
Quinta-feira da Segundo Semana
Habitualmente, pensamos no primeiro objetivo da justiça como o processo de identificar e punir os culpados. Mas e se esse fosse o resultado do processo, enquanto o primeiro objetivo fosse descobrir o inocente? Não seria o mundo um lugar mais gentil e a sociedade mais bem orientada para as tarefas humanas essenciais de aprender as sagradas disciplinas do amor e da celebração da beleza em todas as suas formas?
Quer Putin decida destruir Kiev ou não, deveríamos estar a pensar agora em como iremos levá-lo a ele e aos seus capangas perante a justiça, assim que a sua orgia de morte e destruição se tenha virado sobre si mesma, como sempre acontece com a violência.
Na história do Livro do Êxodo, na reflexão de ontem, os hebreus resmungavam e rebelaram-se porque a sua viagem de libertação era desconfortável. Deus não puniu a sua ingratidão culposa (o oitavo pecado mortal), como se poderia esperar que Ele fizesse. Em vez disso, enviou-lhes o maná (e juntou-lhe. Igualmente, uma quota de carne de codorniz). O maná é também mencionado no Corão como um remédio para os olhos. Era uma substância leve e em flocos para ser consumida fresca diariamente porque se fosse armazenada, rapidamente ficava rançosa. Só no Sabath, quando havia dose dupla, é que podia ser guardado por um dia. Aparecia no chão durante a noite, como o orvalho, e tinha de ser colhido antes de derreter com o calor do sol. Sabia a bolachas com mel. A palavra maná parece derivar de “o que é?”, sugerindo o elemento de surpresa e maravilha que sentimos, sempre que somos alimentados e cuidados, especialmente quando esperávamos ser punidos. É o alimento do perdão. Transforma o estado de culpa e vergonha em inocência.
Na espiritualidade católica e cristã ortodoxa, o maná era associado à fina hóstia, com uma forma parecida com a de uma bolacha, usada na comunhão e consagrada como o Corpo de Cristo. O maná, tal como a Eucaristia, é um símbolo físico que transcende o reino das aparências e ultrapassa a compreensão comum. Eu fui educado com uma forte reverência pela Missa e uma devoção pelo Santíssimo Sacramento reservado no tabernáculo. Originalmente era reservado para levar aos doentes da comunidade que não podiam vir pessoalmente à Eucaristia. Mais tarde, tornou-se um objeto mais estático de devoção em si mesmo. Por vezes isso pode roçar a idolatria, como os cristãos protestantes muitas vezes notam. Mas se evitarmos este perigo – e mantivermos o maná fresco – ele concede um deleite físico e espiritual a que nenhuma companhia farmacêutica jamais se poderá aproximar. Como diz o Livro da Sabedoria sobre o maná:
Pelo contrário, deste ao Teu povo alimento dos anjos, e sem esforço deles, enviaste-lhe do céu um pão capaz de todos os sabores e que satisfazia todos os gostos. Este alimento manifestava a Tua doçura para com os Teus filhos, já que se acomodava ao gosto de quem o comia e se transformava segundo o desejo de cada um. (Sabedoria 16: 20-21)
Isto descreve uma experiência: um estado de alma e tão efémero. Mas pode também tornar-se uma progressiva força de cura na quieta profundeza da pessoa, para lá da experiência consciente.
Amanhã iremos refletir sobre como é que o meditante poderá entender isto.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
Habitualmente, pensamos no primeiro objetivo da justiça como o processo de identificar e punir os culpados. Mas e se esse fosse o resultado do processo, enquanto o primeiro objetivo fosse descobrir o inocente? Não seria o mundo um lugar mais gentil e a sociedade mais bem orientada para as tarefas humanas essenciais de aprender as sagradas disciplinas do amor e da celebração da beleza em todas as suas formas?
Quer Putin decida destruir Kiev ou não, deveríamos estar a pensar agora em como iremos levá-lo a ele e aos seus capangas perante a justiça, assim que a sua orgia de morte e destruição se tenha virado sobre si mesma, como sempre acontece com a violência.
Na história do Livro do Êxodo, na reflexão de ontem, os hebreus resmungavam e rebelaram-se porque a sua viagem de libertação era desconfortável. Deus não puniu a sua ingratidão culposa (o oitavo pecado mortal), como se poderia esperar que Ele fizesse. Em vez disso, enviou-lhes o maná (e juntou-lhe. Igualmente, uma quota de carne de codorniz). O maná é também mencionado no Corão como um remédio para os olhos. Era uma substância leve e em flocos para ser consumida fresca diariamente porque se fosse armazenada, rapidamente ficava rançosa. Só no Sabath, quando havia dose dupla, é que podia ser guardado por um dia. Aparecia no chão durante a noite, como o orvalho, e tinha de ser colhido antes de derreter com o calor do sol. Sabia a bolachas com mel. A palavra maná parece derivar de “o que é?”, sugerindo o elemento de surpresa e maravilha que sentimos, sempre que somos alimentados e cuidados, especialmente quando esperávamos ser punidos. É o alimento do perdão. Transforma o estado de culpa e vergonha em inocência.
Na espiritualidade católica e cristã ortodoxa, o maná era associado à fina hóstia, com uma forma parecida com a de uma bolacha, usada na comunhão e consagrada como o Corpo de Cristo. O maná, tal como a Eucaristia, é um símbolo físico que transcende o reino das aparências e ultrapassa a compreensão comum. Eu fui educado com uma forte reverência pela Missa e uma devoção pelo Santíssimo Sacramento reservado no tabernáculo. Originalmente era reservado para levar aos doentes da comunidade que não podiam vir pessoalmente à Eucaristia. Mais tarde, tornou-se um objeto mais estático de devoção em si mesmo. Por vezes isso pode roçar a idolatria, como os cristãos protestantes muitas vezes notam. Mas se evitarmos este perigo – e mantivermos o maná fresco – ele concede um deleite físico e espiritual a que nenhuma companhia farmacêutica jamais se poderá aproximar. Como diz o Livro da Sabedoria sobre o maná:
Pelo contrário, deste ao Teu povo alimento dos anjos, e sem esforço deles, enviaste-lhe do céu um pão capaz de todos os sabores e que satisfazia todos os gostos. Este alimento manifestava a Tua doçura para com os Teus filhos, já que se acomodava ao gosto de quem o comia e se transformava segundo o desejo de cada um. (Sabedoria 16: 20-21)
Isto descreve uma experiência: um estado de alma e tão efémero. Mas pode também tornar-se uma progressiva força de cura na quieta profundeza da pessoa, para lá da experiência consciente.
Amanhã iremos refletir sobre como é que o meditante poderá entender isto.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv