ele une-nos, através dos milénios com as nossas primitivas raízes humanas e, então, progredimos pelo escuro, acendendo as nossas velinhas individuais no círio pascal, a luz do Cristo Ressuscitado.
 
Na madrugada de Domingo a liturgia é o próprio nascer do sol da natureza e depois a Eucaristia celebrada no pico do sol do meio-dia. É a quarta dimensão não dual que contém e combina as outras três dimensões da condição humana.
 
Não há muito mais significado na vida do que o que está contido nestes três dias, excepto a Covid e os impostos.
 
Sugeri ontem aos participantes no retiro aqui em Bonnevaux que procurassem no seu silêncio interior, uma pergunta pessoal redentora, como aquela que descrevi na história do Rei Pescador, no início do retiro. Não tem de ser inventada e tal como um koan não pode ser facilmente respondida, mas deveria ser escutada, encontrada e ouvida. Para a encontrar, talvez ajudasse relembrar alguns aspetos desses três dias da vossa experiência de vida passada.
 
Já alguma vez acompanharam alguém que atravessou a sua própria Sexta-feira Santa? É claro que estamos lá para os outros, ao longo das muitas perdas, provas e tribulações da vida e ficamos gratos quando os outros nos acompanham. Mas todas estas são preparações para a Sexta-feira final e para a derradeira separação, a perda do corpo físico. Toda a perda é uma forma de morte ou, poderíamos dizer, a morte é apenas a forma final da perda. Se tivermos conhecido a dolorosa graça deste acompanhamento, estes dias poderão ser aprofundados.
 
Mas podemos todos convocar os nossos poderes de imaginativa empatia para acompanhar Jesus no Caminho da Cruz, para Gólgota e mais além. O mais além é a Ressurreição. Já alvoreceu, caso contrário não estaríamos a fazer isto.
 
O que estamos a fazer não é a fingir que não aconteceu mas a ver como a Humanidade está a ser formada na Sua koinonia, a Sua comunidade.




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Quarta-feira da Semana Santa

13/4/2022

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Quarta-feira da Semana Santa
 
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Muitas vezes, a Cruz é explicada como o sacrifício que pagou a Deus o insulto do pecado de Adão, o pecado original. Deixada assim, esta explicação poderia fazer mais mal do que bem e certamente não pega hoje em dia. Contudo, é um bom lugar para começar. Mas antes de fazer sentido, temos de fazer algumas incursões no autoconhecimento e na auto-aceitação.
 
A Semana Santa abre a cortina da natureza humana, da vossa e da minha, e em geral. Expõe-nos como pecadores. A palavra grega é “hamartia”, que significa falhar o alvo. Limitados, cometendo erros, mortais e inacabados. Digamos “pecaminosos”, desde que nos lembremos que o pecado, como a Madre Juliana de Norwich dizia, não é desejável porque causa tanto sofrimento, mas é no entanto necessário.
 
Tudo depende de respondermos ou não ao pecado com uma paralisante culpa ou vergonha, os quais meramente incham o ego de forma negativa: “Deus jamais poderia perdoar-me ou amar-me”. Esta autonegação cria uma força de negatividade e existe, realmente, uma coisa chamada a solidariedade do pecado. Vemo-la nas alianças estabelecidas entre regimes autoritários desumanos. Contudo, há uma outra via de auto-afirmação da humildade, vista de forma radiante em Jesus, mesmo quando Ele é sugado para dentro da maquinaria dum sistema tirânico de estado que O irá executar por denunciar as suas maquinações internas. O Seu julgamento foi uma aliança entre o autoritarismo religioso e o político, reproduzida inúmeras vezes desde essa altura.
 
A irmandade do pecado é um nível de consciência primitivamente baixo. Mas há também, evidente no seu testemunho de verdade, um solidariedade da graça. A graça lida com o pecado, não por meio do castigo ou pela exploração da culpa: ela simplesmente dissolve-o. Por exemplo, podemos imaginar como os discípulos poderiam ter se sentido quando encontraram Jesus, na experiência da Ressurreição. Terão sentido alguma vergonha e culpa por terem fugido e talvez raiva dEle por os ter desapontado. Porém, tudo isso é inteira e instantaneamente evaporado, quando Ele sopra sobre eles e diz: “Paz”. Graça, não punição, quebra o vínculo do karma.
 
Para acedermos a esta solidariedade da graça apenas necessitamos da humildade de conhecer e aceitar a nós mesmos. A conspiração do pecado provoca uma escalada do mal. A graça conecta-nos até aos nossos inimigos. Esta estranha e inesperada unidade, mesmo com o estranho outro, é Deus. Ela revela que a orientação essencial da natureza humana – mesmo no seu estado limitado e pecaminoso – é na direção de Deus: o Deus que é infinitamente desejável mas que somente pode ser conhecido através da experiência de perda.
 
Esta semana, Jesus manifesta esta orientação para Deus como o terreno comum da Humanidade. Ele nomeou esta orientação universal para Deus chamando a Deus “Pai”, “Meu Pai”. Mas Ele diz também “Meu Pai e vosso Pai”, e a oração que sumariza o Seu ensinamento começa com “Pai nosso”.
 
Portanto, a comunidade cristã não é um clube de crentes. É a comunidade que – apesar de todas as suas faltas humanas – compreende o que significa ser humano e a quê Deus é semelhante. Jesus morreu pelo nosso pecado da ignorância.




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Terça-feira da Semana Santa

12/4/2022

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Terça-feira da Semana Santa

 
Esta semana já vos parece santa? Se não, porquê?

A nossa viagem através destes dias deveria primeiramente focar-se em aceitar a plena responsabilidade pela nossa própria existência. Depois, passamos pelo perturbador desafio da nossa inescapável e impossível de saciar, ânsia pelo absoluto. A partir daqui fluímos para uma compreensão de como a nossa passagem pelo tempo está entretecida com a de Jesus.
 
Assim que começamos a nos perguntarmos quem somos, damos por nós a fluir no tempo. Sentimo-nos mortais. A morte é essencial para a autocompreensão humana. “Mantende sempre a morte diante dos vossos olhos”, diz S. Bento. Os budistas chamam-lhe maranasati. Em breve (se não fugirmos do caminho que já começámos) pensamos na memória. Por quanto tempo é que a nossa memória tem estado a crescer? O quão imprecisa ela pode ser. Com que facilidade esquecemos ou lembramos erradamente. Para Santo Agostinho, não é tanto que tenhamos uma memória, mas que a nossa memória é quem nós somos.
 
Então rapidamente se torna óbvio que conhecermo-nos a nós mesmos objetivamente é tão irrealista como conhecer a Deus enquanto objeto. Deus está presente em todo o lado, porém sempre incognoscível. Assim, numa menor escala, somos nós. Mas somos compelidos a procurar Deus de modo a nos conhecermos a nós mesmos.
 
O que é que então aprendemos sobre nós mesmos? Que as nossas vidas não fazem sentido da forma que gostaríamos ou que fingimos. Que somos incompletos, imperfeitos, inacabados. E o que é mais doloroso, que aquilo que queremos nunca nos satisfaz e, no entanto, não somos capazes de parar de querer. Desejamos Deus, porém, Deus sempre excede aquilo que queremos. Qualquer experiência de Deus que tenhamos vai além dos nossos poderes de descrição, apesar de ainda pensarmos que é de desejo que se trata.
 
Deus é infinitamente desejável, não uma fantasia de realização humana. Como objeto da imaginação, nós sempre sentimos que Deus está ausente. Todavia, essa ausência é uma espécie de inabalável presença. Isto é muito perturbador e a Semana Santa deveria perturbar-nos profundamente.
 
Buscar a Deus significa passar por uma transformação do desejo que é, ela própria, uma perda e uma morte. No processo, o que pensamos que queremos sempre se evapora na fantasia. Aceitar que somos mortais, limitados em autoconhecimento e sempre incompletos é humildade.
Nós não caímos no amor por Deus. Isso é um disparate romântico. Nós caímos no amor.
 
A humildade é o passo humano para essa transformação no amor em que caímos, quando prestamos a nossa distraída atenção à infinita atenção que está sempre a irradiar sobre nós.
 
Em Getsémani, depois de profunda oração, Jesus entregou o Seu básico e humano desejo de viver:
 
E adiantando-se um pouco mais, caiu com a face por terra, orando e dizendo: “Meu Pai, se é possível, afaste-se de Mim este cálice.  No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres”.




Laurence



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Segunda-feira da Semana Santa

11/4/2022

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Segunda-feira da Semana Santa
 
Um centurião que estava junto à Cruz ouviu as últimas palavras de Jesus entregando o Seu espírito nas mãos do Pai e dando o Seu último suspiro. O centurião disse: “este era um homem grande e bom”.
 
É o mínimo que podemos dizer sobre Jesus. O Seu ensinamento e a Sua forma de viver e de morrer dão testemunho duma muito rara autenticidade nos seres humanos. Olhamos para Jesus e vemos um grande professor de humanidade, um modelo do que o carácter humano significa e um exemplo daquilo a que podemos aspirar. Mas porque sentimos que Ele é exemplar, e chegámos tarde ao trabalho de aprender o que Ele está a ensinar, é mais fácil pô-Lo num pedestal e adorá-Lo de longe. Isto é uma forma radical de mal interpretar o Seu ensinamento e o Seu exemplo. “Já não vos chamo de servos…eu vos chamo de amigos”. “Eu neles e Tu em Mim, que sejam perfeitamente um só”. “Quem acredita em Mim fará as obras que Eu faço e fará coisas ainda maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai”.
 
A história que lemos ontem e agora que entramos na Semana Santa, é - deveria ser - muito perturbadora para todos, especialmente para os que pensam em si mesmos como Seus discípulos. Ela muda a forma como nos vemos a nós mesmos, a nossa vida, a morte e o significado último. Ela sacode-nos rudemente – tal como Ele sacudiu os discípulos adormecidos em Getsémani – para nos despertar da complacência. Jesus pergunta-nos: “quem dizeis vós que Eu sou?” Se escolhermos escutar e ponderar a nossa resposta, caímos para além do horizonte de tudo o que pensamos que somos, num autoconhecimento que é um mergulhar em Deus, ser infinito.
 
Porém, isto acontece sem perdermos a nossa humanidade. Mas o nosso carácter humano tem de estar plenamente rendido e transformado. Tornamo-nos desumanos, menos que humanos, quando não conseguimos ver esta condição da nossa existência. Então, somos capazes de crucificar um inocente, grande e bom homem, de bombardear mulheres e crianças inocentes e de assassinar os cidadãos de Bucha. Sem nos conhecermos a nós mesmos, não conseguimos ser quem Jesus nos ensina que somos.
 
 
Deus está em todo o lado presente e porém incognoscível. Mas, quando passamos para além do horizonte do ego, o mesmo acontece com o nosso “Eu”. Conhecer a Deus e ao nosso “Eu” significa entrar num caminho de não-conhecimento em que a visão ocorre para além do filtro da divisão. 
 
Deus está sempre ausente – enquanto objeto. Deus só pode ser conhecido pelo partilhar do Seu próprio auto-conhecimento, o que não significa cair de amor por Deus, mas cair no amor que é Deus. Pela minha parte, o “eu” que penso que sou nunca está feliz ou realizado porque é um trabalho em curso que poderá ser interrompido a qualquer momento por falta de fundos ou por ser invadido por forças estrangeiras.

 
Na Semana Santa o Espírito que Jesus soprou sobre a Humanidade guia-nos para vermos o abismo que nos aterroriza. Ela nos ensina sobre tudo o que encontramos através da perda.


Laurence



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Domingo de Ramos

10/4/2022

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Domingo de Ramos
 
Ele ofereceu um único sacrifício pelos pecados (Hebreus 10)
 
Ao lermos a Narrativa da Paixão, no evangelho de hoje, temos uma vista de helicóptero sobre a história que iremos recontar intensamente durante os três dias que antecedem o Domingo de Páscoa. Durante a próxima semana, iremos mergulhar a pique sobre os detalhes e todos os anos, desde que estejamos a prestar atenção, iremos encontrar novos entendimentos (insights) que nos irão surpreender e deliciar.
 
