
Primeiro Domingo da Quaresma
“Teve fome.” (Lucas 4:1-13) Jesus é tentado no deserto
Este é o relato de Jesus a jejuar no deserto durante quarenta dias, em preparação para a vinda a público com o Seu perigoso ensinamento. Mostra-O na Sua humanidade. Não só jejuou; sentiu que tinha de jejuar. E depois teve fome.
O que é que significa jejuar? Mais do que fazer dieta – embora possamos esperar vir a perder peso ou sentirmo-nos depurados, depois duma prática quaresmal (ganhar pontos extra para a viagem). Renunciamos ou reduzimos coisas como fumar, consumir álcool, usar o telemóvel ou navegar irracionalmente pela internet porque vemos que podemos ter uma dependência pouco saudável delas ou, até, estar num estágio inicial de adição. Isto tem, também, benefícios colaterais. Mas a essência de jejuar é focar. Significa treinar a mente, mantê-la de rédea mais curta no seu “modo rede por defeito”. É esse o termo técnico para a nossa mente que vagueia e parece que os humanos passam quase metade do seu tempo pensando ou sonhando acordados com algo que não está relacionado com o que estão a fazer ou com quem estão agora. A mente de macaco ou distração crónica é a primeira coisa que o meditante encontra.
Uma prática externa, como renunciar a alguma coisa ou adotar qualquer coisa nova, ou uma prática interior quotidiana, como a meditação, trabalham este problema. Pelo contrário, se deixado sem controlo, isso separa-nos de todos os níveis da realidade. Piora com o auto-isolamento, como muitos descobriram durante a Covid. Parece que Putin ficou aterrorizado pela infeção e se manteve em isolamento extremo nos últimos dois anos.
Depois da Sua estadia no deserto, Jesus teve fome. Quando temos fome, tornamo-nos mais fracos e mais vulneráveis. Sentimentos que habitualmente são mantidos sob controlo podem vir à superfície de forma violenta e tentar-nos a cometer excessos ou a recrear-nos na fantasia. Jesus fui tentado sensual, egocêntrica e espiritualmente. Vê-lo confrontar e desfazer estas urdiduras típicas dum falso “eu” dá-nos a confiança de que poderemos fazer o mesmo. Depois disso, Jesus foi servido por um anjo. Não precisamos nós todos de anjos, de companheiros e amigos para que o deserto não nos avassale?
Recentemente, estava eu no comboio de regresso a Bonnevaux, vindo de Londres. Tinha sido uma viagem de Domingo de pesadelo, tendo perdido o avião por causa do trânsito, reorientado para outra cidade francesa, que parecia acreditar que ninguém deve comer ao Domingo, pois todos os fornecedores de alimentos estavam fechados. O comboio para Poitiers sofreu um atraso; depois, foi reencaminhado e foram feitos anúncios complicados sobre a forma de restabelecer a ligação, duma forma ininteligível para falantes não nativos. Na minha carruagem, havia alguns companheiros de viagem que também estavam cansados e aborrecidos e ansiando por chegar a casa. Perguntei a um deles se me poderia explicar o que fazer. Foi o que ele fez e, depois, amavelmente, apercebeu-se de que eu não estava seguro de ter percebido. Veio sentar-se ao meu lado para explicar com mais detalhe. Eu estava com fome de informação e orientação e, como era o último comboio, não me podia dar ao luxo de cometer um erro. Ele foi o meu anjo. Na estação onde trocámos de comboios, que era o seu destino, esperou e indicou-me a direção correta, certificando-se de que eu tinha compreendido. Depois, como todos os anjos, desapareceu.
Esperemos que a fome de justiça e de alimentos na Ucrânia produza também anjos localmente e na comunidade internacional.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
“Teve fome.” (Lucas 4:1-13) Jesus é tentado no deserto
Este é o relato de Jesus a jejuar no deserto durante quarenta dias, em preparação para a vinda a público com o Seu perigoso ensinamento. Mostra-O na Sua humanidade. Não só jejuou; sentiu que tinha de jejuar. E depois teve fome.
O que é que significa jejuar? Mais do que fazer dieta – embora possamos esperar vir a perder peso ou sentirmo-nos depurados, depois duma prática quaresmal (ganhar pontos extra para a viagem). Renunciamos ou reduzimos coisas como fumar, consumir álcool, usar o telemóvel ou navegar irracionalmente pela internet porque vemos que podemos ter uma dependência pouco saudável delas ou, até, estar num estágio inicial de adição. Isto tem, também, benefícios colaterais. Mas a essência de jejuar é focar. Significa treinar a mente, mantê-la de rédea mais curta no seu “modo rede por defeito”. É esse o termo técnico para a nossa mente que vagueia e parece que os humanos passam quase metade do seu tempo pensando ou sonhando acordados com algo que não está relacionado com o que estão a fazer ou com quem estão agora. A mente de macaco ou distração crónica é a primeira coisa que o meditante encontra.
Uma prática externa, como renunciar a alguma coisa ou adotar qualquer coisa nova, ou uma prática interior quotidiana, como a meditação, trabalham este problema. Pelo contrário, se deixado sem controlo, isso separa-nos de todos os níveis da realidade. Piora com o auto-isolamento, como muitos descobriram durante a Covid. Parece que Putin ficou aterrorizado pela infeção e se manteve em isolamento extremo nos últimos dois anos.
Depois da Sua estadia no deserto, Jesus teve fome. Quando temos fome, tornamo-nos mais fracos e mais vulneráveis. Sentimentos que habitualmente são mantidos sob controlo podem vir à superfície de forma violenta e tentar-nos a cometer excessos ou a recrear-nos na fantasia. Jesus fui tentado sensual, egocêntrica e espiritualmente. Vê-lo confrontar e desfazer estas urdiduras típicas dum falso “eu” dá-nos a confiança de que poderemos fazer o mesmo. Depois disso, Jesus foi servido por um anjo. Não precisamos nós todos de anjos, de companheiros e amigos para que o deserto não nos avassale?
Recentemente, estava eu no comboio de regresso a Bonnevaux, vindo de Londres. Tinha sido uma viagem de Domingo de pesadelo, tendo perdido o avião por causa do trânsito, reorientado para outra cidade francesa, que parecia acreditar que ninguém deve comer ao Domingo, pois todos os fornecedores de alimentos estavam fechados. O comboio para Poitiers sofreu um atraso; depois, foi reencaminhado e foram feitos anúncios complicados sobre a forma de restabelecer a ligação, duma forma ininteligível para falantes não nativos. Na minha carruagem, havia alguns companheiros de viagem que também estavam cansados e aborrecidos e ansiando por chegar a casa. Perguntei a um deles se me poderia explicar o que fazer. Foi o que ele fez e, depois, amavelmente, apercebeu-se de que eu não estava seguro de ter percebido. Veio sentar-se ao meu lado para explicar com mais detalhe. Eu estava com fome de informação e orientação e, como era o último comboio, não me podia dar ao luxo de cometer um erro. Ele foi o meu anjo. Na estação onde trocámos de comboios, que era o seu destino, esperou e indicou-me a direção correta, certificando-se de que eu tinha compreendido. Depois, como todos os anjos, desapareceu.
Esperemos que a fome de justiça e de alimentos na Ucrânia produza também anjos localmente e na comunidade internacional.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv