Domingo de Ramos
Ele ofereceu um único sacrifício pelos pecados (Hebreus 10)
Ao lermos a Narrativa da Paixão, no evangelho de hoje, temos uma vista de helicóptero sobre a história que iremos recontar intensamente durante os três dias que antecedem o Domingo de Páscoa. Durante a próxima semana, iremos mergulhar a pique sobre os detalhes e todos os anos, desde que estejamos a prestar atenção, iremos encontrar novos entendimentos (insights) que nos irão surpreender e deliciar.
Para muitos de nós, a linguagem religiosa do sacrifício é um problema. É difícil quando nos é dito que precisamos de fazer sacrifícios para nos mantermos espiritualmente aceitáveis. É especialmente difícil compreender que Deus peça sacrifícios. Parece resultar de dureza de coração; parece ser cruel e dualista. Para os contemplativos em construção – como somos nós enquanto meditantes – um sentido muito diferente de Deus está a formar-se através do trabalho de pôr de lado os pensamentos e as imagens. Nós não falamos para Deus quando estamos a dizer o mantra. Não estamos pedindo coisa alguma nem esperando qualquer recompensa. A nossa compreensão de Deus simplifica-se e purifica-se, mesmo até ao ponto (como sabiam os místicos) em que Deus parece em vias de desaparecer.
Com o passar do tempo e estranhamente, desenvolve-se uma experiência de Deus bastante nova que está entretecida connosco mesmos, mas de uma forma não espacial: não existe distância entre nós e Deus.
Temos de relembrar que a linguagem do sacrifício era comum na mente religiosa da época porque, na sua forma ancestral e literal de sacrificar animais aos deuses, ela era uma parte muito comum da vida quotidiana e uma forma de lidar com a ansiedade. Ao conhecer os detalhes dos sacrifícios no Templo de Jerusalém, nós provavelmente sentiremos repulsa. Comparar o sofrimento e a morte de Jesus com o cortar o pescoço a cordeiros, galinhas e cabras – mais de 250.000 por dia – parece um imenso erro.
De facto, quando os escritores cristãos falavam do “sacrifício” que Jesus ofereceu de Si mesmo (“como sacerdote e vítima”), viam-no como um momento de partição das águas, um ponto de viragem na consciência religiosa da Humanidade. Depois d’Ele, o sacrifício desse tipo violento que nos enchia de medo tornou-se obsoleto. “Porque Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios, o conhecimento de Deus mais do que os holocaustos, diz o Senhor” (Oseias 6:6).
A mentalidade do sacrifício resulta do fardo do karma e do medo do castigo induzido pela culpa. Por volta da mesma época do profeta Oseias, o ensinamento Shantideva budista sobre a forma de vida Bodhisattva, cerca de 800 a.C., faz eco dos profetas e de Jesus:
Se o sofrimento de muitos desaparece por causa do sofrimento de um só, então a pessoa compassiva deve induzir esse sofrimento em favor de si mesma e dos outros (tradução Wallace: 106).
.
A misericórdia queima e esfuma o karma deixando a radiação de fundo do amor.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
Ele ofereceu um único sacrifício pelos pecados (Hebreus 10)
Ao lermos a Narrativa da Paixão, no evangelho de hoje, temos uma vista de helicóptero sobre a história que iremos recontar intensamente durante os três dias que antecedem o Domingo de Páscoa. Durante a próxima semana, iremos mergulhar a pique sobre os detalhes e todos os anos, desde que estejamos a prestar atenção, iremos encontrar novos entendimentos (insights) que nos irão surpreender e deliciar.
Para muitos de nós, a linguagem religiosa do sacrifício é um problema. É difícil quando nos é dito que precisamos de fazer sacrifícios para nos mantermos espiritualmente aceitáveis. É especialmente difícil compreender que Deus peça sacrifícios. Parece resultar de dureza de coração; parece ser cruel e dualista. Para os contemplativos em construção – como somos nós enquanto meditantes – um sentido muito diferente de Deus está a formar-se através do trabalho de pôr de lado os pensamentos e as imagens. Nós não falamos para Deus quando estamos a dizer o mantra. Não estamos pedindo coisa alguma nem esperando qualquer recompensa. A nossa compreensão de Deus simplifica-se e purifica-se, mesmo até ao ponto (como sabiam os místicos) em que Deus parece em vias de desaparecer.
Com o passar do tempo e estranhamente, desenvolve-se uma experiência de Deus bastante nova que está entretecida connosco mesmos, mas de uma forma não espacial: não existe distância entre nós e Deus.
Temos de relembrar que a linguagem do sacrifício era comum na mente religiosa da época porque, na sua forma ancestral e literal de sacrificar animais aos deuses, ela era uma parte muito comum da vida quotidiana e uma forma de lidar com a ansiedade. Ao conhecer os detalhes dos sacrifícios no Templo de Jerusalém, nós provavelmente sentiremos repulsa. Comparar o sofrimento e a morte de Jesus com o cortar o pescoço a cordeiros, galinhas e cabras – mais de 250.000 por dia – parece um imenso erro.
De facto, quando os escritores cristãos falavam do “sacrifício” que Jesus ofereceu de Si mesmo (“como sacerdote e vítima”), viam-no como um momento de partição das águas, um ponto de viragem na consciência religiosa da Humanidade. Depois d’Ele, o sacrifício desse tipo violento que nos enchia de medo tornou-se obsoleto. “Porque Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios, o conhecimento de Deus mais do que os holocaustos, diz o Senhor” (Oseias 6:6).
A mentalidade do sacrifício resulta do fardo do karma e do medo do castigo induzido pela culpa. Por volta da mesma época do profeta Oseias, o ensinamento Shantideva budista sobre a forma de vida Bodhisattva, cerca de 800 a.C., faz eco dos profetas e de Jesus:
Se o sofrimento de muitos desaparece por causa do sofrimento de um só, então a pessoa compassiva deve induzir esse sofrimento em favor de si mesma e dos outros (tradução Wallace: 106).
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A misericórdia queima e esfuma o karma deixando a radiação de fundo do amor.
Laurence
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