
Quarta-feira da Semana Santa
Muitas vezes, a Cruz é explicada como o sacrifício que pagou a Deus o insulto do pecado de Adão, o pecado original. Deixada assim, esta explicação poderia fazer mais mal do que bem e certamente não pega hoje em dia. Contudo, é um bom lugar para começar. Mas antes de fazer sentido, temos de fazer algumas incursões no autoconhecimento e na auto-aceitação.
A Semana Santa abre a cortina da natureza humana, da vossa e da minha, e em geral. Expõe-nos como pecadores. A palavra grega é “hamartia”, que significa falhar o alvo. Limitados, cometendo erros, mortais e inacabados. Digamos “pecaminosos”, desde que nos lembremos que o pecado, como a Madre Juliana de Norwich dizia, não é desejável porque causa tanto sofrimento, mas é no entanto necessário.
Tudo depende de respondermos ou não ao pecado com uma paralisante culpa ou vergonha, os quais meramente incham o ego de forma negativa: “Deus jamais poderia perdoar-me ou amar-me”. Esta autonegação cria uma força de negatividade e existe, realmente, uma coisa chamada a solidariedade do pecado. Vemo-la nas alianças estabelecidas entre regimes autoritários desumanos. Contudo, há uma outra via de auto-afirmação da humildade, vista de forma radiante em Jesus, mesmo quando Ele é sugado para dentro da maquinaria dum sistema tirânico de estado que O irá executar por denunciar as suas maquinações internas. O Seu julgamento foi uma aliança entre o autoritarismo religioso e o político, reproduzida inúmeras vezes desde essa altura.
A irmandade do pecado é um nível de consciência primitivamente baixo. Mas há também, evidente no seu testemunho de verdade, um solidariedade da graça. A graça lida com o pecado, não por meio do castigo ou pela exploração da culpa: ela simplesmente dissolve-o. Por exemplo, podemos imaginar como os discípulos poderiam ter se sentido quando encontraram Jesus, na experiência da Ressurreição. Terão sentido alguma vergonha e culpa por terem fugido e talvez raiva dEle por os ter desapontado. Porém, tudo isso é inteira e instantaneamente evaporado, quando Ele sopra sobre eles e diz: “Paz”. Graça, não punição, quebra o vínculo do karma.
Para acedermos a esta solidariedade da graça apenas necessitamos da humildade de conhecer e aceitar a nós mesmos. A conspiração do pecado provoca uma escalada do mal. A graça conecta-nos até aos nossos inimigos. Esta estranha e inesperada unidade, mesmo com o estranho outro, é Deus. Ela revela que a orientação essencial da natureza humana – mesmo no seu estado limitado e pecaminoso – é na direção de Deus: o Deus que é infinitamente desejável mas que somente pode ser conhecido através da experiência de perda.
Esta semana, Jesus manifesta esta orientação para Deus como o terreno comum da Humanidade. Ele nomeou esta orientação universal para Deus chamando a Deus “Pai”, “Meu Pai”. Mas Ele diz também “Meu Pai e vosso Pai”, e a oração que sumariza o Seu ensinamento começa com “Pai nosso”.
Portanto, a comunidade cristã não é um clube de crentes. É a comunidade que – apesar de todas as suas faltas humanas – compreende o que significa ser humano e a quê Deus é semelhante. Jesus morreu pelo nosso pecado da ignorância.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
Muitas vezes, a Cruz é explicada como o sacrifício que pagou a Deus o insulto do pecado de Adão, o pecado original. Deixada assim, esta explicação poderia fazer mais mal do que bem e certamente não pega hoje em dia. Contudo, é um bom lugar para começar. Mas antes de fazer sentido, temos de fazer algumas incursões no autoconhecimento e na auto-aceitação.
A Semana Santa abre a cortina da natureza humana, da vossa e da minha, e em geral. Expõe-nos como pecadores. A palavra grega é “hamartia”, que significa falhar o alvo. Limitados, cometendo erros, mortais e inacabados. Digamos “pecaminosos”, desde que nos lembremos que o pecado, como a Madre Juliana de Norwich dizia, não é desejável porque causa tanto sofrimento, mas é no entanto necessário.
Tudo depende de respondermos ou não ao pecado com uma paralisante culpa ou vergonha, os quais meramente incham o ego de forma negativa: “Deus jamais poderia perdoar-me ou amar-me”. Esta autonegação cria uma força de negatividade e existe, realmente, uma coisa chamada a solidariedade do pecado. Vemo-la nas alianças estabelecidas entre regimes autoritários desumanos. Contudo, há uma outra via de auto-afirmação da humildade, vista de forma radiante em Jesus, mesmo quando Ele é sugado para dentro da maquinaria dum sistema tirânico de estado que O irá executar por denunciar as suas maquinações internas. O Seu julgamento foi uma aliança entre o autoritarismo religioso e o político, reproduzida inúmeras vezes desde essa altura.
A irmandade do pecado é um nível de consciência primitivamente baixo. Mas há também, evidente no seu testemunho de verdade, um solidariedade da graça. A graça lida com o pecado, não por meio do castigo ou pela exploração da culpa: ela simplesmente dissolve-o. Por exemplo, podemos imaginar como os discípulos poderiam ter se sentido quando encontraram Jesus, na experiência da Ressurreição. Terão sentido alguma vergonha e culpa por terem fugido e talvez raiva dEle por os ter desapontado. Porém, tudo isso é inteira e instantaneamente evaporado, quando Ele sopra sobre eles e diz: “Paz”. Graça, não punição, quebra o vínculo do karma.
Para acedermos a esta solidariedade da graça apenas necessitamos da humildade de conhecer e aceitar a nós mesmos. A conspiração do pecado provoca uma escalada do mal. A graça conecta-nos até aos nossos inimigos. Esta estranha e inesperada unidade, mesmo com o estranho outro, é Deus. Ela revela que a orientação essencial da natureza humana – mesmo no seu estado limitado e pecaminoso – é na direção de Deus: o Deus que é infinitamente desejável mas que somente pode ser conhecido através da experiência de perda.
Esta semana, Jesus manifesta esta orientação para Deus como o terreno comum da Humanidade. Ele nomeou esta orientação universal para Deus chamando a Deus “Pai”, “Meu Pai”. Mas Ele diz também “Meu Pai e vosso Pai”, e a oração que sumariza o Seu ensinamento começa com “Pai nosso”.
Portanto, a comunidade cristã não é um clube de crentes. É a comunidade que – apesar de todas as suas faltas humanas – compreende o que significa ser humano e a quê Deus é semelhante. Jesus morreu pelo nosso pecado da ignorância.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
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