
Sábado depois das Cinzas
Jesus viu um cobrador de impostos chamado Levi, sentado no posto de cobrança. Disse-lhe: “Segue-Me.” E ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu-o. (Lucas 5:27)
Imediatamente? Depois do Jantar, ele convidou Jesus para ficar em sua casa? Depois de falar com o seu contabilista? Quanto tempo demora a ficha a cair e o chamamento que muda a vida a ser realmente ouvido? Talvez o ouçamos de imediato, mas superficialmente e então, quando cai para um nível mais profundo de consciência, estoira e segue-se a ação. O mesmo acontece com a meditação. Um meditante de longa data, de repente, compreendeu: “Ó, estou a ver; não tenho de pensar no significado do mantra. Realmente, não tenho de pensar em nada, pois não?”
Qualquer coisa que façamos reflete o nível de consciência em que estamos a operar nesse momento. Estamos constantemente a tremeluzir ou a subir e a descer na escala. Isto dá forma ao nosso sentido do certo e errado e à nossa interpretação da justiça. É difícil, para a maior parte das pessoas – mas não para todas – não ver que a invasão russa da Ucrânia está fora da escala de qualquer coisa razoável ou justa. Ontem, dos 193 membros das Nações Unidas, 5 apoiaram a ação e 35 abstiveram-se. A maioria, tal como a força e o poder, não significa que quem a tem está certo. Mas, em algumas ocasiões, é avassaladoramente difícil negar o impacto que a injustiça tem em nós e a maioria, mesmo quando lhe falta força e poder, pode estar certa.
A justiça plena não floresce até que sejamos capazes de ver a nós mesmos no outro e o outro em nós mesmos. Os Padres e Madres do Deserto diziam que isto era o sinal do verdadeiro monástico. É o fruto que cresce com a meditação ao longo dos anos. Até atingirmos esse nível de consciência – onde o centramento no outro e a compaixão se tornam irresistíveis – o nosso sentido do certo e errado pode ser altamente subjetivo e falso. Depois, existe um nível mais profundo, onde não só vemos a nós mesmos naqueles que sofrem e são maltratados, mas em que nos pomos no seu lugar no grau máximo possível. Quando as pessoas se aproximavam de Jesus pedindo a cura, parece que Ele não conseguia resistir à força da compaixão que subia nele dirigida a quem pedia. Sentia-se um com essas pessoas e o espírito de união que fluía entre eles era redentor.
A justiça sem igualdade é flagrantemente falsa. Isto porque, ao nível mais profundo da consciência, sabemos que somos todos iguais. A justiça exige que isto se reflita em todas as circunstâncias, materiais e sociais. Os privilegiados, que acreditam que o seu privilégio – gozado à custa dos outros – é justificado, tornam-se agentes da injustiça e da opressão. Tristemente, são eles quem dirige as instituições sociais de justiça e os exércitos.
Todos são iguais e todos são universalmente responsabilizáveis. Porém, Deus, que não tem favoritos, está mais visivelmente presente do lado dos oprimidos e de todas as vítimas da força.
Simone Weil era apaixonada no que toca à justiça e clamava contra a força e a opressão, não apenas intelectualmente, mas de todo o coração e pela forma como vivia. Um seu rival reconheceu que ela “tinha um coração que conseguia bater por todo o mundo”. A justiça requer essa universalidade e paixão.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
Jesus viu um cobrador de impostos chamado Levi, sentado no posto de cobrança. Disse-lhe: “Segue-Me.” E ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu-o. (Lucas 5:27)
Imediatamente? Depois do Jantar, ele convidou Jesus para ficar em sua casa? Depois de falar com o seu contabilista? Quanto tempo demora a ficha a cair e o chamamento que muda a vida a ser realmente ouvido? Talvez o ouçamos de imediato, mas superficialmente e então, quando cai para um nível mais profundo de consciência, estoira e segue-se a ação. O mesmo acontece com a meditação. Um meditante de longa data, de repente, compreendeu: “Ó, estou a ver; não tenho de pensar no significado do mantra. Realmente, não tenho de pensar em nada, pois não?”
Qualquer coisa que façamos reflete o nível de consciência em que estamos a operar nesse momento. Estamos constantemente a tremeluzir ou a subir e a descer na escala. Isto dá forma ao nosso sentido do certo e errado e à nossa interpretação da justiça. É difícil, para a maior parte das pessoas – mas não para todas – não ver que a invasão russa da Ucrânia está fora da escala de qualquer coisa razoável ou justa. Ontem, dos 193 membros das Nações Unidas, 5 apoiaram a ação e 35 abstiveram-se. A maioria, tal como a força e o poder, não significa que quem a tem está certo. Mas, em algumas ocasiões, é avassaladoramente difícil negar o impacto que a injustiça tem em nós e a maioria, mesmo quando lhe falta força e poder, pode estar certa.
A justiça plena não floresce até que sejamos capazes de ver a nós mesmos no outro e o outro em nós mesmos. Os Padres e Madres do Deserto diziam que isto era o sinal do verdadeiro monástico. É o fruto que cresce com a meditação ao longo dos anos. Até atingirmos esse nível de consciência – onde o centramento no outro e a compaixão se tornam irresistíveis – o nosso sentido do certo e errado pode ser altamente subjetivo e falso. Depois, existe um nível mais profundo, onde não só vemos a nós mesmos naqueles que sofrem e são maltratados, mas em que nos pomos no seu lugar no grau máximo possível. Quando as pessoas se aproximavam de Jesus pedindo a cura, parece que Ele não conseguia resistir à força da compaixão que subia nele dirigida a quem pedia. Sentia-se um com essas pessoas e o espírito de união que fluía entre eles era redentor.
A justiça sem igualdade é flagrantemente falsa. Isto porque, ao nível mais profundo da consciência, sabemos que somos todos iguais. A justiça exige que isto se reflita em todas as circunstâncias, materiais e sociais. Os privilegiados, que acreditam que o seu privilégio – gozado à custa dos outros – é justificado, tornam-se agentes da injustiça e da opressão. Tristemente, são eles quem dirige as instituições sociais de justiça e os exércitos.
Todos são iguais e todos são universalmente responsabilizáveis. Porém, Deus, que não tem favoritos, está mais visivelmente presente do lado dos oprimidos e de todas as vítimas da força.
Simone Weil era apaixonada no que toca à justiça e clamava contra a força e a opressão, não apenas intelectualmente, mas de todo o coração e pela forma como vivia. Um seu rival reconheceu que ela “tinha um coração que conseguia bater por todo o mundo”. A justiça requer essa universalidade e paixão.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
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