
Sábado Santo
Crux est mundi medicina: a cruz é a medicina do mundo.
O leão ruge numa árvore vazia.
São Boaventura e o koan budista combinam-se no Sábado Santo.
O dia de hoje é uma vasta planície de silêncio: um rugir de silêncio cujo eco nos conduz à árvore vazia da Cruz, depois do corpo de Jesus ter sido baixado e deposto no túmulo. Se, como Maria Madalena, procurarmos o corpo, a prova física da pessoa que conhecemos, ficaremos desapontados. Choraremos lágrimas de vazio. Ficaremos retidos no passado, com um Jesus que já não podemos conhecer. Mas se esperarmos, as nossas lágrimas são transformadas em riso, a canção do vazio revela presença na ausência, plenitude no vazio.
Quanto mais longe formos no silêncio do vazio, mais iremos ouvir onde o rugido começa.
O espaço não é um vácuo. É um “plenum”, uma plenitude. Na oração espaçosa, na qual não estamos a encher com desejos, alcançamos uma antevisão do pleroma, a plenitude de Cristo. Quanto mais fundo seguirmos, mais veremos que todas as tentativas que fazemos para mudar a realidade servem, em primeiro lugar, para nos mudar a nós e à nossa inteira visão da realidade.
Iremos ver que apenas existe indivisa plenitude em contínuo fluxo e crescimento e que somos inseparáveis dela. A ilusão de que estamos apartados dela, mesmo como observadores objetivos, morre na cruz.
O curativo poder da Cruz não pode ser expresso em termos de uma folha de balanço espiritual. Onde operam a liberdade total e a graça, não há qualquer divida a pagar, não há folha de cálculo para equilibrar. Mas a Cruz, na qual o universal próximo, irmão, professor, morreu, ainda nos pede contas quando traímos o nosso próximo.
O governo do Reino Unido anunciou na Sexta-feira Santa, que os refugiados que em desespero arriscam embarcar em pequenos barcos para atravessar o Canal da Mancha para implorar por refúgio, irão em breve ser despachados para o Ruanda, no meio de África, distando quase 10.000 km.
“Quando eu era estrangeiro, convidastes-Me a entrar…”
O silêncio de Sábado Santo, contudo, não está preocupado com julgamentos ou respostas. Mas o misticismo da Cruz denuncia as nossas próprias intrincadas cumplicidades na crucifixão do inocente.
O único poder em que podemos confiar absolutamente é o poder daquele que se humilhou absolutamente. Recordemos a morte de Cristo para entrar nesta humildade porque a mensagem da Cruz é o poder do puro amor que se eleva da total abnegação. Só o amor tem o poder para redimir e amor absoluto redime absolutamente.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
Crux est mundi medicina: a cruz é a medicina do mundo.
O leão ruge numa árvore vazia.
São Boaventura e o koan budista combinam-se no Sábado Santo.
O dia de hoje é uma vasta planície de silêncio: um rugir de silêncio cujo eco nos conduz à árvore vazia da Cruz, depois do corpo de Jesus ter sido baixado e deposto no túmulo. Se, como Maria Madalena, procurarmos o corpo, a prova física da pessoa que conhecemos, ficaremos desapontados. Choraremos lágrimas de vazio. Ficaremos retidos no passado, com um Jesus que já não podemos conhecer. Mas se esperarmos, as nossas lágrimas são transformadas em riso, a canção do vazio revela presença na ausência, plenitude no vazio.
Quanto mais longe formos no silêncio do vazio, mais iremos ouvir onde o rugido começa.
O espaço não é um vácuo. É um “plenum”, uma plenitude. Na oração espaçosa, na qual não estamos a encher com desejos, alcançamos uma antevisão do pleroma, a plenitude de Cristo. Quanto mais fundo seguirmos, mais veremos que todas as tentativas que fazemos para mudar a realidade servem, em primeiro lugar, para nos mudar a nós e à nossa inteira visão da realidade.
Iremos ver que apenas existe indivisa plenitude em contínuo fluxo e crescimento e que somos inseparáveis dela. A ilusão de que estamos apartados dela, mesmo como observadores objetivos, morre na cruz.
O curativo poder da Cruz não pode ser expresso em termos de uma folha de balanço espiritual. Onde operam a liberdade total e a graça, não há qualquer divida a pagar, não há folha de cálculo para equilibrar. Mas a Cruz, na qual o universal próximo, irmão, professor, morreu, ainda nos pede contas quando traímos o nosso próximo.
O governo do Reino Unido anunciou na Sexta-feira Santa, que os refugiados que em desespero arriscam embarcar em pequenos barcos para atravessar o Canal da Mancha para implorar por refúgio, irão em breve ser despachados para o Ruanda, no meio de África, distando quase 10.000 km.
“Quando eu era estrangeiro, convidastes-Me a entrar…”
O silêncio de Sábado Santo, contudo, não está preocupado com julgamentos ou respostas. Mas o misticismo da Cruz denuncia as nossas próprias intrincadas cumplicidades na crucifixão do inocente.
O único poder em que podemos confiar absolutamente é o poder daquele que se humilhou absolutamente. Recordemos a morte de Cristo para entrar nesta humildade porque a mensagem da Cruz é o poder do puro amor que se eleva da total abnegação. Só o amor tem o poder para redimir e amor absoluto redime absolutamente.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
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