Para muitos de nós, a linguagem religiosa do sacrifício é um problema. É difícil quando nos é dito que precisamos de fazer sacrifícios para nos mantermos espiritualmente aceitáveis. É especialmente difícil compreender que Deus peça sacrifícios. Parece resultar de dureza de coração; parece ser cruel e dualista. Para os contemplativos em construção – como somos nós enquanto meditantes – um sentido muito diferente de Deus está a formar-se através do trabalho de pôr de lado os pensamentos e as imagens. Nós não falamos para Deus quando estamos a dizer o mantra. Não estamos pedindo coisa alguma nem esperando qualquer recompensa. A nossa compreensão de Deus simplifica-se e purifica-se, mesmo até ao ponto (como sabiam os místicos) em que Deus parece em vias de desaparecer.
 
Com o passar do tempo e estranhamente, desenvolve-se uma experiência de Deus bastante nova que está entretecida connosco mesmos, mas de uma forma não espacial: não existe distância entre nós e Deus.
 
Temos de relembrar que a linguagem do sacrifício era comum na mente religiosa da época porque, na sua forma ancestral e literal de sacrificar animais aos deuses, ela era uma parte muito comum da vida quotidiana e uma forma de lidar com a ansiedade. Ao conhecer os detalhes dos sacrifícios no Templo de Jerusalém, nós provavelmente sentiremos repulsa. Comparar o sofrimento e a morte de Jesus com o cortar o pescoço a cordeiros, galinhas e cabras – mais de 250.000 por dia – parece um imenso erro.
 
De facto, quando os escritores cristãos falavam do “sacrifício” que Jesus ofereceu de Si mesmo (“como sacerdote e vítima”), viam-no como um momento de partição das águas, um ponto de viragem na consciência religiosa da Humanidade. Depois d’Ele, o sacrifício desse tipo violento que nos enchia de medo tornou-se obsoleto. “Porque Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios, o conhecimento de Deus mais do que os holocaustos, diz o Senhor” (Oseias 6:6).
 
A mentalidade do sacrifício resulta do fardo do karma e do medo do castigo induzido pela culpa. Por volta da mesma época do profeta Oseias, o ensinamento Shantideva budista sobre a forma de vida Bodhisattva, cerca de 800 a.C., faz eco dos profetas e de Jesus: 
 
            Se o sofrimento de muitos desaparece por causa do sofrimento de um só,                        então a pessoa compassiva deve induzir esse sofrimento em favor de si                              mesma e dos outros (tradução Wallace: 106).
 
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A misericórdia queima e esfuma o karma deixando a radiação de fundo do amor.




Laurence



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Sábado da Quinta Semana

9/4/2022

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Sábado da Quinta Semana
 
No mito do Rei Pescador, o jovem cavaleiro-aprendiz, Parsifal, é informado de que os bons cavaleiros devem falar pouco e fazer somente as perguntas necessárias. Seguindo estas instruções de forma imprudente ele perde uma grande oportunidade de questionar um rei mutilado que é o guardião do Graal. Ele deveria ter perguntado ao Rei Ferido porque é que ele estava a sofrer e porque é que o seu reino se tinha tornado numa terra seca e infértil. Parsifal passou anos à espera de uma segunda oportunidade. Depois de um longo tempo vagueando, ele encontra novamente o rei, sentado numa paisagem gelada a pescar, mirando o reflexo da sua mortalha na água estagnada. Desolado, num mundo estéril por ele criado, a sua ferida não sara e a sua doença espalha-se por todo o seu reino.
 
Desta vez, o agora mais sábio Parsifal pergunta: o que é o Graal e a quem serve? O feitiço mortal sobre o rei e sobre a terra rompe-se, e a saúde e a vitalidade retornam.
 
Enquanto nos preparamos para entrar na Semana Santa aqui em Bonnevaux, estaremos a receber cavaleiros e damas errantes para um retiro de reflexão sobre os mistérios da Paixão e Ressurreição. A Quaresma – e a união que ela nos ensinou a sentir com o sofrimento da Ucrânia e a aflição humana por toda a parte – alcança o seu pleno propósito.
 
Este mito antigo é uma chave para nos ajudar a compreender o que o mundo cristão vai estar a re-viver. O retiro também será online e assim vocês poderão juntar-se a nós na nuvem da internet, bem como na nuvem do não-saber.
 
Talvez a primeira dádiva desta história, enquanto chave para os mistérios da Páscoa, seja a ênfase posta na questão redentora. Parsifal tem o destino de curar o rei (que mais tarde se revela ser o seu próprio tio) e assim, restaurar a verdura à terra. Contudo, a sua missão não é cumprida nem pelo silêncio passivo nem meramente pela atividade por si, mas sim pelo entendimento (insight).
 
Esta sabedoria é libertada por uma pergunta, a qual não nasce apenas da curiosidade. Não é superficial. É a busca do coração pela verdade – e por isso é altruísta, centrada no outro. A Cruz é o grande ponto de interrogação que paira sobre o mundo. O seu significado não pode ser posto em palavras. Mas, e se nós perguntássemos humildemente para quem é? Talvez vejamos então a Ressurreição como o grande ponto de exclamação que revela a vida e o propósito de tudo.




Laurence



​Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB 


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Sexta-feira da Quinta Semana

8/4/2022

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Sexta-feira da Quinta Semana
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Quando sentimos que estamos em perigo real e no presente, a vida simplifica-se repentinamente. Conheço um homem que um dia mergulhou numa situação dessas, quando um dentista detetou um inchaço suspeito na sua boca e ele teve de esperar uma semana pelos resultados dos testes. De repente ele entrou numa tempestade de incerteza, medo e ansiedade. Mas ele também descobriu uma hiper-clareza sem precedentes porque as prioridades da sua vida tornaram-se-lhe evidentes, sem ter que refletir ou escolher entre elas. Como resultado, o seu amor pela vida cresceu e levou-o a entender que esse era o seu estado natural, com o qual tinha perdido contacto antes da visita de rotina ao dentista. Os seus sentidos físicos também se apuraram e os prazeres da vida que tinham ficado anestesiados nos anos recentes explodiram para a vida de novo.
 
Felizmente, os resultados foram negativos do ponto de vista oncológico, mas tristemente negativos quando ele voltou ao seu habitual semi-vital estado. Uma das pequenas lições da vida. Não há nada que nos ensine mais do que os sinais da nossa própria mortalidade.
 
Talvez os ucranianos, ao combaterem intensamente para salvar a vida do seu país, estejam também a sentir essa explosão de clareza. As decisões da vida quotidiana e as desavenças nos relacionamentos comuns são submetidas a um compromisso de amor e solidariedade mais forte do que o medo da morte. Não é esta a clareza que vemos em Jesus, especialmente no evangelho de João, ao atravessar as suas horas derradeiras? A Paixão, a paixão de amor ou a Paixão de Cristo são passagens, transições a percorrer. Mas quando emergimos, fomos transformados. Se entrámos nela tão longe quanto até à morte e se sofremos aquele lampejo do grande desapego, a mudança em nós não é nada menos do que uma ressurreição, uma completa transformação da consciência. E essa clareza jamais se desvanece novamente.
 
 
Kierkegaard pensava que a ansiedade, a que ele chamou “angst” (angústia), é um sintoma da liberdade humana. Quando aparece pela primeira vez, podemos até sentir uma espécie de culpa: “Ó, eu não devia estar a sentir isto. Porque é que não me sinto feliz, como deveria estar, como os meus amigos do Facebook?” Os existencialistas pensam na ansiedade tanto como uma atração para, como uma repulsa das incógnitas dos nossos “eus” futuros. Desesperar, ao confrontá-las, significa que nos recusamos ou não conseguimos ser nós próprios.
 
Ou então podemos decidir viver, de qualquer modo, e entrar na incerteza. Uma vez que aceitemos o dom do nosso ser – o que John Main pensava seria o resultado da meditação - mudamos. Crescemos. Expandimos. Sentimo-nos unidos ao ser, o que é um estado muito mais profundo e rico do que a angústia existencial e, em vez de por ela, somos inundados pela única certeza verdadeira que podemos tocar: a esperança. 




Laurence



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